domingo, 27 de outubro de 2013

Night of Samhain

Wherein the trail goes
None of our people knows,
But still the wind flows
Into the dark it follows,
Down the stream, by the trees,
All singing in a choir of three,
Inspired by the old Gods be.

But if in the dark forest lost
And into the night you wonder the cost
Of the life worth to still be lived
And all the knowledge yet to be seized,
And the faith to be lost in thee,
The Gods all silent by late fee

On this life bestowed on me.

Worry not, young one,

The trees and branches will protect you, son,
From all the judgement of beasts and men,
Not that different inside their den
Of evil intentions and worse doings,
Creating all kinds of ruins
Motivated by greed bred in their loins.

So, blessed be you, my children,
Do this which you're bidden,
To expect the end on another year
And safely cross the bridge without a sear,
To a new life in a new day,
Without falling in the mistake of being vain,
Say farewell to this night of the end, Samhain,

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É Mais Fácil Desistir

É mais fácil desistir,
Guardar lembranças e sorrir,
Encarar o futuro com saudade,
Pesar o passado e carregar maldade.

É mais fácil desistir,
Sentir-se fraco e deixar de sentir,
Pensar que nada valeu a pena,
Que agora apenas resta a tristeza.

É mais fácil desistir,
Mas a quem queremos iludir,
Essa realidade não é a verdade,
Amar é mais que razão para lutar.

sábado, 8 de junho de 2013

Claiming our innocence

[Tuatha Dé Danann:]
Mother, every child bleeds. Mother, every child cry. Mother, just let it be, just let every child playing on the street be free to tear their skins and cry a little, laugh a lot and making memories. See the tanks in the horizon, on the green hills. See them tear the field open as they open the skies with their smoke. Watch the plains fly, firing at each other, destroying each other, crashing on the floor. See them and fear. Fear for them and what is to be left of the land. Don't fear for scraped knees.
Mother, watch the smoke arise and abide to the voice in your head. Go into the shadows, hide. Save what you can but not everyone. The roof over your head will collapse, the walls that sheltered you from rain and wind will fall. Run, run to your basement and by the light of the candle read books to quiet your little ones. Hide from the big machine that wonders through the sky, opening doors in its belly and letting loose the children of destruction and death.
Mother, let us out, let us go. We'll go to the streets, to the seas, to the skies. Claiming our innocence from houses on trees, under the tearful skies, watched over by ourselves alone, no false god to pray to, no dark ambition and lies to fill our hears. Let us make our voices hear, our screams echo through the fields, razor blades that cut the ones who brought wars to our streets.

[Spirits of the world singing in unison:]
Mother, let them play, let them fall, let them cry, we say let the children go.

[Danann:]
I'm all alone and the night is so cold. All that I sought, the peace that I once brought, all gone and long have the people forgot the ways of the children. But children grow up and men rule the world with an iron fist and iron weaponry. I'm long forgotten, cold and lonely, a trail of some left in between stars, watching plans revolver and evolve, men submitting to their most basic of instincts. Mother, let them go and watch them die. Soon you'll die as well and they'll lay your body in the earth. Then, only then, will you join me. I'll meet you with open arms, you who conceived with open and legs and willingly accepted the seed of hate. You held it at your breast and fed it. So will I do the same one day, when all men are dead and nature takes over their concrete buildings. The walls will crumble, their money green colour of Nature will cease to exist. So, mother, let them go and play. A scrapped knee is nothing once compared to what the planet has suffered.

[Mother:]
Can I take anymore? Can I hold them some more? All leave, like the leaves fall from the tree. I'll be that tree in the end. Withered, empty, cold, suffering the winter of life alone and naked. But standing I will die and lying will I go to the earth. New life will broth from me. But my eyes you shall not see anymore, my tears you won't be able to console. Go now and live your life, my children. Leave me to my autumn, you who were my summer.

Pain of Salvation - King of Loss

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dia 4: Exploring Uncharted Snows (Explorando Neves Por Descobrir)

O dia 4 da minha estadia em Inglaterra foi dos meus preferidos. Foi um dia em que pudemos dormir até à hora de almoço, fizemos o nosso almoço, e saímos de casa apenas para voltar à noite. Tínhamos dois objectivos em mente: devolver um livro à biblioteca da faculdade que a minha cara-metade tinha por devolver e visitar Wollaton Park. Apenas o primeiro foi cumprido e eis porquê:
Saímos de casa e pusemos-nos a caminho, pisando o gelo e a neve no chão (no meu caso a tentar não cair) em direcção a Jubille campus onde havia uma das bibliotecas da faculdade. O objectivo era tentar deixar lá o livro e partir rapidamente para o Wollaton Park. Jubille campus era uma zona reservada à faculdade e aos seus alunos que incluía dormitórios e uma biblioteca. Segundo a minha anfitriã, esta era uma biblioteca maravilhosa com vários andares e uma das formas de subir era por umas escadas que não davam a sensação de estar a subir. O único problema é que só alunos da faculdade podiam lá entrar. Decidimos não arriscar tentar pedir uma pequena licença para que eu pudesse ver esta bela biblioteca visto que não estávamos em Portugal, as pessoas de lá levam o seu trabalho a sério. Em Jubille, como a minha anfitriã lhe chamava e eu adoptei, disseram-nos que tínhamos de ir à outra biblioteca que era mesmo na faculade. Isto requeria uma viagem num autocarro de dois andares grátis. Foi uma viagem rápida e na qual aproveitámos para ver as casas e discutir gostos. O meu gosto aí tornou-se simples: gosto da tranquilidade do sítio.
Finalmente, chegámos à faculdade e dirigimos-nos rapidamente ao edifício da biblioteca onde andámos um bocado perdidos à procura da biblioteca visto que esta estava mascarada de café com espaço para leitura. Quando finalmente devolvemos o livro, demos uma pequena volta àquela enorme faculdade que põe até a Faculdade de Ciências de Lisboa a um canto. Esta é uma faculdade que tem edifícios para variados campos, desde línguas a biologia. O mais surpreendente é que esta não é a única faculdade na cidade.
Depois de ver a faculdade pusemos-nos a pé à procura de Wollaton Park. Aqui a minha guia estava também um pouco perdida e mais ocupada a tirar fotos à neve, aos bonecos de neve e à minha figura de urso polar pintado de azul com o meu casaco da neve. Tudo isto acabou por significar que demos uma enorme volta por parques enormes, todos pertencendo à faculdade, com dormitórios.
Não achámos o nosso caminho para Wollaton Park nesse dia. Mas andámos imenso por zonas que nenhum de nós conhecia. Devo dizer que a culpa é minha visto que o meu espírito foi dominado por um entusiasmo a roçar o infantil e um sentimento de aventura que ganhou quase todas as batalhas. A única batalha que a minha vontade de explorar perdeu foi a de exaustão da minha companheira de aventura que apenas desejava voltar a casa, aquecer-se, comer alguma coisa e voltar a tentar no dia seguinte. Assim partimos de volta a casa, num autocarro de dois andares, sentados na frente no segundo andar (o que eu achei maravilhoso e entusiasmante), e depois a pé de Jubille até casa onde demos por terminado o dia e eu achei o calor refrescante sobrepondo-se ao sufocante entusiasmo que me deu energia para andar por neves desconhecidas.

