terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Vida Para Além Da Namorada

Uma vida para além da namorada é o mesmo que perguntar se há vida em Marte: toda a gente diz que sim mas nunca ninguém a encontra! Neste capítulo até tenho sorte, há um certo equilíbrio. Quando estou com ela sou agarrado com força suficiente para me esmagar os ossos e quando não estou com ela estou a fazer coisas divertidas como jogar computador, fazer exercício ou simplesmente ficar deitado na cama à espera que os ossos se reconstituam - Entretanto como por uma palhinha. Mas claro, isto não é tudo. Não se resume ao ocasional encontro de mãos dadas e beijos debaixo de árvores num parque abandonado aos casais. Também há a conversa fora de aulas e a dentro de aulas que me mantém entretido enquanto o professor fala... (há coisas que não devem ser ditas, os meus sobrinhos que aprendam com os meus erros)

Como disse, tenho sorte. Alguma. Tirando os ocasionais ciúmes, totalmente justificados pois sou lindo, ela até consegue ser uma óptima namorada. Exemplo disso são estes três meses que ela foi de Erasmus para Inglaterra. Foi uma óptima forma de chegar ao Natal com os ossos todos. O problema vai ser a partir de agora. Mas enquanto ela lá permaneceu eu cá me mantive nas mesmas actividades: o exercício, os jogos, o desesperar por ela não cá estar. Mas consigo escapar à rotina. Consigo sair e dar uma volta, respirar um pouco de ar fresco e olhar para tudo o que me faz pensar nela.

No entanto, nem todos têm a mesma sorte. Há aqueles cujo único espaço próprio é quando estão a saltar de um precipício a cantar "I believe I can fly". Tenho pena deles. Bom, de vez em quando. Quando interrompo os meus jogos para ir comer ou vice-versa. Essencialmente do computador à cozinha e o caminho de volta. Ainda assim penso neles. É algo que muitos não podem dizer!

O ponto essencial de tudo isto: todas as relações precisam de alguma distância! Há quem chame de espaço para respirar, eu chamo de sobrevivência. As pessoas envolvidas precisam de ter a sua vida, algo fora do relacionamento para o manter estável. Demasiado tempo juntos e acabam por fazer sky-diving sem pára-quedas. Há que deixar esta opção pela crise que se abate sobre nós desde 2008 (falo para aqueles espalhados pelo globo) e desde o século XV (agora falo apenas para os Portugueses).

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O tempo pesa no fardo

O tempo pesa no fardo e violenta o facto
Que a falta de tacto não traz consolo
Ao inesperado acto da saudade e do abalo
Que nos persegue das ruas até à espinha
Quando sozinhos numa casa acompanhados de monotonia.

Quando estou mais magoado mais me sinto abandonado
E, no meio da velha idade que o tempo mais evidencia,
Reconforto-me na minha solidão que teima isolar
Coração da boca e a mente do espírito,
Coerência da minha pessoa à consistência do meu físico.

domingo, 18 de novembro de 2012

Numa praia abandonada

Ela salta na minha direcção e beija-me, como cenário o pôr-do-Sol para lá do horizonte. Numa praia abandonada, deixada a pedras e areia, nós abandonamos o mundo e entramos no nosso Universo. Apenas interessa os corpos efervescentes em contacto e o barulho das ondas lá no fundo, o comboio que passa a alta velocidade e a noite que lentamente cai. Debaixo das estrelas e de uma Lua crescente incorporada na evolução do nosso amor saudamos o sono, nosso igual, e deixamos-nos ir pelas suas teias sedutoras nos braços envolvidos à volta dos nossos corpos.

Nina Simone - I Put A Spell On You

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Há nas brumas

Há nas brumas um silêncio
Que não me deixa partir,
Uma calma, um sossego
Que não me deixar fugir,
Há nas brumas uma parte de mim

Que vagueia sozinho por uma costa nublada numa manhã de Verão.

A Celtic Tale

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

She's coming back

She's coming back for Christmas and I already see the rain falling, shadows dancing in the walls of the hearth. Wood burning, fire rising and a blanket over us. Inside we hear the fire and the rain, inside we feel our hearts beating. Blood pulsating, rhythm increasing, two hearts becoming one. Scarlet decorates the walls and hearth and little lights shine by the window. A plastic three by the corner and warm chocolate in a mug, smoke rising. Our bodies side by side, sharing warmth but no warmth is bigger than the one coming from her smile.

domingo, 21 de outubro de 2012

She'll return

She saw me cry for the last time. The windows were open, fresh air coming through the window and we were sitting on the bed, staring at each other, trying to find something to speak. Someone had to go first or no one would go at all. I had a reason to be crying, something that made me sad. She was crying too. She was sad before me. Actually, she was the one who found the reason to cry. She found a place to be, somewhere where it always rained, that gloomy weather that she likes. She'd be happy but she'd leave me. 'I'll come back', she told me. And then there was silence again.
Silence is the key. It's the indicator of the crime. It was crushing us. I could feel it in me and I could see it in her eyes. But there were no words to be said. We stared at each other until one couldn't bear the look of the other person and would look down or to the side. I was done with crying, I had enough of tears. She came closer, enough for me to pull her and hug her, to hold her in my arms as we laid down on the bed. We spent the whole night like that. It could've been winter, I don't think either of us would move to close the window. It was just warm enough. It'd be cold before soon, she'd leave. That just wouldn't leave my mind.
The world was grey. It seemed like the world knew the grief within me. The night had passed and the day was as gloomy as she wished it to be. Just before dinner time I looked out the window and saw all the grey clouds passing by. A slow procession of rain to fill my mind, the tears of the long forgotten gods telling me that they knew. I held my left hand towards the window, hoping something would take me from there. But then I realized how stupid the idea was and got up to close the window. The air inside the room was cold enough and the rain didn't bring any consolation to the mind.
She bought me a lighthouse to guide herself when she came back. From out there, somewhere in the middle of the sea, vicious by nature, she'll return from wherever she went to. I planted the lighthouse on top of the highest cliff I found and prayed to the gods that she found out where I've put it. Not too high, not too low, maybe hidden by trees or clouds, the only thing important is that she returns, that she doesn't get lost, that she doesn't find new passions and forgets all about the light she left here. I sit and wait, I'm sure she'll return. Then the silence won't be disturbing, the words won't be knifes stabbing the back. She'll return and I'll hold her again, this time without the waiting, without the sadness, without the weight of the future coming in between us.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Imaginar-te como quiseres

Posso imaginar-te como quiseres,
Como as ondas do mar,
Como as águias a voar,
Eu não me interesso se não te interessares,
Eu amo-te se me amares,
Silencio os teus medos se me reconheceres as inseguranças,
Cesso qualquer guerra, agarro toda a paz, acabo as ameaças,
Respiro finalmente o livre e puro ar,
Imagino que me queiras,
Agarra-me como o canto das sereias,
Larga-me se me quiseres ver morrer,
Deixa-me silencioso e verás toda a minha imaginação esmorecer.


