Onze horas à espera num aeroporto. Um voo que estava marcado para as 10:55, para o qual fui levado muito antes da hora prevista devido a uma confusão na cabeça cansada da minha motorista/irmã, foi adiado a 5 minutos da hora prevista das 10:55 para as 19:20. Mas vamos recuar um bocado, vamos passar por todas as formalidades de uma noite pré-voo, a chegada ao aeroporto, a despedida e o período de espera até ir para a porta de embarque. Depois podemos passar à parte do "não-voo".
Uma noite mal dormida, não devido a nervosismo mas sim devido a intensos ventos que insistiam em bater nos meus estores e manter-me acordado praticamente a noite toda, não foi sentida quando cheguei no aeroporto e fui empurrado para dentro do edifício pelos fortes ventos para esperar o meu voo... ou assim pensei. A verdade é que quando fiquei sozinho (depois de uma despedida breve que foi antecedida por um café rápido e muito silêncio a acompanhar) decidi imediatamente passar a segurança e sentar-me certo de que já não havia muitas formas de perder o meu voo. Assim, fui para a linha para passar pela segurança e detector de metais. Aqui nota-se muito a mentalidade portuguesa, mesmo depois dos muitos atentados terroristas à volta do mundo: não há cá nada que alguém queira explodir. Esta é também a minha linha de pensamento. Assim, quando chegou a minha vez de passar pela segurança, a minha mala cheia ao máximo foi aberta com grande dificuldade para mostrar que o desodorizante era a única embalagem com líquidos que tinha comigo e o casaco, chaves, telemóvel e qualquer outro conteúdo que tivesse nos bolsos tinha sido retirado. Isto foi tudo feito com o máximo de nervosismo declarado da minha parte e o maior desinteresse do segurança que nem se dava ao trabalho de terminar as perguntas que constituem o seu trabalho. O seu desinteresse era de tal forma grande que quando chegou à altura de eu passar pelo detector de metais ele não me tinha pedido para retirar as botas... nem o cinto. Inexperiente como sou nestas coisas de voar nem me lembrei de tirar o cinto nem as botas, mesmo que nada disto me tenha sido pedido. Assim, fui tranquilo para passar pelo detector de metais e tudo o que pensava era que já não havia problema quando a máquina começa a apitar e tranquilamente (aqui penso que já se aplica a experiência do trabalho) um segurança se aproximou de mim para me revistar. Só aí é que dei pelo cinto e o assunto terminou assim. As botas ficaram calçadas. Peguei em tudo o que era meu à pressa, mais nervoso do que já estava e esforcei-me ao máximo em fechar normalmente a sobrecarregada mala.
Quando tinha tudo arrumado (ainda que à pressa mas sem partir nada) encaminhei-me mais calmamente para um banco e sentei-me, deixando o tempo passar. Observei as várias pessoas que lá estavam a fazer muito, desde uma rapariga a ler num kindle a uma senhora britânica que se sentou ao meu lado a ler o "Daily Mail". O meu primeiro pensamento foi: "ela vai para o mesmo lado que eu." Tinha razão. Mas isso vem mais tarde.
Depois de algum tempo sozinho decidi dar uma caminhada e explorar o terminal enquanto esperava o voo. Lá fora o vento persistia e a chuva caía de uma forma tremenda. De vez em quando as luzes tremiam, durante um segundo desligavam e imediatamente voltavam a ligar. Naturalmente, isto deixou-me com algum receio de que o voo fosse adiado ou cancelado. Afastando essas dúvidas da minha cabeça segui. Pouco depois a porta foi anunciada, sendo uma que não reconheci fui explorar ainda mais o aeroporto para descobrir que havia uma parte com mais portas por onde não tinha caminhado. Um pouco apressado em entrar na linha para passar o controlo de passaportes e ir para a porta e em comprar uma pastilha elástica que me foi recomendada pelo voo andei um pouco sem sentido pela zona. Finalmente acabei por me meter na linha (sem pastilha) e esperar ansiosamente para entrar no avião. Aqui a minha inexperiência foi novamente demonstrada pois tinha o meu bilhete de avião já arrumado na mala novamente e era necessário mostrá-lo juntamente com o meu Cartão Único no controlo de passaportes. Assim, quando chegou a minha vez de o mostrar tive de pedir algum tempo ao segurança e, com grande dificuldade, abri a mala e tirei o bilhete. Nesta altura tinha o meu casaco da neve vestido e, juntamente com o enorme nervosismo que me assolava, isto significava que eu suava imenso, principalmente na testa. Não que tenha tido algum problema aqui, acabei por conseguir descobrir o truque para abrir e fechar a mala sem muitos problemas. Passado p controlo de passaportes restava apenas ficar na fila para a porta. Aqui não arrisquei e fiquei com o bilhete na mão, só para o caso de mo pedirem. Eventualmente um funcionário da easyjet, tão empenhado no seu trabalho como o segurança que me pediu para abrir a mala e deixou ficar as botas apareceu para me riscar o bilhete e dizer "bom dia" enquanto que deu instruções às pessoas à minha frente, ignorando-me por completo.
Nesta altura isso já não me afectava muito. Preocupava-me muito mais ainda não ter passado o último ponto de inspecção para chegar à porta quando só faltam nove minutos para o avião partir. Na minha mente estava apenas "não vão partir daqui sem mim, nem que tenha de ir agarrado a uma asa!" Só depois é que foi anunciado que, devido às condições meteorológicas em Portugal (muita chuva com forte vento), o voo tinha sido "suspenso". Isto não caiu bem em nenhum dos outros passageiros à minha volta, muito menos em mim que tinha um bilhete de autocarro comprado para a tarde e namorada à espera em Inglaterra. Assim, fomos obrigados a voltar para trás e esperar por mais notícias. Tal como muitos dos passageiros deste voo (e de outros) fui sentar-me na 'esplanada' do Macdonald's mesmo à frente do controlo de passaportes da minha porta. Haviam poucos lugares disponíveis, mesas vazias não existiam lá. Enquanto eu procurava por uma mesa, como muita esperança de a encontrar para poder pousar o meu tabuleiro com tosta mista e coca-cola, uma senhora que mais tarde vim a saber ser holandesa e à espera que o seu voo de volta a casa partisse indicou-me uma cadeira vazia numa mesa com a mesma senhora inglesa que lia o "Daily Mail" há um tempo atrás. Vendo nenhuma outra alternativa agradeci à senhora holandesa, pedi licença à senhora inglesa para me sentar e comi o que tinha no tabuleiro com satisfação. Foi nesta mesa que passei o resto do dia, ocasionalmente levantando-me para ir à casa de banho ou ver se havia alguma alteração no meu voo. Foi também nesta mesa que soube, a partir de terceiros, que o voo tinha sido adiado para as 19:20, já que nenhum funcionário da easyjet se deu ao trabalho de aparecer pela zona e explicar as razões para o adiamento tão largo. Foi, acima de tudo, que conheci Catherine, a simpática senhora inglesa, mãe e avó que ia 3 semanas para uma terra que me é impronunciável nos arredores de Londres para visitar os filhos e netos.
Mas tudo isto e mais será explicado em mais detalhe na 2ª parte deste 1º dia da minha viagem a Inglaterra.
1 comentário:
meus Deus, preparei-te tão mal...peço desculpas. já há coisas que nem me lembro, pq as faço já quase sem pensar..aiaiiaia
mas esta viagem serviu de muito!!!! grande lição...está maravilhosa a parte onde descreves o nervosismos, o transpirar na testa, maravilho...estou mesmo a ver-te
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