Dia 3: "Até o lixo parece bem com neve"

É verdade. Foi comprovado em Inglaterra. Tudo é mais bonito com neve, até... o lixo.
O dia 3 começou um pouco diferente dos anteriores. Tínhamos os planos feitos e raios parta, íamos cumpri-los! Portanto, determinados, acordámos cedo neste dia. O objectivo era dar uma volta pelo centro da cidade. De tudo o que vi desta grande cidade, penso que o centro da cidade é o mais belo.
O centro da cidade é uma enorme praça que culmina num edifício com dois leões de pedra esculpidos no exterior e uma fronte de estilo grego clássico, especialmente as suas colunas. Um dos leões anteriormente referidos serviu durante muito tempo como ponto de encontro para pessoas que se queriam reunir com diferentes objectivos, nomeadamente ir para uma boa noite de borga. Toda esta importância à escultura do leão deu ao nome do jornal local "Left Lion" (Left Lion) (isto foi-me tudo explicado pela minha bela anfitriã). 
Chegámos ao centro da cidade cedo com o objectivo de visitar e comprar. Mesmo que esse não fosse o nosso objectivo, fomos vítimas dos nossos próprios interesses. Sendo que a praça está rodeada por variadas lojas não tivemos realmente hipóteses. A nossa primeira loja visitada foi uma livraria que vende os seus produtos a preços baixos. Uma pequena vista de olhos e já estávamos interessados. No entanto, não foi então que comprámos alguma coisa (a minha maravilhosa anfitriã já tinha visitado esta loja com o intuito de me presentear com dois belos livros, um de sonetos de William Shakespeare e outro com variados poemas de Edgar Allan Poe). Continuámos e ainda visitámos outra loja de livros, esta um pouco maior, também com vários artigos de interesse que foram considerados mais tarde.
Já mais à frente entrámos numa longa e larga avenida que nos encaminhava para o centro comercial. Foi nesse centro comercial que encontrei um monstro mítico que já me tinha sido contado em lendas urbanas mas que nunca tinha visto com os meus próprios olhos (e com isto digo que a minha namorada me tinha contado da loja e eu tinha ficado imediatamente maravilhado com a ideia de a visitar). Esta loja chama-se "Pound Land" e é muito como um supermercado com a diferença que todos os produtos, sem excepção, custam uma libra. Isto inclui todos os tipos de produtos, desde utensílios para a cozinha até sacos de goma ou pacotes enormes do chocolate. Mal entrei na loja tive a vontade de comprar tudo nas prateleiras. Fizemos as nossas compras na loja (deu-me para experimentar um pacote de leite com chocolate da marca "Mars", algo que não temos em Portugal) e saímos, querendo ainda visitar novamente as livrarias visto que pouco gastámos nesta loja. Passámos então por ambas as lojas referidas e eu acabei por comprar uma pequena enciclopédia de elementos celtas por um preço incrivelmente reduzido.
Ao voltar para casa passámos pelo caixote do lixo que vêem na foto e concluídos o dia que já era noite com a total certeza de que até o lixo parece bem com neve.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mar Alto

Este mar alto, este mar que vem conquistar;
A nós que o vemos cinzento todos os dias,
A nós cuja terra incerta a seu lado pisamos,
Sobe o seu caudal, rio desacatado longo amado,
Tão rapidamente abandonado, alvo dos nossos desalentos,
Vem por terreno incerto tomar tudo o que é seco
E esconder os seus segredos de sujidade pela nossa mão.

Madredeus - Canção do Mar

sábado, 23 de março de 2013

Mistura de temas

Tenho de confessar que passei algum tempo à procura de um tema para falar na "crónica" deste mês. Cheguei à conclusão que seria conveniente abordar alguns assuntos que ocasionalmente me saltam pela mente, visto que me "baldei" ao mês passado. Tendo isto em mente comecemos.

As autárticas portuguesas aproximam-se e também as decisões "polémicas" que sempre acompanham qualquer acto político português. É já uma característica latina, creio, ceder a pressões e subornos. Temos exemplos disso no nosso belo país, nos nosso vizinhos espanhóis e nos primos distantes italianos. Mas será uma luz de esperança o chumbo da candidatura de Fernando Seabra à Câmara de Lisboa da parte do Tribunal Cível de Lisboa? Será o início da mudança ou até um incentivo à revolução do nosso sistema político? O meu pessimismo leva-me a dizer que não. Acredito solenemente que há por aí pessoas que queiram mudar as coisas como estão, acredito ainda mais piamente que são caladas à força ou por vontade própria. Está-nos nos genes, sabem? A vontade de meter ao bolso dinheiro alheio.

