segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

19000

Deixe-se o ar entrar e roubar-nos o último suspiro da Rainha do cofre tão pobremente guardado. Somos poucos e fracos, lentamente morremos, tão lentamente torturados pela vida que aceitamos a morte de bom grado. Estas terras estão desertas e as novas crianças esfomeadas, a comida ou nasce podre ou é levada pelos pássaros. O nosso sangue é o que alimenta a terra e muitos jazem nela como sacrifício para seu bem estar. A vista é de desolação mas ainda assim sorrimos. Sorrimos pois nada mais nos ensinaram, nenhuma outra educação temos.
As casas demolem-se a si mesmas do pouco uso, os canos enferrujam com a seca. O ácido das chuvas corroí os nossos cabelos e os nossos crânios, corrompe-nos os cérebros e altera-nos os programas, sendo nós nada mais que uma casca para o brilho que teme brilhar no exterior. Somos pobres máquinas, defensores do podre e do estragado, transformando o verde em castanho e cinzento, pisado e doente. Pintamos o que pudemos e tiramos as tintas ao que é novo. Deitamos abaixo a mudança e mantemos a monotonia perto de nós. A riqueza não significa nada para nós, simplesmente vemos o tempo passar e o mundo a morrer.
Arranhamos as bordas do cúmulo de sujidade e sujeitamo-nos a viver no final do mundo. Pela nossa estupidez saltaremos. Saltaremos com tal força e emoção que a meio da queda perceberemos quem realmente somos, o que aqui fazemos, ganhamos vida e pensamos. E será demasiado tarde, o escuro já habita à nossa volta e à volta dos nossos corações. Não há muralhas, não há poços com crocodilos, não há defesas. Há a pura e inocente estupidez de uma vida inteira no campo podre que criámos.

Down

I feel running inside of me, layers of lies, tales of the mind, webs all tangled, covering the floor.
Hours drown by hours, days falling for days, skies destroyed by bombs falling all over the place.
Despair rules in the eyes of those that cannot see, blindness sticks to the point of insanity, preaching humility.

A quest to find gold in the darkest cave, to save the starving, to feed the homeless, to abandon those who once left us behind.
Sleeping trough walls, dirt contaminating my dreams, powerless over the enchantment, the spell that you got on me.

Reckless destruction, freedom means, pursuing the dream of infinity.
Rage inside, a few words to speak, releasing the talent or die to try to be free.

Ages of infection, hiding the disease, creating death, spirit trapped in the ground, closely watched by the hounds.
Silence in order, anarchy to be found, a blood to be followed, into the depths of Inferno.

A cross burning in flames, given out as a sacrifice, a semi-god fake, eaten and beaten.

Scared, untalented shit, no dark corner to hide, only a soul to survive... you
A black winged human-demon, a fantasy hidden for the sake of the body.

Trace back to inspired times, maybe there I'll find something to be someone

Simbiose

O meu corpo tem escamas.
E cada escama respira um pouco de ti.
Pequenas bolhas emergem à superfície,
Viciadas no teu cheiro.

Vagueando por ruas do imaginário,
Perco tempo debaixo de água,
Tempo esse que é já tão escasso.

O templo resguarda a fama,
De tempos esquecidos e de suas sinas,
Dos génios que outrora aqui passaram
E que tanto admiras.

Aguardando a tua presença,
Guardando cada pedaço da tua essência no fundo de mim,
Nesta distante simbiose,
Alternada entre sonhos e partidas da mente.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Do quente ao frio

Passou tanto tempo em que partiste daqui e entraste na neblina do rio. À luz que cega em retorno da falta de velas, beijamos-nos numa troca suave de afectos. A tua pele é tão suave, parece que piso seda e me derreto numa nuvem de algodão. Os teus lábios, tão saborosos, não me quero afastar deles. A cada deslizo da língua, o fascínio em ver o que há lá fora, a chuva que cai, abençoando a união dos nossos corpos, mentes e almas, perco-me mais em ti e nesta paixão que tenho entre mãos. Indolor, esta noite passou sem que a alma chorasse por frio ou abandono. A cada centímetro de ti procurei um sítio onde deixar parte de mim. E foi em mim que repousaste com as tuas palavras, toques e beijos.
Ainda é cedo, não partas de mim. Adoro o teu calor, o teu cheiro viciante, o facto de estares aqui. A tua presença é um sonho, toda esta noite é um sonho. Os toques, os abraços, a beleza. Em toda a honestidade me dou a ti, submetendo-me aos teus encantos. E por esses mesmo encantos vejo que a noite não passa e fui bem sucedido em parar o tempo. A ti me dedico, devoção que ultrapassa a lógica humana. Mas se queremos mesmo achar o amor, a lógica e o pensamento são hologramas, caixas de cartão vazias, sem significado. Simplesmente deixo-me levar por ti, pela sensação que é ter-te nos meus braços, dormindo contigo. E há toneladas de sonhos contigo, abrindo as minhas asas e voando. Dar largas à imaginação e ouvir gargalhadas, abrir os olhos e ver-te com um sorriso na tua bela face, iluminada pela inocência.
E o barco partiu, deixando-te fora da minha vista. O pesar da vida e o cinzento das nuvens tomaram conta da viagem, preenchida com o silêncio e a loucura escondida lá no fundo de mim. Trazes o melhor e pior de mim, pões-me num estado de euforia e eu entro em transe, vendo apenas a tua cara numa espiral interminável, hipnotizante. Mas só a visão do teu sorriso é o suficiente para um dia ganho. E o som desta partida deixa-me com vontade de uma outra vez de te ver. As saudades começaram logo quando me deixaste no cais e partiste no barco.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Debaixo do choveiro

Debaixo do chuveiro, pensamentos correm pela mente, devaneios da mente degradada pelo tempo e pelos teus beijos, mãos e olhares curadas. Sou mais do que um mero espectador neste espectáculo fantasmagórico no qual me deixei envolver. Estas gotas caem na minha frente e para cima do meu corpo nu, numa pose desleixada de total relaxamento. Neste tempo e espaço o meu mundo está em paz, os pensamentos podem fluir livremente. É uma caixinha pequena de tempo limitado em que realmente estou em mim próprio. Todos os problemas parecem desaparecer, evaporar tal como a água quente que bate na superfície da banheira. Aqui entram apenas a felicidade e pensamentos de ti, interligados. As memórias de ti, do teu sorriso, da tua mão colada à minha, dos teus beijos, a tua face, em cada azulejo, em cada gota, em cada parte de mim. Ofereço-te a minha imensidão.
As palavras escapam-me à mente, o doce toque da facilidade e a subtileza com que preenchia então este espaço em branco eram o meu maior prazer, é o que me falta agora. É o bloqueio do escritor ou de alguém que resolveu meter uma letra ao lado da outra e ver o que dava. Construir um espaço onde pudesse deixar filosofias, ideias, ideais, sentimentos, emoções, histórias, risos e sorrisos, tudo o que nos torna humanos e um pouco mais. Um espaço para tentar explorar, mostrar ou criar o génio. Talvez até desenvolvê-lo de uma forma selvagem que tem tendência em magoar outros. Mas avista-se bloqueio, o desespero de não conseguir emitir o que quer que seja, de transmitir a mensagem para o exterior e sentir-se preso numa espiral que não parece acabar. São escadas que rumam ao infinito escuro, caminho - para baixo. Sempre para baixo, nunca parando. Se me desse ao trabalho de contar os dias que passaram a fio... devo dizer as noites que passaram a fio sem que conseguisse escrever uma letra aceitável, algo que considerasse digno do que procuro ser. Poderiam os dias e noites de Verão voltar com a inspiração da chuva, se faz favor. Até lá não sou escritor algum.
Levo-me para onde possa ver os autocarros a passar pelas ruas de Lisboa. Olho para a janela e consigo ver as árvores. Sinto-me como uma delas. Excepto que seco. Sem isto não sou nada. Sem palavras sou mais um parasita. E ainda nem sei o que fazer no futuro. Sinto-me perdido, como que uma árvore de Inverno sem a neve nos seus ramos, a pintá-la de branco, como uma árvore no Verão, com a sua folhagem completa mas nenhum raio de Sol a alimentá-la, uma de Outono, sem as suas folhas amarelas e castanhas, prontas a cair no chão. Resta-me então procurar a de Primavera mas a essa ponho-lhe fogo tal como escondo os meus sentimentos. Intoxicado, tenho de sair daqui, correr para teus braços, lá encontrar repouso e sorrisos, bons momentos que quero para sempre manter comigo e partilhar contigo. Quem diria que o escritor não é mais do que uma besta presa à procura de romance e de alguém com um olhar igual ao seu? Porque temos de ser sempre tão frios? Nós não, eles. Não os percebo. Começo por não me perceber a mim, como posso percebê-los e igualá-los? É triste mas é algo passageiro. Agrada-me somente a ideia dos teus lábios nos meus. E um dia escrever-te-ei algo digno de ti.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A dita felicidade

O doce toque do vento,
Translúcido,
Deixa uma clara imagem
Da pequena no entanto demasiada distância de ti.

Numa confusão de passos
Dados na escuridão,
Dedicados,
Deliciados por este silêncio.

Corro para ti,
Num movimento lento, como que num sonho.
E será tudo um sonho,
Visto que estás aqui, comigo?

Corto este ambiente com uma faca,
Acendendo o isqueiro para outro cigarro fumado,
Partindo o punhal em dois.

Não posso dizer que o meu coração tenha desaparecido,
Apenas derretido,
Por ti,
Por tua razão.

É um fado que se canta nas ruas do cais,
Onde o mar ribomba com força contra as pedras,
E as pessoas caminham sentido o seu aroma fresco no ar.

A fortuna realizada por junção de palavras,
Aceite pelo que a alma vê e o que a mente não compreende.
Então é esta a felicidade e tranquilidade,
O concretizado e certo estado de espírito que procurei.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Stand by me - Playing for Change [various street artists]

Simplesmente fantástico... porque merecem:

