Há coisas que nunca mudam. E há alturas em que olhas à tua volta e tudo te parece diferente, distorcido, tocado. E ficas magoada com a ausência de inércia e misericórdia face à tua memória, fazes uma expressão de tanta dor que me chegas a aleijar fisicamente. Obrigas-me a encolher-me no meu silêncio para te agradar enquanto olhas para paredes brancas como se fossem infinitas. E no final suspiras. Nunca me dizes o que pensas nessas alturas, simplesmente olhas para baixo, o cabelo a tapar-te a cara, e quando te volto a ver tens um sorriso na tua cara e queres despir-me, apenas o corpo, nunca a alma. Segues o dia e a vida como se nada fosse. És uma tirana do tempo e da paixão. Deixas-me desolado.
Estou absolutamente relaxado em cima da tua cama. Agora, neste momento. Escreves em folhas brancas furiosamente, suspiras a fúria que te inspira. Estudas matérias que me deixam afastado da tua visão e isso não me importa. Francamente, não serias tu minha e eu teu se não fosses alguém dedicado a querer ser mais, a esperar mais de si próprio. Agradas-me no teu recanto nervoso e furioso mas assustas-me com o teu lado perverso, o teu lado que julgas ser erótico mas está a um pequeno passo de ser tornar pornográfico, sujo, odiável. E tal como tu, olho para estas paredes brancas. Mas não vejo lá nada, não vejo o teu infinito. Então olho para a janela, para o céu escuro, para as estrelas e deixo-me perder nos meus pensamentos. E aposto que se olhasses para mim agora pensarias o mesmo que eu, quererias saber no que estava a pensar. Mas não olhas. Agora estás no teu recanto, o único sítio do quarto bem iluminado e eu mantenho-me nas sombras à espera de que as queiras partilhar comigo novamente.
O Sol põe-se e o Sol levanta-se, esta é uma verdade inegável. E o Sol a levantar-se é o mais belo que vejo neste planeta. Tu és mais do pôr-do-Sol, eu sei. E compreendo, ver o céu avermelhado, se houver alguma nuvem por perto, elas fazem sombra no céu mas também se pintam de vermelho. Mas não há a magia de esperar horas por isto, não há o contraste de um céu completamente escuro e estrelado e o início da matina, os diferentes azuis. Nem tens a Lua para te abençoar com a sua mais doce luz. E isto faz-me perceber, és o meu oposto, não a minha metade, não chegas para me formar na totalidade nem eu a ti. E por isso parto ao primeiro raio de luz, caminho pelas ruas que intitulo de minhas, sereno, vejo o dia a nascer tal como a minha vida continua, um bocado mais livre que ontem.
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