Bom, agora que referi do nosso primeiro-ministro, vou aproveitar para assinalar e comentar o nosso recente comentário sobre o aumento do salário mínimo. O salário mínimo nacional actualmente é de 485€, número que o Sr. Pedro Passos Coelho disse nas últimas semanas considerar diminuir. A verdade é que, com a crise política eterna em Portugal, agravada pela contínua crise económica que arrasta consigo o estado social português, os Portugueses pouco ou nenhum poder de compra têm. Todos os dias há despejos, bancos a ficarem com as casas de pessoas por estas não cumprirem pagamentos, mais e mais pedidos de ajuda que são ignorados para que bancos como o Banif recebam mais dinheiro. Tudo isto fez com que a oposição fale mais constantemente de um aumento do salário mínimo. Seria a primeira vez que o governo faria realmente algo para ajudar o seu povo. Como resposta, o primeiro-ministro veio dizer que esse aumento seria "presente envenenado" aos portugueses e que as empresas com o poder de aumentarem, que o fizessem, isolando-se assim de qualquer intenção de o fazer. Pessoalmente, rio-me destas afirmações, sendo isto tudo o que posso fazer para não chorar cada vez que vejo as portas do metro a abrirem quando chego à estação da minha faculdade para estudar, comentando comigo próprio todos os dias que caminho para o desemprego e pobreza e que nada que farei nesse dia me ajudará a mudar isso. Continuo sem saber o que é pior, se um governo que decide por si próprio para si próprio ou se uma oposição oca e sem ideias, liderada por um homem cujo nome é um antónimo de si próprio.

Mudando para um tema mais leve, a triste e fraca exibição da seleção de Portugal. Com um início que já não via há algum tempo da nossa seleção, criaram uma nova expectativa de uma boa exibição e ainda maior resultado. O resultado final foi, na verdade, 3-3 e a exibição ainda pior. A jogar com uma defesa baixa e com medo de arriscar, um meio campo passivo tanto ofensiva como defensivamente, jogo lento, passes falhados atrás de passos falhados e uma finalização terrível a que o Helder Postiga nos tem habituado, não foi de admirar a reviravolta no resultado. A única exibição positiva que se viu desde o início foi a de Coentrão que mostrou que ainda sabe o que aprendeu na sua passagem pelo Benfica. Apenas com a entrada de Carlos Martins e Vieirinha é que Portugal pareceu ganhar vida e conseguiu, ainda a muito custo, empatar. É um resultado muito insatisfatório e que não nos deixa nada confortáveis no apuramento. Mais importante que isto, deixa, espero eu, sérias questões na mente de Paulo Bento sobre quem está realmente a 100%, tanto física como mentalmente, e quem não está. Vamos esperar ver algo de melhor na quarta-feira.

A Perfect Circle - Passive

Da Idade de Ouro

Aqui deitado em nenhum terreno que importa ao povo humano observo o tempo passar através de nuvens brancas e céus azuis. Lentamente passam pelos meus olhos tal como o vento suavemente acaricia a minha pele nua. Aqui observo as estações e as idades. Observo como a folhagem de cor verde primaveral já começa a conhecer a sua variante outonal. Absorvo todo o conhecimento pois todo o conhecimento me é revelado. O Universo é infinitamente claro. Tão claro que me esqueço de o abraçar e aceitar como irmão. Fomos criados da mesma forma, pequenos átomos que lentamente se foram expandindo. A diferença é que a minha expansão física terminou e deu lugar à expansão mental enquanto que o Universo se mantém em expansão física até implodir e, quem sabe, levar-me com ele. Já a sua expansão mental todas as criaturas para tal contribuem. E idades vão passando, do ouro ao bronze, começando pela bravura das donzelas e a coragem dos heróis e acabando com a decadência e corrupção dos nossos dias. Mas será mesmo este o fim? Seremos nós o último tempo? Não o desejo ver a acontecer pois vejo potencial em cada árvore e em cada pássaro que canta, cada manhã solarenga que nasce e que me cumprimenta com um sorriso. Vejo potencial em cada chuva que cai e neve que decora as ruas, dando cor e vida à sua noite invernal. Há mais nesta decadência do que o declínio da nossa existência. Basta olhar à volta e inspirar o oxigénio, deixar o nosso génio criativo funcionar.

Epica - Chasing the Dragon

Mergulhar

Consegues ver se o céu é estrelado ou nublado, nesta noite em que me despeço novamente de ti, mais vazio agora que não estás comigo? Consegues vê-lo e declará-lo pintado ou construído, talvez até escrito? O certo é que foi criado. Está acima de nós e dentro de nós. Pois se dentro de mim reside declaro que tu és o meu céu pois em mim vives infinitamente. Expandes-te. Nunca páras de te expandir. Por caminhos sinuosos, com a luz escondida atrás de nuvens e trilhos de espinhos, ou por caminhos de terra, abatidos antes da tua passagem para facilitar a leveza do teu caminhar, fazes a tua viagem até a mim. Encontras-me desnudo diante de um precipício, contemplando a hipótese de me atirar.
Estou sentado na beira da rocha, olhando para o infinito e confundindo-o com o vazio, subconscientemente sabendo que és tu. Vejo o horizonte nocturno tão bem como vejo as pequenas ondas que nadam no oceano tão amplo, iluminadas pelo luar que se pousa lentamente. Parece que a Lua vai cair no mar e não se erguer mais, disseste-me uma vez. Fugiríamos para o bosque e lá nos refugiávamos, disse-te eu em resposta. Lembras-te? Deverias. Pois foi na escuridão desse mesmo bosque que te escondeste de mim. E é de lá que emerges outra vez. Desse bosque que deixei para trás, que viro as costas, que nunca voltei a pisar. Será como solo sagrado para nós, terminei o nosso plano de fuga. Mas ignoraste o nós. Importaste-te apenas pelo teu eu. E para a escuridão dessas árvores fugiste. De mim? De nós? Não importa. Tentei agarrar-te e chamar-te à atenção mas não ouviste. Continuaste a correr e deixaste-me. Pois fica lá. Livremente as minhas pernas fora da rocha baloiçam, ao ritmo do vento. Deixaste o tempo passar, deixa o meu corpo na água mergulhar.

Linda Martini - Lição de Voo nº1

terça-feira, 5 de março de 2013

Sleep

Why do shadows keep stalking me
When the night has long started
And sleep is bereft of my eyes.

The night has grow tired
Of waiting for me to cease
My thinking and torture of self.
So outside the Moon rises and falls
And I feel my brain failing
To take everything in and breathe.

Silent is my scream, my desperation,
When sleep I want numbers I count,
When sleep is forbidden bed isn't found.
So, what to do but wait,
Sitting in some unknown corner,
Staring at strange people, brethren of my fight.

My sleep untamed, uncontroled,
Request denied and sentenced announced,
Sleep is given to no rest,
Rest is sought but not mine to own.