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

[4] Mensagem dos portos de Lisboa

"Não somos escritores. Pessoa, Verde, Camões... somos apenas tresloucados que andamos a ver e a pensar demasiado em vez de andarmos por aí nas ruelas a beber e a cantar, viver a vida e a destruirmo-nos por dentro. Devíamos ter deixado as nossas vidas de sentimentos, pensamentos, filosofias para trás. Tudo isto é em vão. Qualquer um pode pegar numa caneta e escrever. Até um miúdo de 4 ou 5 anos pode escrever sobre o quão feliz é na sua ignorância. Não somos nada, nunca o fomos. Simulamos todas estas coisas para dizer que não somos os mais inúteis e tristes à face da terra. E de facto não somos. Os mais tristes são os que se sentam nas cadeiras a lamuriar-se. Ao menos nós ainda nos escondemos atrás de mil máscaras e mentiras e até mentimos a nós mesmos sobre essa mesma tristeza que sentimos dentro de nós. Não é afastar ou esconder, ou até mesmo apagar, é mentir. Sempre foi. E se o gritarmos conscientemente, talvez venha um trovão das nuvens e nos reduza a cinzas para alimentar a terra. Mas vocês já foram, esqueço-me. Resto eu. Eu e muitos outros que ousam pegar na caneta. Somos todos incapazes... meros idiotas."
Frustrado, a vida mantém as esperanças em baixo. Tantas foram as conversas, palavras e letras do símbolo lusitano que hoje se usa com vergonha. As bandeiras arderam, o Rei perdeu-se no caminho para Avalon, deixando o Império procurando uma fuga à situação, formando a resistência à invasão que iria vir. O mito permaneceu entre nós, referenciado tantas vezes, saltando de boca em boca, de geração em geração e ainda hoje se observa as Brumas com esperança que Ele volte e nos governe mais uma vez, tornando o mundo nosso, como foi na altura das caravelas. O mar uiva o retorno dos imensos papéis esvoaçantes e do velho que berrava no porto de Belém às naus que deixavam a Pátria em busca de novas terras para os nobres enriquecerem. As saudades dos tempos passados que em rimas foram escritas pelo "zarolho" e então enriquecidas pelo "maluco". Aí sim, a escrita era rica. Até o estranho "legume" descrevia as ruas de Lisboa com o amor e dedicação necessário, reparando no mínimo pormenor e transformando-o na luz desta cidade cinzenta. As saudades dos bons tempos de escrita lusitana.
No Inverno, os telhados reluziam, brancos. Fechados dentro de casa, sentados na cadeira, à frente da lareira, aproveitando o último calor que restava naquela casa, as mãos tremendo, agarrando instavelmene a caneta, pressionando-a contra o papel, tentando não esquecer da sua filosofia que viera à cabeça hoje enquanto observa as mulheres a olhar para o mar, tentando ver, lá no horizonte profundo, o relançe de uma nave que trouxesse os seus maridos de volta para casa e para os seus braços. O amor morria lentamente, juntamente com o sonho, mas o poeta conseguia agarrar bem o fundo da alma e tirar de lá o afecto que, combinado com a paixão, formavam o amor a que firmemente se agarravam. Mulheres de lutadores, resistentes às tormentas e aos pesadelos, sentadas esperavam, nada mais podiam fazer. E ele, observando, sentado, também nada mais podia fazer. Nada lhe dera mais gosto do que morrer naquele Inverno. Ainda assim, as suas palavras permacem no eterno epicismo que é relembrado actualmente por aqueles que passam e acenam para as figuras esculpidas dos heróis de outras alturas.
Amigo, fala comigo. Escreve-me cartas a descrever como é Avalon e do que me espera um dia, talvez. Diz-me se o Rei perdido está aí e se tenciona algum dia voltar a nós e trazer esperança de grandeza e riqueza, felicidade e terras. Diz-me, és feliz aí com os outros blasfemos que hoje estudo na entidiante e desmotivante escola. Agarro-me ao sonho de te ver um dia destes, sentado à mesa comigo, com o vinho servido para quatro. Eu, tu, Camões e Verde. A discutirmos filosofias e ideias, relembrando momentos de felicidade e atrocidades deste povo que hoje mata a língua lusa. Revela-me o génio dentro de ti e de mim. Deixa-me compreender-te. Guia-me por meu futuro incerto. Sabes que me sinto perdido, várias vezes to disse antes de adormecer para que me desses uma luz do que fazer desta vida que é, por meu conhecimento, curta. Sabes também que não resisto à tentação de explorar as tuas palavras ao mais infímo detalhe, expremer-lhes o significado e encontrar-me ali, encolhido, como que uma criança inocente que só precisa de um pai que a abrace e brinque com ela por uns momentos. E encontro-me mesmo. Tanta vez que só me apetece copiar-te, escrever o mesmo porque é o mesmo que penso, o mesmo que sinto. Se ao menos as tuas palavras me podessem tirar desta prisão...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

[3] Pendendo

"Começo a notar que a idade já não tem perdão de mim. Deixa-me pegado a memórias e cicatrizes e traz a transparência para os bastidores do ser. A minha ignorância e insegurança consumem os focos da peça de teatro que é a minha vida. E o público é um exaustivo turbilhão de filosofias e julgamentos sem qualquer razão de ser. Apenas por um impuro olhar, um relance de mau humor causado pelo frio. E está tanto frio cá dentro. Tão frio... distante, isolado. Não se consegue encontrar luz pois a luz provém dos candeeiros e, ao contrário desses, eu sinto e penso. Penso... e se penso. Se há coisa que não páro de fazer é pensar. Pensar, observar e julgar no silêncio que pergunta as questões de ser. E sinto. Sinto ódio, raiva, compaixão, um misto de todas as coisas humanas que restam em mim. É confuso. Não quero sentir... não quero apaixonar-me e andar por aí agarrado a alguém e a algo. Quero-me sentar em cima da cama e escrever até a minha mão desaparecer e a minha imaginação desaparecer. Aí saberei que os sentimentos esvaneceram. Finalmente, uma razão real para escrever. Escrever loucuras e espinhos que magoam, fazem chorar e sangrar."
Pendendo nas questões da idade. O oxigénio já não entra pelas narinas, o sangue deixou de circular pelas veias, o corpo jaz deitado na cama, roupa preta, face branca. O tempo passou, tão rapidamente deixou este corpo podre, decrépito. O filme da vida desenrola-se nas suas últimas palavras lançadas ao ar, livres, à vontade de serem apanhadas pelo primeiro que se interessar. Durante toda a sua vida, risos, abraços, alegrias. Desilusões eram meros acasos do destino que eram apagados pela forte crença da evolução dos dias. "Amanhã vai ser tudo melhor, tudo certo" - então ele acreditava e ele continuava, contra muros, prédios, casas e almas, nunca parando, mesmo quando o sangue era retirado do seu corpo. A sua mente foi-se lentamente degradando, até o mínimo raio de Sol significava a destruição do seu mundo, a sua Atlântica cairia em ruínas no fundo do Oceano antes dos tempos começarem. A força escapou-lhe no último segundo e as palavras ficaram-lhe entranhadas na garganta, asfixiando, quase matando tanto quanto o sentimento de culpa de não ter concretizado a sua vida na totalidade.
O seu cabelo, grisalho, esvoaça com o vento, cabeça deitada no solo de alcatrão. A sua tolice atingira-lo nos seus últimos anos, a respiração também ficou dependente das máquinas a que se encontrava ligado. O seu retorno ao seu tempo de criança, a lágrima conta a história da saudade da energia e vivacidade, da inocência e felicidade. O sorriso é a artificialidade do cérebro morto que só sabe agora fingir até se deitar a última vez, rodeado daqueles que na sua vida sempre fingiram querer saber dele. Ele sabia bem do cinismo, das palavras secretas e do punhal que lhe era espetado nas costas durante o seu sono. Era um velho seco, cheio de sorrisos falsos e alegrias mortes mas ainda tinha a sua experiência de vida e o conhecimento sobre pessoas. Mais sábio que a cabeça do génio da família, sobrevivia das migalhas que as crianças lhe ofereciam nos anos e no Natal. O vento levou-lhe o sopro e com ele foi a alma desertada.
As batalhas, o sangue derramado, a teimosia, o querer fazer parte de um mito, ser uma lenda. As cicatrizes mostram onde as espadas queimaram e os lábios rompidos mostram onde os cigarros tocaram. As palavras cortam o ar e o som é espalhado pelos ouvidos. Pendente entre vida e morte, vê-se já no caixão, com todos os falsos a sorrirem a sua volta. Já não se volta para o materialismo e está demasiado cansado para a vingança, deixa-se adormecer. Sonha do branco e do preto, da água eterna que percorre o seu corpo e o limpa e dos fogos que ardem nos campos de guerra que já percorreu. Retorno à dependência de outros para continuar o sofrimento, inerente a todos nós. O vento é agora parte de si e é ele que leva as suas cinzas, agora que cedeu à vastidão do negro. E nada mais ficaram os outros a ganhar, no final sempre houve vingança.

domingo, 30 de novembro de 2008

[2] Um dia diferente

"Sinto-me rodeado por ignorantes. Tanta vez encontro paredes, mentalidades diferentes, ideias diferentes, filosofias que não correspondem. E julgo-me frio, logo raciocínio com mais lógica que os outros não frios. Mas não há o relevo de uma mentalidade inferior. Nem de uma superior. Mas há algo mais aqui. Há algo de facto. Há um frio ao meu lado que me cola os lábios e não permite que os pensamentos saiam. Um frio que vem por esta altura do ano ou que me acompanha pela espinha e lá se aloja até chegar ao Verão e ao coração. Já o calor ficou na cama. Na sua inocência imaterial, mostra-me o bom que é estar lá. E aí estou sozinho. Sozinho e no silêncio do meu quarto. O silêncio não é obrigatório - é inconsciente. Natura e automaticamente realço a beleza da escuridão que abraça a minha cama, aquecendo-me por longas noites sem chuva. E são os candeeiros que dão luz lá fora, na sua solidão presa por fios. Eles, na sua bela incapacidade de sentir ou pensar, estabelecem uma ligação ao vício de enregelar. O seu aço funde-se com a humidade seca e juntos fazem brilhar o cinzento pelas sombras que criam com as palmeiras à sua frente."
Num dia diferente estas palavras soariam tão mais redundantes. Num outro dia eu mudá-la-ias para murros e pontapés e saltos e corridas frenéticas até que a energia se esgotasse. O Sol não brilhava então. Então eram noites de chuva em que a tristeza e a fraqueza se abatia sobre a atmosfera à volta do meu corpo. Pareciam ser a única coisa que o meu centro de gravidade puxava. Encontro hoje então, uma parede à minha frente. Por mais que a empurre, que a tente afastar, ela não se mexe, não cai. Pouco a pouco vai-se deteriorando, ou sou eu que a vou moldando. O seu corpo, feminino, de uma beleza escarlate que me cega e que me preenche com devaneios. Imagino para além do longe e encontro que o meu próprio inimigo é este fardo de pensar demasiado pouco, ser muito impulsivo. Corro contra a parede moldada em mulher e abraço-a enquanto ela cai no chão e se parte em mil pedaços.
Sozinho outra vez, caminhando pelo deserto repetido que é a paisagem do meu quarto, corro os estores para cima e fico a observar a chuva matinal enquanto que o dia dá o seu cumprimento instantâneo por ser oculto pelas nuvens. Tudo se mantém tão escuro, este dia nasceu para uma pessoa morrer na sua loucura. Numa luta para me manter em pé, de frente para a estatueta que se mostra no vidro, reparo que eu não passo de uma fútil casca nascida para ser partida. Tantas vezes o desejei, tantas vezes o sonhei, só hoje realmente me observei e percebi, não sou nada senão igual a todos os outros. E esses outros tanta vez critico eu. No meu reino de hipocrisia, sento-me no meu trono e vejo-os, iguais a mim, mais uma vez, lixos sonâmbulos na terra. Criam o seu monte de sujidade, montam o seu trono e aí se sentam, criando cada vez mais sujidade, até chegarem ao tecto do universo e explodirem por falta de oxigénio.
Se pudesse citar o próprio imaginário, preencheria este mundo com cores e palavras, imagens e pesadelos, mortes e ódio. Uma tela do tamanho do Universo seria tão pequena que uma criança teria de dar o seu sangue para manter as chamas da explosão a arder. Um Universo paralelo por explorar... mas o que é realmente o desconhecimento quando foi a morte que nos apagou o que criámos? Continuamos cá, a flutuar, inerentes a tudo o resto. Tudo o que vemos é escuro, uma imensidão de preto contagiante e viciante que não nos larga. Persegue-nos que nem uma libelinha num dia de Verão à procura da sua liberdade mental. E nós somos a sombra desse mesmo preto. Provamos a nós próprios que o conforto e calor humano não é o suficiente e acabamos outra vez sozinhos, completando um ciclo, embatendo contra aquela parede inicial vezes sem conta. Moldamos-nos e aos outros da forma que queremos. Por isso é que nos magoamos. Vezes sem conta, somos nós que nos mentimos. Num dia diferente, estaria disposto a fechar-me. Se calhar a abrir-me. Não sei, a tela do meu imaginário está demasiado confusa.

