Quem poderia adivinhar o que este temporal iria levar? Quem nos diz o que a trovoa grita e os ventos ecoam? Seres misteriosos, senhores da escuridão, adivinhos do tempo que nos insistem e empurram para a vida, abrem-nos os olhos e a devido tempo os voltam a fechar. E é assim que os gigantes caem, ignóbeis, ignorantes, deixam-se ir e os tempos não os lembram nem celebram. Com olhos fechados, memórias meras fachadas de momentos não vividos, não merecidos. São levados pelos seres da mesma forma que eles os trouxeram para este mundo para desempenharem os seus papéis, ensinarem uma lição a uns, fechar ainda mais outros, matar, roubar, injustiçar, ó desgraça que teimas em meter-te no meu caminho! No meu caminho e no de tantos outros. Agora silêncio, calmamente me vou deixar cair em novas reflexões.
Reflectir... não posso dizer que seja bem isso. É mais revoltar-me. Contra tudo e todos, contra estes fantasmas que teimam em adorar a noite e a Lua, sem chorar mas sem sorrir, pálidas faces nas sombras que invento, que torno reais e sólidas para puder esmurrar e não mais temer. Tremo do frio ou do calafrio, já não sei, há espíritos que por aí vagueiam e me ouvem os pensamentos, tentam comunicar mas não são meus sonhos, não têm forma, o que sofrem é uma repetição do que já tantos sofreram e eles mesmo sofreram na sua vida. Mas vagueiam, por aí e por aqui, sejam eles temporários ou permanentes, sempre indesejados, sempre empobrecidos, vidas preenchidas de memórias e experiências que em tanto poderiam ajudar e privilegiar alguém mas são demasiado temidos, desentendidos, odiados para se fazerem ouvir. Mas penso... não bem, espero, é isso! espero! que sejam conhecidos e amigos dos tais senhores das escuridão e que um dia nessa escuridão encontrem descanso.
Não prego olho com toda esta dança e alegria muda à minha volta, sei que não os vejo mas sinto, o vento roça-me a pele várias vezes, não me engana o coração. Não devo olhar para demasiado longe porque tudo o que veria seria igual ao que vejo aqui ao perto, escuridão, total, soberana, misteriosa. Sei que não me devo perguntar muito mais sobre a existência das coisas e a sua vontade em existir, tenho apenas que dormir e sonhar, dormir e fugir daqui, desta realidade. Realidade essa que é algo que me escapa ao controlo e à lógica, já não digo conhecimento pois ele em mim é escasso. Mas por momentos vejo um relance de tudo o que me escapa, rostos no vidro a olharem divertidos para o quarto como se fosse uma jaula e eu o animal lá preso. E uma cara passada que ainda me assombra o presença faz-se destacar na multidão. Uma presença que desejo agora que seja mais esporádica nas suas aparências nos meus sonhos. Uma única face que não sorri, uma única face que, como eu, desconhece os senhores da escuridão.
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