quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Enerei

Enerei, deixa-me confessar-te as minhas fraquezas, os meus desapontamentos. Silencia-te um momento, deixa-me dizer-te tudo o que não digo a ninguém. Deixa os minutos correr no teu relógio, a chuva lá fora não vai a lado algum. Sim, tenho consciência de que ainda faz calor. Sim, tenho noção de que os relâmpagos só tornam o meu discurso sombrio. Mas és tu quem não tem noção de que a tua luz brilha mais do qualquer artificialidade neste mundo. Silencia-te, deixa-me percorrer as sombras com as minhas palavras.
Mesmo aqui, no silêncio e na escuridão destas quatro paredes, mostra-me o rumo. Desenha nas paredes, ilustra as florestas da tua imaginação, deixa-me caminhar pelo trilho da tua mente até à nascente dos teus pensamentos. Aí deixa o vento soprar e agarrar-me ao topo da árvore mais alta, lá ficar vendo as estrelas, pendurado como uma bandeira. E quando me parecer que já tudo vi de ti e nada novo me podes apresentar, atira-me uma corda e puxa-me até à Lua onde resides, observando-me, esperando-me. Deixa-me deitar-me numa cratera ao teu lado e ver-te dormir, afagar-te o cabelo, afogar-me em ti.
Aqui espero eu mais dos mortos e magoados, aqui espero eu mais de ti. Segues e nada vês no caminho. Tens os olhos abertos mas a mente desligada. E eu continuo a agarrar-me à esperança de que um dia me vejas. Talvez numa rua, talvez numa praia, com sorte num sonho. Mas revelam-se fúteis, as minhas aspirações, as minhas palavras. Revelam-se fúteis como a noite que se aproxima sempre depois do dia para me assombrar com a minha própria sobriedade e insónia. E largo tudo por um sorriso teu, Enerei, dentro deste quarto assombrado por perguntas sem respostas e ventos que não se deixam soprar.