Introdução

Sinto-me rodeado por ignorantes. Tanta vez encontro paredes, mentalidades diferentes, ideias diferentes, filosofias que não correspondem. E julgo-me frio, logo raciocínio com mais lógica que os outros não frios. Mas não há o relevo de uma mentalidade inferior. Nem de uma superior. Mas há algo mais aqui. Há algo de facto. Há um frio ao meu lado que me cola os lábios e não permite que os pensamentos saiam. Um frio que vem por esta altura do ano ou que me acompanha pela espinha e lá se aloja até chegar ao Verão e ao coração. Já o calor ficou na cama. Na sua inocência imaterial, mostra-me o bom que é estar lá. E aí estou sozinho. Sozinho e no silêncio do meu quarto. O silêncio não é obrigatório - é inconsciente. Natura e automaticamente realço a beleza da escuridão que abraça a minha cama, aquecendo-me por longas noites sem chuva. E são os candeeiros que dão luz lá fora, na sua solidão presa por fios. Eles, na sua bela incapacidade de sentir ou pensar, estabelecem uma ligação ao vício de enregelar. O seu aço funde-se com a humidade seca e juntos fazem brilhar o cinzento pelas sombras que criam com as palmeiras à sua frente.
Começo a notar que a idade já não tem perdão de mim. Deixa-me pegado a memórias e cicatrizes e traz a transparência para os bastidores do ser. A minha ignorância e insegurança consumem os focos da peça de teatro que é a minha vida. E o público é um exaustivo turbilhão de filosofias e julgamentos sem qualquer razão de ser. Apenas por um impuro olhar, um relance de mau humor causado pelo frio. E está tanto frio cá dentro. Tão frio... distante, isolado. Não se consegue encontrar luz pois a luz provém dos candeeiros e, ao contrário desses, eu sinto e penso. Penso... e se penso. Se há coisa que não páro de fazer é pensar. Pensar, observar e julgar no silêncio que pergunta as questões de ser. E sinto. Sinto ódio, raiva, compaixão, um misto de todas as coisas humanas que restam em mim. É confuso. Não quero sentir... não quero apaixonar-me e andar por aí agarrado a alguém e a algo. Quero-me sentar em cima da cama e escrever até a minha mão desparecer e a minha imaginação desaparecer. Aí saberei que os sentimentos esvaneceram. Finalmente, uma razão real para escrever. Escrever loucuro e espinhos que magoam, fazem chorar e sangrar.
Não somos escritores. Pessoa, Verde, Camões... somos apenas tresloucados que andamos a ver e a pensar demasiado em vez de andarmos por aí nas ruelas a beber e a cantar, viver a vida e a destruirmo-nos por dentro. Devíamos ter deixado as nossas vidas de sentimentos, pensamentos, filosofias para trás. Tudo isto é em vão. Qualquer um pode pegar numa caneta e escrever. Até um míudo de 4 ou 5 anos pode escrever sobre o quão feliz é na sua ignorância. Não somos nada, nunca o fomos. Simulamos todas estas coisas para dizer que não somos os mais inúteis e tristes à face da terra. E de facto não somos. Os mais tristes são os que se sentam nas cadeiras a lamuriar-se. Ao menos nós ainda nos escondemos atrás de mil máscaras e mentiras e até mentimos a nós mesmos sobre essa mesma tristeza que sentimos dentro de nós. Não é afastar ou esconder, ou até mesmo apagar, é mentir. Sempre foi. E se o gritarmos conscientemente, talvez venha um trovão das nuvens e nos reduza a cinzas para alimentar a terra. Mas vocês já foram, esqueço-me. Resto eu. Eu e muitos outros que ousam pegar na caneta. Somos todos incapazes... meros idiotas.

domingo, 23 de novembro de 2008

Wolf's Moon

I'm not afraid of feel, finding myself in the cold, depending of a smile in the rain to wonder around this big old town. I'm not useless until I'm paraplegic or dead, in that day you won't find me. Continuing to the underground of the soul, all of those who found the light, sang the anthem and lived trough the mist. I still wonder alone with silence and coldness. The pride's changed to a shield and hatred into a thin blade that won't brake with your rocks, only gets stronger. I can't find a cave where I can rest tonight.
I'm in debt to death. Today I've set foot on the land of the burned trees and decayed with them, yet I'm not fallen on the ground as their branches are. I've walked trough the Earth, burning, caressing, infecting, all in my way. Mothers, children, souls, lies and cement-founded buildings. All fallen as my passage marked the arrival of the red Apocalypse. Am I on the fifth horse spreading the disease or am I the face of death in debt of my survival? But let me understand, immortality isn't a cure or a blessing. It's a curse of knowing and loving and watch them die without having the slightest chance of helping them.
I see the lightning dance trough the air, never hitting the ground or me. How I wish to be left alone under the thunder storm and burn along with this purified unfleshed beings that I used to call friends. They all left me alone, they created the silence and gave it to me as a last gift in the fire. Assembling of those left behind, here came the water and took them away. Deserted again, wondering, waiting to find home, where I can lay may head and lust, put myself slowly to die. No shame to walk trough graves of those who left me. My resemblance to the times the sun shined and I lived with a smile is the Moon that shines tonight in the night sky. The storm and thunder as left me to cry.

sábado, 22 de novembro de 2008

De ti

De ti, nada mais quero,
O sangue desordenado a correr pelo corpo,
Encontrado repouso debaixo do manto das tuas mentiras.

Se nada mais me ofereces que não um pedaço de estupidez,
Infidelidade destacada pelo ar entre nós.
Se nada mais controlo,
Então que se afundem no abismo tu e o teu maldito amor.

A rua apela mais à morte das letras,
Então repouso o meu corpo pesado sob as pedras.
O vazio ocupa a cama esta noite.

Olhos brilham no escuro,
Do gato castrado e condenado à espera de piedade,
De uma morte acompanhada com a luz,
Da mais simples palavra tua.

O rescaldo deste grande nevoeiro sobre nós,
Envolvendo-nos, juntando-nos.
Mas
Rejeito esta mão de destino.

Sei que sou eu que provoco essas lágrimas que te caem agora,
Que gosto me dá saboreá-las e então abandonar-te à tua confusão.

De ti, aceito apenas o abandono da longa jornada da nossa vida,
Deste maranhal de lutas e suor largado num duelo amigável.
Aceito a campa comum onde descansamos para a luta imortal,
De mãos dadas às estrelas.

Autopsicografia - Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bebida da meia noite

As mãos gélidas, a face congelada, a alma parada no tempo. A sensação de não sentir outra vez. A beleza de gritar para fora tudo o que corroí a mente e ver o mundo a girar numa espiral mortífera até à explosão, o culminar da vida. É como o abrir duma flor nos dias mais cruéis do Inverno. O desabrochar duma nova vida, duma agradecida e nova raiva, o retorno de todo o negro e obscuro prazer. A sombra de dias passados que retoma os seus passos no caminho da destruição e do desconhecimento por entre as brumas da mente.
Enche outro vaso com a mesma terra de sempre, deixa as plantas beberem desse veneno e queimarem até serem cinzas para alimentarem cadáveres. O tempo que passou para a rega do castanho das folhas já passou e a esperança foi deixada deserta, abandonada, deixada ao acaso da imaginação de um louco que um dia ousou pensar. A organização na vida que não viu noutros dia o Sol foi escrita por um cego que se auto-intitulou deus e que deu a todos a seu cegueira através de palavras e espinhos. Esses mesmos espinhos ainda cravados em corações opacos ou gastos de humanóides que habit... destroem a terra que pisam. Cimentam as cinzas e com esse cimento se queimam e cavam as campas.
Cada gesto meditado, seguido pela noite. Cada emoção, sentimento pensado, triturado, usado. Racionalizado até ao profundo detalhe de que no final do ciclo volta tudo ao mesmo e o fundo do copo está vazio. O piano troca a melodia ritmada, alegre do jazz pelos melancólicos, tristes blues. A mente afunda-se rapidamente para um sono profundo e prolongado, cabeça encostada à almofada e corpo debaixo de lençóis. Apenas no dia seguinte se pode expressar o que realmente se sente. E isso vem em sonhos. O desespero. A sensação de que o buraco está a ficar cada vez maior, que o poço já não tem origem mas sim escadas para nos afundarmos na água. No segundo seguinte encontramos-nos presos ao chão.
O sangue corre com um pouco mais de liberdade enquanto a flauta solta pelo ar os seus lamentos de sopro. O sentimento não vem dos pulmões, vem das ondas de som que atravessam a sala vazia até chegar àquela cadeira vazia onde se encontra o fantasma do ontem, sentado a falar com a armadura do amanhã. E o hoje é apenas uma máscara do oxigénio gasto, a respirar a putridão de um pequeno, mesmo mínimo, símbolo do Universo. Resume-se em horas que não se podiam gastar em nada melhor, muito menos em lembranças. As palavras de fé em continuar em frente e pisar a mesma terra que todos os bonecos de plástico pisam são distribuídas pelas árvores. O Sol, imperdoável, impenetrável, esconde-se atrás das nuvens de chuva e frio e o vento leva a força que restou desta batalha incessante.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Um brinde a casa (parte II)

Uma figura transfigurada, congelada, modificada. Eu, uma silhueta de afinidades, pensamentos a mil à hora e o puro estado de medo em que repouso nestas longas noites. Na mistura de tanto que pode ser racionalizado e afastado, encontro a fuga de uma raposa, procurando as últimas ervas que o Verão deixou para trás para serem consumidas. O seu pêlo ruivo, a resplandecer esta desfiguração que me entristece e enraivece por dentro, solta um grito, vibrante, intenso. Mas que mais posso fazer se não agradecer ao seu choro por me ter morto a solidão? Até parece ingratidão tal português, tão fraco, deixando a nobreza e orgulho do passado desvanecer. Mas é um animal, uma besta esquecida, torturada, procurada, caçada e morta. Afinal... afinal os animais, as bestas somos nós, que nada fazemos para merecer o que temos e o que temos damos a quem não nos merece. Cansado de toda a lamúria inventada, abandono este repouso e apago a lareira para mais uma noite de pesadelos.
Uma hora passei eu, desperto, sobre esta cama de desespero e insónias, na minha solidão que recuso e que não demonstro ao mundo. Mas o terror assola-se perante mim, deixando-me imóvel, os olhos a arder de lágrimas retidas dentro, vendo a minha sombra a transformar-se em algo medonho, alguém que não eu. Mas a sombra segue-me, a melodia do vento transforma-se num frenesim de imagens de terror, sangue e desmembramento. Então, invadido com toda a fúria, com todo o medo, com todo o orgulho, fecho os olhos e abro as asas, deixando esta penumbra transformar-se na minha própria escuridão. Então compreendo, ainda que bem no fundo deste monstro, que sou eu que realmente estou naquela sombra. O monstro representa apenas uma fracção de mim que suprimo no interior para não o veres. Apaga-se mais uma vez as luzes da penumbra, fecha-se as asas e cai-se uma vez mais em cima da cama, adormecendo, cabelo à frente da cama.
Um novo dia nesta prisão, cansado de toda a madeira, de todas as fogueiras, das raposas que me vêm mostrar o desespero de estar perdido dentro de mim. Gostava de um dia te encontrar outra vez à beira do lago, que andássemos uma vez mais para o abismo, que nos encontrássemos, abraçássemos na escuridão das rochas. Mas continuas sempre para trás, não consegues passar esta barreira de neve que caiu sobre a minha floresta. Então o lago gela, tal como as minhas lágrimas e o meu coração. Que o pano caia sobre o nosso palco e se conte o soneto das vezes que nos encontrámos e das vidas que deixámos passar sem amor ou real intenção por orgulho e pura liberdade falsa, enganadora. Deito fogo a esta casa de madeira e pedra e caio no gelo, congelo-me para que num dia de Primavera me encontres a dormir e me acordes para a nossa felicidade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um brinde a casa (parte I)

As sombras desaparecem, a Lua cheia dá lugar a mais um dia de chuva. E que bom é sentir a caricia gelada de uma chuva de Outono. As folhas molhadas, coladas às pedras no chão, castanhas, mortas. O ciclo terminou mais uma vez aqui e todos os animais se recolhem à sua toca para homenagear aqueles que caíram na sua pura fraqueza. O enregelamento, caindo sobre a superfície terrestre, queimando as silvas outrora gloriosas, cheias de força. O sangue aqui derramado não passa de uma memória de florestas que existiram.
Estas pedras contam uma história. E a cada história que passamos há um limite à imaginação que nos acorrenta ao chão. As lendas, castas, presas por tudo o que representam, constituem uma mentira, todas juntas. São uma máscara às mortes que por aqui passaram e às almas que ficaram por relembrar. O vento sopra, interpretando um chamamento para algum lugar ressequido e longínquo onde nada mais senão a limpeza da mente poderá habitar. Então as árvores abanam no seu frenético sono onde sonham com a pureza dos elfos e a beleza escondida nas sombras mais profundas dos humanos.
O som que passa, os raios que Sol que ficam presos nos picos das árvores. As montanhas que se avisam lá ao longe, o lago gelado neste Inverno que se situa isolado, tristonho. Tudo vejo, aqui sentado na minha cabana de madeira e pedra, com a lareira acesa, alimentada com sonhos e sorrisos. O preguiçoso corvo que estende as asas para morrer num penúltimo guincho. E todas as passagens passadas e paixões apagadas, encontro-me debaixo do manto da vanidade, dormindo. E mais um mergulho nas profundezas da minha própria realidade, encontro-me sozinho, perdido na lágrima que se tornou o lago congelado. Aqui chamo casa ao guardião que sempre lá esteve e que tão pouco se manifestou.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

