quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Kamennogo Serdtsa Krov'

-Argh.
E com um final aperto na caneta, deixa-se a gravidade levá-la para o chão. Com a liberdade dos cinco ventos que trazem o trovejar jovem daquele que dormiu a sua vida, sonhou levá-la a alguma sítio. Mas tudo não passava duma ilusão. É tal como as rochas que formam o precipício sorriem ao jovem. Tal como a água engana, quando toca tão suavemente nessas mesmas rochas, compondo uma melodia doce à qual adormecemos e sonhamos que ali estamos. Com tal caneta, no meio de tantas palavras esquecida, que perfuramos emocionalmente os corações àqueles robots a que se chamam humanos. Não esconde a frustração, este rapaz. Não afasta o ódio quando escreve. Invés disso recolhe-o e transporta-o para a sua escrita.
É a última luz do dia, a noite aguarda pacientemente para vir e deixar o licantropo controlar, contemplando a luz da esperança em soltar um uivo à Lua. É o atrofio da mente que deixa o ser físico percorrer tantas milhas neste mundo espalhado no Universo negro e conquistado apenas para encontrar outro ser físico em que vai gastar mais que palavras e nada a dizer que seja algo decente e verdadeiro. Mas que sabe o rapaz que escreve? Ele próprio viajou por muitos anos para reaver aquele ser que o conquistou à sombra da sua infância. Tudo então era tão simples, tudo então eram despreocupações cheias de azul infinito. As folhas caíram. Hora de despertar deste sonho.
Retornas a agarrar essa caneta, escreves mais ódio nas palavras que preenchem o papel e agora tudo é negro. O dia deixou esta solidão sozinha com o vento, a noite abençoou esta maldição que regressa agora ao quarto. Através de penas um pequeno grito enche o silêncio e o mocho mostra o seu olhar atento à alma que guarda muito no fundo da sua lembrança triste. São cicatrizes que preenchem seu corpo e a admiração foi o assassino do seu conhecimento.

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