Queen - Las palabras De Amor

Escritos de Fernando

Já não há realmente tragédia. Há uma mistura de almas confusas e tristes, talvez perdidas, que choram nos cantos da amargura sobre os seus pequenos nós que têm demasiada preguiça em desembaraçar. É decepcionante, talvez triste, ver estas pessoas a passar pelas ruas tão desajeitadas, tão perdidas nos seus pensamentos de nada. Alegra-me muito mais olhar para cima e ver o azul do céu e o cinzento das nuvens. Alegra-me ainda mais, talvez me deixe eufórico, chegar a casa e ver paredes pintadas de branco à espera que eu as preencha novamente. Dia após dia, noite após noite elas suplicam. E eu, piedoso senhor, concedo-lhes misericórdia às cordas vocais e satisfaço-lhes o desejo. Elas ordenam-me o seu preenchimento com palavras e desenhos. Eu, bom servo, obedeço-lhes. E hoje vou voltar a ouvi-las. Vou ouvi-las e contar-lhes as histórias de todas estas pessoas. Histórias, dramas, falsas tristezas e mágoas. Prefiro os meus céus azuis ou nuvens cinzentas e paredes brancas qualquer dia da semana.
Já não há tragédias, deixaram-nas todas para o William. Deslumbram-se com essas palavras e desejam senti-las, desejam segui-las rigorosamente na sua vida para lhes atribuir algum significado. Então que aconteceu realmente à tragédia? Não sei. Não a tenho comigo. Certamente não têm estas pessoas. Gostava de dizer que a levou o corvo do Edgar ou que se calhar bebeu o veneno do William mas quem sabe, talvez a própria tragédia esteja numa rua qualquer a agarrar-se ao seu próprio veneno. Penso que o nome da tragédia se mancha em livros populares para adolescentes e crianças, fantasias femininas do que deveria ser romance, o vai não vai a que foram mal habituadas na sua adolescência. Ora aí está um belo exemplo de tragédia, a mente dos jovens corrompida pelas suas fantasias infantis. Façam-me o obséquio de silenciarem as vossas revoltas contra os meus pensamentos, estes pertencem-me e, tal como tudo o que me pertence, apenas eu posso revoltar-me e censurar.
Já não há tragédias, há iniquidades. Há pessoas más que fazem as coisas por mal. Há pessoas que fazem coisas más por necessidade. Mas não há tragédias. Tal como pergaminhos, as tragédias deixaram-se ir para as páginas da História para voltarem a ser referidas apenas ocasional para dar um sensação de hipérbole a uma história e não apenas a uma frase. Pois chamo-vos a todos lítotes. Chamo-vos a morte do potencial. Deixo, naturalmente, o assassínio das tragédias para depois ou para outra pessoa. Chamo-vos malditos, estragados. Vou pela minha eforia. Pelas minhas paredes, os meus céus e as minhas nuvens. Deitar-me na areia das paredes e ver tudo passar e em nada pensar. Relaxo muito melhor assim, invés de vos observar que nem mortos a pensar em vidas que nunca tiveram.

Audioslave - Like A Stone

Se o povo não deixar... faço o mesmo mas de outra forma

Tenho a certeza que a maioria de vocês sabe o estado político-económico vivido em Portugal nestes dias.A Proposta Social Única foi grandemente contestada pelo povo português e o actual governo decidiu voltar atrás e tomar novas medidas para manter os portugueses pobres, simplesmente lhes deram outro nome. Tenho também a certeza de que estão com política até aos cabelos e é por isso que vou pegar neste assunto e falar de outra coisa relacionada: greves.
A definição de greve segundo o dicionário da página Priberam é a seguinte:

greve
(do francês grève)


s. f.
Interrupção voluntária e colectiva de actividades ou funções, por parte de trabalhadores ou estudantes, como forma de protesto ou de reivindicação.

