domingo, 30 de novembro de 2008

[2] Um dia diferente

"Sinto-me rodeado por ignorantes. Tanta vez encontro paredes, mentalidades diferentes, ideias diferentes, filosofias que não correspondem. E julgo-me frio, logo raciocínio com mais lógica que os outros não frios. Mas não há o relevo de uma mentalidade inferior. Nem de uma superior. Mas há algo mais aqui. Há algo de facto. Há um frio ao meu lado que me cola os lábios e não permite que os pensamentos saiam. Um frio que vem por esta altura do ano ou que me acompanha pela espinha e lá se aloja até chegar ao Verão e ao coração. Já o calor ficou na cama. Na sua inocência imaterial, mostra-me o bom que é estar lá. E aí estou sozinho. Sozinho e no silêncio do meu quarto. O silêncio não é obrigatório - é inconsciente. Natura e automaticamente realço a beleza da escuridão que abraça a minha cama, aquecendo-me por longas noites sem chuva. E são os candeeiros que dão luz lá fora, na sua solidão presa por fios. Eles, na sua bela incapacidade de sentir ou pensar, estabelecem uma ligação ao vício de enregelar. O seu aço funde-se com a humidade seca e juntos fazem brilhar o cinzento pelas sombras que criam com as palmeiras à sua frente."
Num dia diferente estas palavras soariam tão mais redundantes. Num outro dia eu mudá-la-ias para murros e pontapés e saltos e corridas frenéticas até que a energia se esgotasse. O Sol não brilhava então. Então eram noites de chuva em que a tristeza e a fraqueza se abatia sobre a atmosfera à volta do meu corpo. Pareciam ser a única coisa que o meu centro de gravidade puxava. Encontro hoje então, uma parede à minha frente. Por mais que a empurre, que a tente afastar, ela não se mexe, não cai. Pouco a pouco vai-se deteriorando, ou sou eu que a vou moldando. O seu corpo, feminino, de uma beleza escarlate que me cega e que me preenche com devaneios. Imagino para além do longe e encontro que o meu próprio inimigo é este fardo de pensar demasiado pouco, ser muito impulsivo. Corro contra a parede moldada em mulher e abraço-a enquanto ela cai no chão e se parte em mil pedaços.
Sozinho outra vez, caminhando pelo deserto repetido que é a paisagem do meu quarto, corro os estores para cima e fico a observar a chuva matinal enquanto que o dia dá o seu cumprimento instantâneo por ser oculto pelas nuvens. Tudo se mantém tão escuro, este dia nasceu para uma pessoa morrer na sua loucura. Numa luta para me manter em pé, de frente para a estatueta que se mostra no vidro, reparo que eu não passo de uma fútil casca nascida para ser partida. Tantas vezes o desejei, tantas vezes o sonhei, só hoje realmente me observei e percebi, não sou nada senão igual a todos os outros. E esses outros tanta vez critico eu. No meu reino de hipocrisia, sento-me no meu trono e vejo-os, iguais a mim, mais uma vez, lixos sonâmbulos na terra. Criam o seu monte de sujidade, montam o seu trono e aí se sentam, criando cada vez mais sujidade, até chegarem ao tecto do universo e explodirem por falta de oxigénio.
Se pudesse citar o próprio imaginário, preencheria este mundo com cores e palavras, imagens e pesadelos, mortes e ódio. Uma tela do tamanho do Universo seria tão pequena que uma criança teria de dar o seu sangue para manter as chamas da explosão a arder. Um Universo paralelo por explorar... mas o que é realmente o desconhecimento quando foi a morte que nos apagou o que criámos? Continuamos cá, a flutuar, inerentes a tudo o resto. Tudo o que vemos é escuro, uma imensidão de preto contagiante e viciante que não nos larga. Persegue-nos que nem uma libelinha num dia de Verão à procura da sua liberdade mental. E nós somos a sombra desse mesmo preto. Provamos a nós próprios que o conforto e calor humano não é o suficiente e acabamos outra vez sozinhos, completando um ciclo, embatendo contra aquela parede inicial vezes sem conta. Moldamos-nos e aos outros da forma que queremos. Por isso é que nos magoamos. Vezes sem conta, somos nós que nos mentimos. Num dia diferente, estaria disposto a fechar-me. Se calhar a abrir-me. Não sei, a tela do meu imaginário está demasiado confusa.