Pain of Salvation - Sleeping Under the Stars 

segunda-feira, 4 de março de 2013

Luz no horizonte

Há luz no horizonte. O Sol pôs-se, fugiu da noite mas ainda o céu se mantém claro e as pessoas caminham na rua. À volta das árvores vêm-se as sombras dos pássaros a circundar, a rodopiar no ar para encontrar algum sítio onde pousar e descansar. Não há verdadeiramente descanso nesta cidade. É um povo de lutadores que aqui vive, descendentes de Virgílio e Afonso. Este é um povo que procura estabilidade para repousarem uma noite descansados.
Mais uma vez a noite se põe mas não se encontra descanso para os desgraçados sobre os quais ela cai. A Lua observa isolada esta desgraça, misericordiosa mas impotente. Sossegadamente é mostrado o lado mais negro da vida. Injustiça cometida após fraude, são os oprimidos que ainda sofrem. O pouco que lhes resta é-lhes retirado e tudo o que lhes resta é vida na rua e espírito derrotado.
Já não vejo luz no horizonte. Esta noite é igual a tantas outras. O nosso silêncio é o nosso pesar porque na rua há a violência da nossa frustração e o sangue derramado leva ao nosso desespero ser arremessado. Suam e sangram as pedras da nossa calçada enquanto nós, descalços, caminhamos contra os canhões e pela nação que nos roubaram e que outrora, tal como agora, aclamámos.

Soulfly - Rise of the Fallen

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Dia 2: Sobre e sob neve

Não há muito a dizer do segundo dia da minha estadia. Apesar de termos planos para esse dia acabámos por ficar em casa. A verdade é que o cansaço de passar o dia todo no aeroporto me levou a dormir durante grande parte do dia e quando acordei já era de noite. Portanto os planos foram adiados e este dia foi dedicado a ir às compras para a semana (ou como eu lhe gosto de chamar - ir à caça).
Sendo assim, saímos de casa e fomos ao Tesco (o Continente lá da zona). O caminho estava coberto de neve, alguma mais pisada que outras, e estava a nevar. Foi bastante agradável pois estive a caminhar sobre e sob neve, algo que nunca tinha feito antes. Fui também brutalmente atacado com bolas de neve. O bom é que o Tesco não ficava longe da residência pelo que não fui muito atacado.
O Tesco local é uma loja pequena sobrecarregada com filas de imensos itens nas prateleiras. Para alguém novo, como eu, pode ser imensamente confuso. Felizmente tinha comigo uma pessoa conhecedora do sítio. Entre as coisas que acho que são dignas de destacar estão as imensas variedades de produtos Mars, desde o típico chocolate também comercializado em Portugal a leite com chocolate. Outra coisa a destacar deste estabelecimento é o facto de as máquinas de compra serem mais populares que ir à caixa ser atendido por uma pessoa. O último acontecimento que eu vi lá de destacar foi a entrada de um polícia para verificar que não havia problemas visto que não há lá seguranças.
Assim, comprámos tudo o que queríamos e voltámos para a residência, jantámos e umas horas depois fomos dormir.

Frank Sinatra - Let it snow

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dia 1, parte 3: O final de um longo dia

Estava frio quando cheguei a Luton. Não bem frio, mais gelo. Com a bilheteira fechada só me restou a opção de ir para a rua onde estavam os autocarros, um deles destinado a levar-me para Nottingham. Sendo novo nisto perguntei à primeira pessoa que encontrei onde era a paragem do autocarro que desejava. Após uma resposta simples e, a meu ver, embriagada lá encontrei a paragem e vi o horário. Poucos minutos depois aparecia o autocarro com o motorista a descer e a falar-me com boa disposição. A primeira coisa que reparei foi o seu sotaque. Não, não era britânico, era algures de leste (perguntar-lhe as suas origens não estava nas minhas prioridades no momento). Não que isto condicionasse o que quer que fosse, no entanto. A segunda coisa que reparei aqui foi que, apesar do voo e do frio, ainda me sentia em Portugal. Porquê? Porque apesar de eu ter esperado sozinho na paragem certa, meia dúzia de pessoas em paragens diferentes se direccionaram para onde eu estava e sem muita ordem começaram a expor os seus problemas, todos iguais aos meus, ao motorista. Todos portugueses, vieram no mesmo voo que eu e decidiram que eles eram prioridade e não a pessoa que já lá estava a falar com o motorista (eu). Este, no meio da confusão lusa, viu-se obrigado a impor o seu espaço. Alguns problemas ajudaram, outros nem por isso. A maioria estava na mesma situação que eu, tinham bilhetes comprados que queriam ver trocados ou reembolsados, mas nenhum deles ia para o mesmo sítio que eu. Havia até uma senhora que não sabia falar inglês. 

Depois de despachar o máximo de pessoas que conseguiu, o motorista lá me concedeu algumas palavras. Mostrei-lhe o meu bilhete, falei-lhe da minha situação e ele apenas disse que eu teria de comprar um novo bilhete se quisesse ir naquele autocarro. Sendo o último da noite, eu cansado e ansioso por chegar a casa, decidi apanhar aquele autocarro. Nesta altura o tom de voz do motorista e as suas maneiras tinham mudado muito. O bilhete custava o dobro do que paguei pelo original e, visto que eu não tinha moedas, o motorista viu-se obrigado a dar troco. Aqui detectei uma primeira falha que não noto em Portugal: o motorista também não tinha troco certo nem qualquer forma sítio onde armazenar o dinheiro para situações como esta. Tendo  em conta a situação, já nenhum de nós muito bem disposto e cheio de pressa, o motorista deu-me troco a mais. Não que eu me queixe disto mas não me parece uma solução muito justa. Depois disto, sentei-me do lado direito do autocarro e esperei que ele partisse, observando a pequena localidade de Luton antes de seguir para a escura autoestrada.