Nas últimas duas semanas houve duas greves, ambas à quinta-feira, de metro. Na última greve também se pode contar com a participação da CP e a Rodoviária de Lisboa. Isto, como qualquer outra greve, fez com que os trabalhadores tirassem os carros das garagens, os alunos acordassem mais cedo ou mais tarde e os autocarros andassem mais cheios.
O meu caso pessoal foi o do aluno exemplar, como sempre fui, que acorda mais cedo para apanhar o autocarro. E isso é óptimo, a sério, adoro acordar mais cedo para estar na faculdade mais de um terço do meu dia! Adiante. 
A modificação do meu trajecto passou pela troca do metro, livre de trânsito mas fechado devido à greve, por um autocarro que existe no dia-a-dia e que pára à frente da minha faculdade. Isto levou a que chegasse meia hora antes da aula com tempo para o meu pequeno-almoço. Considerei, naturalmente, o que aconteceria se tivesse apanhado o autocarro seguinte. Bom, segundo o relato de uma colega minha que o apanhou teria não só chegado mesmo em cima da hora da aula como teria passado a viagem dentro do que parecia ser uma lata de atum com pessoas que cheiravam, bom, a atum. Talvez chegar meia hora mais cedo não seja assim tão mau.
O primeiro efeito que se repara numa faculdade num dia de greve é que os corredores são percorridos por ocasionais sombras de alguém que ainda se dignou ao esforço de ir às aulas de manhã. Não me interpretem mal, é uma vista maravilhosa a dos corredores vazios e o silêncio a dominá-los. Uma vista já não tão maravilhosa é a de a sala estar tão vazia que uma pessoa não tem outra opção senão participar na aula das 8 da manhã! Os habituais "cromos" que se costumam sentar na fila da frente e praticamente acabam as frases dos professores decidiram ficar na cama. Este é o segundo efeito. Mas o dia, tal como a vida, prossegue.
A greve continua e a segunda aula, apesar de já estar mais "composta", continua a mostrar as verdadeiras consequências de uma greve. Os funcionários das respectivas empresas param durante umas horas do seu expediente para mostrar a sua revolta contra cortes nos salários, horas extra e despedimentos mas quem na realidade sofre com estas revoltas são as outras pessoas trabalhadoras e estudantes, já que são estes que realmente ouvem o que está a ser dito e não a quem a mensagem é destinada, os actuais governantes do país. Sofrem, entenda-se, não por ouvirem a mensagem mas pelo meio pela qual a mensagem é entregue. A paralisação de serviços públicos, abertos todos os dias, obrigam as pessoas a procurar soluções alternativas e a alterarem o seu horário em concordância.
Não querendo correr o risco de ser mal-interpretado eu esclareço o que aqui digo: eu sou completamente a favor de greves. Qualquer forma de manifesto do qual surjam resultados práticos são positivos. Simplesmente estou a tentar transmitir que estas greves não afectam ministros nem deputados pois todos estes viajam nos seus carros privados, o serviço público parado não os afecta. Talvez os faça chegar atrasados para o habitual almoço de luxo que vem com a profissão (leia-se dinheiro e posição). Longe de mim repudiar uma expressão de liberdade que é uma greve.
Então o povo pára. O povo "sai" para a rua e manifesta-se contra o corte nos seus direitos básicos e fazem entender a sua posição. A quem incomoda realmente isto? Faculdades vazias, filas enormes nas autoestradas, os consequentes atrasos para trabalhos e aulas (e pequeno-almoços). Essencialmente, ao povo trabalhador (não os do pequeno-almoço)! O povo não quer deixar que os planos prossigam. Pois faz-se o mesmo de outra forma. Mais do que isto se aplicar a mim e à minha situação de trocar o metro pelo autocarro, aplica-se aos cortes e à austeridade que mais faz parar o país e que causa novas greves. Greves essas que caem em ouvidos moucos e ouvidos impotentes para mudar a situação. Não peço o cessar das greves, longe disso. Apenas uma alternativa, a garantia de serviços mínimos. Isso e que as marquem com alguma mais separação ou outro dia da semana, um mais conveniente. Revoltem-se, levantem-se e gritem, imponham-se contra a mão invisível da tirania mas deixem os outros desgraçados seguirem os seus caminhos!

Já que já era esta música que eu estava a ouvir e não me lembrei nenhuma outra mais adequada, aqui está: Queen - White Man

domingo, 30 de setembro de 2012

Smile

The smile may be shy,
The smile may be sly,
But it's always present,
Ally in the darkest moment,
When night comes down to conquer
But never able to force me to surrender,
When the silence may tame the mind
But never really cause a fright,
Because, love, your smile is always here
On my mind, making my lips move, wishing to be there.


Bush - Glycerine

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Para (re)começar [sem realmente acabar coisa nenhuma]

Bem, decidi dar um novo rumo a este blogue. Não é bem um novo rumo, é mais uma aquisição ao extenso repertório que já aqui se encontra. Não se trata de um novo visual ou textos mais ou menos poéticos. Diria que é algo de uma natureza mais pessoal, mais sincera. Uma nota das conclusões a que chego, vejo e conquisto. Não é algo a que possa chamar realmente de crónica ou texto de opinião, é mais algo a que alguns (vocês sabem quem são) chamarão de diário.
Comecemos pela minha vida actual. De férias (que estão a terminar), em casa dos pais, pobre tal como o resto do país e, ainda como o resto do país, à espera que o dinheiro caía do céu,
Pessoas envolvidas na minha vida: pai de férias que lentamente tenta controlar o universo informático e que me desliga os jogos para jogar os seus (o que me obriga a pôr password no computador e a bloqueá-lo quando não quero que ele mexa), mãe nas mesmas "férias" em que cerca de 15% da população portuguesa também está, três irmãs, todas elas fora de casa, um cunhado cuja testa se torna mais proeminente com cada dia que passa, dois sobrinhos que me fazem dizer que o tempo voa, uma namorada óptima que amo (e que, desde já, rosna a todas as minhas leitoras femininas não-familiares que não existem), um amigo que  é independente de relações amorosas mas totalmente carente quando se trata de tarefas domésticas e não-domésticas, outro que conheço há anos mas que nunca vejo (isto na realidade aplica-se a dois), outro que sai de um relacionamento e já quer entrar noutro, uma amiga que não pode comer cheetos sem parecer um adolescente no auge da puberdade e outra que ainda não chamo amiga mas que tanto falei com ela que não podia deixar de a mencionar (e porque é ruiva!).
Creio que por esta altura já se estão a perguntar se este texto tem algum sentido ou se é apenas uma pequeno auto-biografia. Não se preocupem, eu também! Este pequeno grande discurso é, no fundo, uma introdução ao que há de novo por este deserto. E nesta introdução quero também dizer: odeio o meu curso, quero sair de casa, quero ser publicado, quero fazer sexo três ou mais vezes por dia, quero que todo o meu exercício mostre resultados e, pela última vez, não, não quero uma chucha!
Deixo-vos uma conclusão e uma pergunta. Conclusão: Podia estar pior e podia estar melhor, só não o estou porque não quero (sim, sim, já sei, já mo disseste um milhão de vezes!). Pergunta: Que característica intelectual permite identificar um génio mesmo que este pareça um idiota? Já me lembrei de várias mas têm sido "rejeitadas" por idiotas no literal sentido da palavra que também possuem tais características. A única que ainda não foi posta de parte é a capacidade de manipulação através de diálogo. Se tiverem qualquer outra teoria, digam-me. Desejo muito saber o que me falta, quanto custa e onde comprar! (certamente não em Portugal).

Beijos, (nada de) abraços e (sonhem com) muitos palhaços. 