Introdução

Sinto-me rodeado por ignorantes. Tanta vez encontro paredes, mentalidades diferentes, ideias diferentes, filosofias que não correspondem. E julgo-me frio, logo raciocínio com mais lógica que os outros não frios. Mas não há o relevo de uma mentalidade inferior. Nem de uma superior. Mas há algo mais aqui. Há algo de facto. Há um frio ao meu lado que me cola os lábios e não permite que os pensamentos saiam. Um frio que vem por esta altura do ano ou que me acompanha pela espinha e lá se aloja até chegar ao Verão e ao coração. Já o calor ficou na cama. Na sua inocência imaterial, mostra-me o bom que é estar lá. E aí estou sozinho. Sozinho e no silêncio do meu quarto. O silêncio não é obrigatório - é inconsciente. Natura e automaticamente realço a beleza da escuridão que abraça a minha cama, aquecendo-me por longas noites sem chuva. E são os candeeiros que dão luz lá fora, na sua solidão presa por fios. Eles, na sua bela incapacidade de sentir ou pensar, estabelecem uma ligação ao vício de enregelar. O seu aço funde-se com a humidade seca e juntos fazem brilhar o cinzento pelas sombras que criam com as palmeiras à sua frente.
Começo a notar que a idade já não tem perdão de mim. Deixa-me pegado a memórias e cicatrizes e traz a transparência para os bastidores do ser. A minha ignorância e insegurança consumem os focos da peça de teatro que é a minha vida. E o público é um exaustivo turbilhão de filosofias e julgamentos sem qualquer razão de ser. Apenas por um impuro olhar, um relance de mau humor causado pelo frio. E está tanto frio cá dentro. Tão frio... distante, isolado. Não se consegue encontrar luz pois a luz provém dos candeeiros e, ao contrário desses, eu sinto e penso. Penso... e se penso. Se há coisa que não páro de fazer é pensar. Pensar, observar e julgar no silêncio que pergunta as questões de ser. E sinto. Sinto ódio, raiva, compaixão, um misto de todas as coisas humanas que restam em mim. É confuso. Não quero sentir... não quero apaixonar-me e andar por aí agarrado a alguém e a algo. Quero-me sentar em cima da cama e escrever até a minha mão desparecer e a minha imaginação desaparecer. Aí saberei que os sentimentos esvaneceram. Finalmente, uma razão real para escrever. Escrever loucuro e espinhos que magoam, fazem chorar e sangrar.
Não somos escritores. Pessoa, Verde, Camões... somos apenas tresloucados que andamos a ver e a pensar demasiado em vez de andarmos por aí nas ruelas a beber e a cantar, viver a vida e a destruirmo-nos por dentro. Devíamos ter deixado as nossas vidas de sentimentos, pensamentos, filosofias para trás. Tudo isto é em vão. Qualquer um pode pegar numa caneta e escrever. Até um míudo de 4 ou 5 anos pode escrever sobre o quão feliz é na sua ignorância. Não somos nada, nunca o fomos. Simulamos todas estas coisas para dizer que não somos os mais inúteis e tristes à face da terra. E de facto não somos. Os mais tristes são os que se sentam nas cadeiras a lamuriar-se. Ao menos nós ainda nos escondemos atrás de mil máscaras e mentiras e até mentimos a nós mesmos sobre essa mesma tristeza que sentimos dentro de nós. Não é afastar ou esconder, ou até mesmo apagar, é mentir. Sempre foi. E se o gritarmos conscientemente, talvez venha um trovão das nuvens e nos reduza a cinzas para alimentar a terra. Mas vocês já foram, esqueço-me. Resto eu. Eu e muitos outros que ousam pegar na caneta. Somos todos incapazes... meros idiotas.

domingo, 23 de novembro de 2008

Wolf's Moon

I'm not afraid of feel, finding myself in the cold, depending of a smile in the rain to wonder around this big old town. I'm not useless until I'm paraplegic or dead, in that day you won't find me. Continuing to the underground of the soul, all of those who found the light, sang the anthem and lived trough the mist. I still wonder alone with silence and coldness. The pride's changed to a shield and hatred into a thin blade that won't brake with your rocks, only gets stronger. I can't find a cave where I can rest tonight.
I'm in debt to death. Today I've set foot on the land of the burned trees and decayed with them, yet I'm not fallen on the ground as their branches are. I've walked trough the Earth, burning, caressing, infecting, all in my way. Mothers, children, souls, lies and cement-founded buildings. All fallen as my passage marked the arrival of the red Apocalypse. Am I on the fifth horse spreading the disease or am I the face of death in debt of my survival? But let me understand, immortality isn't a cure or a blessing. It's a curse of knowing and loving and watch them die without having the slightest chance of helping them.
I see the lightning dance trough the air, never hitting the ground or me. How I wish to be left alone under the thunder storm and burn along with this purified unfleshed beings that I used to call friends. They all left me alone, they created the silence and gave it to me as a last gift in the fire. Assembling of those left behind, here came the water and took them away. Deserted again, wondering, waiting to find home, where I can lay may head and lust, put myself slowly to die. No shame to walk trough graves of those who left me. My resemblance to the times the sun shined and I lived with a smile is the Moon that shines tonight in the night sky. The storm and thunder as left me to cry.