Este autocarro tinha duas coisas boas que não encontrei até hoje em nenhum autocarro português: cinto de segurança e casa-de-banho. Havia também um sistema de opinião via-sms do serviço pela parte da companhia de autocarros que eu decidi não utilizar. No final da viagem fiquei feliz de não o ter feito. Visto que estava no lado direito do autocarro, algo que acontece imenso em Portugal, demorei a reparar que ia no lado errado da estrada. Mas quando o reparei, à entrada de Leicester, a adaptação foi lenta. Isto mais o facto de ver uns quantos postos de abastecimento pelo caminho da Repsol fizeram permanecer o sentimento de ainda estar em Portugal. Mas tudo isto desapareceu quando cheguei aos arredores de Leicester. Para começar os semáforos ficam vermelhos e verdes ao mesmo tempo antes de ficarem verdes. Os sinais à beira da estrada tinham luzes próprias para os tornar mais visíveis. Isto relacionado com as pequenas casas típicas inglesas (algo que vim a verificar na minha estadia), as lojas abertas até muito tarde (eram por volta das 23h quando vi tudo isto), existência de Blockbuster, táxis pretos e redondos e muita vida nocturna trouxeram-me à realidade Inglesa. O único contraste que verifiquei entre os arredores e a cidade de Leicester foi o facto de os arredores serem dominados por vivendas e a cidade por prédios. No entanto, os exteriores são todos feitos do mesmo material: tijolo vermelho-escuro.

Em Leicester o autocarro parou, tal como tinha sido avisado a Susana. Eu aproveitei e saí do autocarro para respirar algum daquele ar nocturno inglês. É igual ao Português mas mais seco e frio. Fiz bem em fazer isto pois o motorista tinha retirado a minha mala do espaço reservado para as malas no autocarro. Visto que havia um autocarro com o mesmo número que o meu parado à frente deste eu fui perguntar ao motorista se era necessário trocar de autocarro. Ele fez um olhar de surpreendido e respondeu-me que não, que aquele autocarro ia até Nottingham. Expliquei-lhe que perguntava isto pois tinha retirado a minha mala e ele rapidamente me pediu desculpa e voltou a colocar a mala onde estava até então. Voltámos para dentro do autocarro, sentei-me do lado esquerdo desta vez, o motorista certificou-se que todos iam para Nottingham e voltou ao caminho. Esta parte da viagem já foi mais curta, menos de uma hora a chegar a Nottingham. A entrada de Nottingham não deixa muito a notar à noite, tudo muito escuro, pouca iluminação. A cidade em si é constituída de prédios altos e ruas muito movimentadas.

Na paragem final a Susana estava já à minha espera. Desci, recolhi a minha mala e o motorista pediu-me desculpa pela confusão e pela forma como me falou e explicou que tinha sido a situação de todas as pessoas lhe irem falar ao mesmo tempo que o levou a falar assim. Naturalmente, compreendi-o pelo que lhe falei novamente com boa disposição e agradeci-lhe por uma agradável viagem. Aí comecei a viagem para casa com a Susana, andando um pouco por um centro comercial fechado na parte das lojas mas com um trajecto pelo interior que atravessámos como que um atalho. Chegámos ao centro da cidade e aí, para escaparmos aos bêbados nas paragens, apanhámos um táxi. Cheguei a casa, comi qualquer coisa e fomos dormir.

Margaret Whiting and Johnny Mercer - Baby It's Cold Outside

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dia 1, parte 2: 'Sincerely' é, de facto, a palavra

Sentado na mesa do Macdonald's a comer uma tosta mista e a beber uma coca-cola é sempre uma visão solitária. É ainda mais quando o nosso voo foi adiado oito horas. Neste ponto eu não sabia muito bem a razão de tanto atraso. Sabia que o meu voo tinha sido adiado devido às condições meteorológicas de Lisboa mas porquê tanto tempo? Ainda hoje, há já quase uma semana em Inglaterra, não sei.

A minha ignorância neste assunto manteve-se mas a minha imagem solitária era partilhada por Catherine que se sentava do outro lado da mesa. A 'esplanada' do Macdonald's estava preenchida por isso fui "forçado" a sentar-me na mesma mesa dela, um pequeno favor que ela acedeu com um largo sorriso. Pode ser um bocado de preconceito da minha parte mas o sorriso e as boas maneiras parecem ser típicos do povo inglês. Assim, após a minha pequena refeição e uma ida à casa de banho, comecei uma alegre conversa com Catherine. Não me pareceu educado da minha parte, supondo que não faz parte da cultura inglesa, de lhe perguntar a idade. Isto, tal como as razões de um adiamento tão largo, permanece uma incógnita. Ainda assim consegui saber as razões da sua viagem. A verdade é que esta senhora inglesa vive em Portugal com o marido português, numa vila perto de Leiria. Ela disse o nome mas a verdade é que eu não percebi, talvez devido à minha grande ignorância no campo de geografia, talvez devido ao seu sotaque, talvez até uma grande mistura de ambos. Catherine ia voar para Inglaterra para visitar os seus filhos e netos que ainda lá viviam, visto que ela e o marido só se mudaram para cá permanentemente depois de se reformarem. Tudo isto ela me disse na troca de palavras que decorreu durante umas horas. Às vezes levantava-me eu, na minha ânsia para voar para Inglaterra, para ir ver o quadro de voos na esperança de uma melhor hora de voo visto que tinha bilhete de autocarro comprado para essa mesma tarde. Outras vezes levantava-se ela para esticar as pernas. Mas, em geral, a conversa decorreu fluentemente, com muitos risos e muita troca cultural agradável a decorrer. Atrás de nós estavam dois casais holandeses, um dos quais estava a senhora que me indicou o lugar, que, quando se levantaram, despediram-se de nós e disseram que iam para Amesterdão, de volta a casa. Mais tarde voltaram com a informação que também o voo deles tinha sido adiado. Naturalmente que quando voltaram as suas mesas já tinham sido ocupadas por quatro adolescentes de leste muito barulhentos.

Entre esta queixa houve outras, tal como a desilusão que foi de não conseguir saber mais informação pois não havia pessoal da easyjet (ou do aeroporto) para explicar a situação àqueles que se sentaram mais perto da porta na qual estavam quando o voo foi adiado. Isto só aumentava para o desespero. É claro que a esta hora já não tinha qualquer ilusão de que ia chegar a horas ao autocarro. Tendo isto em mente tentei ver toda a situação de outra perspectiva para que o tempo passasse melhor. Tentei ver tudo como Bill Bryson vê as coisas nos seus livros, de um ponto de vista alegre e positivo. Pensei que era uma nova experiência, que comecei por uma das piores, a partir daqui é sempre a subir, que era uma boa prática para quando eu voltar visto que vou ter de passar a noite acordado no aeroporto. Falhei. Miseravelmente. Simplesmente não sou esse tipo de pessoa. Tendo passado o tempo que passou e o que ainda faltava eu estava na grande esperança de encontrar algo, qualquer coisa que me entretivesse e à minha "colega de cela". Um casal brasileiro sentado na mesa adjacente à nossa comeu a sua refeição e partiu sem mais nenhuma palavra mas rapidamente foi substituído por um casal inter-racial inglês. Mal se sentaram rapidamente se apresentaram, fazendo conversa com uma voz bem disposta, um sotaque que não engana ninguém e, mais uma vez, um sorriso aberto. Também eles avós, vieram cá de férias visitar um amigo. Suponho que também sejam reformados para visitarem nesta altura do ano. Depois de um pouco de conversa achei que seria conveniente também apresentar-nos visto que eles próprios assumiram que tínhamos vindo juntos. Ele chama-se Gervan e ela Dorothy. Pessoas simpáticas que falaram abertamente. Iam voar para a mesma cidade que nós mas para um aeroporto diferente. Ajudaram-nos imenso a passar as horas e o voo deles acabou por coincidir com o nosso visto que o nosso foi adiado mais vinte minutos.

