quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dia 1, parte 2: 'Sincerely' é, de facto, a palavra

Sentado na mesa do Macdonald's a comer uma tosta mista e a beber uma coca-cola é sempre uma visão solitária. É ainda mais quando o nosso voo foi adiado oito horas. Neste ponto eu não sabia muito bem a razão de tanto atraso. Sabia que o meu voo tinha sido adiado devido às condições meteorológicas de Lisboa mas porquê tanto tempo? Ainda hoje, há já quase uma semana em Inglaterra, não sei.

A minha ignorância neste assunto manteve-se mas a minha imagem solitária era partilhada por Catherine que se sentava do outro lado da mesa. A 'esplanada' do Macdonald's estava preenchida por isso fui "forçado" a sentar-me na mesma mesa dela, um pequeno favor que ela acedeu com um largo sorriso. Pode ser um bocado de preconceito da minha parte mas o sorriso e as boas maneiras parecem ser típicos do povo inglês. Assim, após a minha pequena refeição e uma ida à casa de banho, comecei uma alegre conversa com Catherine. Não me pareceu educado da minha parte, supondo que não faz parte da cultura inglesa, de lhe perguntar a idade. Isto, tal como as razões de um adiamento tão largo, permanece uma incógnita. Ainda assim consegui saber as razões da sua viagem. A verdade é que esta senhora inglesa vive em Portugal com o marido português, numa vila perto de Leiria. Ela disse o nome mas a verdade é que eu não percebi, talvez devido à minha grande ignorância no campo de geografia, talvez devido ao seu sotaque, talvez até uma grande mistura de ambos. Catherine ia voar para Inglaterra para visitar os seus filhos e netos que ainda lá viviam, visto que ela e o marido só se mudaram para cá permanentemente depois de se reformarem. Tudo isto ela me disse na troca de palavras que decorreu durante umas horas. Às vezes levantava-me eu, na minha ânsia para voar para Inglaterra, para ir ver o quadro de voos na esperança de uma melhor hora de voo visto que tinha bilhete de autocarro comprado para essa mesma tarde. Outras vezes levantava-se ela para esticar as pernas. Mas, em geral, a conversa decorreu fluentemente, com muitos risos e muita troca cultural agradável a decorrer. Atrás de nós estavam dois casais holandeses, um dos quais estava a senhora que me indicou o lugar, que, quando se levantaram, despediram-se de nós e disseram que iam para Amesterdão, de volta a casa. Mais tarde voltaram com a informação que também o voo deles tinha sido adiado. Naturalmente que quando voltaram as suas mesas já tinham sido ocupadas por quatro adolescentes de leste muito barulhentos.

Entre esta queixa houve outras, tal como a desilusão que foi de não conseguir saber mais informação pois não havia pessoal da easyjet (ou do aeroporto) para explicar a situação àqueles que se sentaram mais perto da porta na qual estavam quando o voo foi adiado. Isto só aumentava para o desespero. É claro que a esta hora já não tinha qualquer ilusão de que ia chegar a horas ao autocarro. Tendo isto em mente tentei ver toda a situação de outra perspectiva para que o tempo passasse melhor. Tentei ver tudo como Bill Bryson vê as coisas nos seus livros, de um ponto de vista alegre e positivo. Pensei que era uma nova experiência, que comecei por uma das piores, a partir daqui é sempre a subir, que era uma boa prática para quando eu voltar visto que vou ter de passar a noite acordado no aeroporto. Falhei. Miseravelmente. Simplesmente não sou esse tipo de pessoa. Tendo passado o tempo que passou e o que ainda faltava eu estava na grande esperança de encontrar algo, qualquer coisa que me entretivesse e à minha "colega de cela". Um casal brasileiro sentado na mesa adjacente à nossa comeu a sua refeição e partiu sem mais nenhuma palavra mas rapidamente foi substituído por um casal inter-racial inglês. Mal se sentaram rapidamente se apresentaram, fazendo conversa com uma voz bem disposta, um sotaque que não engana ninguém e, mais uma vez, um sorriso aberto. Também eles avós, vieram cá de férias visitar um amigo. Suponho que também sejam reformados para visitarem nesta altura do ano. Depois de um pouco de conversa achei que seria conveniente também apresentar-nos visto que eles próprios assumiram que tínhamos vindo juntos. Ele chama-se Gervan e ela Dorothy. Pessoas simpáticas que falaram abertamente. Iam voar para a mesma cidade que nós mas para um aeroporto diferente. Ajudaram-nos imenso a passar as horas e o voo deles acabou por coincidir com o nosso visto que o nosso foi adiado mais vinte minutos.