sábado, 22 de novembro de 2008

De ti

De ti, nada mais quero,
O sangue desordenado a correr pelo corpo,
Encontrado repouso debaixo do manto das tuas mentiras.

Se nada mais me ofereces que não um pedaço de estupidez,
Infidelidade destacada pelo ar entre nós.
Se nada mais controlo,
Então que se afundem no abismo tu e o teu maldito amor.

A rua apela mais à morte das letras,
Então repouso o meu corpo pesado sob as pedras.
O vazio ocupa a cama esta noite.

Olhos brilham no escuro,
Do gato castrado e condenado à espera de piedade,
De uma morte acompanhada com a luz,
Da mais simples palavra tua.

O rescaldo deste grande nevoeiro sobre nós,
Envolvendo-nos, juntando-nos.
Mas
Rejeito esta mão de destino.

Sei que sou eu que provoco essas lágrimas que te caem agora,
Que gosto me dá saboreá-las e então abandonar-te à tua confusão.

De ti, aceito apenas o abandono da longa jornada da nossa vida,
Deste maranhal de lutas e suor largado num duelo amigável.
Aceito a campa comum onde descansamos para a luta imortal,
De mãos dadas às estrelas.

Autopsicografia - Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bebida da meia noite

As mãos gélidas, a face congelada, a alma parada no tempo. A sensação de não sentir outra vez. A beleza de gritar para fora tudo o que corroí a mente e ver o mundo a girar numa espiral mortífera até à explosão, o culminar da vida. É como o abrir duma flor nos dias mais cruéis do Inverno. O desabrochar duma nova vida, duma agradecida e nova raiva, o retorno de todo o negro e obscuro prazer. A sombra de dias passados que retoma os seus passos no caminho da destruição e do desconhecimento por entre as brumas da mente.
Enche outro vaso com a mesma terra de sempre, deixa as plantas beberem desse veneno e queimarem até serem cinzas para alimentarem cadáveres. O tempo que passou para a rega do castanho das folhas já passou e a esperança foi deixada deserta, abandonada, deixada ao acaso da imaginação de um louco que um dia ousou pensar. A organização na vida que não viu noutros dia o Sol foi escrita por um cego que se auto-intitulou deus e que deu a todos a seu cegueira através de palavras e espinhos. Esses mesmos espinhos ainda cravados em corações opacos ou gastos de humanóides que habit... destroem a terra que pisam. Cimentam as cinzas e com esse cimento se queimam e cavam as campas.
Cada gesto meditado, seguido pela noite. Cada emoção, sentimento pensado, triturado, usado. Racionalizado até ao profundo detalhe de que no final do ciclo volta tudo ao mesmo e o fundo do copo está vazio. O piano troca a melodia ritmada, alegre do jazz pelos melancólicos, tristes blues. A mente afunda-se rapidamente para um sono profundo e prolongado, cabeça encostada à almofada e corpo debaixo de lençóis. Apenas no dia seguinte se pode expressar o que realmente se sente. E isso vem em sonhos. O desespero. A sensação de que o buraco está a ficar cada vez maior, que o poço já não tem origem mas sim escadas para nos afundarmos na água. No segundo seguinte encontramos-nos presos ao chão.
O sangue corre com um pouco mais de liberdade enquanto a flauta solta pelo ar os seus lamentos de sopro. O sentimento não vem dos pulmões, vem das ondas de som que atravessam a sala vazia até chegar àquela cadeira vazia onde se encontra o fantasma do ontem, sentado a falar com a armadura do amanhã. E o hoje é apenas uma máscara do oxigénio gasto, a respirar a putridão de um pequeno, mesmo mínimo, símbolo do Universo. Resume-se em horas que não se podiam gastar em nada melhor, muito menos em lembranças. As palavras de fé em continuar em frente e pisar a mesma terra que todos os bonecos de plástico pisam são distribuídas pelas árvores. O Sol, imperdoável, impenetrável, esconde-se atrás das nuvens de chuva e frio e o vento leva a força que restou desta batalha incessante.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Um brinde a casa (parte II)