Após imensas horas de espera a nossa porta acabou por ser anunciada e dirigi-me juntamente com Catherine para a fila de embarque. Desta vez mantive sempre o bilhete comigo para que não tivesse mais momentos nervosos como de manhã. A fila era enorme visto que eram dois voos a embarcar em portas lado a lado mas o controlo de passaportes era no mesmo sítio. O ritmo era lento mas acabou por passar rapidamente após alguns minutos. Catherine e eu continuámos a falar todo este caminho e mesmo antes da porta, quando eu já estava num sítio que não tinha estado de manhã e não sabia o que fazer, ela mostrou-me o que fazer, foi bastante tranquilizadora. Estava ainda muito vento na rua quando nos dirigimos para o avião e eu estava de tal forma nervoso e a tentar observar e absorver tudo ao mesmo tempo que, quando a subir as escadas, falhei um degrau. Ninguém reparou, penso. Assim, entrei no avião, coloquei a minha mala no compartimento designado e sentei-me. O meu lugar era mesmo no centro do avião pelo que pouco pude ver da descolagem e do voo. A primeira coisa que reparei foi que o avião era muito apertado, pouco espaço para o conforto. Isto foi parcialmente culpa minha pois levei o meu bilhete e casaco comigo na mão. Ainda assim, isto não desculpa o aperto que é aquele avião.

Estava tudo pronto e o avião estava em movimento quando começou a chover lá fora e eu receei o pior. As assistentes de bordo faziam a sua "dança" sincronizada de instruções para todas as situações possíveis, algo que eu ouvi com o maior interesse, não pela minha segurança mas para comparar com a minha única forma de informação nesta matéria: filmes. Entretanto uma gravação com as instruções ditadas em inglês continuava a dar e poucas pessoas olhavam para as assistentes. Estava no meio de profissionais.Quando finalmente era tempo de descolar já não se via qualquer assistente, todos os objectos electrónicos estavam desligados (algo que eu fiz mal me sentei), os cintos apertados (a segunda coisa que eu fiz quando me sentei) e as pessoas ao meu lado fechavam os olhos e praticavam a posição de segurança com receio do pior. Eu observava ansiosamente o exterior. O avião ganhava velocidade e finalmente descolou, fazendo sentir-me empurrado para os lados e trás conforme se "ajeitava" no ar. Pouca ou nenhuma turbulência que o capitão avisou que podíamos encontrar senti. O voo prosseguiu e as pessoas voltaram ao que estavam a fazer antes da descolagem, a falar, a andarem de um lado para o outro, a verem séries ou, no meu caso, a ler. As assistentes andavam de um lado para o outro a tentar vender o que quer que fosse e a atender a qualquer necessidade dos passageiros. Eu determinei a meio do voo, quando o capitão voltou a falar e o anunciou, que voar é extremamente aborrecido. Estamos confinados àquele espaço, àquelas pessoas, àquele espaço e, especialmente à noite, à mesma imagem durante horas. Assim, o voo passou, extremamente aborrecido. Quase quando aterrámos o capitão voltou a falar e pediu as mais "sinceras" desculpas pelo atraso.

Quando a chegar consegui ver um pouco do exterior e o que vi foi lindo. Campos vastos cobertos de neve nos arredores de Londres. Quando a chegar ao aeroporto vi Londres coberta também de neve e imensas luzes ligadas a esperar a nossa chegada. Foi maravilhoso. Apenas aqui senti um pouco de turbulência mas nada demais. Quando cheguei ao aeroporto e saí do avião senti o frio e neve imediatamente. Andei rapidamente com Catherine para dentro do edifício e a partir daí ela guiou-me até à saída (apesar de se ter enganado uma vez) e aí nos despedimos com um sincero agradecimento da minha parte por toda a ajuda e companhia. A partir daí estava por minha conta para encontrar o balcão de bilhetes da companhia de autocarros da qual tinha comprado o bilhete para tentar uma troca ou reembolso. Infelizmente, estava fechado pelo que me encaminhei para o exterior e tentei encontrar o meu autocarro para finalmente chegar ao meu destino nessa noite.

A viagem de autocarro e todos os assuntos relacionados com bilhete serão revelados na próxima parte do dia 1.

Foo Fighters - Learn to Fly

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Dia 1, parte 1: 'Suspenso'

Onze horas à espera num aeroporto. Um voo que estava marcado para as 10:55, para o qual fui levado muito antes da hora prevista devido a uma confusão na cabeça cansada da minha motorista/irmã, foi adiado a 5 minutos da hora prevista das 10:55 para as 19:20. Mas vamos recuar um bocado, vamos passar por todas as formalidades de uma noite pré-voo, a chegada ao aeroporto, a despedida e o período de espera até ir para a porta de embarque. Depois podemos passar à parte do "não-voo".