The End Has No End - The Strokes

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Deixamos o tempo passar

Cada nova paixão é um leque de cores repetidas, deixadas ao acaso sobre uma mesa à espera de serem escolhidas e espalhadas por paredes brancas, folhas vazias em que sentimentos são despejados sem pensamento. O que é deixado para trás é a memória de tudo o que já aconteceu, que se volta a repetir, vez sem conta, até o inevitável negro da morte nos tomar e finalmente silenciar. Silencioso é de facto, como a noite que se abate, suave como o toque de veludo. Percorre-nos por inteiro e deixa-nos vazios, a desejar mais. Mas como uma amante proibida, é algo que tocamos uma vez e não voltamos a sentir.
Sozinhos no escuro da noite sentimos-nos abandonados, solitários. Desesperados por companhia deixamos-nos levar pelo caminho da memória e da imaginação, sorrindo a cada detalhe, lutando batalhas imaginárias para ganharmos o coração de alguém que já possui o nosso. Mas a manhã é a assassina do pensamento. É a criadora cruel do desejo mas tudo o que saciamos não é tudo o que podemos aproveitar durante o dia por isso mantemos-nos a desejar mais e mais, seres egoístas que somos. Vivendo aos poucos é tudo o que podemos fazer. Deixamos o tempo passar porque assim deve ser mas o vazio não é preenchido até nos voltarmos a encontrar com a nossa fonte de alegria.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Este parque

Este parque foi feito para vagabundos e marginalizados. Foi construído há tempo suficiente para a chuva corroer tudo o que aqui existe. Aqui habitam estátuas que a chuva não lava, uma fonte que água não abençoa e árvores cuja sombra é uma pobre demonstração de uma ilusão vivida e partilhada. Mas não é inteiramente desolador. Há lembranças e histórias, há relva e flores onde casais apaixonados se deitam no deleite da sua juventude, aproveitando ao máximo o tempo que lhes resta antes de se separarem. Esperam o futuro com olhos esperançados, sem medo do que ainda aí vem. Mas há pausa nos seus corações. Há incerteza e medo. Há silêncio. Acima de tudo, há espaço na sua simbiose.
Neste parque residem espíritos, neste parque residem tempos passados que nem notámos que passavam. Todo o tempo aqui originado, aqui designado para passar, foram maravilhas que ninguém qualificou, foram alegrias que ninguém assim as rotulou. Deixaram-se roubar os minutos, as horas. Agora tudo isso não passa de memórias manchadas com o tempo, alegrias que lentamente deixam de ser relembradas. Quase parece que este parque só traz injustiças mas são as pessoas que o conhecem e o frequentam que fazem as injustiças. Deixam-se guiar pelo destino até a um lugar que não conhecem, apaixonam-se e, quando lhes é mais conveniente, abandonam este lugar. Não há de facto misericórdia no coração dos humanos, deixando assim a própria história ao abandono.
Este parque é o templo de todos os abandonados. Não um templo de deuses e deusas, não um templo de falsas crenças. Um templo de sossego para aqueles que aqui vieram ter pelo acaso e por cá decidiram ficar. Acabaram esquecidos mas esquecidos em conjunto com outros tornam-se relembrados. E através de sombras, sussurros ao vento e histórias que são contadas de ouvido ao ouvido se tornam imortais, tal como estas estátuas que se apresentam imponentes frente a mim agora. Silenciadas, os seus olhos contam mil contos, descrevem mil faces. Elas viram o tempo passar e apreciaram-no, aceitaram sem resignação a sua deterioração. Neste parque elas existem e vivem quando outros apenas cá passam temporariamente, nunca realmente cá vivendo.

sábado, 9 de junho de 2012

Mãe de mães

Hoje sou assombrado com memórias de alguém passado,
Sou apresentado com imagens que vivi e que pus de lado,
Dias passados em que o Sol cobria a superfície que pisava,
Dias em que eu não sabia que o que via era o que precisava,
Um sítio onde não conseguia aguentar as pessoas que o habitavam,
Um sítio a que apenas a uma pessoa pertencia mas tantas lá permaneciam.

Uma pessoa pessoa que de todas as outras sobressaiu e restou,
Um presença forte que na minha mente achou um canto e ficou,
Memória escassa que de forma contínua me ilude o pensamento,
Trazes-me imagens daquela que ainda penso por um momento
E que depois me abandona como alguém do passado que insiste em voltar
E que rapidamente voltou a perder e não me consigo perdoar
Por acções infantis para com aquela que já me sorria
Ainda não sabia ela que nada de mim se aproveitaria.

Mãe de mães que comigo já não estás,
Filho da tua filha, assim me recordarás
Nos dias em que te encontrares perdida
Nesses corredores vazios a pensar na vida.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Peace

Peace is always hard to be obtained,
It's always too difficult to be attained.
That goal, that ease of mind,
This but a dream with no ally.
It's a search to no avail,
A villain with higher detail
Focused on his on self
Someday - I hope- will be screaming for help.

But peace is yet another just cause
To those whose interest may arouse.
Arise and let your voices be clear
Shout as loud as you can so everyone hear.
The message that you bring to all
Words that to some may appall,
Let one word be heard, one word to all action cease...
...Peace

sábado, 2 de junho de 2012

Agarrei na noite

Agarrei na noite e deixei escapar
Um suspiro que se deixou levar
Para as profundezas azuis do mar
E nunca mais se encontrar.

Verdade que caminhei
Pelo bosque e encontrei
Palavras que já decorei,
(De alguém cujos lábios nunca saboreei),
Verdades nas sombras.

Para aqueles a quem as trevas assolam
E apenas na luz se consolam
Digo palavras que a nenhuns assombram.