Uma figura transfigurada, congelada, modificada. Eu, uma silhueta de afinidades, pensamentos a mil à hora e o puro estado de medo em que repouso nestas longas noites. Na mistura de tanto que pode ser racionalizado e afastado, encontro a fuga de uma raposa, procurando as últimas ervas que o Verão deixou para trás para serem consumidas. O seu pêlo ruivo, a resplandecer esta desfiguração que me entristece e enraivece por dentro, solta um grito, vibrante, intenso. Mas que mais posso fazer se não agradecer ao seu choro por me ter morto a solidão? Até parece ingratidão tal português, tão fraco, deixando a nobreza e orgulho do passado desvanecer. Mas é um animal, uma besta esquecida, torturada, procurada, caçada e morta. Afinal... afinal os animais, as bestas somos nós, que nada fazemos para merecer o que temos e o que temos damos a quem não nos merece. Cansado de toda a lamúria inventada, abandono este repouso e apago a lareira para mais uma noite de pesadelos.
Uma hora passei eu, desperto, sobre esta cama de desespero e insónias, na minha solidão que recuso e que não demonstro ao mundo. Mas o terror assola-se perante mim, deixando-me imóvel, os olhos a arder de lágrimas retidas dentro, vendo a minha sombra a transformar-se em algo medonho, alguém que não eu. Mas a sombra segue-me, a melodia do vento transforma-se num frenesim de imagens de terror, sangue e desmembramento. Então, invadido com toda a fúria, com todo o medo, com todo o orgulho, fecho os olhos e abro as asas, deixando esta penumbra transformar-se na minha própria escuridão. Então compreendo, ainda que bem no fundo deste monstro, que sou eu que realmente estou naquela sombra. O monstro representa apenas uma fracção de mim que suprimo no interior para não o veres. Apaga-se mais uma vez as luzes da penumbra, fecha-se as asas e cai-se uma vez mais em cima da cama, adormecendo, cabelo à frente da cama.
Um novo dia nesta prisão, cansado de toda a madeira, de todas as fogueiras, das raposas que me vêm mostrar o desespero de estar perdido dentro de mim. Gostava de um dia te encontrar outra vez à beira do lago, que andássemos uma vez mais para o abismo, que nos encontrássemos, abraçássemos na escuridão das rochas. Mas continuas sempre para trás, não consegues passar esta barreira de neve que caiu sobre a minha floresta. Então o lago gela, tal como as minhas lágrimas e o meu coração. Que o pano caia sobre o nosso palco e se conte o soneto das vezes que nos encontrámos e das vidas que deixámos passar sem amor ou real intenção por orgulho e pura liberdade falsa, enganadora. Deito fogo a esta casa de madeira e pedra e caio no gelo, congelo-me para que num dia de Primavera me encontres a dormir e me acordes para a nossa felicidade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um brinde a casa (parte I)

As sombras desaparecem, a Lua cheia dá lugar a mais um dia de chuva. E que bom é sentir a caricia gelada de uma chuva de Outono. As folhas molhadas, coladas às pedras no chão, castanhas, mortas. O ciclo terminou mais uma vez aqui e todos os animais se recolhem à sua toca para homenagear aqueles que caíram na sua pura fraqueza. O enregelamento, caindo sobre a superfície terrestre, queimando as silvas outrora gloriosas, cheias de força. O sangue aqui derramado não passa de uma memória de florestas que existiram.
Estas pedras contam uma história. E a cada história que passamos há um limite à imaginação que nos acorrenta ao chão. As lendas, castas, presas por tudo o que representam, constituem uma mentira, todas juntas. São uma máscara às mortes que por aqui passaram e às almas que ficaram por relembrar. O vento sopra, interpretando um chamamento para algum lugar ressequido e longínquo onde nada mais senão a limpeza da mente poderá habitar. Então as árvores abanam no seu frenético sono onde sonham com a pureza dos elfos e a beleza escondida nas sombras mais profundas dos humanos.
O som que passa, os raios que Sol que ficam presos nos picos das árvores. As montanhas que se avisam lá ao longe, o lago gelado neste Inverno que se situa isolado, tristonho. Tudo vejo, aqui sentado na minha cabana de madeira e pedra, com a lareira acesa, alimentada com sonhos e sorrisos. O preguiçoso corvo que estende as asas para morrer num penúltimo guincho. E todas as passagens passadas e paixões apagadas, encontro-me debaixo do manto da vanidade, dormindo. E mais um mergulho nas profundezas da minha própria realidade, encontro-me sozinho, perdido na lágrima que se tornou o lago congelado. Aqui chamo casa ao guardião que sempre lá esteve e que tão pouco se manifestou.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