At this time

At this time... at this time, I know, I'm going insane. What more is there to offer? What can I give to you, so precious, what will I depend if your words don't warm me tonight? The Moon won't disappear behind this masquerade of tragedy. And the thoughts of you represent my sin, ruled by carnage. Casting the tears from the eyes, the grey hides the sadness upon the blood of men. Left behind, strangers in a strange land, a load from the darkness to destroy and conquer, the re-build to die again. We forgot the vows to the Earth, delivered our lands to the lords of the unguided realm. Are we ashamed? We hide our emotions behind these beautiful masks and throw away our future for a little isolation. Can we deny forever our truth, our feelings?
Let me taste your tears, let me see your drowning pools of sorrow, the harvest of this cold Winter that comes and takes it all away. Ashamed, sad, just feeling crappy, in this night wind without your sight. I've travelled far and from far I've come to know that you vanished, the one that I most relinquish. Make me feel home, embrace me forever and give the ashes of my former self away. Decay, I'm slowly dying inside you. Why did you leave me alone? The trees whisper to me as the wolves cry to the full Moon. Tonight I will leave, never more come back into the house of my dreams, where I kiss your naked neck and I hear your breath. There my tears froze and my lamentations were a block of ice. Know my anger, my worthy propose. One more season and I'll be haunting you so you never forget me.
Fading inside me, crying inside me, the mirror image of my murder art has reached the end of this painful journey. Finally a window wide open to step through and die, as love once did to me. In this awesome revelation, the turning spin of my life. A breast to be known as a shield from a sensitive phase of this terror, a shoulder to be a new turning point. The twilight dementia takes control upon my screams and I silent my melodies into a blind apocalypse. The duel inside as gone to a bloody massacre, the guardians of the soul found a way to close the gates once more to the mystery inside. A closure upon this day, at this time, water's the salvation.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Lembraça

-"Mata-me agora ou devolve-me os teus braços, o teu saboroso cheiro que me faz adormecer nas noites de pesadelos e que me aconchega até a chegada da minha Mãe, no céu cinzento, morto, sem qualquer estrela."
-"E agora, nesta total escuridão, nesta total ignorância do meu ser perante todo este caos, és a única estrela. És a minha luz, guia-me por onde o sangue escorre com felicidade, leva-me onde a água seja limpa e pura para que nos possamos banhar em todo o nosso esplendor e consciência. Espalha os meus restos mortais pela tua alma para que sejamos um. Então, realizado, prosseguirei pela ponte dos sonhos até onde a tua mão me levar."
-"Deixo tudo para trás e atravesso este caminho solitário, agarro-me às brumas e perco-me na tua directoria, quero uma lágrima minha porque a minha única lembrança é um sorriso de despedida, seco, sem deixar nada para trás, nenhuma máscara que me revelasse diferença ou tristeza. E aqui me encontro eu, com os blues a cantarem aquilo que não consigo proferir. A guitarra chora por mim pois é o nada que me sai do canto dos olhos."
-"E que este comboio se despiste e caía da ponte, não quero viver mais sem ti. És o meu calor, és a minha vida. E talvez encontre tudo o que quero nos braços da morte, tudo o que deixaste escapar fui só eu e eu sou um humano com algo preso dentro de mim. Poder-me-ias salvar mas deixa estar, vou ser consumido pela escuridão e deixado à ignorância."

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Metamorfose

Oferece-se mais um copo de vinho aos deuses, que tão ignobilmente lançam a sua víscera voz a nós e destroem as nossas vidas com a sua cólera. Agradecemos o néctar que acaba por ser a vida enquanto que nos encontramos nas quedas de água para uma espuma ácida que arde na nossa pele, muito antes outros fizeram o mesmo. A confusão instala-se e não temos nada mais a dar senão a nossa ignorância de voar, o nosso prazer nas acções mais carnais, o nosso desdenho a estranhos na rua.
Intensamente, falemos da nossa paixão pelo obscuro e pelos obscurecidos que, como nós, se perderam nos cantos mais ínfimos e desinteressantes da alma e lá encontraram uma luz cega, um novo prazer paranormal, esquecendo tudo o que outrora foi carnal. Tomaremos por força esta cegueira e torná-la-emos em mais uma das nossas forças, com palavras e lágrimas ensurdecedoras, com risos e sorrisos que demonstram o carinho um pelo outro.
Lembra-te de todas as palavras que cantei. Foram serenatas dedicadas a ti, apenas a ti. E tu, na tua pura e fraca existência, no final da tua vida decadente, nesse leito de morte tão febril que faz o meu coração tremer pela perda de alguém semelhante que é tão diferente, tão distante. Sempre te ofereci um lugar extra na minha cama solitária onde passei vários anos sozinho, ao relento, procurando alguém que me pudesse aquecer numa noite de Outubro tão fria, mortífera. E, até te encontrar, era apenas um lobo que vagueava pelas florestas da mente, perdendo-se em labirintos de árvores, queimando arbustos e chorando a morte de mais um bocado de si.
Apaga-se a luz dos candeeiros lá foram e os teus olhos fecham-se para mais uma noite eterna de sono. Que nos vejamos na próxima vida, perdendo-nos mais uma vez nos olhos um do outro, na incredibilidade da sua existência. E então sussurrar-te-ei... "penso que já te vi antes". Mas deixemos o futuro para o futuro, o amanhã para não existência e o passado para a dor e tristeza que se abate sobre mim. Na singularidade das minhas lágrimas encontro o teu sorriso partido e preencho uma tela sobre tu e eu. Agora só sei que tanta vez me pinto da dor que não sinto.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Lamento do lobo

Pedir-te-ia que morresses
Se isso garantisse o meu contínuo mundo.
Desejaria que o veneno se misturasse com a tua água
Mas isso apenas entristeceria a minha vida.

Definho uma ténue linha para construir um labirinto onde te perdesses,
Mas, no dia em que desapareceres, cederei ao monstro, cego, surdo, mudo.
Estendo mais uma vez a minha língua ácida, salgada
Ao vento com o medo de que a minha alma não sobreviva.

Um boneco de trapos à tua disposição para destruíres,
Tudo o que no meu ser encontraste, agora esqueceres.
E todas as formas geométricas que o meu coração se molda,
Serás sempre tu quem estará a modificar e governar na sombra.

A tua beleza devaneia como que uma maldição,
O teu encanto acaba por ser a minha perdição,
O som da tua voz, a tua visão, a tua tentação,
Cedo finalmente à carne, comprimindo a respiração.

Peço-te que abandones a isolação, junta-te aqui a mim, na morte do oxigénio e no corte da sanidade...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O receio de Lua Nova

Palpitação interior...

Cantou-se o fado prosseguido,
A rejeição preenche o ar,
O fantasma que assombra a minha mente foi lido,
Nesta noite em que a esperança me vai abandonar.

Coisa mais meticulosa,
Este sentimento por dentro destruído,
Nos adventos da melodia da bela e negra rosa,
Quando nem mais um fio de sanidade pode ser fluído.

O veneno que me corre por dentro,
Similar a todas estas coisas que já senti antes,
Em todas estas palavras incessantes,
Em todas as sombras que já deixei ser levadas pelo vento.

Poder-te-ia implorado,
Poder-me-ia ridicularizado,
Permitir ser humilhado,
Esperar que fosse por ti amado.

Mas até a piedade me vem a ser dolorosa,
No meio desta floresta que range a minha frieza,
Quando me pronuncias o teu abandono,
Desta minha fortaleza em que o meu coração é o teu trono.

No recreio das nossas vidas,
O Sol trouxe consigo a tristeza da sombra,
E todas as nossas almas perdidas,
Corrompidas com todas as labaredas que esta parede arromba.

Deixa-me oferecer-te um último suspiro,
Matar um último cliché,
Não sou homem para que me tires o riso,
Mas sem ti não me consigo manter de pé.

O orgulho foi deserto,
Aqui, onde atracaste o teu barco,
Sem nenhuma terra por perto,
Quando o teu tormento, tentei salvar-to.

Cinismos - Cesário Verde

Eu hei-de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.

Hei-de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu calvário,
E ser menor que um Judas empalhado.

Hei-de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar-lhe a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.

Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei-de olhá-la dum modo tão nervoso,

Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há-de chorar, chorar enternecida!

E eu hei-de, então, soltar uma risada.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu sou um Universo

E os dias passam, os risos matam as saudades que foram criadas pelas distâncias, acontecimentos adversos, obstáculos que com dor são ultrapassados. Mas tudo é morto num momento em que se entra no café e lá estão os amigos de longa data, aqueles mesmo importantes, sentados, a escrever, a desenhar, a sorrir e a conversar. Não se é um grupo nem seita, são indivíduos absolutamente fora do comum, extraordinários, mais que qualquer outra coisa. E é com um sorriso que somos recebidos por todos, com mais uma rodada para esta mesa.
O dia torna-se na noite e o vento traz um sabor extra amargo por uma despedida. Mais um abraço para uma infinidade de espera até eu te ver outra vez. Os trovões já parecem tambores que rasgam o céu e iluminam as nossas cabeças leves debaixo da chuva. Aquele é o momento em que eu não quero partir. Estou na rua mas não estou inseguro. Na verdade, sinto-me mais forte e confiante que nunca. Estou convosco e com a chuva. E sempre a trovoada a dar-me energia para o caminho solitário a percorrer. Que se desabe o mundo em cima de mim, eu consigo aguentar. Hoje e agora, eu aguento com tudo.
Eu sou um Universo brusco, tentativa de imprevisibilidade, também de invisibilidade. Tudo à minha frente, quadrado. Tudo estável, nada que arrisque a mexer-se, que se diversifique. Tudo fica dentro da sua caixinha e recusa-se a pensar mais além. E nós somos aqueles que fogem. Somos aqueles que mostram ao cinzento que é mais que a cor que nos pinta a alma. E, aos mundos que nos separem, que saibam que voltaremos, mais fortes e unidos. Há uns bons anos, não é António? Há uns 14 quase. E contigo Diogo? Há 2 ou 3 mas o suficiente para crescermos e fazermos tanta coisa juntos que já me sinto teu irmão. Falta, claro, o Ricardo. Lá tivemos umas pequenas desavenças, há tanto tempo que já nem merecem ser recordadas (se bem que cá ficarão sempre). Mas sobrevivemos. E nós somos Universos, mais que paralelos. Irmãos.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

