quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Interior fight

Close the door, it's time to leave. The night was conquered by longness. You just left and I feel empty already. Almost as empty as this blank page that I try to fill with the feelings that you left me. Here I write gladly all the things that I couldn't tell you to your face. All because you said that you don't want to get involved, you don't want to be serious. It breaks my heart. It storms my mind and I know that I'll go insane before I can hold you again. Even now, dust pushed aside and glowing heart smiling, I long for your touch, for your flesh.
I remember your lips, that smile that you make every time you see me, a song that only I can hear, a love that my heart can't bear. I deliver it to you on a golden plater to watch you destroy it, merciless, ruthless, emotionless. And what I need is you to be conquered by it, dragged in, inexplicably. So patiently I'll wait for the day you'll give in. Until then I remain in silence and devour this darkness and insecurity that is mine since birth. I'll see all that I know change, myself included. All but the rain. And the rain will bless me with remembrance, given that the days gone by will never return.
A new day dawns and all is the same. This four walls still remain standing. Bitter heart that suffers so, look at the window and have pity on your soul, let the sun shine though and the beauty of the world burn your mind with excitement and new will to live. Understand this or understand nothing at all: you dwell in a dimension unknown to any human being, a dimension only you belong. If you with to remain there, let yourself be there alone, draw her not into your petty disgrace. You selfish, coward, mourner of your own self. You don't even have courage to look at the mirror and accept the disgrace that you are. Bleed. Bleed, let time get you. Bleed, grow old until you finally turn to the dust that you say you've pushed aside. Have some shame, some dignity. Let her be and disgrace her not as well.
Silence. It's all you need. Silence and a dark, empty room. Walls to thick that it'd that you years and years until you could punch your way out. Escape to your kingdom of ice that you've build in your mind. Reign there, tyrant of your own pain. Reign there and watch it all burn, slowly. All decay and havoc. You brought this. You did it to yourself. Silence! Everything will end soon.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Village

I'll tell you the story of a village in the remote corner of the Earth, a village where the mountains obscure the Sun, where the wind doesn't blow, where the rivers are stale and youth is banal. Surrounded, trapped, all the same. The air is breathed repeatedly, even at the border of the woods, where the darkness crawls and the villagers are forbidden. The trees stop growing and Nature mourns the death of it's beauty. Here there's nothing for anybody but nobody stays still. The young play, the man work, the old drink and death dances along with its shadow. Look around, what do you see? Crystalline mountains underneath the clear blue sky and a tyrant rising.
No one speaks of the growing power, no one fears it. The lake shows the reflection of those of wish it and of the sky but can anyone truly see it? Can it truly be that there's so much space, so much freedom? It's forbidden now. Forbidden to think, to act, to move. It's forbidden to believe, to have dreams. A tyrant rose and everything fell into his domain. And the cost of such power? Nothing. No one revolts, no one is bewildered about the order of things, the orders given to them. Maggots, trees, water, they all digress because they are free. Humans, they stand still on time, not proud, not individuals, not free. No one rips the borders of the woods with a sprint. No soul, not even a tearful rejected child. And I watch this every fucking day. All puppets played by the hands of those who bought the souls of the villagers. They sold them so easily. They just threw it away, laid down in their beds and fell a sleep. Only a whisper and they all vanish.
There's an image. There's an ideal spoken in the various child tales, sang in every song. There are words to kill the loneliness, to explain all the mediocrity and secrecy. The light shines only on the few but it shines overwhelming. There's a revolution in people's mind. The tyrant's power conserved in a crystal ball is about to explode and everyone feels the upcoming day where the village will be so much more than anyone has ever seen. The youth won't be a designation for those born more recently, will be used for the children playing in the field. Everything will be new. All the pieces are coming together, all that is left is to wait, patiently. And who am I? I'm the on that sits by lake all day, remembering the days of the old, waiting for the river to run its course again. When the tyrant realize that the youth is no longer a child, the river will flow, the trees will breath and the Sun will shine. I'll vanish, mission accomplished.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Aranhas

Hoje as aranhas recolhem aos seus esconderijos mais cedo, fogem com medo da alvorada que está para chegar. A Mãe-Lua avisou-as da chegada do seu pior inimigo, a hesitação. As suas teias são deixadas desertas ou com presas que esperam que a morte chegue. O desespero abate-se sobre esta noite e também eu deixo o sono ser corrompido por imagens de destruição. Perco vida nesses sonhos, perco tempo a pensar no que poderia ser se fossem realidade. Ah, tantos ses! Hoje a hesitação chegou e as aranhas partiram todas para se esconderem do meu temor, incapazes de conter a sua calma quando deparadas com a minha raiva incontrolada.
São oito os seus olhos, são centenas os que me observam. De qualquer buraco, de qualquer canto, refugiadas, escondem-se. Sabem que penso, sabem que vivo e respiro. Sabem que eu as observo ainda que não as vendo. E observando-as continuo, contendo a minha necessidade de me manifestar, a minha urgência em beber o líquido alaranjado. Tudo por causa das suas palavras, estas que apenas existem porque uso eu palavras minhas por necessidade dela perto de mim. Mas ela hesita. Ela desliga a luz, ela deita-se na cama, fecha os olhos e sonha de sítios em que não tenha de enfrentar esta realidade. Oh! como gostava eu de lhe afastar as mágoas e curar as cicatrizes. Mas tudo o que tenho a oferecer são palavras, mesmo quando as dela me parecem espinhos que se cravam na alma. E as palavras não fazem o mundo de fantasia ser o mundo real. Na noite elas desvanecem e também a força e esperança que me movem. À luz as aranhas permanecem silenciosas mas no escuro todas sussurram enigmas para me adormecer.
Parece-me que a minha inocência é sinal de fraqueza. E por isso parece-me que amar é uma tarefa de um humano apenas. Dedicadas foram já as minhas intenções para com outra pessoa, devolvidas como lixo, remexidas, misturadas, abandonadas ao seu pobre destino. Digo isto à escuridão para que as centenas de olhos me oiçam. Volto a ligar a luz e olho ao redor com olhos que ardem de dor não física. As aranhas movem-se lentamente pelas paredes até ao chão. Aproximam-se e esperam. Deixam-me pensar e perceber - hesitação é mesmo isto, uma táctica para evitar sofrer. Mas hesitar deixa-me outra vez sozinho contra o mundo e essa é uma batalha que já me fartei de perder. Por isso rogo à noite, deixa-a fechar os olhos com mente pesada e voltar a levantar-los de alma leve. Que se decida, é tudo o que peço. O mundo está cá sempre à minha espera. E eu cá permaneço, com as aranhas como companhia de reflexão e solidão. Mostraram-me o que é hesitação.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sombra da noite

Vacante coração que ocupaste com destreza e subtilidade,
Errante canção que entoaste, deixando o tempo cumprir a sua finalidade,
Magoada alma que encontraste, sanada alma que aqui deixaste.

Alvorada que teima desabrochar, aquela em que te vou poder finalmente segurar,
Olhar para ti e sentir genuinamente, mesmo não sabendo se me tens em mente,
Falar do verdadeiro sentimento, contar-te desta esperança que alimento,
De falar abertamente e sem medo da rejeição ou do possível desalento,
Olhar para ti e dizer 
Que em ti adoro tudo o que seja teu,
Tudo o que me leva a crer
Que tudo teu pode ser um dia meu.
O teu sorriso que ilumina o dia assombrado pela silhueta da minha cobardia,
Todas as manhãs e tardes que perdi a ver-te passar e falar e nem uma palavra produzi,
Todos os teus rancores e desilusões, todos os amores e emoções
Que nunca deixaste sair cá para fora, que lentamente te devoram agora.

Vai, adormece, minha orquídea, é tempo,
A tua face atormentada ao luar contemplo,
Egoísta sou mas aos meus sonhos dás alento.

666


Oãn àh reuqlauq megasnem adidnocse iuqa, adan ed ocinâtas a recetnoca rop setse sodal.
È sanepa o 666º tsop etsen glob e em-uecerap amu aob arienam ed o raromemoc.
Es-matrivid.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Silenciosos, partimos...

