quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Hoje sinto-me pouco

Hoje sinto-me um pouco sozinho, um bocado abandonado. Pensando bem, sempre me senti um pouco isolado, um caso arrumado de lado, deixado ao acaso. Sentia sempre que ninguém conseguia discernir a minha natureza, que ninguém tomava gosto pela minha resistência - de amar, conhecer e permanecer. Mas fortifiquei-me. Fortifiquei-me contra o Inverno das mentes das pessoas, contra o seu vento gelado que enviavam nas palavras, da sua expressão apática, da sua alma estagnada que sempre achei apanhar em relances de olhares.
Já o Verão da minha vida ia longo e quase trocado pelo Outono encontrei beleza nos campos e florestas pintados de labaredas ferozes que não deixavam rasto do que antes havia ali. Mas todas essas pinturas foram estragadas e apagadas por alguém que ardia por si mesma, queria arder e desaparecer silenciosamente. Manchou-me toda a minha tela com a sua beleza e encanto triste mas tão rapidamente como o vento das palavras desapareceu. Levou consigo as labaredas do meu ser e deixou-me cru num prado vasto de horizonte distorcido, abstracto.
Agora... agora passam os anos pelo comboio que apanhei para um novo destino, a paisagem sempre igual mas sempre sentida diferente. E apaga-se a luz à esperança de rever o que senti ser um furacão que me devastou a casa do meu coração. Apaga-se não porque ela partiu mas porque continuo a encontrar novos seres que me iludem chamando-se de chamas mas revelando-se de ventos, tormentas nunca favoráveis ao meu caminho. Permaneço na sombra desta carruagem, escondido de todos os estilhaços de vidros, casas que foram encontradas e destruídas por esses ventos, refugio-me aqui de mais desilusão.

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