Agarrei a noite e deixei-a escapar,
Às vezes há coisas que mais vale largar
Do que constantemente pensar
E a conclusão nenhuma chegar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sleep

Got to bring them to light, all my mistakes, all the things left unsaid by the night. Death is ever nigh, so eyes aware search the darkness for that infinite, silence sleep. Wide awake, awaiting tragedy without second thought to the irony. Vicariously passing through a loophole in time, letting life escape through the fingers, wondering what has just been seen, accepting the shadows as beings of the same nature. All over the wall light reflects back and leaves unseen the truth. A boy sits and waits, slowly his human nature changes from predator to prey.
Death is an old, ugly man. Face always frowning, ever sad, ever lonely. Seeking company but never obtaining it, it retrieves lives. Methodical, liar, treasonous brother of life. Lover of the sea, it thrusts forward against ships and land, takes all in sight. Coming from ancient times of cold and stone to these days of steel and concrete, it bursts in ignoring all material. It is now in the room and watches with empty eyes the wary boy in the bed, seeking and never finding an answer to his fear. It moves slowly, floating besides the bed, silently. It tilts its head and watches its prey closely, its old face full of wrinkles pushing up in dismay. It has never liked the company of a child. They're too energetic and full of questions. Its old age can barely keep up with its weight, much less with a hurried child always pulling it forward.
So death stared for a while, waiting as the frail boy shivered at the cold that it had brought in. A touch of its hand and it would be over. This boy would have no body, just a soul being carried off to somewhere, doesn't matter where. But it was still a boy's soul and it should remain in the mortal world. So death looked upon him one last time and vowed to return in a few years to find him old and experience, with wrinkles of his own. Only them he would take him and embrace him as a long lost friend. Leaving the room without looking back, death roamed away to another location where a soul would be waiting for it. So the boy went back to sleep, all the fear gone and warmth returned to his body.

terça-feira, 29 de maio de 2012

A sailor's journey

"This world is so blind, so hard to embrace. The truth is so hidden, the silence is so deep. And deeply disturbed am I, lack of sleep has made me this way. Usurped of words I present myself to you. You are to me more than a distant memory of a naked body on a bed, more than those white silk breasts that make me sink more and more into you. Ignore the truth of the wooden buildings that you can see from your room's window, ignore the physical distance between us. It is nothing once you see how deep the ocean can be. Though there's a storm in front of us, the waves that clash against the ship don't have any effect at all. Even the gods of the Wind help us, guiding us closer to our goal. Closer to land and closer to you, soon enough I'll be in your arms.
I can't really tell how far I've sailed or where I've been. In my mind I was always with you, by your side. I still carry the memory of my last night with you. You said to me, 'Tempting is your chest and comforting are your arms but unforgiven is your absence and my nights henceforth restless. I'll wait for you by my room's window, staring at the doves in the sky like a widow looks at her husband's empty side of the bed and how a wife looks at her house's door waiting for her husband to arrive.' My heart froze that moment and my words left me. All energy gone from me but an exit existed. I turned my back at you, went out the door and left you crying, my own eyes with tears of their own.
The storm has reached our ship and wooden pieces are torn to bits. The wind has changed sides and is now against us. It cuts the skin, it gets deep into the bones. I fear that the sea will slow me, I fear that I won't get to see you smile again. I ..." - And then there's a long line. I suppose that this was the end of him! - said the maid.
They read the letter to me. They found him on a beach somewhere. His ship was torn to pieces and no survivor was found. He never came back to me. He never saw me smile again. He never saw me cry again. Only my walls can see me crying now. Only the -
A bang of a wooden door, loud voices below, steps on the stairs, deep, hard, fast. Then her room's door is open and he appears, eyes wide open, gasping for air, no, gasping for her. She jumped from her bed and changed her tears for a smile, opened her arms and jumped towards him. In a silent embrace they stood for a while before he held her hand and took her away from there.
This is the sailor's true journey. Not one of bravery and strength but of courage and will of the soul.

domingo, 15 de abril de 2012

King of his own land

Each day he greeted his people from night till morrow,
With each day turned night his joy would turn sorrow.

Vile nights those he spent alone,
The scent of her skin was gone.

At night his kingdom turned to darkness,
At night his power turned to loneliness,
Laying on a cold steel bed by himself.

Ever since a child he was burdened
With power that left him abandoned,
With territory so empty in his imagination.

All would be forgotten,
Everything he owned rotten.

All but ghosts left to tell
The tales of what the kingdom was.

And the fool, he who is me,
Jests while living vicariously,
Watching the kingdom burn in silence.

Time greets death with a grin
And with the wind the embers spin,
Turning all my words to ashes.

All conquered can be lost,
Even a kingdom can become a ghost.

Everything you see can also disappear
Even a kingdom can easily sear.

quinta-feira, 22 de março de 2012

For a maiden's heart

A maiden lost in not only heart but mind,
A maiden that something has lost and that something needs to find.

Truth be written here,
Thou doth has eyes to see and ears to ear,
Ear thus my humble plea and read this story,
Of this fair maiden whose heart came torn
And whose soul would be sworn to be worn
Until it became a pale ghost.

As Winter came nigh
And day became night,
Thus the maiden mindlessly roamed the woods,
Following her shadow through trees and roots,
Smiling innocently as the moon shone over her
And the air became damp and darkness heavier.

Shadow follows shadow and merges
Out of the darkness a figure surges,
Whispers it words that only the wind can ear
Giving the maiden a chill no one wants to feel,
Walking slowly as hand reaches for hair
That runs away from his grasp, as desperate as fair.

The clouds slowly cover the moon
And the wolves howl by the moor,
Their souls brave and their fears bind and stale,
Towards the maiden they run to save her from bane,
Moving with haste in her direction
Commanded by a mind that thinks only of her salvation.

A forest pitch black is now stained with the colour of life,
All that in darkness dwells has seen failed all of its strife.
Came with the winds, the wolves and snakes bite the figures limbs
And the maiden's heart calms and her revolving mind finally stills.
Back to shadows the figure goes, forming pools of blood in its goodbye,
At last all is calm and the maiden sighs, a low note starts a cry, the maiden heart's shy.