Planícies verdes, mar azul, gaivotas que pairam no ar como papagaios. O vento que sopra forte, a trovoada que ameaça romper a noite e criar um novo dia, a chuva que cai sobre o meu corpo efervescente, acalmando a alma. Minha é a esperançada mente que tanto luta e sonha mas falha em alcançar. Tenho os pensamentos em círculos, os sentimentos fechados, aprisionados, desgraçados que engulo vezes sem conta e agradeço às estrelas pelo dia que os humanos decidiram destruir toda a Natureza. Criaram a distância, criaram a minha salvação. Foram apenas inerentes ao seu próprio destino, tão insignificantes na altura como o são agora para mim. E malditos, voltemos a mim, é a mim que amo e ninguém mais.
Penso que alcançámos o mais importante: o silêncio! O silêncio é essencial. E como é que o sabemos, como é que o temos? Deixamos o tempo passar, palavras são cuspidas e gastas, usadas ao acaso para preencher o embaraço. Não há tranquilidade, apenas desespero. E isso vê-se nos olhos da outra pessoa tal como são visualizados nos teus. Levamos a pessoa para o escuro, o desconhecido e aí já não há confronto. Há silêncio. Então podemos sentarmos-nos no escuro e não ver nada, nem saber se olhos estão abertos ou fechados, e passamos a saber que somos desiguais e duas peças do puzzle que encaixam perfeitamente juntas. Há tanta isolação no meu mundo mas há sempre espaço para ti se acreditares no silêncio.
Deixemos todas as histórias antigas para trás, são pequenos barcos que flutuam em direcção ao horizonte com velas nas bordas e um velho guerreiro deitado no meio com os olhos fechados e as mãos fechadas sobre o punho de uma espada. Abordemos toda esta destruição, todo este mundo de cimento. Finalmente, tudo o que vejo é cinzento. Nuvens, edifícios, pessoas. Até as minhas próprias memórias são em tons de cinzento, lentamente desvanecendo. É a verdade demonstrada perante os meus olhos que rejeito acreditar, é o meu fado que me canta à noite que não aceito. E então algures na minha mente alguém grita para mudar, acabar com esta tristeza e melancolia. Tento em vão virar a página, começar um novo capítulo no livro mas as páginas são demasiado pesadas. Pegas-me na mão e guias-me pela escuridão dos meus pensamentos, silenciosos, partimos...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Guerra (Paredes Vazias)

As paredes vazias ruem à medida que o tempo passa, estes pilares já não sustentam a degradação do coração humano. Tal como a neve cai também estas pedras cobrem o chão das ruas onde outrora pessoas enchiam o ar de conversa e vida. Tal devastação, tal devoção a uma guerra sem propósito. Talvez me escape o propósito, tão simplesmente como isso, sou só mais um no meio da confusão. Mas não consigo encontrar razão para querer ver tudo destruído. Não sou voz do mundo, sou o pensamento na cabeça de um miúdo que abre os olhos pela primeira vez e vê o mundo como é. E desilusão! Há tanta vida neste corpo que se move com arma na mão como aquele que jaze no chão com balas no coração.
Um dia todos nós vimos o que viemos mais tarde a saber ser um sofisma para nos convencer a mente. Um dia todos nos levantámos dos sofás e aceitámos a fortuna que o fado nos tinha destinado. Há verdades no mundo que nem os mais ignorantes e os mais desligados conseguem ignorar ou recusar. São pensamentos tão violentos, lógicas que tocam tão no profundo da consciência como aqueles que nos garantem que os pássaros que teimam em rasgar o céu estão na verdade a voar. É tudo o que se encontra agora à nossa volta, paredes vazias, prédios que ruem, memórias que se desmoronam. Ruas vazias onde nos sábados de manhã se podia ouvir crianças felizes a gritar nas suas brincadeiras inocentes. Mas a guerra não é nenhuma brincadeira de crianças, é morte e tristeza, é desnecessária.
Podemos parar e olhar à volta, podemos-nos aperceber de que somos frutos podres de gerações mais antigas que continuamente nos condenam à miséria. Podemos dar-nos ao luxo de olharmos para o céu e chorarmos a morte do seu azul. Podemos, finalmente, conceder-nos a liberdade de estender os braços e aceitar as balas que nos perfuram e aleijam a carne mas não matam mais a alma do que o homem que nós matámos para aqui chegarmos. Podemos fechar os olhos e adormecer, esta dor é indolor e este mundo é incolor, partimos para o silêncio, a nossa história, as nossas memórias ruem juntamente com estas paredes vazias, as nossas vozes que tanto gostavam de gritar "Liberdade" nas ruas da nossa infâncias agora desvanecem juntamente com os gritos já desaparecidos de inocentes que um dia aqui viveram, repousaram e finalmente morreram.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Enerei

Enerei, deixa-me confessar-te as minhas fraquezas, os meus desapontamentos. Silencia-te um momento, deixa-me dizer-te tudo o que não digo a ninguém. Deixa os minutos correr no teu relógio, a chuva lá fora não vai a lado algum. Sim, tenho consciência de que ainda faz calor. Sim, tenho noção de que os relâmpagos só tornam o meu discurso sombrio. Mas és tu quem não tem noção de que a tua luz brilha mais do qualquer artificialidade neste mundo. Silencia-te, deixa-me percorrer as sombras com as minhas palavras.
Mesmo aqui, no silêncio e na escuridão destas quatro paredes, mostra-me o rumo. Desenha nas paredes, ilustra as florestas da tua imaginação, deixa-me caminhar pelo trilho da tua mente até à nascente dos teus pensamentos. Aí deixa o vento soprar e agarrar-me ao topo da árvore mais alta, lá ficar vendo as estrelas, pendurado como uma bandeira. E quando me parecer que já tudo vi de ti e nada novo me podes apresentar, atira-me uma corda e puxa-me até à Lua onde resides, observando-me, esperando-me. Deixa-me deitar-me numa cratera ao teu lado e ver-te dormir, afagar-te o cabelo, afogar-me em ti.
Aqui espero eu mais dos mortos e magoados, aqui espero eu mais de ti. Segues e nada vês no caminho. Tens os olhos abertos mas a mente desligada. E eu continuo a agarrar-me à esperança de que um dia me vejas. Talvez numa rua, talvez numa praia, com sorte num sonho. Mas revelam-se fúteis, as minhas aspirações, as minhas palavras. Revelam-se fúteis como a noite que se aproxima sempre depois do dia para me assombrar com a minha própria sobriedade e insónia. E largo tudo por um sorriso teu, Enerei, dentro deste quarto assombrado por perguntas sem respostas e ventos que não se deixam soprar.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tu que voas para longe


(Actias Luna - Luna Moth)

É difícil encontrar as palavras certas para descrever uma pessoa.
É ainda mais difícil descrever um sentimento.
Mas cada sentimento escrito é um sentimento não sentido.
Cada sentimento que sinto é um batimento que me escapa ao controlo.
E esse é mudo, tal como eu sou surdo...
Surdo e cego a toda a dor à minha volta.

Falta-me compaixão, dizem-me.
Falta-me paixão, sentir o coração arder
E esperar viver para ver a chama sobreviver.
Mas das achas ergue-se uma vontade.
Essa vontade dita-me a verdade,
Diz-me sermos todos apaixonados,
Não apenas eu mas todos estamos condicionados
Pela nossa mente e racionalidade
Que nos impede de seguir a nossa vontade.

Mas é desusado este coração
Que deixou um anúncio de aluguer ou trespasso
Nas ruas do aclamado acaso.
É terra fértil para mãos que não desejam trabalhar,
É castelo no topo da colina com arqueiros prontos a disparar,
É meu e não teu, tu que voas para longe, para além de rios e terras sem Verão.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ela sonha

Ela sonha com castelos e palácios, uma rua só dela à beira de uma praia onde o seu povo se banha de sol, mar e alegria. Ela olha-os pela janela do seu quarto e sente-se feliz mas perde o sorriso quando é obrigada a voltar para a sombra, a porta de volta à realidade. Voltar para este sítio cinzento, onde todas as cores escoaram pelos esgotos até um mar desconhecido onde ninguém ousa nadar. Ela volta e perde-se no desespero, mergulha no conforto na sua cama, olha para o tecto e volta à janela do seu castelo, agora uma porta. Abre-a e segue para uma pequena varanda onde sente uma leve brisa de Verão e volta a sorrir.

