A noite aclama-me, o vento é tão forte, tão frio, não sinto nada mas quem quer saber? Alguém na janela que vê o meu vulto lá do alto mas que se mantém em silêncio. Sinto-me mais aproximado às estrelas que todas estas pessoas que passam e olham de lado. Sinto-me simplesmente, penso que por hoje é o suficiente, no meio de tantas palavras silenciosas que se guardam no interior, com demasiado medo de se revelarem e libertarem este espírito à tormenta escura.
Sou passageiro nesta mística viagem pelo inconsciente e subconsciente, estados diferentes que me tornam omnisciente na minha adorada ignorância. Revolta! é o grito da consciência, é o desejo de saber, de aproveitar esta indiferença - talvez até infelicidade - em que vivo, dar-lhe algum uso, justificar a sua - e a minha - existência. Dou jus às contas matemáticas que dizem ser improvável eu encontrar a minha outra metade, separada por Zeus ainda antes da nascença, e aproveito para me deitar e olhar para o céu, a noite estrelada dita-me uma fado que me recuso dançar, por tudo me recuso a (te) procurar.
Pelos céus voam aqueles com asas, aqueles seres ocos de pele e pouca carne. Pelos os céus povoam aqueles que gritam de olhos fechado mas ouvidos abertos, que se guiam pela obscuridade, o som que bate contra paredes e volta - como uma onda que persiste em morrer à beira mar para me conhecer - guiando-os, dizendo-lhes o caminho de volta ao seu canto escuro onde dormem. Eles silenciam-me a mente e conquistam-me a noite, ajudando-me, carregando-me para o próximo dia em que a manhã representa a esperança - de tudo o que possa vir de bom -, em que a tarde representa a verdade - quando me apercebo que tudo é o mesmo -, até à noite em que eles me voltam a embalar para um sono sem sonhos.
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