A maiden lost in the woods accompanied by wolves and snakes, her heart's still,
A man's mind at ease for all that was lost has been found, finally his heart can be revealed.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Um dia diferente dos outros

Já vi loucuras mais declaradas passarem à minha frente e assumirem-se dignas de atenção de outros sem qualquer justificação. Todas juntas constituem os momentos mais notórios da minha vida. Vida triste, não é verdade? É capaz mas quem me conhece sabe que pouco me interessam as histórias de dor e amor. Talvez por isso esteja tão disposto a largar as minhas memórias e formar novas. Deixo apenas os erros. Lembro-me deles ocasionalmente, deixam-me envergonhado e furioso comigo próprio. Tenho a certeza que se tivesse um clone que me espancaria quase até à morte. Enraivecido, louco, ignorante, que será de ti? - pergunta-me a consciência. Não sei mas a vida continua.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Do dia para a noite

Não queria mas tinha. Tinha de silenciar a morte, tinha de congelar o tempo. Ajudou convencer-me de que o conseguia, tinha de me converter à minha crença de que a mente de tudo é capaz, o físico não é o limite. Para isso caminhei o necessário e o desnecessário, vi pessoas que já esqueci e passei por paixões que se incendiaram e se extinguiram ao passo de uma batida do coração. Eu próprio afectado por todos estes acontecimentos senti-me cansado, esgotado. Apressei-me a casa e deitei-me, fechei os olhos e sonhei com a porta onde o corvo pousou e falou pela primeira vez.
Esperei a manhã, deitado e silencioso, possuído por um espírito que me inquietou os sonhos. A sua face era transparente e nenhuma boca se apresentava a mim mas repetidamente ele me cantou palavras que desconhecia à superfície mas que me eram tão conhecidas no âmago do meu ser como o sangue que hoje me corre nas veias. Hesitei perante tal aparição e silencioso me mantive, a luz do Sol tardava mas ainda preservava esperança de a ver passar pelas gretas e iluminar o meu quarto. A escuridão não durará para sempre, pensei eu. Mas a escuridão sempre voltará, respondeu-me o espírito.
Tocou-me suavemente, o seu sussurro, amigo ou inimigo, de humano esquecido ou besta temida, desconheço a sua origem, já não era suficiente. Despertou-me do meu sono eminente, deixou-me os sentidos alertados e o pânico à porta de entrada da mente. Rapidamente liguei a luz e olhei à volta do quarto, nenhum vulto se mexeu ou anunciou. Olhei fixamente para a parede branca que se apresentava à minha frente e imaginei o limite do possível. Contentei-me com o que vi e ignorei tudo o resto, voltei a desligar a luz e a sonhar com o corvo. Percebi então porque é que os sussurros não eram suficientes, o vento lá fora crescia bravo ao ritmo do aparecimento do Sol.
O Sol nasceu como era esperado e a minha vez de me levantar chegou. Mais pesado hoje do que ontem, saí da cama. O peso do mundo voltei a carregar hoje e nenhuma palavra ou toque chegou aqui para aliviar o fardo. Então caminhei novamente, o céu ainda não completamente conquistado pelo Sol. Nada vi e tudo me pesou. Lembrei-me de palavras ditas, de todas menos das ditas pela noite. Então parei e em mim caí, o espírito não se apresentou mas com palavras de aviso me presenteou, do dia para a noite tudo o que não é amor ameaça cair. Assim pronunciei o nome dela aos céus e esperei que ela não me escapasse para o reino dos espíritos como aquela que encantou o desafortunado que teve o corvo à sua porta.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Nova interpretação

Encontrámos um sítio seguro para depositar as nossas esperanças e palavras, sentimentos e pensamentos. Encontrámos um cofre e lá depositámos tudo o que queríamos despojar cá para fora, olhámos-nos olhos nos olhos, apertámos um pouco mais as mãos e finalmente largámos, libertámos-nos de toda a tensão. Virámos as costas ao cofre onde nos guardámos, virámos as costas um ao outro e a nós próprios e caminhámos um direcções diferentes. Por um prado vasto onde o horizonte é indefinido, onde o desconhecido se apresenta infinito e solitário. É assim que o interpreto.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Partir no silêncio

Olha os pássaros a sobrevoarem o meu abismo. Interiormente caio, à superfície do meu exterior resido. À pele o vento canta mas não o deixo ser ouvido, não se enquadra com a minha realidade. Ele apenas me traz o frio e o frio não me é bem-vindo. Até os céus azuis e dias repletos de risos e abraços são afastados como a sensação do vómito quando nos sobe à boca. São estes os meus dias e as minhas noites. São todos os pensamentos perdidos, as frases de um poeta inspirado que já morreu, horas passadas a procurar um significado para as suas palavras que existem com coerência mas sem justificação. Determino que é uma procura incessante e tempo desperdiçado, deixo a noite virar manhã e finalmente fecho os olhos.
Deita-te na relva e vislumbra o céu. Está vazio. Está assim por um simples facto: tens os olhos fechados. Deixaste envolver nas tuas definições de loucura e verdades definidas que te esqueces que a vida não é assim tão simples, é uma espada de dois gumes. Presento-te com esta verdade e tu abres relutantemente os olhos. Vês todas as cores, compreendes de onde vêm os gritos e risos das crianças, percebes onde estás. Levantas-te e perguntas-me porque estou aqui. Não tenho resposta. Posso, no entanto, dizer-te que sou um silêncio voluntário que cresce regularmente e ao qual te vais aos poucos habituando. Se não estás satisfeita posso sempre partir. Não tens que o pedir ou ordenar, tens simplesmente que olhar para o horizonte e incorporares o silêncio. Aí deixar-te-ei sozinha com os teus pensamentos e as tuas loucuras. Partirei mas isso não me deixará satisfeito. Deixar-me-à incompleto, igual ao que sou perto de ti. É assim que me conheces e é esse o pouco que te ofereço.
Vejo os pássaros a voarem tão simplesmente, tão abstraídos desta realidade que ocorre no chão. À superfície posso parecer calmo, posso ser razoável ou introvertido mas no interior estou perto de explodir, cada minuto que passa, cada toque sentido, cada palavra sem sentimento que me atinge é apenas mais um passo perto do abismo. E lá há tanta escuridão. Escuridão que nos rodeia e conquista, que torna felicidade em medo, o medo em pânico e o pânico no silêncio das nossas almas. Mas não haverá mais caminhos a tomar, mais separação ou conflito a resolver. Será a isolação dos pensamentos, a tranquilização da alma. Será a solução da nossa guerra, ambos os nossos interesses resolvidos e satisfeitos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Tenho de te dizer