Sabes

Sabes quando estás extremamente consciente de todos os teus movimentos? A tua respiração, a tua pulsação, o teu silêncio - ainda que queiras estar a falar com alguém nesse preciso momento? Sabes? Então sabes o quão doloroso é. Sabes o tormento do nervosismo, gaguejar quando deves falar, a confiança que te atribuem à primeira vista mas que desaparece num segundo. Fala, porra, fala! Não é assim tão difícil! Há um milhão de coisas nesta sala, já para não falar neste mundo, há um milhão de tópicos para começar uma conversa. Fala, não deixes a esperança na escuridão do silêncio.
Um deserto - é assim que categorizo o seu silêncio. Não há culpabilização a atribuir ao seu lado. Disse-lhe olá sem deixar sair as letras, fiquei-me pela sua beleza e não me lembrei de falar, desaprendi as palavras. E agora silêncio - ou deserto. Incompleto. Incompleto porque ainda oiço o meu coração a palpitar, a minha mente a gritar as palavras que não consigo expulsar, o desespero. Pergunto-me, será que ela está a olhar para mim? E se está, o que pensa? O que importa, não tenho coragem para lhe falar. Se ao menos tivesse ela a vontade de o fazer. Seria um oásis no meio deste deserto.
Sabes quando estás onde deverias estar, onde sentes que o destino te colocou, onde tens uma oportunidade para ser feliz e a deixas escapar? Sabes a culpa que se segue? Talvez não saibas. Talvez nunca precises de saber. Porque a tua face é tão angélica e humana ao mesmo tempo que me leva pensar - sou o único que pensa assim? Vejo-te nos corredores a caminhar sozinha, nos teus pensamentos sozinha, na minha alma - sozinha. Mas tens este efeito nas pessoas - ou apenas em mim - fazes com que reparemos em ti. Não passas despercebida até quando desejas ser uma sombra, um pormenor numa pintura, uma vírgula numa enorme folha branca à espera de ser preenchida por pensamentos ou palavras sem sentido. Não sabes. Simplesmente não sabes. Não sabes o que em mim és sem sequer seres.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Muda o sentido da viagem

Ela disse-me que um dia ia ganhar juízo e passar a olhar para rapazes como eu. Na altura desejei que ela olhasse apenas para mim. Inicialmente poderia ser apenas um relance. Mas ao fim de algum tempo eu queria tudo. Hoje ainda espero que ela ganhe juízo. Através de todas as horas, de toda a chuva que observo a cair lá fora, uma espera infinita e, até certo ponto, sem razão. É uma viagem sem finalidade. Chego a essa conclusão com pesar, sinto-me destroçado por ver um sentimento atirado assim ao acaso como se lixo se tratasse.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Senhores da escuridão

Quem poderia adivinhar o que este temporal iria levar? Quem nos diz o que a trovoa grita e os ventos ecoam? Seres misteriosos, senhores da escuridão, adivinhos do tempo que nos insistem e empurram para a vida, abrem-nos os olhos e a devido tempo os voltam a fechar. E é assim que os gigantes caem, ignóbeis, ignorantes, deixam-se ir e os tempos não os lembram nem celebram. Com olhos fechados, memórias meras fachadas de momentos não vividos, não merecidos. São levados pelos seres da mesma forma que eles os trouxeram para este mundo para desempenharem os seus papéis, ensinarem uma lição a uns, fechar ainda mais outros, matar, roubar, injustiçar, ó desgraça que teimas em meter-te no meu caminho! No meu caminho e no de tantos outros. Agora silêncio, calmamente me vou deixar cair em novas reflexões.
Reflectir... não posso dizer que seja bem isso. É mais revoltar-me. Contra tudo e todos, contra estes fantasmas que teimam em adorar a noite e a Lua, sem chorar mas sem sorrir, pálidas faces nas sombras que invento, que torno reais e sólidas para puder esmurrar e não mais temer. Tremo do frio ou do calafrio, já não sei, há espíritos que por aí vagueiam e me ouvem os pensamentos, tentam comunicar mas não são meus sonhos, não têm forma, o que sofrem é uma repetição do que já tantos sofreram e eles mesmo sofreram na sua vida. Mas vagueiam, por aí e por aqui, sejam eles temporários ou permanentes, sempre indesejados, sempre empobrecidos, vidas preenchidas de memórias e experiências que em tanto poderiam ajudar e privilegiar alguém mas são demasiado temidos, desentendidos, odiados para se fazerem ouvir. Mas penso... não bem, espero, é isso! espero! que sejam conhecidos e amigos dos tais senhores das escuridão e que um dia nessa escuridão encontrem descanso.
Não prego olho com toda esta dança e alegria muda à minha volta, sei que não os vejo mas sinto, o vento roça-me a pele várias vezes, não me engana o coração. Não devo olhar para demasiado longe porque tudo o que veria seria igual ao que vejo aqui ao perto, escuridão, total, soberana, misteriosa. Sei que não me devo perguntar muito mais sobre a existência das coisas e a sua vontade em existir, tenho apenas que dormir e sonhar, dormir e fugir daqui, desta realidade. Realidade essa que é algo que me escapa ao controlo e à lógica, já não digo conhecimento pois ele em mim é escasso. Mas por momentos vejo um relance de tudo o que me escapa, rostos no vidro a olharem divertidos para o quarto como se fosse uma jaula e eu o animal lá preso. E uma cara passada que ainda me assombra o presença faz-se destacar na multidão. Uma presença que desejo agora que seja mais esporádica nas suas aparências nos meus sonhos. Uma única face que não sorri, uma única face que, como eu, desconhece os senhores da escuridão.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Se eu soubesse

Se eu soubesse quão dura consegues ser às vezes, quão mais fria que a chuva que cai nesta noite, ter-me-ia deitado silencioso na escuridão muito antes. Se eu soubesse, se tivesse todas as informações do mundo, se este silêncio não fosse tão desprovido de conhecimento como eu, ter-me-ia fechado tão mais cedo. Podias ter-me avisado, olhos nos olhos, directamente para a alma. Mas até eu duvido que fosse ouvido o teu aviso. Apenas uma parede me pode parar, um desastroso acidente que liberta a alma para poder vaguear por outras paragens.
As palavras - a falta delas - motivam para que se siga em frente. Mesmo quando à nossa frente se encontra uma longa viagem cheia de chuva e turbulência e que o destino seja um quarto frio de quatros paredes brancas que ocupam o infinito e que deixam de existir no escuro para prender, deixar a alma claustrofóbica. Um quarto onde podemos gritar livremente e ninguém nos ouvir, deixar o tempo passar, os trovões, as chuvas, os ventos e ninguém nos perturbar. É um quarto que classifico como seguro, longe de ti.
Se eu soubesse todos os mitos, todas as histórias, todas as mentiras e verdades, seria perfeição. Seria refúgio de ti, seria prevenido para todo o tempo gasto contigo. Se eu soubesse, não me farto de repetir, hoje não estaria aqui assim. Estaria ainda aqui, provavelmente, talvez com um copo de whisky na mão mas um sorriso na cara. Estaria aqui a escrever contos de finais felizes e não tristezas que perduram na alma. Se eu soubesse não serias mais uma desilusão, mais uma para adicionar ao repertório vasto que se tem alargado recentemente. Em grandes quantidades ao tempo e à noite pergunto, se eu soubesse, que faria? Valia a pena, todas as interacções são parte do nosso crescimento... certo?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nesta madrugada

Vem a minha casa Afrodite, deita-te na minha cama, fecha os olhos, deixa-te ir. Permite-me passar os dedos pelo teu corpo, delirar pela tua delicadeza e controlar-me baseando-me apenas na tua voz. Sim, segue o dia lá fora e nós cá dentro somos impacientes para crescer. Sim, somos um paradoxo da nossa existência mas isso não significa que não tenhamos um caminho certo, lembra-te que o fado canta para todos nós. E olha para o silêncio, acompanha-nos sempre, está aqui e ali, dentro e fora de nós, ele é tudo o que preciso para te entender, apenas ver-te os olhos, apenas admirar-te o sorriso, apenas tudo o que és para perceber o que me deste, sim, tudo isto o silêncio é, tudo isto o silêncio me mostra.
A iluminação é escassa, é isso que precisamos. As sombras mexem-se, dançam, cantam, festejam, no final de contas a nossa união é mais um ritual desenhado pelo Universo, até as paredes concordam. E se estas tivessem vozes cantavam dias e noites o que nós falamos, o que nós gritamos, o que gememos. Mas é proibido. É tabu, vergonha, deixamos-nos controlar por uma falsa moralidade da sociedade e escapamos-nos ao seu julgamento com sorrisos tímidos, cabisbaixos, olhares cruzados e dedos a tocarem-se ao de leve para termos certeza de que há apoio e felicidade do outro lado. É mútuo. Mas tão inverso, és tão diferente de mim. És uma Deusa tão ignóbil, milhares de anos que passaram, tantas histórias que contaram mas tão frágil te apresentas perante mim, tão humana. Porque me dedicas a tua imortalidade? É uma imoralidade, respondia-te se me perguntasses. Mas não perguntas, é o nosso velho amigo silêncio que domina a conversa.
Nesta madrugada levanto-me da tua cama e caminho para a tua varanda. É o orvalho habitual que me cumprimenta e embala os pensamentos, alia-se ao horizonte onde o Sol nasce e o mar eterno que já não esconde mais o calor e luz do Sol se apresenta. É um simples pensamento etéreo que me passa pela mente, inspirado em ti, construído para ti, apenas dito para ti. "Nesta madrugada..." e fico a pensar em todas as variantes que podiam seguir para completar esta mensagem. Abandono-te, deixo-te, desiludo-te. Não! Rejeito mais um final infeliz, mais uma derrota sem batalha. Amo-te. Nesta madrugada amo-te e não te deixo mais. Minha Deusa e minha musa, nesta madrugada rogo-te, fica comigo aqui durante o resto da minha mortalidade e percorreremos o mundo depois da minha morte e durante a tua imortalidade antes de te deixar no Olimpo, onde pertences, e seguir a minha viagem pelos sete círculos do Inferno que Dante me contou em sonhos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Novo Alguém

Não posso dar-te tudo o que prometi, sou um mentiroso. Fugi de ti e de nós, deixei-te sair pela porta com um silêncio estrondoso, sou um cobarde. Mas sabes que as tuas fotografias não captam a alma, capturam apenas o momento e transformam algo tão belo em algo tão sóbrio, moribundo quase. Caças todas as cores profetizadas deste mundo mas não apanhas nada, tudo te escapa ao alcance. Depositas toda a tua fé nestes momentos parados e mecanizados sem entenderes o próprio sentimento. E por isso perdes tudo. Por isso te minto e te fujo. Porque, por mais que tentemos, nunca seremos mais do que somos agora, incompletos. É altura de caminhar e encontrar um novo alguém.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Foi o que ela me escreveu...