Após imensas horas de espera a nossa porta acabou por ser anunciada e dirigi-me juntamente com Catherine para a fila de embarque. Desta vez mantive sempre o bilhete comigo para que não tivesse mais momentos nervosos como de manhã. A fila era enorme visto que eram dois voos a embarcar em portas lado a lado mas o controlo de passaportes era no mesmo sítio. O ritmo era lento mas acabou por passar rapidamente após alguns minutos. Catherine e eu continuámos a falar todo este caminho e mesmo antes da porta, quando eu já estava num sítio que não tinha estado de manhã e não sabia o que fazer, ela mostrou-me o que fazer, foi bastante tranquilizadora. Estava ainda muito vento na rua quando nos dirigimos para o avião e eu estava de tal forma nervoso e a tentar observar e absorver tudo ao mesmo tempo que, quando a subir as escadas, falhei um degrau. Ninguém reparou, penso. Assim, entrei no avião, coloquei a minha mala no compartimento designado e sentei-me. O meu lugar era mesmo no centro do avião pelo que pouco pude ver da descolagem e do voo. A primeira coisa que reparei foi que o avião era muito apertado, pouco espaço para o conforto. Isto foi parcialmente culpa minha pois levei o meu bilhete e casaco comigo na mão. Ainda assim, isto não desculpa o aperto que é aquele avião.

Estava tudo pronto e o avião estava em movimento quando começou a chover lá fora e eu receei o pior. As assistentes de bordo faziam a sua "dança" sincronizada de instruções para todas as situações possíveis, algo que eu ouvi com o maior interesse, não pela minha segurança mas para comparar com a minha única forma de informação nesta matéria: filmes. Entretanto uma gravação com as instruções ditadas em inglês continuava a dar e poucas pessoas olhavam para as assistentes. Estava no meio de profissionais.Quando finalmente era tempo de descolar já não se via qualquer assistente, todos os objectos electrónicos estavam desligados (algo que eu fiz mal me sentei), os cintos apertados (a segunda coisa que eu fiz quando me sentei) e as pessoas ao meu lado fechavam os olhos e praticavam a posição de segurança com receio do pior. Eu observava ansiosamente o exterior. O avião ganhava velocidade e finalmente descolou, fazendo sentir-me empurrado para os lados e trás conforme se "ajeitava" no ar. Pouca ou nenhuma turbulência que o capitão avisou que podíamos encontrar senti. O voo prosseguiu e as pessoas voltaram ao que estavam a fazer antes da descolagem, a falar, a andarem de um lado para o outro, a verem séries ou, no meu caso, a ler. As assistentes andavam de um lado para o outro a tentar vender o que quer que fosse e a atender a qualquer necessidade dos passageiros. Eu determinei a meio do voo, quando o capitão voltou a falar e o anunciou, que voar é extremamente aborrecido. Estamos confinados àquele espaço, àquelas pessoas, àquele espaço e, especialmente à noite, à mesma imagem durante horas. Assim, o voo passou, extremamente aborrecido. Quase quando aterrámos o capitão voltou a falar e pediu as mais "sinceras" desculpas pelo atraso.

Quando a chegar consegui ver um pouco do exterior e o que vi foi lindo. Campos vastos cobertos de neve nos arredores de Londres. Quando a chegar ao aeroporto vi Londres coberta também de neve e imensas luzes ligadas a esperar a nossa chegada. Foi maravilhoso. Apenas aqui senti um pouco de turbulência mas nada demais. Quando cheguei ao aeroporto e saí do avião senti o frio e neve imediatamente. Andei rapidamente com Catherine para dentro do edifício e a partir daí ela guiou-me até à saída (apesar de se ter enganado uma vez) e aí nos despedimos com um sincero agradecimento da minha parte por toda a ajuda e companhia. A partir daí estava por minha conta para encontrar o balcão de bilhetes da companhia de autocarros da qual tinha comprado o bilhete para tentar uma troca ou reembolso. Infelizmente, estava fechado pelo que me encaminhei para o exterior e tentei encontrar o meu autocarro para finalmente chegar ao meu destino nessa noite.

A viagem de autocarro e todos os assuntos relacionados com bilhete serão revelados na próxima parte do dia 1.

Foo Fighters - Learn to Fly

1 comentário:

sónia fernandes disse...

Este texto estás espectacular. lê-se muito bem!!!

e mais....