Tenho de te dizer, talvez já fosse tempo de tudo isto acontecer. Já passou o tempo de ser o que quer que fosse que estivesse destinado. É uma vergonha desperdiçar mas nada se perde nada se nada se teve para começar, certo? Suponho que tenha sido um tolo por lutar sozinho contra a maré... não bem contra a maré, mais contra ti. Agora parece que nada significou, nada foi. E talvez seja para o melhor, neste mundo que me é desconhecido estou habituado a andar sozinho, em silêncio. A tua voz era demais para eu aguentar, especialmente quando a tua pele me recusava e os teus lábios deslizavam para fora do meu alcance.
Fui o aclamado mestre de ilusões, a minha maior mentira foi a mim próprio. Menti-me, esperançoso de que as palavras que são tão facilmente ditas, escritas, pensadas fossem verdades. Dediquei-me a ser um suporte, uma viga que teima ceder. No final sinto que o edifício caiu todo sobre mim. E eu sozinho carrego o peso do mundo às costas, com tantos espinhos cravados na garganta, tão cansado de aguentar este peso nas minhas costas. Penso tantas vezes em ceder mas dar valor à tua existência é uma nova batalha que travo. Verifica-se algo, no entanto, subsisto do pouco prazer que me dás no meio de tanta dor.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

The return to the undefined

We're made of highs and lows. We make mountains out of molehills and we disturb the wind with screams of war replaced by moans of eternal passion. We go back to war for power and leave everything that makes us human behind. This is the essence of the human that walks in this land. Blood-red sky, dark trees, enlightened minds with thirst for destruction and havoc, poverty rules these streets. It's an empty kingdom after all. The funny thing is I have a feeling I've been here before...
Ah, I remember it now. This is the kingdom of the forsaken, where the king-knight reigns, where I saw his smile for the first time and carved it in my memory. I have spoken of this land so many times, many more did I wish to return but never again did I lose myself and was able to come back. Now here I am. But there is no knight to greet me, no dark forest, no perils to endure along the way. All that I see before me is cold cement and an empty hill. The flag is still blown by no wind but the kind is no longer there. I approach the same spot where I once sat and look to the other side of the hill. What I see is only devastation, a war that left our world and continued on this.
I walk further, I enter a city with sky-scrappers built of broken glass and corroded iron. No soul to be found, no king or knight to explain this sight to me. No one to guide back to my own world. This is a frightening thought. Fortunately it's interrupted by a shout of a familiar voice:
"Get out of there, they'll see you."
I look back and inside a building there he is, the knight with his usual blank expression but looking a bit more tired, as if had aged.
- "What happened here?" - I ask him.
"Everything was given and all was taken."
- "Taken by who?"
"Everyone. My king showed it all, sea and sky, even the trees. He let them in, it was their time. And they took it all. Even the birds."
- "Is he still alive?"
"I am" - he slowly approach us from the shadow behind the knight - "I have to say that your appearance provokes both sorrow and joy. Your presence is such and earthly sight, specially after the devils that have taken over my great kingdom."
- "What devils? Who are they?"
"They are of your time. But they are not of your kind. These man dream of machines, war and death."
- "But who ar-"
"You must go back now. Back from where you came. This is not your place nor your fight. Your purpose here exists no longer and a new one is yet to be created. Go back to your world and write tales of war where life ceases to exists. Take advantage of the fear you see here and give to the people in your world. Make it right for when you return I'll want to sit with you on the hill and talk of philosophy, life and love. Go quickly and return only when time stops for you and for you alone."
I came back the way that I walked, desolated for seeing such misery and desperate for a sight of that smile. I came back and wrote, feared and loved. I came back and I write now with the purpose to come back to that hill, to see his kingdom his once again. I'll wait my time and hope for it to be enough to restore sanity into is weary head.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Por vezes

Por vezes não conseguimos ver o que temos à nossa frente, por não haver espaço ou por simplesmente não querermos ver. Por vezes basta-nos um caminho, uma memória, uma companhia para nos fazer ver. Talvez o que chega é desesperar por algo, voltar a casa e não o ter. Penso que isto nos faz aperceber de que precisamos simplesmente de seguir em frente. Porque uma casa vazia por vontade é sempre melhor que uma casa cheia de estranhos a falar de tópicos vazios.
É preciso um compasso de espera até voltarmos a erguer-nos de manhã no frio do Inverno. Os lençóis estão quentes, em oposição ao ar do quarto. Mas na cama divagamos e imaginamos o impossível: quebrar aquela barreira da pessoa impassível. Sorrimos e sonhamos até voltarmos à consciência de que nada daquilo aconteceu, provavelmente nunca irá acontecer. Então rogamos ao frio e ao Inverno, sejam complacentes e permitam o retorno do Verão e do calor para podermos sair da cama, caminhar pelas ruas e sentir a brisa a aclamar a calma da alma. Mas é tudo um sonho. Por vezes querer não basta.
Por vezes basta um velho trilho, uma lembrança, uma chuva para nos abrir os olhos e permitir-nos ver o que existe ao nosso redor, uma mão cheia de nada para além da nossa luta vã contra um muro sólido. Invariavelmente somos derrotados. Existe um limite até onde podemos lutar antes de baixarmos os braços e resignarmos-nos à nossa condição permanente. Por vezes o silêncio chega-nos. A mim basta-me.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Coração ou mente

Se eu tivesse de escolher
Coração ou mente,
Escolheria o errado
E rezaria pelo certo.

Se eu tivesse de esconder
O meu lado consciente,
Por querer ver-lo sanado,
Fá-lo-ia de coração aberto.

Porque o tempo não remenda
Os cortes na alma que deixaste,
O vento não leva facilmente
As nossas desavenças e amuos.

Se eu os tivesse todos à venda,
Os sentimentos que em mim deixaste,
Bastar-me-ia tocar-te levemente
E tu leva-los-ias, afastarias os nossos mundos.

Se eu tivesse de escolher
Coração ou mente,
Vencia a minha lógica,
Ignorava o instinto,
Levava a doença crónica
Do sentimento, de todo o sentido.

