As sombras desaparecem, a Lua cheia dá lugar a mais um dia de chuva. E que bom é sentir a caricia gelada de uma chuva de Outono. As folhas molhadas, coladas às pedras no chão, castanhas, mortas. O ciclo terminou mais uma vez aqui e todos os animais se recolhem à sua toca para homenagear aqueles que caíram na sua pura fraqueza. O enregelamento, caindo sobre a superfície terrestre, queimando as silvas outrora gloriosas, cheias de força. O sangue aqui derramado não passa de uma memória de florestas que existiram.
Estas pedras contam uma história. E a cada história que passamos há um limite à imaginação que nos acorrenta ao chão. As lendas, castas, presas por tudo o que representam, constituem uma mentira, todas juntas. São uma máscara às mortes que por aqui passaram e às almas que ficaram por relembrar. O vento sopra, interpretando um chamamento para algum lugar ressequido e longínquo onde nada mais senão a limpeza da mente poderá habitar. Então as árvores abanam no seu frenético sono onde sonham com a pureza dos elfos e a beleza escondida nas sombras mais profundas dos humanos.
O som que passa, os raios que Sol que ficam presos nos picos das árvores. As montanhas que se avisam lá ao longe, o lago gelado neste Inverno que se situa isolado, tristonho. Tudo vejo, aqui sentado na minha cabana de madeira e pedra, com a lareira acesa, alimentada com sonhos e sorrisos. O preguiçoso corvo que estende as asas para morrer num penúltimo guincho. E todas as passagens passadas e paixões apagadas, encontro-me debaixo do manto da vanidade, dormindo. E mais um mergulho nas profundezas da minha própria realidade, encontro-me sozinho, perdido na lágrima que se tornou o lago congelado. Aqui chamo casa ao guardião que sempre lá esteve e que tão pouco se manifestou.
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