(Des)Equilíbrio

Apercebi-me agora da insignificância.
Atiro ao ar a inteligência que até agora tem sido um modo mago de alargar, expandir o meu ego, a maneiras que nos dias do passado tentei controlar. Vivo neste pequeno cubículo de insanidade que não alarga, nem com tempo, nem com ego. E então há dias em que me canso, me deito na cama, exausto de toda esta imensidão vazia para apenas viver neste quadrado, preso. Na escuridão é quando penso que realmente estou perdido, que criei algo que agora não posso virar costas, não posso destruir e que, por mais que me afaste, sempre estará lá. Mas todos os momentos que me vêem à cabeça, não os mudava nem trocava, não, por nada. Foram eles as melhores noites deste ano que está mesmo no fim.
O doce toque torna-se pálido perante lágrimas que se transformam em gelo trespassado por todo este vento. A minha pele, congelada, é cortada suavemente pela frágil folha de Outono que cai da árvore. Transportada pelo vento, não se deixa constrangir pela sua súbita falta de alimento e continua a voar, no seu último suspiro de Verão. O sangue decorre pela face como uma gota que foi deixada pelas memórias vivas que me assombram os sonhos e me conquistam a luz do dia. Estes glóbulos que deixam as veias viúvas do seu sabor, saltam para terra, salpicando a terra deserta de algo puro e inocente por onde crescer e dominar uma vez mais. Só então poderá apagar o erro que fomos e que a humanidade continua a ser.
Raios perfuram os céus e as gotas de chuva penetram tão suavemente a terra quão eu te acaricio os seios, duros, ainda jovens e inexperientes. Lá fora a noite não se consegue comparar ao teu vestido de veludo que vestes neste preciso momento, sobre essa tua cama de luxúria onde me deito todas as noites, inconsciente às incógnitas que se lançam sobre os meus sonhos enquanto me afagas o cabelo. São beijos enternecidos misturados com ódio que me lanças ao redor do pescoço antes de estacares a ferida com os teus dentes. Coses então cicatrizes de onde outrora as tuas unhas passaram e adormeces para outro dia acordares e veres que o erotismo não passou de uma máscara para todo o amor que partilhámos em noites esgotantes de gemidos e orgasmos.

sábado, 18 de outubro de 2008

Dimensão do vazio

Deves-me o glamour da tua alma, o espanta-espíritos que é o teu espírito. Deixa-me roubar-te o brilho para conquistar a derrota da escuridão. Despe-te da tua obscuridade e deixa-me rir perante tua fraqueza de ser humano. Hora de remover a máscara, a noite já vai por lá adiante. Deixemos os rituais e os espiritualismos por agora, a dança já morreu, agora só esse vestido me parece estar a mais entre nós. Tatuagem cravada a sangue por todas as dores que a tua mãe te deixou de herança à nascença.
As correntes empurram-te para a frente e para trás, no ritmo frenético da tua mente que deixa divagar pensamentos de luxúria canibal enquanto te afogas na paixão negra pelos mortos que caminham sob a luz do luar esta noite. Uma palidez tão suave na tua face que faz as pedras chorar. Nesta noite chove, a tristeza da tua partida para o outro lado do teu ser, a escuridão para a qual construíste um mundo e destruíste uma história. Obsessão crio, sentado a teu lado. Perco-me em todo o teu esplendor e nada mais tenho a dar. São apenas palavras, sacrifica-as para teu próprio benefício.
Queimas as cartas que te enviei, não tas envio mais. Não sei o que significa, não quero descodificar essa tua mente confusa. A neblina acerca-se da falta de espírito, é a noite a cair sobre tudo o que deixaste em deterioramento. Caçando as criaturas da noite, o cinismo e a hipocrisia caem sobre ti como duas metades de um mundo e congelas onde a estaca caiu. Nada mais há para ti, nada mais és, senão uma ferramenta enferrujada que uso, noite após noite, até também eu me fartar de ti e te deitar no lixo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Labirinto da sua insanidade

Este espaço parece tão grande, tão vazio.
No seu majestoso livre arbítrio,
Escravo à inocência deixada na infância nunca vivida.

O sociopata vivendo dentro d'ele,
Acorda o psicopata que conquista o seu conhecimento,
Cedendo o seu corpo à causa da sobrevivência,
Na escuridão descartada pela solidão.

Oferece-se labirintos de liberdade,
Caminhos nunca antes percorridos,
Um salto da realidade para o pandemónio da tristeza,
Um passo e ele está preso num manicómio.

A anestesia do ritmo cardíaco,
No silêncio da noite,
Com um sorriso desvairado,
De um demente, um ser tresloucado.

As chamas que possuem a sua cabeça,
Queimam-lhe os últimos neurónios,
Desligam os circuitos, cortam a corrente,
Deixam-no a sangrar, morto, colérico, sem energia para tudo mais.

Uma amostra da visão da Lua,
Um sentido de liberdade,
Voltamos ao labirinto da sua insanidade,
Adorando a claustrofobia do seu génio.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Fantasma de areia

Quem és tu,
Estranho ser que entre paredes de areia caminhas,
Tantas vezes que tentaste apagar as tuas pegadas,
Mas tudo o que apagaste, voltou em sonhos para te assombrar.

O oásis já se vê à distância,
Um barco de papel talvez o seja,
Mas não há felicidade aqui,
Onde te afundas tão despreocupadamente.

A tua linha de vida, desenhada,
Tu, que procuras uma vida a sério,
Fantasma da janela,
Deixa a chuva cair sobre o meu terraço.

Sobre o meu tejadilho de vidro,
As pedras partem-se,
Mas a areia que trouxeste da tua viagem,
É a relíquia que me faz cair aos joelhos e chorar o desespero.

O sangue molda um novo ser,
Esta criança não chora pelas sombras que as nuvens esqueceram,
o espírito emana uma nova sensação de esperança,
Enquanto que a penumbra penetra o teu medo.

Faz-me acreditar que viver é fácil,
Faz dos meus sonhos cativos,
Prisioneiros à tortura que te mandei na mudança de vida,
Que me libertes no dia em que sentires.

Uma pedra negra sobre a história

(Se percebesses o meu desespero agora...) As palavras não são recebidas, tu és intendida, fora do limite. Espero pelo dia em que possa adormecer debaixo das árvores do nosso próprio ser, para colher o fruto que se tornou podre dentro do teu seio. Ventre deserto, ser seco como a própria definição da sua palavra. Não me deixes sonhar agora, neste próprio dia que aprendi a crescer e ver o mundo com outros olhos.
Que outros lábios me cheguem à respiração, tornas-te apenas uma sombra do passado que revelei ser essencial para mim esquecer, pois agora quero seguir em frente. Mas continuas desse lado, apenas um rio a atravessar, talvez um rio em que me possa afogar contigo. Posso-te fazer as promessas da noite mas quero deixar isso para trás. Quero ser mais frio, mais indiferente ao teu ser, à tua presença, ao teu toque na minha alma. Quero que a tua luz se apague e eu me dedique ao meu canto da escrito onde te vejo tanta vez. Mas continuas cá, mesmo agora que adormeço sob a sombra de uma outra árvore.
Conquista-me a noite. Andamos juntos na sombra dos becos, vencemos o sonhos e encontramos os teus amigos, que venham eles festejar connosco pela nossa loucura, toda a noite, acordando a madrugada. Que venham os primeiros raios de Sol e os trespassem, trazendo consigo a tua sanidade e matando a tua ilusão de felicidade em que libertaste todos os teus sorrisos guardados e que esqueceste os teus demónios. Que sejam os fantasmas do teu passado que te ofereçam a faca com a qual cometerás suicídio. E deixa-me chorar sobre a tua lápide como que uma criança que perdeu o seu rumo e não tem nada mais a que se agarrar. Vou contigo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

(Abro portas) Uma nova fase

Sê bem vinda de volta melancolia, trazida pelos doces ventos que saem daqueles fracos alaranjados, corrompidos com ácidos que me destroem o interior do corpo. Tu! Tu corrompes-me a alma. Vezes sem conta a pintas de diferentes cores, desconhecidas a meus olhos. Ai se eu pudesse olhar para o interior. Conseguiria ver-te e o enorme sorriso que me roubas quando a mim chegas. Chega! Chega de tanto lamento em forma de suspiros que me obrigas a soltar. Não te ofereço mais palavras, não tenho mais lágrimas para ti. És apenas mais uma velha memória, com o tempo esquecida.
Que te trouxe de volta? Não há razões para fechar os olhos e adormecer, agora que o Sol brilha tão forte sobre o meu mundo. A energia escoa de toda a escuridão que tanto tempo prevaleceu aqui mas o combate acabou, há que virar a página do livro e avançar na história. A minha vida não é uma fantasia a ser descrita pela mão juvenil e ignorante de um escritor qualquer que se limita a sentar em casa e ver televisão o dia inteiro. E não és tu que vais preencher mais de mil páginas sempre com a mesma mensagem.
Que sejam dispensados mais mil beijos. Que sejam louvados mais mil anos à sombra do actos passados. Apenas com erros aprendemos que as nossas acções e emoções são apenas objectos fúteis sem propósito ou qualquer ganho num futuro próximo. O materialismo e o consumismo são ordens de desonra e desordem que gritam tão baixo dentro de mim, tão fácil ignorar. E então caminho, não velho, não novo, igual mas diferente, para a frente. Abro portas a uma nova fase de mim mesmo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Noite de Outono

A noite estava fria, a chuva caía como que pedaços do céu cinzentos até à sua transparente queda no chão, limpando a terra que pisamos. Mas o calor denotava-se dentro de casa, o whisky teria chegado ao seu destino. Não apenas isso. A sua mulher, a sua encantadora e cativante mulher, no seu vestido vitoriano, usando um corpete para formular melhor as suas linhas, estava com um brilho especial nesta noite.
Enquanto a observava, sentada na sua cadeira, a ler o seu livro, discretamente ou inconscientemente a provocar-me, a tentar com que ceda à sua tentação e que me deite com ela uma noite mais. No seu simples e pecaminoso ser de veludo, move-se lentamente, procurando uma posição de maior conforto. Que mais conforto! Que mais tentação me traz ela enquanto desliza a sua mão pelo seu peito sobressaído, que mais eu me perco no seu brilho. Maior conforto posso eu dar-lhe na minha cama. Levanto-me e puxo-a para perto de mim. Caminhamos então para onde as minhas mãos a desejam.
Deito-a na cama e como a deslizar lentamente a minha mão pelo seu corpo abaixo, acariciando cada pedaço de pele como que um pedaço de fio de ouro, chegando finalmente à cintura
com violência, puxando-a para mais perto do meu corpo e continua a deslizar a sua mão para baixo até sentir a tua zona mais privada, molhada, ansiando o toque febril que a penetra. Mas ela resiste. Afasta os seus cabelos ruivos de mim, começando a chorar. Não pensa ela que eu seja real, que todo o nosso romance seja real. Apenas sente frieza e distância.
Agarra-a então nos braços e viro-a para mim, dando-lhe um longo e sentido beijo. Foi como que uma promessa. Foi talvez um poema que recitei na minha alma e que incandesceu na sua mente com a ajuda da luz do luar que nascia por entre nuvens cinzentas de Outono. Ela parece ceder. Sinto-lhe os braços a tremer, gotas de suor na testa que escrevem livros de desejo. Como que um presente, os seus ruivos cabelos soltam-se e descem pelas suas costas, dando-lhe um maior lugar no meu coração. Deitamos-nos então. A noite vai ser longa e de grande calor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Testemunho de grito

É tudo tão simples que até me dói compreender. A luz que ilumina este papel enquanto que a pena desliza sobre ela na sua furiosa dança, procurando um novo significado para a sua leve e quase imperceptível existência. Nesta insistência do rítmico ser, que constrói a rima no leito da sua morte, enquanto sofre de luto pelos seus companheiros de guerra que faleceram a seu lado, com os seus próprios sangue nas mãos, lançando o último choro à terra e abençoando e protegendo os que deixaram em casa. O cérebro está cicatrizado para o resto da vida e a noite torna-se um obstáculo ao prazer de viver a que se tenta agarrar este guerreiro. E, já que a alma o permite, as recordações tornam-se tubarões nos seus sonhos, nadando em sangue e alimentando-se de lástima.
Se permitisse o Inferno voltar, a Terra, na sua decisão de retomar a guerra que a milhões destruiu e que famílias acabou, heranças que deixaram escravos por recolher. Não escravos humanos, servos de outros iguais, mas sim escrevo do deus Marte, deus da guerra, que tudo planeou, em anos de silêncio e paciência, juntamente com Plutão. Acompanham-nos agora os maldizeres da verdade, vizinho da distorção da história que tornam heróis em fracassos e cobardes em deuses. A primeira morte entre indiferentes irmãos que servem a pátria com sangue e suor, que deixam mães, mulheres e filhos a chorar, seres melhores que deixam por provar o verde da erva que cresce em frente das suas casas. São então um pelotão de mortos que preenche a terra esbatida de uma nova cor.
Reconheçam-nos, pais de todos nós, dadores do nosso orgulho e amaldiçoados da nossa preguiça, reconheçam-nos e agradeçam-lhes, pois graças a eles é esta a língua mãe que nos protege e todos sob o olhar cuidado da Deusa. São estas as podres palavras que nos são oferecidas para gastarmos em desperdícios de tempo e insensibilidades falsas. Apenas um tiro, um desejo, e tudo acaba, todos os sonhos, todas as memórias, todas as noites mal contadas e as idas à ajuda. Toda a bebida e um fígado destruído. Um tiro e tudo acaba. Apenas um tiro e o único sobrevivente que conquistou esta guerra passa o testemunho de grito para outro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A glance on the inside