At this time

At this time... at this time, I know, I'm going insane. What more is there to offer? What can I give to you, so precious, what will I depend if your words don't warm me tonight? The Moon won't disappear behind this masquerade of tragedy. And the thoughts of you represent my sin, ruled by carnage. Casting the tears from the eyes, the grey hides the sadness upon the blood of men. Left behind, strangers in a strange land, a load from the darkness to destroy and conquer, the re-build to die again. We forgot the vows to the Earth, delivered our lands to the lords of the unguided realm. Are we ashamed? We hide our emotions behind these beautiful masks and throw away our future for a little isolation. Can we deny forever our truth, our feelings?
Let me taste your tears, let me see your drowning pools of sorrow, the harvest of this cold Winter that comes and takes it all away. Ashamed, sad, just feeling crappy, in this night wind without your sight. I've travelled far and from far I've come to know that you vanished, the one that I most relinquish. Make me feel home, embrace me forever and give the ashes of my former self away. Decay, I'm slowly dying inside you. Why did you leave me alone? The trees whisper to me as the wolves cry to the full Moon. Tonight I will leave, never more come back into the house of my dreams, where I kiss your naked neck and I hear your breath. There my tears froze and my lamentations were a block of ice. Know my anger, my worthy propose. One more season and I'll be haunting you so you never forget me.
Fading inside me, crying inside me, the mirror image of my murder art has reached the end of this painful journey. Finally a window wide open to step through and die, as love once did to me. In this awesome revelation, the turning spin of my life. A breast to be known as a shield from a sensitive phase of this terror, a shoulder to be a new turning point. The twilight dementia takes control upon my screams and I silent my melodies into a blind apocalypse. The duel inside as gone to a bloody massacre, the guardians of the soul found a way to close the gates once more to the mystery inside. A closure upon this day, at this time, water's the salvation.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Lembraça

-"Mata-me agora ou devolve-me os teus braços, o teu saboroso cheiro que me faz adormecer nas noites de pesadelos e que me aconchega até a chegada da minha Mãe, no céu cinzento, morto, sem qualquer estrela."
-"E agora, nesta total escuridão, nesta total ignorância do meu ser perante todo este caos, és a única estrela. És a minha luz, guia-me por onde o sangue escorre com felicidade, leva-me onde a água seja limpa e pura para que nos possamos banhar em todo o nosso esplendor e consciência. Espalha os meus restos mortais pela tua alma para que sejamos um. Então, realizado, prosseguirei pela ponte dos sonhos até onde a tua mão me levar."
-"Deixo tudo para trás e atravesso este caminho solitário, agarro-me às brumas e perco-me na tua directoria, quero uma lágrima minha porque a minha única lembrança é um sorriso de despedida, seco, sem deixar nada para trás, nenhuma máscara que me revelasse diferença ou tristeza. E aqui me encontro eu, com os blues a cantarem aquilo que não consigo proferir. A guitarra chora por mim pois é o nada que me sai do canto dos olhos."
-"E que este comboio se despiste e caía da ponte, não quero viver mais sem ti. És o meu calor, és a minha vida. E talvez encontre tudo o que quero nos braços da morte, tudo o que deixaste escapar fui só eu e eu sou um humano com algo preso dentro de mim. Poder-me-ias salvar mas deixa estar, vou ser consumido pela escuridão e deixado à ignorância."