"Embebedas-te no poder, deixas-te cair na tua avareza e sede de vingança, queres mais e mais, cego é o que és por fechares os olhos à miséria à tua volta. Tantos anos passei ao teu lado, vendo-te passar de uma pessoa integra para uma pessoa menos que comum, menos que gente. Tantos anos passaram e aqui me mantenho, cinzenta, triste, apenas pele e ossos, esperando pelo dia em que nasça a minha morte na esperança que isso te abra os olhos para a tua desintegração de integridade, respeito, tudo o que vi em ti e adorei desde o dia em que te conheci.
Já nada espero de ti. Já nada deste mundo espero, nada vai para além destas quatro paredes, esta secretária e as prateleiras de livros que me compraste na tentativa de me compensar pelas as noites invernais que passavas fora, escravizando, matando, levando para longe. Levando outros e levando-me a mim. Para um poço que não parece ter fundo, onde apenas caio, onde apenas existe escuridão. E em vez de me estenderes a mão para me puxares para a luz deixas-la perto o suficiente para eu me estique e afunde mais, sai o teu braço da escuridão para revelar todos os teus defeitos. Silêncio. Quem vem aí? Ninguém, apenas o vento a entrar pela janela aberta. Uma janela aberta que em nada simboliza a prisão em que me sinto."
Foi o que ela me escreveu...

domingo, 23 de outubro de 2011

Da tua textura macabra

Adorar as palavras como adorar a trovoada que rompe a noite e o sonho, perder-se na confusão de pensamentos e revolvendo sentimentos, testá-los ao máximo e nunca realmente ter a certeza de que é verdade, silenciar as almas decadentes que dançam na nossa mente, alimentando mentiras, espinhos encravados nas nossas costas, pesos nas costas, fardos nos nossos ombros. É isto que sinto e te vejo sentir nas indeléveis páginas brancas preenchidas por desenhos macabros que imaginas e te atormentam. Até as paredes preenches com os teus pesadelos que tanto desejei afastar.
Erros de vivência todos temos, viver apesar dos nossos erros é algo que nem sempre conseguimos fazer. Mas tu mostraste-me um novo mundo, abriste-me os olhos a uma nova perspectiva que recusei e voltei a fechar quando me abandonaste. E vivo, ainda que sem grande ânimo. Vivo com apatia nímia, tantas vezes desejo que voltes à (minha) vida para me voltares a mostrar do que sou capaz. Mas a dor é anonímia, por vezes periférica. E por isso visito o cemitério da memória onde enterrei a nossa história, um paradigma para futuras experiências e relembro-me do que me deste, metade daquilo que me tiraste. Continuo então afastado, olhando para o mar procurando o fundo e nunca percebendo que a água é demasiado turva, a descida incerta.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sentar e ficar

Todo este espaço à minha volta, um vazio tão vasto, um negro tão macabro, uma imensidão que me espera e determina a minha mente, a minha sanidade, vontade de me sentar e ficar. Este espaço à minha frente, esta mesa, esta cadeira, tu, os meus pensamentos são confusos e a minha vontade difusa. Tudo por ti ou devo dizer, por tua causa. Perante ti pinto-me um enigma que não mostras vontade de decifrar, olhas para a rua com o pensamento no céu azul que se recusa mostrar. E eu permaneço perante ti, a ver a tua beleza brilhar na escuridão e a lutar e recusar sentimentos que me escapam à lógica.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Um reflexo do luar no mar

Pelo mar rasga um reflexo do luar
E eu encontro nesta margem a pensar
Quanto eu quero um dia te encontrar.

Pela noite silenciosa em que não me acompanhas,
Em que o mar se iguala ao escuro do céu
E que nada nem ninguém se declara meu,
Caminho lado a lado com as ondas
Numa mistura de betão e cimento,
Este caminho que acuso de tão ciumento
Por me deixar tão envolvido nas suas manhas,
Que fico paranóico e penso que a minha história esqueces e nunca contas.

Devo dizer, mariposa, que ainda olho para as luzes
Do outro lado do rio, onde uma noite te encontrei,
E onde ainda na manhã seguinte te abandonei
Em circunstâncias tão rudes.

Mas tu não me abandonaste,
Não no coração pelo menos,
Onde tão levemente e estoicamente te alojaste,
Mas que o meu amor por ti já foi há tanto levado pelos ventos.

Morcegos

A noite aclama-me, o vento é tão forte, tão frio, não sinto nada mas quem quer saber? Alguém na janela que vê o meu vulto lá do alto mas que se mantém em silêncio. Sinto-me mais aproximado às estrelas que todas estas pessoas que passam e olham de lado. Sinto-me simplesmente, penso que por hoje é o suficiente, no meio de tantas palavras silenciosas que se guardam no interior, com demasiado medo de se revelarem e libertarem este espírito à tormenta escura.
Sou passageiro nesta mística viagem pelo inconsciente e subconsciente, estados diferentes que me tornam omnisciente na minha adorada ignorância. Revolta! é o grito da consciência, é o desejo de saber, de aproveitar esta indiferença - talvez até infelicidade - em que vivo, dar-lhe algum uso, justificar a sua - e a minha - existência. Dou jus às contas matemáticas que dizem ser improvável eu encontrar a minha outra metade, separada por Zeus ainda antes da nascença, e aproveito para me deitar e olhar para o céu, a noite estrelada dita-me uma fado que me recuso dançar, por tudo me recuso a (te) procurar.
Pelos céus voam aqueles com asas, aqueles seres ocos de pele e pouca carne. Pelos os céus povoam aqueles que gritam de olhos fechado mas ouvidos abertos, que se guiam pela obscuridade, o som que bate contra paredes e volta - como uma onda que persiste em morrer à beira mar para me conhecer - guiando-os, dizendo-lhes o caminho de volta ao seu canto escuro onde dormem. Eles silenciam-me a mente e conquistam-me a noite, ajudando-me, carregando-me para o próximo dia em que a manhã representa a esperança - de tudo o que possa vir de bom -, em que a tarde representa a verdade - quando me apercebo que tudo é o mesmo -, até à noite em que eles me voltam a embalar para um sono sem sonhos.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Hoje sinto-me pouco

Hoje sinto-me um pouco sozinho, um bocado abandonado. Pensando bem, sempre me senti um pouco isolado, um caso arrumado de lado, deixado ao acaso. Sentia sempre que ninguém conseguia discernir a minha natureza, que ninguém tomava gosto pela minha resistência - de amar, conhecer e permanecer. Mas fortifiquei-me. Fortifiquei-me contra o Inverno das mentes das pessoas, contra o seu vento gelado que enviavam nas palavras, da sua expressão apática, da sua alma estagnada que sempre achei apanhar em relances de olhares.
Já o Verão da minha vida ia longo e quase trocado pelo Outono encontrei beleza nos campos e florestas pintados de labaredas ferozes que não deixavam rasto do que antes havia ali. Mas todas essas pinturas foram estragadas e apagadas por alguém que ardia por si mesma, queria arder e desaparecer silenciosamente. Manchou-me toda a minha tela com a sua beleza e encanto triste mas tão rapidamente como o vento das palavras desapareceu. Levou consigo as labaredas do meu ser e deixou-me cru num prado vasto de horizonte distorcido, abstracto.
Agora... agora passam os anos pelo comboio que apanhei para um novo destino, a paisagem sempre igual mas sempre sentida diferente. E apaga-se a luz à esperança de rever o que senti ser um furacão que me devastou a casa do meu coração. Apaga-se não porque ela partiu mas porque continuo a encontrar novos seres que me iludem chamando-se de chamas mas revelando-se de ventos, tormentas nunca favoráveis ao meu caminho. Permaneço na sombra desta carruagem, escondido de todos os estilhaços de vidros, casas que foram encontradas e destruídas por esses ventos, refugio-me aqui de mais desilusão.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Leõa (continuação)

