sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Escritos de Fernando

Já não há realmente tragédia. Há uma mistura de almas confusas e tristes, talvez perdidas, que choram nos cantos da amargura sobre os seus pequenos nós que têm demasiada preguiça em desembaraçar. É decepcionante, talvez triste, ver estas pessoas a passar pelas ruas tão desajeitadas, tão perdidas nos seus pensamentos de nada. Alegra-me muito mais olhar para cima e ver o azul do céu e o cinzento das nuvens. Alegra-me ainda mais, talvez me deixe eufórico, chegar a casa e ver paredes pintadas de branco à espera que eu as preencha novamente. Dia após dia, noite após noite elas suplicam. E eu, piedoso senhor, concedo-lhes misericórdia às cordas vocais e satisfaço-lhes o desejo. Elas ordenam-me o seu preenchimento com palavras e desenhos. Eu, bom servo, obedeço-lhes. E hoje vou voltar a ouvi-las. Vou ouvi-las e contar-lhes as histórias de todas estas pessoas. Histórias, dramas, falsas tristezas e mágoas. Prefiro os meus céus azuis ou nuvens cinzentas e paredes brancas qualquer dia da semana.
Já não há tragédias, deixaram-nas todas para o William. Deslumbram-se com essas palavras e desejam senti-las, desejam segui-las rigorosamente na sua vida para lhes atribuir algum significado. Então que aconteceu realmente à tragédia? Não sei. Não a tenho comigo. Certamente não têm estas pessoas. Gostava de dizer que a levou o corvo do Edgar ou que se calhar bebeu o veneno do William mas quem sabe, talvez a própria tragédia esteja numa rua qualquer a agarrar-se ao seu próprio veneno. Penso que o nome da tragédia se mancha em livros populares para adolescentes e crianças, fantasias femininas do que deveria ser romance, o vai não vai a que foram mal habituadas na sua adolescência. Ora aí está um belo exemplo de tragédia, a mente dos jovens corrompida pelas suas fantasias infantis. Façam-me o obséquio de silenciarem as vossas revoltas contra os meus pensamentos, estes pertencem-me e, tal como tudo o que me pertence, apenas eu posso revoltar-me e censurar.
Já não há tragédias, há iniquidades. Há pessoas más que fazem as coisas por mal. Há pessoas que fazem coisas más por necessidade. Mas não há tragédias. Tal como pergaminhos, as tragédias deixaram-se ir para as páginas da História para voltarem a ser referidas apenas ocasional para dar um sensação de hipérbole a uma história e não apenas a uma frase. Pois chamo-vos a todos lítotes. Chamo-vos a morte do potencial. Deixo, naturalmente, o assassínio das tragédias para depois ou para outra pessoa. Chamo-vos malditos, estragados. Vou pela minha eforia. Pelas minhas paredes, os meus céus e as minhas nuvens. Deitar-me na areia das paredes e ver tudo passar e em nada pensar. Relaxo muito melhor assim, invés de vos observar que nem mortos a pensar em vidas que nunca tiveram.

Audioslave - Like A Stone

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