sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Se o povo não deixar... faço o mesmo mas de outra forma

Tenho a certeza que a maioria de vocês sabe o estado político-económico vivido em Portugal nestes dias.A Proposta Social Única foi grandemente contestada pelo povo português e o actual governo decidiu voltar atrás e tomar novas medidas para manter os portugueses pobres, simplesmente lhes deram outro nome. Tenho também a certeza de que estão com política até aos cabelos e é por isso que vou pegar neste assunto e falar de outra coisa relacionada: greves.
A definição de greve segundo o dicionário da página Priberam é a seguinte:

greve
(do francês grève)


s. f.
Interrupção voluntária e colectiva de actividades ou funções, por parte de trabalhadores ou estudantes, como forma de protesto ou de reivindicação.

Nas últimas duas semanas houve duas greves, ambas à quinta-feira, de metro. Na última greve também se pode contar com a participação da CP e a Rodoviária de Lisboa. Isto, como qualquer outra greve, fez com que os trabalhadores tirassem os carros das garagens, os alunos acordassem mais cedo ou mais tarde e os autocarros andassem mais cheios.
O meu caso pessoal foi o do aluno exemplar, como sempre fui, que acorda mais cedo para apanhar o autocarro. E isso é óptimo, a sério, adoro acordar mais cedo para estar na faculdade mais de um terço do meu dia! Adiante. 
A modificação do meu trajecto passou pela troca do metro, livre de trânsito mas fechado devido à greve, por um autocarro que existe no dia-a-dia e que pára à frente da minha faculdade. Isto levou a que chegasse meia hora antes da aula com tempo para o meu pequeno-almoço. Considerei, naturalmente, o que aconteceria se tivesse apanhado o autocarro seguinte. Bom, segundo o relato de uma colega minha que o apanhou teria não só chegado mesmo em cima da hora da aula como teria passado a viagem dentro do que parecia ser uma lata de atum com pessoas que cheiravam, bom, a atum. Talvez chegar meia hora mais cedo não seja assim tão mau.
O primeiro efeito que se repara numa faculdade num dia de greve é que os corredores são percorridos por ocasionais sombras de alguém que ainda se dignou ao esforço de ir às aulas de manhã. Não me interpretem mal, é uma vista maravilhosa a dos corredores vazios e o silêncio a dominá-los. Uma vista já não tão maravilhosa é a de a sala estar tão vazia que uma pessoa não tem outra opção senão participar na aula das 8 da manhã! Os habituais "cromos" que se costumam sentar na fila da frente e praticamente acabam as frases dos professores decidiram ficar na cama. Este é o segundo efeito. Mas o dia, tal como a vida, prossegue.
A greve continua e a segunda aula, apesar de já estar mais "composta", continua a mostrar as verdadeiras consequências de uma greve. Os funcionários das respectivas empresas param durante umas horas do seu expediente para mostrar a sua revolta contra cortes nos salários, horas extra e despedimentos mas quem na realidade sofre com estas revoltas são as outras pessoas trabalhadoras e estudantes, já que são estes que realmente ouvem o que está a ser dito e não a quem a mensagem é destinada, os actuais governantes do país. Sofrem, entenda-se, não por ouvirem a mensagem mas pelo meio pela qual a mensagem é entregue. A paralisação de serviços públicos, abertos todos os dias, obrigam as pessoas a procurar soluções alternativas e a alterarem o seu horário em concordância.
Não querendo correr o risco de ser mal-interpretado eu esclareço o que aqui digo: eu sou completamente a favor de greves. Qualquer forma de manifesto do qual surjam resultados práticos são positivos. Simplesmente estou a tentar transmitir que estas greves não afectam ministros nem deputados pois todos estes viajam nos seus carros privados, o serviço público parado não os afecta. Talvez os faça chegar atrasados para o habitual almoço de luxo que vem com a profissão (leia-se dinheiro e posição). Longe de mim repudiar uma expressão de liberdade que é uma greve.
Então o povo pára. O povo "sai" para a rua e manifesta-se contra o corte nos seus direitos básicos e fazem entender a sua posição. A quem incomoda realmente isto? Faculdades vazias, filas enormes nas autoestradas, os consequentes atrasos para trabalhos e aulas (e pequeno-almoços). Essencialmente, ao povo trabalhador (não os do pequeno-almoço)! O povo não quer deixar que os planos prossigam. Pois faz-se o mesmo de outra forma. Mais do que isto se aplicar a mim e à minha situação de trocar o metro pelo autocarro, aplica-se aos cortes e à austeridade que mais faz parar o país e que causa novas greves. Greves essas que caem em ouvidos moucos e ouvidos impotentes para mudar a situação. Não peço o cessar das greves, longe disso. Apenas uma alternativa, a garantia de serviços mínimos. Isso e que as marquem com alguma mais separação ou outro dia da semana, um mais conveniente. Revoltem-se, levantem-se e gritem, imponham-se contra a mão invisível da tirania mas deixem os outros desgraçados seguirem os seus caminhos!

Já que já era esta música que eu estava a ouvir e não me lembrei nenhuma outra mais adequada, aqui está: Queen - White Man

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