Já várias noites tinham passado desde aquele beijo. Esse ainda arde na minha mente como uma floresta que se recusa a morrer, a ser recordada como cinzas. A sua textura, a carne dos seus lábios, o brilho nos seus olhos castanhos, tudo o que ainda não me esqueci. Perguntei-lhe pela sua história mas tudo o que recebi foi silêncio. O dia nasceu, deixei num táxi para casa e eu fui dormir. Ficou apenas a promessa de um novo passeio noutro dia. E esse dia veio, desgraça minha! Um breve passeio pelo parque em que ela me confessou todos os sonhos e segredos, pecados e virtudes. E tudo nisto veio a sua história, década e meia nos braços de um companheiro para uma noite o perder tão rapidamente quanto o teve. E enquanto as lágrimas lhe escorreram dos olhos segurei-a. A tarde passou, não houve problema, todos os dias voltávamos ao bar onde nos conhecemos, bebíamos um pouco, voltávamos para a minha casa e apaixonámos-nos um pouco mais. Até que ela apanhou o avião para o outro lado do mundo e eu a perdi tão rapidamente como ela perdeu o seu amor. Agora que penso nisso... o seu olhar sempre foi opaco, o seu sorriso vazio, as suas palavras sem significado.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Leõa

O seu nome era Leõa. Conheci-a num bar. Eu estava sentado ao balcão a beber o meu copo de whisky depois de um dia quente de trabalho. Um dia tão quente que o gelo na minha bebida quase não tinha efeito. Ela entrou apática sempre a olhar para a frente, sem se importar com quem lá estava ou quem a observava. Nesta altura ainda não sabia o seu nome nem a sua história. Sentou-se no primeiro banco que encontrou e pediu o seu Martini, oferecendo ao empregado de balcão um sorriso em troca de um bom serviço. Com o copo na mão, a olhar para o líquido que lá se encontrava, foi bebendo enquanto a tarde passava. Atormenta-me ainda hoje a sua expressão triste de alma moribunda, o seu curto cabelo loiro a tapar-lhe o pouco que conseguia da cara. Confunde-me ainda mais o sorriso que punha na cara enquanto rejeitava todos os que se aproximavam para lhe falar. Foi pedindo bebida após bebida e rejeitando homem após homem, assim a observei nessa tarde. Até que a tarde passou a noite e ela pediu a conta, queria ir-se embora. Na altura de pagar reparou que não tinha nem dinheiro nem carteira consigo. Sendo que também me ia embora ofereci-me para pagar a sua dívida. Apesar de não ter dinheiro consigo, ela foi extremamente complicada para convencer em aceitar a minha oferta. Paguei e saí pela porta. Ela seguiu-me.
Eu caminhei lentamente as mesmas ruas de sempre de volta a casa, sempre a ouvir os seus passos atrás de mim. Inicialmente pensei que se dirigia para uma zona mais iluminada e que estava a aproveitar da minha companhia para se sentir mais segura, depois pensei que ela viveria na mesma zona que eu visto que estava a chegar a casa. Até que cheguei à porta do meu prédio e parei para olhar para o alto edifício, para as minhas janelas fechadas com ar de casa abandonada. E ela parou comigo, quase chocando comigo. Virei-me então para trás e perguntei-lhe que fazia ali, que queria de mim. Ela mostrou-me o mesmo sorriso que ofereceu aos outros homens e respondeu-me que apenas queria passar o tempo, quanto mais demorasse a chegar a casa, quanto mais distante de lá estivesse, mais feliz seria. Convidei-a a subir então, estava demasiado cansado para ter outra discussão como a que tive no bar e ela deveria estar demasiado longe de uma paragem do autocarro para voltar a casa dali. Fá-la-ia companhia até ser de dia e ela se decidir em chamar um táxi, decidi. Subi-mos, mostrei-lhe a casa, abri uma garrafa de vinho tinto e sentamos-nos no sofá a conversar.
A noite já ia alta e quase madrugada. As paredes já eram de uma textura indefinida e o sofá parecia ter vida própria, decidido a empurrar-nos para o chão. A certa altura ou na altura certa cedemos. Qual dos dois é o certo até este dia não sei. Caímos no chão e perdemos-nos num riso imparável. O seu riso adorável dessa noite - já dia - fez-me perceber que conseguia ouvi-lo para o resto da minha vida. Parei de rir e observei-a atentamente enquanto ela, despercebida do meu desespero e alegria ao observá-la, continuou a rir. Parou e olhou para o tecto, estendeu a mão e deixou-a cair de novo para junto do corpo como se algo lhe tivesse escapado o alcance, como se tivesse perdido o controlo de algo importante. Olhou séria para o tecto, virou-se para mim, sorriu novamente, pousou uma mão sobre a minha cara - este corpo meu que me escapou da consciência durante esses escassos minutos - e beijou-me. O dia nasceu.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Orchard Of Dreams

A broken doll on the desk and the night reveals itself as torment. The storm outside isn't showing any signs of stopping and neither is the insomnia. One could say that the night is the departure of the soul but one knows too well that sleep is the way to reach an orchard of dreams that makes one continue to wish for more. So continue to sleep child, the wind blows outside and in your mind but you're safe as long as you keep collecting the fruits of your imagination. For that is the fate of those born with title in this world, such was sang so long ago by nymphs in the Greek's stories. And they carry on these days, looking after you as you grow old and begin to be what they wrote in their webs of fate and life long before you were born. Sleep child, sleep, continue through the avenues of this corrupted city into the orchard of dreams, that green pasture that you created and only you can visit.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vicious Circle

She's dreaming of a better place, another pillow to rest her head, a more comfortable bed to lay her body and drift away in dreams of green pastures, castles and princes. She's closing her eyes and saying goodbye to the night, all her scars and all the pain that she feels are overwhelming, taking over her thoughts. Slowly losing control of her consciousness, no more beatings tonight, with alcohol in his breath and frustration and anger in his voice. She just doesn't believe that this is her reality, she can't accept that her fate is including such pain. "So unfair!" - she thinks this once again before sleeping.
Someone to dance the night away, to wish all the pain erased is in vain, all the body is sour, her face just doesn't recognize a sign of peace, she pleads again to the sky for a more peaceful life. She follows the way back home, hides in her room, locks herself in while he's on the other side crying and asking for forgiveness. In her mind she knows he'll do it again, her heart just doesn't bear the distance from her own father. So she unlocks the door, opens it up with a smile and a "I forgive you" so that he can hug her and stop crying, making fake promises that it won't happen again, he'll never touch her again. She closes the door, lies in her bed looking to the blue sky outside and thinks - "He'll be better this time, I know" - but the night won't take long to come.
It's a vicious circle that takes over this life. The bruises of yesterday are just passing but today he comes to make new ones. And she cries, begs him to stop, lying on the floor so desperate while he screams - "It's all your fault!" - leaving the room. She crawls back to her bed and lays there in the fetal position, crying and wishing to the moon an exit. Falling asleep she'll think - "So unfair!". So sweet the melody of the nocturnal wind that takes her away. In dreams she travels away, alone, free. And she wakes up right where the dream had left her, happy with a new fate, escaping her house of horror, evading the same vicious circle that had been her life for so long... too long.

domingo, 25 de setembro de 2011

Mais um

Mais um para a tua colecção, mais um alvo a abater. Embora o coração bata e a mente pronuncie a palavra sentir, mais e mais um buraco se constrói na parede do teu quarto, mais e mais um vazio se alastra. As noites passam em silêncio e arrastam o dia consigo, ínfimos momentos deitada na tua cama, cada dia e cada noite com um homem diferente em cima e dentro de ti. Nunca lhes olhas nos olhos, apenas para o céu azul do dia ou as estrelas à noite. Sentes cada um diferente dentro de ti, tu os atraíste para aí, a tua dança quase impossível de evitar com os teus olhos e sorrisos hipnotizantes, as tuas armas que fazem dos homens as tuas marionetas. E ninguém sobrevive para contar a história como deve ser, dizem-se vitórias, por dentro sentem-se derrotas. Para ti é igual não é verdade? Faz-me a vontade, apercebe-te que te resisti. Apercebe-te disto e pára de me perseguir por estradas escuras onde me vou esconder da realidade. Não há lugar em mim para ti.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Uma gota

E mais uma gota cai ao chão, brilha sob a luz do Sol, reflecte tudo o que a cerca mas não mostra nada do nosso verdadeiro interior. Então, como qualquer espelho partido, desaparece para o nada, como se nunca tivesse existido. E tudo é macabro neste mundo. Tudo o que conhecemos, tudo o sabemos. Tudo porque uma simples gota, nada mais que isso, sem significado ou razão de existência, desapareceu. Eu culpo a tirania dos céus. Vivemos sob o mesmo azul e sob as mesmas nuvens mas nunca nos é dada a razão da sua existência. O seu silêncio é a nossa sentença.