It's hard to find, and even harder to keep on looking, the right words that mean something to me. Trying to see the benefit for such a coward effort, a light to guide the way of my writing into a higher level. I can't see the pain caused in others for the acid rain that I for long wait, I ignore all the emotions that come to my mouth and are spit out by a chance of fate. Notwithstanding this terrible emptiness that I feel inside, I grown to become a shallow image of the Horned one, sever of the Goddess. To them I give my lust and await forgiveness, not submitting, never dying.
A God-like man, a God-like stand, the justice hold in my hand, a power of persistence equals the power of a fool. My nymph. will you take my hand a tolerate my disobedience, in this night, so cold, that I spend alone? Rejoicing at the face of failure, a laughter becomes true in the deepest winds that blow over this city, illuminated by the artificial light for us created. Now rejecting the one's for them created, a cry upon this shelter, I look to dismay all the small beings that have heritage the forests. To gain right upon such a beautiful thing, to be such pure beings, don't allow me to reach that path for what I've done is now concealed in the coffin of the gods.
Break the spell and come trough the Moon, the cry of a wolf is the Mother Earth's sign to say goodbye to this night. It's late and the clouds in the sky threat another day of rain and sadness. In the pouring rain, I offer you my tears. Let them go trough the sewage, in the middle of the filth, where they are most likely to be confused with the rest of the dirt. For I say nothing more than letters of despair and past dreams, I've become a hole, a torn, in your path. For one more second of useless pride, Zhelia, I would give you my soul. But we shall not go back, for my life has the limit of time. So has your beauty. And I sit here, a shell of the principals I once had, in the youth of my immortal life.

De que quero - Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)

Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.

Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.
O que me é dado quero
Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.

Kamennogo Serdtsa Krov'

-Argh.
E com um final aperto na caneta, deixa-se a gravidade levá-la para o chão. Com a liberdade dos cinco ventos que trazem o trovejar jovem daquele que dormiu a sua vida, sonhou levá-la a alguma sítio. Mas tudo não passava duma ilusão. É tal como as rochas que formam o precipício sorriem ao jovem. Tal como a água engana, quando toca tão suavemente nessas mesmas rochas, compondo uma melodia doce à qual adormecemos e sonhamos que ali estamos. Com tal caneta, no meio de tantas palavras esquecida, que perfuramos emocionalmente os corações àqueles robots a que se chamam humanos. Não esconde a frustração, este rapaz. Não afasta o ódio quando escreve. Invés disso recolhe-o e transporta-o para a sua escrita.
É a última luz do dia, a noite aguarda pacientemente para vir e deixar o licantropo controlar, contemplando a luz da esperança em soltar um uivo à Lua. É o atrofio da mente que deixa o ser físico percorrer tantas milhas neste mundo espalhado no Universo negro e conquistado apenas para encontrar outro ser físico em que vai gastar mais que palavras e nada a dizer que seja algo decente e verdadeiro. Mas que sabe o rapaz que escreve? Ele próprio viajou por muitos anos para reaver aquele ser que o conquistou à sombra da sua infância. Tudo então era tão simples, tudo então eram despreocupações cheias de azul infinito. As folhas caíram. Hora de despertar deste sonho.
Retornas a agarrar essa caneta, escreves mais ódio nas palavras que preenchem o papel e agora tudo é negro. O dia deixou esta solidão sozinha com o vento, a noite abençoou esta maldição que regressa agora ao quarto. Através de penas um pequeno grito enche o silêncio e o mocho mostra o seu olhar atento à alma que guarda muito no fundo da sua lembrança triste. São cicatrizes que preenchem seu corpo e a admiração foi o assassino do seu conhecimento.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Malte

Já arde no alto da noite a vela, deixada acesa para iluminar estas escadas por onde crianças passam a correr, apressadas para irem ao encontro dos seus encontros. A sua cera escorre para o chão, que nem gotas de água que formam a imensidão da escuridão. O seu pavio contorna tudo o resto que é deixado vazio, para ser preenchido, para arder, talvez até, um dia ou uma noite, para esquecer. Por aqui passa tanta coisa, visível, invisível. Dispensáveis átomos que destroem neurónios e ciências vastas, muito por além das mentes que por aqui passam. São seres ínfimos que aqui conquistam o seu lugar na invisibilidade, sujeitos à morte cega.
Termina-se aqui mais uma estrada para os quartos, uma jornada onde a Fortuna comanda, os seres, humanos e não só, entregues à Sua vontade. Não deixando esquecer que são peças pequenas de um puzzle ainda por ser desenhado, por detrás de nuvens, onde os cobardes se escondem, onde os martírios são criados, onde as rosas encontram os seus cravos e descem à terra. O vento, ah sim, o vento. O eterno sopro que parece murmurar o nosso destino, com o som de mil cordas colocadas numa harpa deixada a um canto deste quarto, a ganhar pó. O vento traz as novas do outro lado, atravessou ele oceanos e terras a mim desconhecidas. E por tal feito, o respeito. Dedico-lhe o meu tempo e ofereço-lhe minhas palavras pois meu sangue e minha alma foram a outrem dados, sem um segundo de reflexão e agora uma eternidade de arrependimento. Ao vento resta nada senão um serão quieto e silencioso, na sua misera solidão.
Relaciono-me com tais coisas mencionadas neste pedaço de papel. E por tanto deixar a minha alma a descoberto, derrubo este pequeno jarro de tinta por cima das linhas e das letras para que ninguém mais descodifique o meu ser e entre desta muralha que tanta vez deixou entrar e que se rebaixou à sua insignificância neste jogo de toques suaves. Envio ou apago? Deixo-me cometer um último erro, para ter a certeza que não me estou a precipitar nas minhas conclusões, ou fecho-me neste momento no meu egocentrismo e no meu egoísmo e pego nesta garrafa de whisky que se senta leal a meu lado, esperando, ansiando, trocando olhares comigo, seduzindo para a sua bela cor, esbatida por todo aquele vidro. Ai, aquela garrafa! Ela quer-me tanto quão eu a quero a ela. A ela não cometo erros nem dedico poemas que vêm da mente, não da alma. Não preciso pois tal como não sinto por ela (nem por ninguém), ela não sente por mim. Apenas aquele toque, aquele sabor, o cheiro que preenche as narinas e toca no mais fundo deste pesar, apenas tudo isto e é dor que eu reparo que escrevo. Prossigo.
Desordem e caos reinam esta noite neste quarto. O silencio foi expulso quando o vento entrou de repente, levantando as proclamadas folhas. O brilho da Lua entra pela janela adentro e com tal arruma o chão que parece ser feito de outrora pedaços de árvore. Que árvore, meus amigos, tal vos pergunto. Que árvore? Que maldito ser nasceu e cresceu para um dia ser cortada e pelo vento levada, à mão do homem, que não vê o limite da sua exploração e crueldade perante tudo o resto que habita na superfície deste planeta? Esquecem-se que somos como eles, que sofremos como eles, que balançamos ao sabor do vento e gostamos da chuva, do Sol e da Lua, de tudo o que se revela no céu e nos entrega sentimentos. Temos pernas e braços, por isso mandamos! Mas é tudo tão falso, tudo tão relativo. Porque temos nós de matar para conquistar quando podemos viver em mútua cooperação? É um dos erros que irá exterminar esta espécie, penso e espero. Mas que é a esperança, de qualquer forma? Ninguém me ensinou em criança a sonhar.
Nesta cadeira me sento, sem rodeios, me entrego ao trabalho que se apresenta à minha frente. Terei eu de ver todo este quarto fechando os olhos e absorvendo a escuridão? Irá isso trazer-me a inspiração que tantas vezes encheu livros e livros? Mas chega de dúvidas, meus amigos. Voltaremos então ao que nos agrada, ao prazer. É no prazer de pensar que encontro tais palavras para vos mover, para comover a criança mais inocente e menos culpada de tudo isto. Não me sinto culpado, sinto-me orgulhoso, contenho honra. E vós? Que fizestes nesta noite para melhorar o chão que pisas? Não educaste pois uma criança a chorar, a sorrir, a falar, a gatinhar, a sonhar. Não lhe mostraste onde deve cair. Nem lhe mostres. Pois ela cairá tanta vez que um dia aprende a levantar-se. Eu vejo-lhe o génio pelos seus olhos. Não me fico pelo vazio do azul superficial. Procuro mais fundo uma razão de sentir tal atracção para proteger tal ser que por mim não foi concebido, de forma alguma. Tenho de ter uma razão. Não posso apenas sentir. Sentir é um erro que não voltarei a cometer. Aliás, sinto. Sinto por estas folhas, por esta caneta, por este jarro de tinta. São os meus companheiros de viagem que levarei para Avalon, para quando as brumas procurar e no seu chão repousar, seguro, eterno, uma divindade genial que vive de si própria. Eles virão comigo, tal como toda esta escuridão que me assola a mente. Deixar-vos-ei em silêncio, talvez até reflexão. Possa esta ser a última vez que o whisky me seduza.

Paranóia

Morto no apogeu do teu esplendor,
Quando mais a tua alma imortal se sentia adequada,
Quando tu te sentias em casa, pertencias aqui,
Aí vinham eles outra vez, as sombras das tuas ilusões.

E como se chamam àqueles que te perseguiram,
Como se renega ao passado, a vontade de se sentir bem,
Outra vez,
Dispensas esta realidade.

Caíste onde a tua lápide desapareceu,
Reaveste a história uma vez mais,
Nesta misera cova,
Que nem de ratos é digna.

Não encontras os teus sonhos,
Pelo meio de arbustos e chamas,
Neste ciclo em que já vomitaste os teus prazeres,
Passas mais uma vez pelo terror, mais uma vez por tudo isto.

E se não fores capaz de fugir,
Agarras-te a estes prédios, a estas ruas que na tua mente criaste,
Ofereces a tua sanidade pela sede de vingança,
Por uma oportunidade de deixar isto, trocar tudo por um momento de repouso.

Ah, a doce melodia do sangue a escorrer no chão,
A morte de mais um que não é dos teus,
Pois dos teus,
És o último.

Finalmente encontraste um sítio onde sentes,
Um sítio onde sentes a dor.
Essa dispensaste para te afastar antes,
Essa voltas a sentir porque tens de crescer, evoluir, para sobreviver.

Remove o instinto de sobrevivência,
Há finalmente uma altura em que todos temos de abandonar este Mar,
Anseias, não!, desesperas para que esse tempo chegue.

Nunca fui como tu,
Nunca encontrei a imortalidade neste corpo.
Nunca a desejei
Mas que erro pensas tu que eu cometi?

Procurei este caminho,
Desejei este caminho,
E não vai ser agora que vou arder,
Simplesmente pela redenção de todos os teus pensamentos.

Não temo os deuses,
Não os perdoo pelos seus enganos,
Não espero que o trovão se desvie no último segundo.

Terás de perceber,
Um dia tudo desiste,
Os monstros morrem,
A chuva pára.

Não é tua decisão para veres vultos no Sol,
É sim sinal de loucura quando pensas que alguém te está a seguir,
Nestas noites de Outono em que a luxuria e a tentação se mantém a mesma,
O feitiço que activei em ti, não se vai apagar.