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Metamorfose

Oferece-se mais um copo de vinho aos deuses, que tão ignobilmente lançam a sua víscera voz a nós e destroem as nossas vidas com a sua cólera. Agradecemos o néctar que acaba por ser a vida enquanto que nos encontramos nas quedas de água para uma espuma ácida que arde na nossa pele, muito antes outros fizeram o mesmo. A confusão instala-se e não temos nada mais a dar senão a nossa ignorância de voar, o nosso prazer nas acções mais carnais, o nosso desdenho a estranhos na rua.
Intensamente, falemos da nossa paixão pelo obscuro e pelos obscurecidos que, como nós, se perderam nos cantos mais ínfimos e desinteressantes da alma e lá encontraram uma luz cega, um novo prazer paranormal, esquecendo tudo o que outrora foi carnal. Tomaremos por força esta cegueira e torná-la-emos em mais uma das nossas forças, com palavras e lágrimas ensurdecedoras, com risos e sorrisos que demonstram o carinho um pelo outro.
Lembra-te de todas as palavras que cantei. Foram serenatas dedicadas a ti, apenas a ti. E tu, na tua pura e fraca existência, no final da tua vida decadente, nesse leito de morte tão febril que faz o meu coração tremer pela perda de alguém semelhante que é tão diferente, tão distante. Sempre te ofereci um lugar extra na minha cama solitária onde passei vários anos sozinho, ao relento, procurando alguém que me pudesse aquecer numa noite de Outubro tão fria, mortífera. E, até te encontrar, era apenas um lobo que vagueava pelas florestas da mente, perdendo-se em labirintos de árvores, queimando arbustos e chorando a morte de mais um bocado de si.
Apaga-se a luz dos candeeiros lá foram e os teus olhos fecham-se para mais uma noite eterna de sono. Que nos vejamos na próxima vida, perdendo-nos mais uma vez nos olhos um do outro, na incredibilidade da sua existência. E então sussurrar-te-ei... "penso que já te vi antes". Mas deixemos o futuro para o futuro, o amanhã para não existência e o passado para a dor e tristeza que se abate sobre mim. Na singularidade das minhas lágrimas encontro o teu sorriso partido e preencho uma tela sobre tu e eu. Agora só sei que tanta vez me pinto da dor que não sinto.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Lamento do lobo

Pedir-te-ia que morresses
Se isso garantisse o meu contínuo mundo.
Desejaria que o veneno se misturasse com a tua água
Mas isso apenas entristeceria a minha vida.

Definho uma ténue linha para construir um labirinto onde te perdesses,
Mas, no dia em que desapareceres, cederei ao monstro, cego, surdo, mudo.
Estendo mais uma vez a minha língua ácida, salgada
Ao vento com o medo de que a minha alma não sobreviva.

Um boneco de trapos à tua disposição para destruíres,
Tudo o que no meu ser encontraste, agora esqueceres.
E todas as formas geométricas que o meu coração se molda,
Serás sempre tu quem estará a modificar e governar na sombra.

A tua beleza devaneia como que uma maldição,
O teu encanto acaba por ser a minha perdição,
O som da tua voz, a tua visão, a tua tentação,
Cedo finalmente à carne, comprimindo a respiração.

Peço-te que abandones a isolação, junta-te aqui a mim, na morte do oxigénio e no corte da sanidade...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O receio de Lua Nova

Palpitação interior...

Cantou-se o fado prosseguido,
A rejeição preenche o ar,
O fantasma que assombra a minha mente foi lido,
Nesta noite em que a esperança me vai abandonar.

Coisa mais meticulosa,
Este sentimento por dentro destruído,
Nos adventos da melodia da bela e negra rosa,
Quando nem mais um fio de sanidade pode ser fluído.

O veneno que me corre por dentro,
Similar a todas estas coisas que já senti antes,
Em todas estas palavras incessantes,
Em todas as sombras que já deixei ser levadas pelo vento.

Poder-te-ia implorado,
Poder-me-ia ridicularizado,
Permitir ser humilhado,
Esperar que fosse por ti amado.

Mas até a piedade me vem a ser dolorosa,
No meio desta floresta que range a minha frieza,
Quando me pronuncias o teu abandono,
Desta minha fortaleza em que o meu coração é o teu trono.

No recreio das nossas vidas,
O Sol trouxe consigo a tristeza da sombra,
E todas as nossas almas perdidas,
Corrompidas com todas as labaredas que esta parede arromba.

Deixa-me oferecer-te um último suspiro,
Matar um último cliché,
Não sou homem para que me tires o riso,
Mas sem ti não me consigo manter de pé.

O orgulho foi deserto,
Aqui, onde atracaste o teu barco,
Sem nenhuma terra por perto,
Quando o teu tormento, tentei salvar-to.

Cinismos - Cesário Verde

Eu hei-de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.

Hei-de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu calvário,
E ser menor que um Judas empalhado.

Hei-de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar-lhe a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.

Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei-de olhá-la dum modo tão nervoso,

Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há-de chorar, chorar enternecida!

E eu hei-de, então, soltar uma risada.