És o meu Oposto

Há coisas que nunca mudam. E há alturas em que olhas à tua volta e tudo te parece diferente, distorcido, tocado. E ficas magoada com a ausência de inércia e misericórdia face à tua memória, fazes uma expressão de tanta dor que me chegas a aleijar fisicamente. Obrigas-me a encolher-me no meu silêncio para te agradar enquanto olhas para paredes brancas como se fossem infinitas. E no final suspiras. Nunca me dizes o que pensas nessas alturas, simplesmente olhas para baixo, o cabelo a tapar-te a cara, e quando te volto a ver tens um sorriso na tua cara e queres despir-me, apenas o corpo, nunca a alma. Segues o dia e a vida como se nada fosse. És uma tirana do tempo e da paixão. Deixas-me desolado.
Estou absolutamente relaxado em cima da tua cama. Agora, neste momento. Escreves em folhas brancas furiosamente, suspiras a fúria que te inspira. Estudas matérias que me deixam afastado da tua visão e isso não me importa. Francamente, não serias tu minha e eu teu se não fosses alguém dedicado a querer ser mais, a esperar mais de si próprio. Agradas-me no teu recanto nervoso e furioso mas assustas-me com o teu lado perverso, o teu lado que julgas ser erótico mas está a um pequeno passo de ser tornar pornográfico, sujo, odiável. E tal como tu, olho para estas paredes brancas. Mas não vejo lá nada, não vejo o teu infinito. Então olho para a janela, para o céu escuro, para as estrelas e deixo-me perder nos meus pensamentos. E aposto que se olhasses para mim agora pensarias o mesmo que eu, quererias saber no que estava a pensar. Mas não olhas. Agora estás no teu recanto, o único sítio do quarto bem iluminado e eu mantenho-me nas sombras à espera de que as queiras partilhar comigo novamente.
O Sol põe-se e o Sol levanta-se, esta é uma verdade inegável. E o Sol a levantar-se é o mais belo que vejo neste planeta. Tu és mais do pôr-do-Sol, eu sei. E compreendo, ver o céu avermelhado, se houver alguma nuvem por perto, elas fazem sombra no céu mas também se pintam de vermelho. Mas não há a magia de esperar horas por isto, não há o contraste de um céu completamente escuro e estrelado e o início da matina, os diferentes azuis. Nem tens a Lua para te abençoar com a sua mais doce luz. E isto faz-me perceber, és o meu oposto, não a minha metade, não chegas para me formar na totalidade nem eu a ti. E por isso parto ao primeiro raio de luz, caminho pelas ruas que intitulo de minhas, sereno, vejo o dia a nascer tal como a minha vida continua, um bocado mais livre que ontem.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Filosofia Revisitada

Escreveu Platão, então, na duração da sua existência, que os humanos eram originalmente constituídos de quatro pernas, quatro braços e duas. Mas Zeus acho o ser humano demasiado poderoso e começou a temê-lo. Por isso mesmo dividiu-o ao meio e condenou-o a passar a sua eternidade à procura da sua outra metade. Mas e se as nossas metades de almas nasceram noutro planeta, ainda primitivo? Ou se somos nós primitivos e não conseguimos comunicar com os outros? Estamos condenado a andar por esta terra sedentos de algum companheirismo, algo que nos complete. E então Maria, que fazemos aí? Somos incompletos e absorvemos tudo o que nos passa ou fechamos-nos dentro de quatro paredes até desvanecermos deste mundo e viajarmos até outro? O teu silêncio é ouro nestes tempos de dúvida...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Que me podes dar?

- Inspira-me.
- Não sou uma musa por quem te possas apaixonar, não sou uma tela branca que possas pintar, não sou incontáveis linhas numa página à espera que me preenchas. Não te posso dar o que queres.
- Então dá-me um bocadinho de ti.
- Um bocado nunca serve, vais sempre querer tudo e no final arrependes-te de teres tido alguma coisa.
- Então que me podes dar?
- Silêncio. Silêncios e tempestades, chuvas e ventos. E esperar que isso chegue para escreveres algo que te faça lembrar de mim daqui a uns anos, quando estiveres velho e feliz com alguém que te possa dar tudo o que quiseres.

Todos os dias isto

Todos os dias isto. E o que é isto? É tudo. Tudo o que me rodeia, tudo o que desconheço ou que não noto a sua presença, na minha distracção conveniente que por vezes penso ser permanente. Todos os dias esta constante, silêncio que se vai cantar a mesma melodia de sempre, dizer as mesmas palavras repetidas. Já não se notam as nuvens que passam, mutantes dos nossos tempos e sociedades. Tempestades de mentes que procuram inovar depois de tudo destruído, alguém que não procura recuperar a beleza que outrora foi, apenas querem uma palavra no livro da história. E não deixam lugar para a natureza humana, apenas querem encontrar a utopia que sempre tiveram, a aceitação de si mesmos e de outros. É simples mas tão longínquo de uma realidade plausível. Porquê?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Daqui eu...

Daqui vejo o Sol e não sou abatido pelo vento. Daqui espero tudo e nada sei, desde o azul do céu sobre mim até à terra que entra em combustão após o passo do Homem. Daqui não saio, não tenho quem me tire, atiro mais uma pedra ao rio e espero que a água transborde. Daqui não governo o silêncio, oiço sempre o chilrear dos pássaros, as crianças a brincar no parque, a cidade no horizonte a denegrir os meus sonhos. E aqui acordo do pesadelo, as colinas não são verdejantes, a liberdade é expressa como uma arma ou guardada num cofre para que não a possamos utilizar. E a privacidade foi oferecida em troca de uma mão cheia de elogios, de uma vaidade que teima em discutir a sua liderança com a realidade. Todas estas imagens que passam por mentes ocas não conquistam lugar na minha estima, apenas uma desgraçada lástima por quem se ofereceu, por quem se trocou por uns segundos de realização para depois abrir os olhos e ver... não resta nada por lá. E por isso cá estou, atrás de mim espaço e esperança, alegria por poder correr livre estes campos, por os ver tão iluminados na sua vida. Daqui eu vou para onde alguém me quiser, finalmente, um sítio para descansar.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Tributo ao Imperador

Não deixaste o meu lado durante todos estes anos, seja nas manhãs da semana esporádica, seja nas memórias que deixaste aqui de bom grado. Um tributo a alguém que foi mais que um companheiro, um amigo e uma felicidade, peço desde já perdão pela demora mas não foi minha culpa, ainda não assentou bem no meu coração que partiste. Um tributo a um imperador que dominou as terras vastas da felicidade e liberdade, que entrou de rompante e que nunca mais chegou a sair. E se for um dia encontrar-te por mero acaso na rua da minha imaginação, lembra-te de és mais para mim do que eu alguma vez para ti. Obrigado por teres existido.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Foi o que ela me disse

Foi o que ela me disse e então fechou a porta. "Tu só sabes odiar, olhas-te ao espelho e odeias, olhas à tua volta e odeias, fechas os olhos e odeias. Não há remédio para ti". Foi isto o que me abalou mais. Tanto tempo que tentei fazê-la ver que a amava, que a queria, que me tinha para ela sempre que quisesse, dia ou noite. Mas transpareci o ódio. Ou melhor, ele é que transbordou. E então tudo se silenciou, ela abandonou a casa e a mim, deixou que a noite tomasse conta das divisões. E daí tudo se tornou caos. Deixou de haver limitações para o meu ódio, de haver algo sagrado à minha espera quando eu chegasse a casa, deixou de haver conforto nas noites em que os pesadelos não me deixavam dormir. Agora as manhãs são repletas de pássaros a chilrear e eu sem perceber porque cantam tão alegremente...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um novo mundo

Estas são as últimas palavras que te direi. Foi um erro! Todo o tempo desperdiçado, todos os beijos, todas as saudades. Todo o empenho. Tudo um erro. Tu foste um erro, mais um na minha lista. Sabes do teu significado para mim, aquele que já passou, como me pudeste responder na altura que o esforço do empenho impede uma vida feliz de se concretizar?  Fui passageiro na tua viagem para o que desconhecer, preferiste uma vida boémia a um nada que sempre me ofereceste. E agora deixaste silêncio, desolador mas confortante. Não me sinto mais frio sem ti na minha cama, mais aberto a um novo mundo que tenho perante mim para explorar.

domingo, 4 de setembro de 2011

Olá (ausência de palavras)

Ainda estou à espera de uma mensagem tua. O vento sopra lá fora mas é cá dentro que está o frio. A ausência das tuas palavras é destacada pela acumulação de letras cantadas e melodias que me passam pelos ouvidos. Deito-me na cama e olho para o tecto branco, insípido, sem significado algum. E penso-me assim para ti. Especialmente quando não me dizes nada, quando não me mostras qualquer sinal de afecção. E vives tão perto de mim. Não só no meu coração, na minha própria rua, onde crescemos juntos, vivemos juntos, experimentamos juntos a amargura que o exterior nos pode oferecer e toda a beleza que nos garantiu ser nossa. E mesmo assim não dizes nada. Nem uma carta no correio, nem uma "olá, estou viva!" num e-mail que posso facilmente descartar mas que mesmo insisto em guardar. E um dia vou parar de esperar. Um dia vou encontrar algum significado no branco do tecto para além da sua imensidão que me faz adormecer. Nesse dia não me terás de dizer olá.

sábado, 3 de setembro de 2011

Another boastfully fantasy

Found my human nature
At the bottom of some old arc,
Hidden from the sight of the world,
In the cellar of my dreams.