Epopeia

Aurora

Sancto refúgio a tudo o que sente,
O movimento parece agora distorcido,
Lá no além onde o Mar não se vê,
E o desespero deixa o povo à Sua mercê.

Ao ritmo da queda do desfiladeiro,
O negro aparece na mente,
O medo toma conta do verde,
A ti te guardo, minha desastrosa morte.

Os caninos prendem às correntes,
O Mar lança-me as suas ondas,
Afundando-me cada vez mais no seu denso azul,
Encontro em Ti a minha luz.

Em reles agitação,
O vento traz a mensagem da tua perdição,
Talvez até fosse a tua vez de me desiludires,
Já eu me enganei vezes por demais.

Interludium I

Em pagão ventre, choro a morte da tua face,
A alegria que uma vez me pareceu tão real e forte
Assombra-me agora com ideias de isolação e artificialidade.

No arado da vida, continuamente enganados,
A distracção pelo prazer carnal tirou-nos a verdade dos olhos,
E a alma que tão frequentemente sente, leva-nos o cinzento.

Segmento

Deixemos então a semente da dor enterrada fundo na terra,
Sacrifiquemos as nossas esperanças e entreguemos os nossos sonhos,
Revelando atrás da cortina a morte do artista,
Que neste palco se incendiou e tão facilmente renasceu perante nossos olhos.

A serpente espalha o seu veneno,
Conquistou já o teu tempo,
Regressamos então à altura do conhecimento,
Em que a honra era o homem da guerra que procurava na Natureza o seu último sonho.

Escassez da dor no nome das rosas,
Lança um engano às tuas mãos que se encontram agora feridas,
Na juventude desse teu desespero, dou-te ainda muita vida,
Eu, quem muito tempo te tirou, quem muita paciência entrega por teus erros.

Engole um último engano,
Faz-me esse favor, dá-me esse prazer,
Talvez até o solstício te traga novas do outro mundo,
Que tanto desejas visitar.

Interludium II

Na memória das metáforas,
Corrupto caminho que percorremos até às colinas,
Por entre florestas onde as chamas são espirais ardentes de desconforto.

Nestes defeitos majestosos,
Aproxima-se a realeza ao povo,
Onde a morte consagra o sangue baptizado.

Invisibilidade

Aqui não mandamos mais do que os nossos próprios deveres,
Aqui não somos mais do que nobres e cegos cavaleiros,
Daqui não passa o propósito da devastação e terror,
Manifesto para ti e para tua morte o meu profundo horror.

A tua face, coberta com códigos indecifráveis,
Quebra o silêncio da tua dor anónima,
Usando heterónimos escritos em folhas caídas directamente do Outono,
Queimadas num engano do espectro.

Aos céus e voltando,
Enganando a sua tirania com palavras atiradas ao acaso,
Regressando aos fantoches da nossa beleza,
Deixamos crescer a invisibilidade da nossa divindade.

Às minhas deidades, ainda por descobrir,
As feras que me protegem dos teus pesadelos,
Tochas lhes ofereço, juntamente com o meu juramento,
De honra e orgulho.

Interludium III

Na saudade do erotismo em todo o seu regresso,
Incontrolável desejo de a teu pele sentir,
Neste tom de vida acústico pintado de castanho.

No casamento do nosso amor,
A ligação estabelece uma troca de prazer e dor,
Uma mistura apenas sentada aos pés dos fins do Inverno.

Aniversário

O meu sorriso perante o teu esplendor,
O meu riso perante tuas palavras preenchidas com saudades,
A minha cegueira te ofereça uma linha por onde seguires,
Um labirinto que atravessei para me encontrares.

Atravessando o mar que nos separa,
As brumas não me perseguem mais,
As ondas oferecem força para continuar,
As terras dão boas vindas ao nosso romance.

Quantos tempos mais teremos nós de esperar por uma Lua Cheia,
Nós seremos abençoados pela razão rara da luxuria,
Decidindo que teremos de viver para num novo dia renascermos,
E celebrarmos mais um aniversário do nosso ser.

Entrelaçando as estrelas com a noite,
Combinando a tirania do vasto céu azul com a sua palidez,
Encontramos os mesmo fantasmas das nossas vidas posteriores,
Quando nem podíamos ser donos dos nosso corações.

Interludium IV - Final

Um intervalo para relembrar o nosso passado,
Oferecemos aos nossos erros a promessa de não os voltar a cometer,
Entregamos-nos ao nosso eterno abraço, amaldiçoado.

Arrastamos os ventos por entre os Mares,
Controlamos o que à nossa frente mas sempre submissos,
Submetidos às ordens Dela.

Morte
É um terrível fascínio, aquele que partilho contigo,
Aquele que me foi imposto por outrem antes de conhecer.
É um terrível destino, conhecer-te e não partilhar-te,
Conceber este fascínio que por ti também tenho e não poder ter-te.

Engulo a cobra e transformo-me no seu veneno,
A sabedoria que me percorre as veias,
Escalando a minha própria transparência até ao cérebro,
Controlando, modificando, melhorando.

Sair deste buraco, pensando fora da caixa,
A honra dá direito à desordem que corre por mim,
O orgulho é a morte do guerreiro, quem tantas promessas fez,
Quem agora jaz neste solo pútrido pela falta de chuva.

Lança-me então o teu último suspiro, já to pedi tantas vezes,
Dá-me o sabor das tuas lágrimas,
O preço não é demais saber,
É demais ter e não saber usar, desperdiçado pela opressão criada pela tua própria mente.

Aos Deuses - Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)

"Aos deuses peço só que me concedam
O nada lhes pedir.
A dita é um jugo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Têm prazer ou dores."

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A flor que És - Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)

"A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor!
Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perere
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste."

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As colinas verdes esperam-nos

A tua pele suave, pálida, afastada. Um objectivo que encaminha os meus pensamentos e define o que me distraí à luz do Sol no meio desta tarde de Outono. O translúcido de uma folha de uma árvore desvia a minha atenção para o infinito onde o idolatro morre. Deixar para trás todas as recordações, noites de pura estupidez e melancolia, não consigo ultrapassar o que sinto agora. Quero expulsar estas palavras de mim mas são proibidas pelo próprio vómito de estômago vazio. Doí, oh como doí.Não o estômago vazio, não os joelhos sobre os quais me encontro neste momento, não a mente que vagueia para o branco, é mesmo esta proibição interior de gritar "ERRO!" no meio da praça pública.
Erro... erro esse pareço eu. Tão fragilizado, tão carente e ao mesmo tempo tão frio, tão sozinho, procurando a solidão. Não me encontro nos meus melhores tempos para te poder oferecer o conforto que precisas esta noite. Deixa-me! Deixa-me vaguear por esta noite de Inverno onde os azevinhos foram trocados pelo ópio, onde a chuva foi trocada pelo fictício da humidade, onde eu sou a doença e não os vírus que por aí andam. Deixa-me andar por estas estradas pois um homem nunca é feliz enquanto tiver esta impotência de sentir, enquanto não resistir à tentação carnal que nos leva à loucura.
É no fio desta madrugada que as palavras já trepam pelas palavras, os teus desenhos já são queimaduras na minha pele. São o nosso modo de nos expressarmos, tu fazes-o melhor que eu. Naturalmente que sim, não faço por exprimir-me. Se não, porque teria eu construído tantas máscaras? Difícil difícil é ver por detrás delas. Para ti, para ela, para todos. Não encontrarás aqui o que procuras. Ok, talvez um pouco mas não o suficiente para me conheceres. Acho que nunca me vais conhecer. Mesmo que eu tente, no escuro que é o interior da minha alma, não há botão off para baixar as máscaras e me entregar todo a ti. Então magoo-te. Perdoa-me, não o queria. Nunca o quis, continuo sem o querer fazer. Vamos apagar este tempo. Vamos retirar estas palavras. Vamos esquecer os nossos seres e transformarmos-nos num outro rio.
Rio é mais uma coisa que nos separa. Rio esse que é mais uma sedução. A ele já escrevi eu a minha vida. A ele já não tenho nada mais a dar do que fragmentos do que me resta. Tirano sedutor. É ele que me impede de te ver todos os dias. E ao ver-te, consigo tocar-te na tua pele. Essa pele. Ah essa pele orgasmática, à qual escrevo poemas eróticos que queimam as folhas de papel para desaparecer. É um sentimento gordo que tenho tendência em sentir. E por isso pouco como, talvez um dia desapareça. Por enquanto calo-me, acho que é isso que queres certo? Que o seja, todas as palavras que podem sair daqui são as "demais". Vamos apagar esta noite. Vamos esquecer a pele, o rio, a sedução, a perdição. Vamos apenas agarrar na minha confusão e desaparecer. As colinas verdes esperam-nos.

By your will

Catch me if I get to high,
For I will loose sense,
Hit me in the weak point again,
That black hole in my chest.

Insert spikes into my brain,
Awake me from this numb state of mind,
A masquerade, a fake,
Nothing worthy of my time.

I'm feeling the night into the bone,
Running trough the path of deception,
And confusion strikes again,
Tears like rain drops of silver.

Like a crystal corpse on the ground,
I brake into a thousand years,
And all the particles are nothing more than grains of sand,
Disposed by your will.

So if you could leave me here,
Give me a light to follow into death,
Forever more quiet, forever more silent,
By your will, I crush myself into little atoms.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

The most truthful

A malice in the air, a black smoke that corrupts the perfect innocence of the Earth. A grey path among the purity of the rain clouds, destroying, uncaring inhuman beings that desecrate our ways to the illness, creating the sickness and then removing the rebellion of the youth. Our skins are contamination of this prison of murderess meat and forged from wind of corruption. Our words are the pollution sent to the atmosphere but we can't write more than love letters, stricken by falsity and evil. Our ways are toxic, is there a tomorrow to end it?
We construct romances from nights of sex and conversations filled with eroticism. It's obvious that it always comes naturally. We're so superficial that we deny the most truth in the carnal desire. And then the charades of waterfalls take over and the mind games make a new couple full of sin. Re-fill the glass with wine, let us celebrate the death of another wave. As if the lack of touch combines with the need of some comfort, we generate the empty shells in our heart. Bodies built from the basics of rock, the basis of emptiness. Compelled to give up, a saint becomes a ghost of it's former self, not belonging, erased from the humanity's core. And so we continue to an uncertain lie that we call "salvation", in the supposed "future".
Deflowered at the solstice of our life, the river struggles to maintain it's course and stream. Towards the nothing, the desire to live is delivered to the clouds above and then passed to the trees as they fall in all their grace and splendour. Possession died in the hands of humans where blood has run dry and only toxic skin composes the melody of destruction. Ending another cicle of futility, we hang our souls in a closet of treason and darkness, by the clichés of words. To the worms, we feed them with past happiness and pieces of joy. To the crows, we can give nothing more for nothing more lives inside us. An empty ending, long awaited.

