"Embebedas-te no poder, deixas-te cair na tua avareza e sede de vingança, queres mais e mais, cego é o que és por fechares os olhos à miséria à tua volta. Tantos anos passei ao teu lado, vendo-te passar de uma pessoa integra para uma pessoa menos que comum, menos que gente. Tantos anos passaram e aqui me mantenho, cinzenta, triste, apenas pele e ossos, esperando pelo dia em que nasça a minha morte na esperança que isso te abra os olhos para a tua desintegração de integridade, respeito, tudo o que vi em ti e adorei desde o dia em que te conheci.
Já nada espero de ti. Já nada deste mundo espero, nada vai para além destas quatro paredes, esta secretária e as prateleiras de livros que me compraste na tentativa de me compensar pelas as noites invernais que passavas fora, escravizando, matando, levando para longe. Levando outros e levando-me a mim. Para um poço que não parece ter fundo, onde apenas caio, onde apenas existe escuridão. E em vez de me estenderes a mão para me puxares para a luz deixas-la perto o suficiente para eu me estique e afunde mais, sai o teu braço da escuridão para revelar todos os teus defeitos. Silêncio. Quem vem aí? Ninguém, apenas o vento a entrar pela janela aberta. Uma janela aberta que em nada simboliza a prisão em que me sinto."
Foi o que ela me escreveu...
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