Opened my mind to what was to come
Still not clear what it was to me,
To see so free and clear
All that I miss all these years.

I wasn't ready to endure such rapture,
To consign and bear this mark
Through a path so dark and cold
Where nothing and everything is at it seems.

Light shines only on some
And enlightened they come to be,
Without the slightest hint of smear
Facing their blackened fears.

Locked the arc in the cellar,
Threw away the key
And thought it to be
Another trick of the mind,
Another boastfully fantasy.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

September Rain

What is it that you bring?
Nothing that I crave,
Everything that I create,
I've offered nothing for trade.

And all the birds sing
Happily joined in a melody,
Yet I do not see
How they can sing so free
And free be
So different and unaware of me.

Even if I call you rain
And you call me pain,
All around us are the insane.
In this September rain, dancing the bane.

domingo, 28 de agosto de 2011

Sem conteúdo

Estou tão farto das pessoas a zumbir à minha volta. Diariamente, de uma ponta a outra do autocarro, pessoas a falarem demasiado alto, umas com as outras, ao telefone. Não sabem apreciar o silêncio? Todas as árvores lá fora parecem compreender-me, o seu verde que arde nos meus olhos, a manhã chegou demasiado depressa esta noite. Não há palavras interessantes ditas por outros, oiço as mesmas de sempre, com a melodia que me acompanha quilómetro após quilómetro para me acalmar o espírito. E talvez isso seja o suficiente, rapidamente esta viagem acabará e poderei continuar por corredores de embaraço e olhares.
Que é que eles deram a estas paredes? Memórias de inúmeras pessoas que por aqui passaram e deixaram a sua marca. Pilares que se erguem em domínio que os tectos que nos cobrem as cabeças da chuva e do Sol. São várias as caras, corpos presentes, mentes ausentes, aqui. A arrastarem-se como se não estivessem vivos, sem desejo nem vontade. Murmuram, é o melhor que conseguem fazer. Não consigo ter uma conversa decente com nenhum deles. Ninguém é interessante, apenas barulhos ambulantes que teimam em existir na minha visão.

sábado, 27 de agosto de 2011

Já houve noite e já ouve dia. Já se ouviram os cantos dos pássaros e os tambores de guerra. Já deu para perceber que não vimos tudo, que há sempre algo que nos escapa a lógica e o conhecimento. Já foram ditas todas as palavras e inventadas todas as filosofias. E agora há o silêncio da repetição e o transtorno da morte.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dias que passam

Mãe, não me mostro digno das tuas palavras e benevolência. Esqueço-me da roda, deixo passar os meses sem significado, o mesmo que eu perco, tudo o que tu me deste. Tu que me dás agora mais do que tive antes, Illyathos nos braços da sua mãe e Salvatia no refúgio do seu pai, tudo iluminado por tua simpatia e natural gentileza. E eu nada faço, os meses são-me brancos e os dias nem memórias me dão. Parece que tudo o que digo ou faço é em vão no entanto encontro-me a sorrir silenciado de pensamentos e lógica, não procuro explicação. Agradeço a bondade e fecho os olhos, todos os dias vêm e vão mas tu sempre me demonstras ter-me no coração...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

I'm Kept Silent

The waves continue to hit the rocks, the water is still, such is my life. Inside a box the thoughts are stored, everyone looks at me in a funny way, I hate their pity, I hate how they treat me like a child. But I am silent. Not by will but by nature. They think I'm limited to the same thoughts everyday but I'm far more than these pills that they give and the tag of disabled everytime someone new enters. And everytime I think of something new or think I remember something they come to shut me down, keep me locked on and addicted to their "medicine". Bastards that keep me behind bars, in the dark, in the shadows of my mind. And I'm kept silent, my will is gone and my nature is bewildered.

Turdulorum Oppida

Sobe as escadas e espreita pela janela, o que vês? A ribeira adjacente à casa para nos acordar todos os dias com uma leve melodia. Acorda-nos todos os dias para nos saudar com orgulho da sua existência, para me dizer que sou meio completo cada vez que me afasto dela, que sou um todo quando olho para o horizonte e sorrio com a sua beleza. Todo este terreno, toda esta Natureza, magia no seu estado puro que nos abençoa todos os dias e todas as noites, vizinhos das estrelas e dos deuses, de tudo a que agradecemos à noite. Tudo o que vês oferece-nos tudo o que precisamos para viver, somos verdadeiramente abençoados pela Deusa.
Não há vergonha em andar à chuva, contra o vento, sobre o Sol seco, ver as folhas rebentarem e crescerem, verdejarem e finalmente morrerem e caírem, cobrindo o chão. Caminhar por estes vales rodeados por estas montanhas, é tanta a beleza a absorver e somos apenas duas solitárias almas que tão pouco têm a dar, tão pouco fizemos para o merecer. Vivemos, é-nos suficiente. Para quem isso não o for que pisem a minha terra com mente em sangue e sangue vos entregarei, cobardes! Aqui o vento sopra suavemente cantando um enigma que faz de nós uma oração, tudo o que podemos oferecer e o que nunca ninguém nos vai poder tirar, inimigo, é o amor e dedicação que temos no nosso coração por esta terra. Nem mesmo a tua força bruta.
O fogo queima a lenha na madeira e os relâmpagos trovam lá fora. Dentro desta casa de pedra cada gota de água é um sinal e cada trovão um aviso de que o céu pode cair a qualquer momento. Mas o medo não persiste, o lobo é destemido e o mocho sábio, a serpente astuta deita-se e espera pelo final do castigo, em breve haverá um arco-íris a cobrir os céus. Orgulho nos animais que nos acompanham e protegem a casa, lá fora o veado e o Corno são a nossa segurança e tranquilidade. Em breve a noite acaba e dá lugar à madrugada que vem sempre acompanhada das brumas e a minha felicidade eleva-se, ter-te nos braços é o melhor, minha beldade.
Se soubesses quão exequíveis são os meus desejos, meu amor, percorrerias todo o planeta para os concretizar. Mas não sabes, o meu silêncio é sinal da minha satisfação, este descanso onde nos encontramos é tudo o que peço. Sabes, no entanto, que não sou um homem de ambição larga e que muito me esforço para tirar sangue dos pensamento e com essa informação te manténs ao meu lado. És o refúgio aos meus problemas e à minha violência, és as palavras de aviso e tranquilidade dirigidas ao desapontamento em mim próprio. Sou tão passivo quanto a ribeira, sabes disso, graças a ti, desde aqui até à minha sepultura.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vinho Tinto

Deixem-me beber até ao final da garrafa
Para poder libertar os meus sentimentos,
Apagar os meus sentidos por momentos,
Apenas um copo não me safa.

Deixem a garrafa aqui, é dela que necessito,
Deixem-me sentado em silêncio
Todas as histórias têm um começo
E se não beber a garrafa sei que minto,
Mesmo que não tenham necessidade de saber
Eu tenho a necessidade de a dizer.

Vamos beber, vamos dançar, vamos cantar
Com alegria, espírito e desinibição,
Vamos cair, vamos-nos rir e criar a ilusão
De que ainda consigo amar.