Awaiting your end, may I go with you?

domingo, 21 de setembro de 2008

Quadro Vazio

Não te quero esconder o sorriso, não quero criar um ambiente rodeado de vultos que apenas nos podemos livrar quando cairmos na água que é sobrevoada pelo nevoeiro. Estamos nas terras altas, sobrevivemos do desconhecido. Desconhecidos somos nós aos outros e a nós próprios. Solidão entregue a labirintos que preenchem mapas de vinho e sangue. Difícil acaba por ser distinguir o amor do ódio. Assim chegam as tuas palavras a mim, assim vagueio por entre espaços vazios de ruas escurecidas pela queda do Sol.
Coloco-te no topo da estátua mais alta das antigas civilizações, representas para mim a Deusa mais alta e mais bela que poderá alguma vez ter existido. Coloco-te aí só para ter a honra de observar a tua sombra desde o nascer do Sol e escrevendo poemas e textos de amor desesperado e cegueira causada pelo fracasso humano do corpo até ao pôr do Sol. Atiro-me à selva, mais que uma presa, sou predador pela tua atenção, persigo silhuetas daquilo que és e não me queres mostrar. Manda-me palavras afiadas à cabeça, expulsa-me de ti e proíbe-me a alma de tocar na tua. Ainda aí continuarei aqui, não quero que desapareças.
São pensamentos venenosos, corroem-me a mente e perseguem-me a serpente da sabedoria para um quarto fechado onde apenas revela os seus olhos, inexpressivos, brilhando no escuro, elevada, pronta a atacar-te. És alguém a conquistar, um coração com um muro à volta para derrubar, uma convicção de isolação a derrotar. Dou-te os meus sons acústicos pois nada mais te posso. Tantas foram as vezes que os dei a alguém e que os atiraram para o lixo com que um pedaço de publicidade barata para a qual nem sequer se olha. Papel mal gasto. Nesse caso a minha convicção é mal gasta. Mas não desisto, não tão facilmente.
Quero ver o teu corpo delineado no pôr do Sol, só assim posso pintar o teu retrato...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Slightest twitch

Bloody hope, it hunts me. It's your lips I want to taste, it's to comfort you at night the reason why I struggle so much, it's to scare your monsters and ghosts away I persist on bleeding for you. Let us travel together, far away, let us find the life long awaited for us. Let me hold you hand, take you to safety, bring a smile into your face, take you out of that pit where you've stayed for far too long now. Don't ever cry, not for me, not in front of me, not at all. Don't ever change, I've waited for you to come as you are now. Don't ever modify the correspondent soul that you are to me.
You're my little beast, you're a little piece of sin that I like to call pleasure, you're here to stay and I promise not to leave or break your heart. Don't ever hurt, you won't get hurt. Continuously I take the words from me and give them to you but my feelings you won't know now. Maybe you already do but I didn't told you. I won't deny. And I admit, I didn't struggle to keep this down, ignored. I don't know best, all I try to do is to comfort you in your times of need. Don't try to push me away, don't take me out of your life, I want to be yours for a lifetime.
Drain my hope, whisper your feelings away with the wind, disposable creature. I've become the darkness in your life, am I the shadow that follows you everywhere? All I wanted to be was a final embrace in the night before the nightmares come. Sorry to invade your mind, excuse me for becoming more human than I was before. I shall not fall for that mistake again for I won't ever surpass you. You've became everything, you've completed my nothing. Awaiting departure of this final stand, your expressionless face occupies my dreams. More than dreams, more than words, I compose a melody to your sanity. It burns in me, it won't ever go away... ever.

Escondo-me em palavras bonitas e várias máscaras, nunca to disse mesmo mas estás a crescer dentro de mim, pequena Mariposa...

Toque subtil, mensagem subliminar

Um encanto divinal, a última palavra dos lobos aos humanos, um sopro final de energia, um folgo a que a morte sucede, levando a alma para a escuridão e o corpo para o esquecimento, restando apenas o nome, trocado pela referência do desconhecido. Uma voz melódica que me ultrapassa tão veloz que posso apenas dar por ela através do calor que sinto dentro de mim, estas chamas que me consomem, pelo nervosismo que se assola sobre mim e a minha mente fica branca. Tudo pela voz, beleza, destreza felina reconhecível nos olhos. Tudo poderia partir, tudo poderia ficar, poderíamos congelar aqueles pequenos momentos para sempre, os toques leves e súbitos que me levam à loucura, a facilidade na passividade do tempo que não mostra em tirar-nos desta felicidade. É um reunião de metáforas para exprimir o esforço em deixar-te, o sofrimento de te ver partir e a atracção que sinto nas tuas redondezas.
É a dádiva de Plutão, a frieza com que trato o mundo, o desencanto que encontro na sociedade. Se alguma vez achei que algo poderia mudar, se alguma vez tive tal esperança sei agora que me encontro errado. Não sei, talvez seja eu a caminhar no lado errado da estrada, talvez seja eu a remar contra a maré mas nesse caso não me deixarei ir, não cairei, não serei o fútil pecador que cai nas suas mais leves e pequenas tentações e que se dedica a uma obra errada. Nós Homens, somos uma obra errada. Não uma obra prima, nenhuma construção para povoar e agir segundo a sua própria mente. Andamos por aí com a nossa pele vazia, sacos de mentiras e falsidades, insistindo na derrota da pureza e da inocência. E como desejei tanta vez viver para ver o mundo ver mais uma vez. Agora a única esperança de ver verde neste mundo encontro-a nos teus olhos. E neles me perco. Repetidamente um tolo, repetidamente perdido, algures...
Não me vou calar mas também não me apetece gritar. Tento manter a calma, os nossos caminhos afastam-nos um do outro mas sei que um dia, juntando a chuva, sentido o teu cheiro no vento, não resistindo à alquimia que se forma dentro de mim, vou ver-te outra vez. É o toque frio e distante, raro acontecimento, que me proporciona o momento alto da tarde, que me faz efervescer de desejo e que aquece as minhas veias, escaldando o meu sangue. Controlas todos os meus pensamentos, sentas-te debaixo da árvore na noite de Outono, chamas-me e eu vou até ti. Submeto-me à mais leve tortura do tempo mas a guerra está longe de terminada. Porque um dia eu sei, simplesmente sei, não me peças para te explicar porquê, sei que te vou ter nos meus braços. E aí vou puxar-te para mim com tanta força que nunca mais de mim poderás sair.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Cravos

É na monogamia do ar que te encontro,
No desdenho da noite que te afasto,
No enfadonho fado que te recuso,
Na verdadeira negação dos sentimentos que te reprimo.
No oblíquo ser que te cravo com espinhos,
No assassinato dos remorsos que te concluo,
Na estranheza dos estranhos a nós que me entrego,
À única morte do teu pequeno corpo, comemoro.

É nas brasas escaldantes do centro da terra que te transformo em pó,
É ao vento que te entrego para que te afastes de vez,
É nos teus lábios que te entrego a tua morte,
É preenchendo esse vazio que faço com que acabes de soltar palavras, blasfémias,
É largando a sanidade que consigo encontrar conforto em mim, apenas,
É em sonhos que me sinto em casa,
É na palavra final que cravo mais um buraco pelo meu coração adentro,
Ao silêncio da teu ignorância sobre mim, ofereço-me à solidão.

Sou a continuação das ondas,
Sou um filho da Deusa,
Sou algo perdido,
Sou um tesouro achado,
Sou palavras perdidas,
Sou suspiros lançados ao vento,
Sou o Escorpião que bebe do sangue da vingança e permanece da sede do ódio.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ventos solares

A noite deixa uma orgia de cores, um vómito de sentimentos livres pelo ar. A ruptura dos ventos solares que brilham tão originalmente na cópia do arco-íris distorcido pela visão humana. Torcendo-se, retorcendo-se, partindo-se em partículas de pó, brilhando no chão branco, neve caída de nuvens que outrora cá passaram. A lógica é perdida algures entre palavras e os teus murmúrios. A voz é uma serenata de violinos que trespassam a atmosfera e viajam eternamente por entre o Universo para o etéreo obscuro.
Ah, o amor perdido pela razão, o relacionamento que se fez numa simples noite de destruição e traição. Como poderias tu imaginar que encontrarias em mim segurança? Foi uma realidade distorcida, uma vez mais. Esta foi para me sentir bem. Peço-te, rogo-te, pinta-me o sorriso, nem que seja com uma chapada na cara. Cria-me mais uma pequena sala na minha mente para gravar memórias de nós. Já te disse, estou a começar a esquecer-me dos teus olhos. Perco essa visão agradável. Nem mesmo a doce música em que nos conhecemos serve para me relembrar deles. Suplico-te, deixa-me ver-te uma vez mais.
Os oceanos sobem pelas terras, consomem o pó sujo que contamina a neve. Neve, essa, que vai derretendo ao passo do ser humano. Não pode evitar a sua derrota para um estado líquido de profunda inutilidade e futilidade. Mas não se pode matar um coração cego, que rema em direcção ao precipício. Nem se pode travar uma alma de se enrolar na total escuridão e egoísmo e esquecer tudo o resto. É simplesmente a monotonia do ser que acaba por se distrair e ultrapassar tudo o resto sem notar o rasto de destruição que deixa para trás.

Posso dedicar-te este texto?...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Mais uma despedida

Os risos são dispensados para os uivos do vento que se dispersam por entre a negra e silenciosa noite. O papel está em branco e chama pela tinta da caneta para o preencher. A caneta move-se por entre linhas de desdenho e indiferença. Não me sinto completo por todas as palavras antes escritas, então procuro encontrar-me nos risos. Risos à luz da Lua, risos à luz das velas na mesa, cera que derrete para afastar os medos e os fantasmas do passado. E aí fico, inerte, fascinado pela pequena luz que brilha em cima da mesa, a bebida numa mão, caneta noutra, a mesa rodeada de amigos de longa data. Peço um desejo à estrela que este momento dure para sempre.
As histórias de antigamente. Não mais elas me desejam, não mais elas me perseguem. São palavras chaves esquecidas, deitadas para o recanto da memória de boa vontade enquanto que a felicidade dorme no regaço da juventude. Alimentamos-nos deste momento que congelámos no tempo e gravámos numa moldura para ficar num quarto da nossa memória para todo o sempre. Todo o sangue é secundário, todo o cenário é uma distracção àquilo que nos parece ser a noite. A Lua brilha, cheia, lá no cimo, juntamente com as estrelas. Engolimos um último suspiro de tristeza, não queremos sair daqui. Eu, pelo menos, sei que não quero. Paro o relógio, congelo os minutos, apago os segundos. Tudo o que me resta é desfrutar a curto prazo de uma companhia rara mas apreciada. O mais triste é ver os amigos partir.
No final recolhemos tudo o que nos resta, felicidade, riso, a dor ignorada, o desejo, a Lua Cheia lá no céu, distante, as estrelas que brilham sem significado, o vento e os seus uivos. Recolhemos isso e misturamos para formular uma perfeita despedida. É dor que vem ao cima e tudo o que me resta são pedaços de papéis rasgados e sentar-me nos degraus da porta a saborear o vento e a observar a Lua com o fascínio de uma criança que se perdeu no caminho para algures. Foi tempo que nos foi roubado, meu amigo. Foi tempo que foi enganado para que tudo se realizasse bastante lentamente, demasiado lentamente. Fomos tão brevemente próximos que o tempo de uma vida parece a distância dos oceanos que nos separam. Mas vamos ver-nos outra vez, nem que tenha de nadar no meio de tubarões e baleias durante um mês para ir ter contigo. Mais uma despedida, mais um bocado de ti que cá deixas.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tirano de fogo perdido numa tempestade

Quem és tu que ousas desflorar esta fauna? Terrível vilão, ser perdido na perseverança da escuridão que te conquista mais o coração. Pede-se destruição no teu país sem razão nem ordem, expandindo as fronteiras do teu reino, onde tu e mais ninguém reside. Tudo arde, tua vontade de ser, por tua esperança numa salvação noutra pessoa e não na tua força de vontade interior. Dizes que tudo perdeste, eu digo que tudo destruíste por pura idiotice. Não consegues vencer uma mosca na janela porque até essa mesma mosca tem uma vontade, um sentido de vida.
Mudas as cores ao teu mundo, fonte do teu egoísmo. Não nadas mais num mar de palavras pois até essas secaram, tudo o que te resta agora é uma miragem de um oásis num deserto em que a própria areia te rejeita dar calor ou frio ou abrigo. Não és rodeado pelo que construíste, és amaldiçoado pelo que deitaste abaixo no seio da tua loucura. Foi um amor perdido para as árvores, uma cegueira que te iluminou a mente por momentos antes de caíres à escuridão do teu poço mais fundo uma vez mais. Afunda-te no teu trono de cinzas, nada mais te resta.
Foi na floresta dos meus sonhos em que te queimas-te e finalmente ficaste reduzido a pedaços do teu ser, feitos de arrependimento por erros teus. Dou-te o oceano para que possas esconder todas as tuas lágrimas lá. Forja uma arca de ouro e enterra-a por debaixo do teu caixão, no fundo do mais negro mar, leva contigo os teus terrores, deixa em paz o verde do meu Universo. És a criança que queima lentamente por entre tempos contínuos que não param de chorar a sua perda. Continuas a tua tirania numa futura ocasião...