Se to dissesse, mentia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagens

De vez em quando, aqui e ali, encontro alguém interessante nas minhas viagens. Alguém singular, seja na sua totalidade, seja numa qualidade particular. Esta qualidade a que me refiro não se pode ler como um aspecto positivo da pessoa mas simplesmente um aspecto. Tem a sua conotação negativa. E sempre que a aplico numa pessoa é porque essa pessoa é a personificação da conotação negativa. De facto, há muitas conotações negativas neste mundo. Mais do que as positivas. É difícil encontrar qualquer pessoa de qualidade depois de tantas negativas. Acabamos por nos fechar. Abrimos os olhos apenas quando é tarde demais.
As minhas viagens não são muito mais do que desculpas para conhecer novas pessoas e dar-me mais razões para me fechar. Elas são intermináveis e inimagináveis. Mas são necessárias. São parte do meu crescimento pessoal, são palavras minhas que ainda estão por sair, precisam apenas de alguma motivação. Preciso destas experiências novas para passar a conhecer o real carácter das pessoas, quero conseguir lê-las sem ouvir uma palavra delas. Não preciso de mais desilusões perpétuas, bactérias que se colam à alma e vão sugando a sua força até esta estar pendente da piedade de um estranho. E por isso dou tanto valor e mérito ao silêncio. Porque ele é o oposto das palavras ocas, promessas vãs, mentiras... que são elas próprias a sua definição.
Tão silenciosamente e tão violentamente quanto possível o tempo passa. As palavras, as fotografias, as memórias, tudo serve para embelezar o longo processo da vida a passar. A vida é, no fundo, uma viagem. E nesta viagem vamos conhecendo e vamos desconfiando. Intenções há muitas mas poucas reflectem a imagem da alma. E com essas poucas vamos tentando conhecer as pessoas. Porque precisamos delas para sobrevivermos à solidão. E a solidão é a bactéria que mais assola a nossa alma. Por isso queimo as fotografias, vou-me esquecendo da vida, escrevo para deixar o sentimento morrer.
A minha viagem é necessária porque houve pares de pessoas que viveram muito antes de mim a decidi-lo. E haverão outras viagens que serei eu a criar. Existem alguém para me dizer que estou errado? Não. Não têm a minha existência, não compreendem a minha essência. É por isso peço silêncio a esta plateia de palhaços, espelhos partidos e almas danadas. Tentem compreender, não refutar ou analisar. Simplesmente deixem o momento passar, deixem as palavras escapar, não procuro consolo ou companhia na revolta, apenas compreensão.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pequeno pedaço de céu

O meu pequeno pedaço de céu tem todo o silêncio e escuridão de que preciso. Tem toda a minha isolação e conforto. Tem todos meus pensamentos desorganizados e as minhas revoltas nunca iniciadas. Tem todo o meu ser cuspido nas paredes. É uma cela. Mas é a minha cela. É o meu espaço. É onde grito e me refugio do mundo que insiste em desapontar-me, apontar-me o dedo e acusar-me de ter desistido do meu destino quando apenas o tento apanhar. É onde me conheço e desconheço, escrevo murmúrios para ocupar o tempo e olho pelas grades para ver o grandioso exterior onde o Sol brilha enquanto espero pela inspiração. Tal como as paredes, as folhas permanecem limpas, silenciosas.
Silêncio, é ele verdadeiramente grandioso. É permanente residente na minha pessoa. Chegou, viu e ficou, conquistou-me à partida e não teve que se esforçar. Identificou-se comigo e eu com ele. Ficou e ocupou grande parte do meu pedaço de céu. Divido a cela com ele e com todas as palavras que nunca saem. Eles e o tempo que teima em passar lentamente são os meus confidentes nas horas de maior escuridão e isolação. E por entre as grades continuo a ver o Sol que se põe, as folhas das árvores a caírem no chão, mortas, secas. Sinto-me como as folhas, morto, seco. Fartei-me de lutar. Deito-me no chão, vejo o tecto e espero que o mundo lute por mim uma vez que seja.
O meu pequeno pedaço de céu não é composto de nuvens brancas e anjos. O meu pequeno pedaço de céu é o meu pequeno pedaço de Inferno, é onde fujo de tudo o que não é meu e do que não sou. E é-me suficiente. Porque me é verdadeiro, porque me é honesto. Lá posso ser quem que realmente sou, o que quer que realmente seja. E o meu pedaço de céu é-me tão mais valioso que todo o esplendoroso pôr-do-Sol que todos os outros admiram sem pensar nas consequências. É-me tão mais valioso que tudo o resto que possuo que me dói agora vê-lo partir-se em desespero pela companhia de alguém ainda mais isolado que eu.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Adaptação

Todas as pessoas têm momentos que os definem, vários, espalhados pela vida. Todo o ser tem um sítio onde se adapta, onde se sente confortável, onde sente que pertence. O meu é aquele pequeno buraco de inferno. Porquê? Porque lá existes tu. Porque lá foi onde entraste na minha vida, uma criatura que não era fruto da minha imaginação mas algo muito maior que isso. Tu, que me fazes sonhar, escrever e imaginar. Tu que estás tão longe mas presente. És já mais do que uma sombra nos corredores, és mais que uma silhueta à frente da janela.
Deixa-me escrever de guerras e mortes, desejar sangue e escapatória. Deixa-me sentar em silêncio, observar o escuro. Deixa a minha mente percorrer o espaço que ainda é desconhecido. Deixa-me inventar algo de novo, liberta-me para a revelação de algo menos importante que tu. Sai da minha mente, deixa-me dormir descansado uma noite, até ao amanhecer. Até eu me lembrar de novo de ti. E aí encontrar-te não na minha cama como sonhei durante a noite mas nalgum lugar que não conheço. Continuar o dia contigo em mente, ter mil palavras para te falar e não conseguir acabar qualquer frase. Acaba com a minha solidão à noite, tenho um copo na mão, um sorriso na cara e tu do outro lado do mundo, mais longe de mim do que alguma vez desejei.
Todos têm os seus momentos de tranquilidade, de esclarecimento. Tu provocas-me uma guerra na mente. E tão simplesmente como a começas, acabas-la. Apenas um sorriso, uma palavra, quanto mais simples melhor. É tudo o que desejo de ti, é tudo o que tenho de ti. Por vezes prefiro o silêncio. Mas a distância não é um inimigo, é um aliado. Porque quando volto para ti, tranquilo de espírito, dou-te tão mais valor do que se cá estivesses o tempo todo.