Já passou uma semana

Já passou uma semana e nem uma palavra vinda de ti. Nem um olhar, nem um suspiro, nem um sinal. Já há muito descolaram os indícios de coragem e determinação, deixando para trás a solidão que dá razão ao alento de te perseguir, encontrar, beijar. Talvez uma razão algo maníaca mas o teu silêncio tem uma tendência em arrefecer as minhas noites, em frustrar as minhas tentativas de não rever as cartas que me escreveste quando poderias simplesmente vir à minha casa e beijar-me, de as cheirar para me lembrar do teu cheiro. Mas dão razão ao sentimento, alimentam a esperança e a desolação. São uma faca de dois gumes.
Não consigo ganhar. Contra isto, contra o vento, contra a falta de sentir as tuas coxas nas minhas mãos, os teus lábios cerrados nos meus, os teus olhos caridosos que me gritavam que me irias amar para sempre. Com cuidado caminha noite esperando que cada sombra seja a tua silhueta a vir na minha direcção, que cada som seja a tua voz a chamar-me, que cada janela com luz sejas tu a olhar para a rua e veres-me passar com um sorriso. E a noite embala os meus sonhos, irrealistas como tu sempre lhes chamaste, e permite-me andar durante o que pareceram horas sob a luz da Lua. Apesar de toda a conspiração contra os astros e o que eles permitem, esta tem sido a noite em que tenho pensado mais em ti, em que eles me têm ajudado mais.
Encontrarás algo no silêncio: ele diz sempre a verdade. E permitir-te-á ouvires-te. Consolar-te-á com a sua frieza, esclarecer-te-á a mente. Dir-te-á que quem não está contigo não merece os teus pensamentos. É algo díptero, resguardado nas profundezas da noite. E vale mais que todo o perfume nas tuas cartas, todas as tuas palavras de consideração passada, de paixão expirada. Já passou uma semana e nada de ti, não espero mais do que já me deste, o silêncio profundo onde me voltei a encontrar.

domingo, 21 de agosto de 2011

Lições de humildade

Nem tudo é o mesmo a toda a hora. Às vezes temos de mudar as nossas convicções, as nossas ideias, o que pensamos ser. É tudo uma lição de humildade com sabor a humilhação. Mas no final suponho que isso seja o que significa crescer. Ser-mos ensinados para um dia podermos ensinar. Somos quebrados, tirados dos nossos mundos irreais onde tudo sobre nós é perfeito, ou assim queremos que seja, e vemos que estamos num patamar abaixo de muitos outros com uma vivência mais longa, com uma experiência maior. Talvez nem por isso, talvez porque eles não tiveram medo de viver a vida enquanto que nós fomos criados em conchas e não saímos do casulo em que nos envolvemos. A vergonha é nossa, pelo menos por enquanto. Mas sonhamos, eu sonho, em tudo o que possamos ser, em tudo o que podemos realizar. Até existir mais uma lição de humildade que nos envia para a cama para dormir sem sonhar.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Talvez o silêncio ilumine este dia

Talvez o silêncio ilumine este dia
Tão amaldiçoado por todas as verdades cuspidas,
Talvez a noite traga o barulho para me serenar a alma.

Não há palavras para acalmar a pessoa que conhecia,
Se era conforto que ela precisava não tinha palavras conhecidas
Para lhe trazer calma.

Ao invés um novo ciclo acabou,
Algo que nunca foi realmente algo apreciado,
Apenas um fardo.

Retorque ao sentimento

Já deixei de tentar. Não encontro explicação, é-me difícil escolher e verbalizar as palavras para explicar o que sinto quando estou contigo, quando estou dentro de ti. Também não sei o que te diga quando tudo o que falas é das noites passadas, de quem passou e já cá não existe, de tudo o que é exterior a estas paredes. Calo-me. Deixo-me em silêncio porque essa é a solução. Fico a ver-te pintar as paredes de todas as cores dos teus sonhos e pesadelos, alucinações e perseguições. E gosto. Ver-te exposta a mim em mente numa tinta temporária que fica na minha cabeça, ver-te dada a mim nua, com a tua pele de sede a roçar a minha tão inadequada, tão inexperiente. Tremo só de te ver. E então fecho os olhos porque tudo isto não passa apenas de um sonho para mim. O sonho mais real e agradável que já tive.
Tudo em movimento. Mais que um formigueiro. Quando te vejo do outro lado da rua, do outro lado da sala, do outro lado quarto. Quando vejo o teu sorriso, tudo em mim conquistas. E tudo em mim é atirado para o lado, caio para um estado de êxtase e felicidade, o mesmo que não consigo explicar. E em mim todo o teu ser existe, até mesmo aquela parte que recusas, aquela parte que negas ter. De mim tudo terás menos o que te destruir, o que arruinar o teu interior e te tire de mim. De ti recebo apenas o silêncio que confirma o destronamento do meu sentimento, substituído por algo que nunca chega realmente a ser o suficiente.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Tu, aqui, comigo

Se me perguntarem, sim, preciso da tua voz para me encantar o dia. Preciso do teu olhar para me iluminar, preciso das tuas mãos para ter algo para adorar. Preciso mais de ti do que as flores do Sol ou o coração de sangue. E não há mal nisso. Há apenas espaço que resta a percorrer, espaço que denominamos de vida, espaço que se vai sempre encontrar entre nós e que iremos estrangular, afastar com os nossos corpos. Que interessa se não há tempo para vivermos e amarmos o suficiente? Fugimos da chuva, refugiamos-nos nas escadas de um prédio qualquer e conquistamos esse tempo, fazemos valer o que temos. E o que temos é mais do que qualquer chuva, vento, Sol ou noite possam ameaçar tirar. Somos mais fortes que tudo isso.
Dança comigo esta música o mais lentamente possível. Deixa-me agarrar-te perto a mim, encostar a minha cabeça ao ombro e sentir a tua respiração, cheirar o teu cabelo, ter a certeza que estás comigo. Vamos dançar a noite inteira, esperar pelo Sol sentados na relva e cheirar o orvalho. Ver o Sol nascer contigo agarrada a mim, tão cansada que poderias simplesmente adormecer nos meus braços. Afagar-te o cabelo, esperar que feches os olhos e que me dês o sinal de que confias plenamente em mim. Olhar para o céu azul e finalmente aperceber-me que estou a sorrir e pensar "estou apaixonado" e simplesmente não me importar. E esse é o tempo que conta, não os minutos contados de uma vida inteira porque quem os conta é quem realmente os perde.
Vamos ouvir as baladas mais uma vez, é assim que me sinto contigo. Como numa nuvem, como se o mundo não fosse tão pútrido e morto, como se as pessoas não julgassem outros por se sentirem felizes, que não os odiassem por terem um sorriso na cara. Vamos continuar assim, ninguém que nos olhe assim merece um milímetro da nossa consideração, ninguém nos pode abalar. Vem, deita-te comigo na cama, deixa-me sussurrar-te o que sinto por ti mais uma vez enquanto das colunas sai a melodia que tão bem conhecemos, que tanto nos diz. Fica aqui comigo uma vez mais, não entra nenhum mal neste quarto. Apenas tu e eu. Como devia ter sido sempre, como quero que fiquemos.

Pink Floyd - Wish You Were Here

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

São palavras que se repetem

Adoro a nossa paixão. O teu sorriso, o teu olhar, o teu simples ser. Seres igual a mim mas tão diferente, estares tão afastada fisicamente de mim que me dói ter-te tão próxima ao meu coração. Adoro ver-te nas noites mais escuras. E é possível ver-te apenas porque tu brilhas mais do que qualquer estrela, mais do que a Lua, mais do que o próprio Sol. És uma chama em mim que ameaça nunca se extinguir. Adoro acima de tudo as tuas palavras, as que envias do coração, não aquelas que pensas serem as que me servem ou que quero ouvir. Adoro-as porque fazem tudo isto real, fazem tudo isto verdadeiro, com significado. Adoro-as porque elas merecem a minha consideração, são perfeitas no seu momento e encantam o meu coração, fazem-no chorar e dançar a sua doce melodia. Mas são palavras de hoje. É tudo de hoje. E como o Sol se põe hoje e dá caminho à noite, amanhã ir-se-à erguer e eu temo que tudo seja diferente.
São modestas as palavras que te ofereço. O meu coração já pode outrora embarcar mais mas ele não tem a profundidade da tua alma e a tua grandeza preencheu-o de tal forma que já não consegue cá entrar mais nada. Basta-me simplesmente pensar em ti que as palavras vêm à mente. Mente essa que é uma perturbada e inspirada boémia, vive nas ruas do sonho, onde se encontra sempre contigo. Mas diz o que o coração não consegue passar cá para fora, sem vaguear, sem variar o seu interesse, tu. Então quem é o vilão nesta história? O medo. Medo de que te vás embora, medo de que tenha sido cego, enganado pelo meu próprio amor e que tudo isto seja ilusão. Medo de que quando vou à tua rua esperar que venhas à varanda para me ver durante a noite, simplesmente deixes de vir. Medo de que me olhes como se fosse qualquer outro. Ele domina. Aperta o cerco ao coração e não deixa nada entrar ou sair. Mas tu alimentas-me a coragem de continuar. E por isso ainda resisto, o medo ainda não me conquistou.
És tão perfeita hoje como foste ontem. Isso nunca muda. Podes não ser perfeita aos olhos de outros mas és perfeita para mim. Encaixas-me tão bem no ser que é difícil acreditar que és outro ser que não eu. Mas és. Mais do que isso, és a visão dos meus sonhos, algo que quero sempre tão perto de mim mas que me parece fugir em medo quando faço um movimento mais repentino. Precipito-me apenas porque gosto das tuas palavras, quero-as sempre a chegar aos meus ouvidos, a serenarem-me numa noite de tempestade. São palavras que se repetem, sim, mas isso não faz delas palavras com menor significado do que tinham ontem. São palavras que vou agora repetir sob a luz do luar, na tua rua, enquanto me vês da varanda com o teu sorriso que tanto adoro. São palavras que quero repetir esteja Sol ou chuva, dia ou noite.