Uma noite mal dormida, não devido a nervosismo mas sim devido a intensos ventos que insistiam em bater nos meus estores e manter-me acordado praticamente a noite toda, não foi sentida quando cheguei no aeroporto e fui empurrado para dentro do edifício pelos fortes ventos para esperar o meu voo... ou assim pensei. A verdade é que quando fiquei sozinho (depois de uma despedida breve que foi antecedida por um café rápido e muito silêncio a acompanhar) decidi imediatamente passar a segurança e sentar-me certo de que já não havia muitas formas de perder o meu voo. Assim, fui para a linha para passar pela segurança e detector de metais. Aqui nota-se muito a mentalidade portuguesa, mesmo depois dos muitos atentados terroristas à volta do mundo: não há cá nada que alguém queira explodir. Esta é também a minha linha de pensamento. Assim, quando chegou a minha vez de passar pela segurança, a minha mala cheia ao máximo foi aberta com grande dificuldade para mostrar que o desodorizante era a única embalagem com líquidos que tinha comigo e o casaco, chaves, telemóvel e qualquer outro conteúdo que tivesse nos bolsos tinha sido retirado. Isto foi tudo feito com o máximo de nervosismo declarado da minha parte e o maior desinteresse do segurança que nem se dava ao trabalho de terminar as perguntas que constituem o seu trabalho. O seu desinteresse era de tal forma grande que quando chegou à altura de eu passar pelo detector de metais ele não me tinha pedido para retirar as botas... nem o cinto. Inexperiente como sou nestas coisas de voar nem me lembrei de tirar o cinto nem as botas, mesmo que nada disto me tenha sido pedido. Assim, fui tranquilo para passar pelo detector de metais e tudo o que pensava era que já não havia problema quando a máquina começa a apitar e tranquilamente (aqui penso que já se aplica a experiência do trabalho) um segurança se aproximou de mim para me revistar. Só aí é que dei pelo cinto e o assunto terminou assim. As botas ficaram calçadas. Peguei em tudo o que era meu à pressa, mais nervoso do que já estava e esforcei-me ao máximo em fechar normalmente a sobrecarregada mala.

Quando tinha tudo arrumado (ainda que à pressa mas sem partir nada) encaminhei-me mais calmamente para um banco e sentei-me, deixando o tempo passar. Observei as várias pessoas que lá estavam a fazer muito, desde uma rapariga a ler num kindle a uma senhora britânica que se sentou ao meu lado a ler o "Daily Mail". O meu primeiro pensamento foi: "ela vai para o mesmo lado que eu." Tinha razão. Mas isso vem mais tarde. 

Depois de algum tempo sozinho decidi dar uma caminhada e explorar o terminal enquanto esperava o voo. Lá fora o vento persistia e a chuva caía de uma forma tremenda. De vez em quando as luzes tremiam, durante um segundo desligavam e imediatamente voltavam a ligar. Naturalmente, isto deixou-me com algum receio de que o voo fosse adiado ou cancelado. Afastando essas dúvidas da minha cabeça segui. Pouco depois a porta foi anunciada, sendo uma que não reconheci fui explorar ainda mais o aeroporto para descobrir que havia uma parte com mais portas por onde não tinha caminhado. Um pouco apressado em entrar na linha para passar o controlo de passaportes e ir para a porta e em comprar uma pastilha elástica que me foi recomendada pelo voo andei um pouco sem sentido pela zona. Finalmente acabei por me meter na linha (sem pastilha) e esperar ansiosamente para entrar no avião. Aqui a minha inexperiência foi novamente demonstrada pois tinha o meu bilhete de avião já arrumado na mala novamente e era necessário mostrá-lo juntamente com o meu Cartão Único no controlo de passaportes. Assim, quando chegou a minha vez de o mostrar tive de pedir algum tempo ao segurança e, com grande dificuldade, abri a mala e tirei o bilhete. Nesta altura tinha o meu casaco da neve vestido e, juntamente com o enorme nervosismo que me assolava, isto significava que eu suava imenso, principalmente na testa. Não que tenha tido algum problema aqui, acabei por conseguir descobrir o truque para abrir e fechar a mala sem muitos problemas. Passado p controlo de passaportes restava apenas ficar na fila para a porta. Aqui não arrisquei e fiquei com o bilhete na mão, só para o caso de mo pedirem. Eventualmente um funcionário da easyjet, tão empenhado no seu trabalho como o segurança que me pediu para abrir a mala e deixou ficar as botas apareceu para me riscar o bilhete e dizer "bom dia" enquanto que deu instruções às pessoas à minha frente, ignorando-me por completo.

Nesta altura isso já não me afectava muito. Preocupava-me muito mais ainda não ter passado o último ponto de inspecção para chegar à porta quando só faltam nove minutos para o avião partir. Na minha mente estava apenas "não vão partir daqui sem mim, nem que tenha de ir agarrado a uma asa!" Só depois é que foi anunciado que, devido às condições meteorológicas em Portugal (muita chuva com forte vento), o voo tinha sido "suspenso". Isto não caiu bem em nenhum dos outros passageiros à minha volta, muito menos em mim que tinha um bilhete de autocarro comprado para a tarde e namorada à espera em Inglaterra. Assim, fomos obrigados a voltar para trás e esperar por mais notícias. Tal como muitos dos passageiros deste voo (e de outros) fui sentar-me na 'esplanada' do Macdonald's mesmo à frente do controlo de passaportes da minha porta. Haviam poucos lugares disponíveis, mesas vazias não existiam lá. Enquanto eu procurava por uma mesa, como muita esperança de a encontrar para poder pousar o meu tabuleiro com tosta mista e coca-cola, uma senhora que mais tarde vim a saber ser holandesa e à espera que o seu voo de volta a casa partisse indicou-me uma cadeira vazia numa mesa com a mesma senhora inglesa que lia o "Daily Mail" há um tempo atrás. Vendo nenhuma outra alternativa agradeci à senhora holandesa, pedi licença à senhora inglesa para me sentar e comi o que tinha no tabuleiro com satisfação. Foi nesta mesa que passei o resto do dia, ocasionalmente levantando-me para ir à casa de banho ou ver se havia alguma alteração no meu voo. Foi também nesta mesa que soube, a partir de terceiros, que o voo tinha sido adiado para as 19:20, já que nenhum funcionário da easyjet se deu ao trabalho de aparecer pela zona e explicar as razões para o adiamento tão largo. Foi, acima de tudo, que conheci Catherine, a simpática senhora inglesa, mãe e avó que ia 3 semanas para uma terra que me é impronunciável nos arredores de Londres para visitar os filhos e netos. 

