O seu nome era Leõa. Conheci-a num bar. Eu estava sentado ao balcão a beber o meu copo de whisky depois de um dia quente de trabalho. Um dia tão quente que o gelo na minha bebida quase não tinha efeito. Ela entrou apática sempre a olhar para a frente, sem se importar com quem lá estava ou quem a observava. Nesta altura ainda não sabia o seu nome nem a sua história. Sentou-se no primeiro banco que encontrou e pediu o seu Martini, oferecendo ao empregado de balcão um sorriso em troca de um bom serviço. Com o copo na mão, a olhar para o líquido que lá se encontrava, foi bebendo enquanto a tarde passava. Atormenta-me ainda hoje a sua expressão triste de alma moribunda, o seu curto cabelo loiro a tapar-lhe o pouco que conseguia da cara. Confunde-me ainda mais o sorriso que punha na cara enquanto rejeitava todos os que se aproximavam para lhe falar. Foi pedindo bebida após bebida e rejeitando homem após homem, assim a observei nessa tarde. Até que a tarde passou a noite e ela pediu a conta, queria ir-se embora. Na altura de pagar reparou que não tinha nem dinheiro nem carteira consigo. Sendo que também me ia embora ofereci-me para pagar a sua dívida. Apesar de não ter dinheiro consigo, ela foi extremamente complicada para convencer em aceitar a minha oferta. Paguei e saí pela porta. Ela seguiu-me.
Eu caminhei lentamente as mesmas ruas de sempre de volta a casa, sempre a ouvir os seus passos atrás de mim. Inicialmente pensei que se dirigia para uma zona mais iluminada e que estava a aproveitar da minha companhia para se sentir mais segura, depois pensei que ela viveria na mesma zona que eu visto que estava a chegar a casa. Até que cheguei à porta do meu prédio e parei para olhar para o alto edifício, para as minhas janelas fechadas com ar de casa abandonada. E ela parou comigo, quase chocando comigo. Virei-me então para trás e perguntei-lhe que fazia ali, que queria de mim. Ela mostrou-me o mesmo sorriso que ofereceu aos outros homens e respondeu-me que apenas queria passar o tempo, quanto mais demorasse a chegar a casa, quanto mais distante de lá estivesse, mais feliz seria. Convidei-a a subir então, estava demasiado cansado para ter outra discussão como a que tive no bar e ela deveria estar demasiado longe de uma paragem do autocarro para voltar a casa dali. Fá-la-ia companhia até ser de dia e ela se decidir em chamar um táxi, decidi. Subi-mos, mostrei-lhe a casa, abri uma garrafa de vinho tinto e sentamos-nos no sofá a conversar.
A noite já ia alta e quase madrugada. As paredes já eram de uma textura indefinida e o sofá parecia ter vida própria, decidido a empurrar-nos para o chão. A certa altura ou na altura certa cedemos. Qual dos dois é o certo até este dia não sei. Caímos no chão e perdemos-nos num riso imparável. O seu riso adorável dessa noite - já dia - fez-me perceber que conseguia ouvi-lo para o resto da minha vida. Parei de rir e observei-a atentamente enquanto ela, despercebida do meu desespero e alegria ao observá-la, continuou a rir. Parou e olhou para o tecto, estendeu a mão e deixou-a cair de novo para junto do corpo como se algo lhe tivesse escapado o alcance, como se tivesse perdido o controlo de algo importante. Olhou séria para o tecto, virou-se para mim, sorriu novamente, pousou uma mão sobre a minha cara - este corpo meu que me escapou da consciência durante esses escassos minutos - e beijou-me. O dia nasceu.
4 comentários:
Devias de te dedicar a escrever livros, tenho a certeza que irias ter mais sucesso que Margaridas Rebelo Pinto que na minha opinião estragam a literatura nacional.
Abraço.
Ahah. Obrigado. Concordo contigo na parte em que a Margarida Rebelo Pinto estraga a literatura nacional. Mas continuo a achar que não estou preparado para escrever um livro, ainda tenho uma escrita muito imatura.
Imatura?
Bem... tu não tens noção do que escreves pois não? xD
Imatura no sentido de nem sempre ter coerência, de não conseguir transmitir o que quero.
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