Cada nova paixão é um leque de cores repetidas, deixadas ao acaso sobre uma mesa à espera de serem escolhidas e espalhadas por paredes brancas, folhas vazias em que sentimentos são despejados sem pensamento. O que é deixado para trás é a memória de tudo o que já aconteceu, que se volta a repetir, vez sem conta, até o inevitável negro da morte nos tomar e finalmente silenciar. Silencioso é de facto, como a noite que se abate, suave como o toque de veludo. Percorre-nos por inteiro e deixa-nos vazios, a desejar mais. Mas como uma amante proibida, é algo que tocamos uma vez e não voltamos a sentir.
Sozinhos no escuro da noite sentimos-nos abandonados, solitários. Desesperados por companhia deixamos-nos levar pelo caminho da memória e da imaginação, sorrindo a cada detalhe, lutando batalhas imaginárias para ganharmos o coração de alguém que já possui o nosso. Mas a manhã é a assassina do pensamento. É a criadora cruel do desejo mas tudo o que saciamos não é tudo o que podemos aproveitar durante o dia por isso mantemos-nos a desejar mais e mais, seres egoístas que somos. Vivendo aos poucos é tudo o que podemos fazer. Deixamos o tempo passar porque assim deve ser mas o vazio não é preenchido até nos voltarmos a encontrar com a nossa fonte de alegria.