Mas tudo isto e mais será explicado em mais detalhe na 2ª parte deste 1º dia da minha viagem a Inglaterra.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Com ou sem a ajuda do FMI

26 Mil Milhões de euros foi a quantia acertada pelo Fundo Monetário Internacional, na altura dirigido pelo senhor Dominique Strauss-Khan, mais recentemente conhecido pelos escândalos sexuais que o precedem, e pelo governo Português, na altura liderado pelo engenheiro José Sócrates, actualmente algures em França, sem dúvida a satisfazer o pedido do actual primeiro-ministro Português, Pedro Passos Coelho, de forma a resgatar Portugal da crise económica que se abateu sobre o país em 2008 (ou antes) na forma de empréstimo feito a partir de tranches acordadas previamente e que dependem da avaliação de um equipa de especialistas (Troika). (este acordo pode ser lido na integra no website do FMI: Acordo de Empréstimo a Portugal do FMI)

Esta quantia pode ser vista de uma maneira assustadora visto que é um empréstimo a longo prazo e pago com juros que nos vai custar um valor bastante superior ao que nos é facultado. Comparativamente à Grécia (30 Mil Milhões no primeiro empréstimo) e à Irlanda (22,5 Mil Milhões) podemos dizer que estamos bem colocados e não em tão maus lençóis quanto isso. Uma maneira da população mais leiga e mais preguiçosa (falo de mim) de ter alguma noção de como estas coisas de empréstimos e pagamentos está a correr é ver as notícias. Se houverem muitas notícias então país está mal (Grécia), se não houver notícia alguma o país está no bom caminho (Irlanda). Portugal, muito como o valor do seu empréstimo, está no meio destas duas definições. Para nós, Portugueses, vemos notícias constantes de dinheiro e investimentos e cortes (esta muito mais que as outras). Mas o que passa para fora das nossas fronteiras é muito mais raro que aqui em Portugal. Procurando jornais internacionais vê-se que o panorama europeu é muito semelhante ao Português o que faz com que o nosso caso não seja muito reportado. Mas isto não significa que as coisas não estejam más. Apenas significa que não somos os únicos com problemas. Mas que pensará o povo português disto?

Têm sido imensas, e cada vez mais violentas, as manifestações em Portugal. A revolta do povo faz-se sentir com grande força. Pedras são lançadas, abraços são dados, não falta muito até levarem os cravos para a rua. Mas isto são os dias em que o país pára e se concentra no Marquês de Pombal, desce a Avenida da Liberdade, passa pelo Rossio e caminho até ao parlamento onde é parado pela muralha de polícia. É caso para dizer que o povo está a ajudar a polícia a manter os ladrões presos dentro de um edifício.

Mas fora destes dias, o povo continua a ser o povo. O desempregado aproveita do fundo de desemprego, os filhos vão trabalhar mais cedo para ajudarem a sustentar os pais, os trabalhadores trabalham mais por menos, os amigos arranjam cunha aos amigos para trabalhar e assim continua. Exemplo disto foi a minha visita recente ao dentista num hospital lisboeta em que um filho de uma mãe... enfermeira que lá trabalhava chegou depois de mim e após ter mentido descaradamente... relatado a sua situação injusta escolar à mãe, foi atendido primeiro. Não me revolta imenso esta situação pois já é algo que estou habituado (apesar de, a meu ver, ser algo errado) e que até eu já beneficiei de certos conhecimentos para me adiantar no dia. O que isto criou em mim foi tristeza. Tristeza pois o povo revolta-se e grita e sangra mas depois volta ao mesmo, não muda. Somos os mesmos ladrões e trafulhas que tentam despachar-se na vida para enriquecer, que tomamos o caminho mais curto e mais fácil e acabamos por nos complicar ainda mais. Depois chegamos à situação em que estamos e que, com ou sem a ajuda do FMI e de todo o seu dinheiro, não vamos sair antes de sairmos desta mentalidade preguiçosa e, termo cheio de segundos significados, precoce.

U2 - With Or Without You

A Girl and Wolf - part I

Yesterday was the last time that I barked at the moon with tears coming down from my eyes. To be honest, it was the last time that my fur got wet under the rain. Yes, I was a wolf. I'd say a werewolf or a lycan but to be honest, I like wolves way better. But back to the main point. She saw me bark for the last time. Perfect full moon, somewhere in the middle of the forest, I was wounded. Not physically wounded, wounded at heart, at mind, at soul. I was lost. But she found me in my darkest hour. A little girl. A brave, lost little girl who roamed the forest in pursuit of some wood for her fire, she told me when I growled at her. I was taken by surprise. Her pure blue eyes, her clean blonde hair under a dark grey cap, cream white skin and mouth open with little breaths seen on ice. I moved towards her, eyes glaring and teeth showing. At first she got scared and dropped the few wood sticks that she had in her arms but then she stopped and smiled.

'Hi, wolfy.' - she looked at me with excitement and one hand reaching for me. Giving little steps on the snow she walked towards me, fearless. Whatever was in me of a hunter didn't see her as a prey. Again, I was lost. Her hand reached and petted my head. I felt the comfort and the warmth. I felt something else that I couldn't explain at the time. She picked her wood sticks and went back the way she came, smiling with her nose red from the cold. I stayed behind a while and started trailing her to see where she lived. I was a protective wolf then, the transformation in me had just started. She had something special, my instincts told me. I followed her through trees and bushes until I saw a little house made of stone, smoke coming out of the chimney. I observed it silently as she turned around and looked at me smiling, waving.

'Bye, wolfy' - she giggled and turned around, entered the house and I saw her no more that night. I settled near the house where I found a rabbit hole with rabbits I could feed myself of. During the days I saw nothing, at night a man came and a man went but the little girl was late to show until a night when screams came from the house and I saw her fragile body being tossed out by a drunk man, angered at life who had given him all he deserved. He stepped out with rage in his eyes and cowards' strength in his fists. I moved toward for his throat.

Type O Negative - Wolf Moon 

A Warm Winter's Night

I knew December to be of pain,
Dry bones under wet skin,
Of tears or rain I don't differ,
Of isolation and failure I say myself.

My head bubbling under water,
The grey skies resembling a lake,
Dark streets in which people drown
Sorrow and ignorance - anvils to bury them deep.

I knew December to be all this and now it's gone,
Changed as the weather that came and went,
Sunny as a late Summer's day,
Cold as this ordinary Winter night.

I knew December well but now it has changed,
Conquered my heart and skipped a beat,
A warm Winter's night indeed
Spent in a tight bed clenching together,
Saved from December and its dark corners.


Queen - A Winter's Tale