domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagens

De vez em quando, aqui e ali, encontro alguém interessante nas minhas viagens. Alguém singular, seja na sua totalidade, seja numa qualidade particular. Esta qualidade a que me refiro não se pode ler como um aspecto positivo da pessoa mas simplesmente um aspecto. Tem a sua conotação negativa. E sempre que a aplico numa pessoa é porque essa pessoa é a personificação da conotação negativa. De facto, há muitas conotações negativas neste mundo. Mais do que as positivas. É difícil encontrar qualquer pessoa de qualidade depois de tantas negativas. Acabamos por nos fechar. Abrimos os olhos apenas quando é tarde demais.
As minhas viagens não são muito mais do que desculpas para conhecer novas pessoas e dar-me mais razões para me fechar. Elas são intermináveis e inimagináveis. Mas são necessárias. São parte do meu crescimento pessoal, são palavras minhas que ainda estão por sair, precisam apenas de alguma motivação. Preciso destas experiências novas para passar a conhecer o real carácter das pessoas, quero conseguir lê-las sem ouvir uma palavra delas. Não preciso de mais desilusões perpétuas, bactérias que se colam à alma e vão sugando a sua força até esta estar pendente da piedade de um estranho. E por isso dou tanto valor e mérito ao silêncio. Porque ele é o oposto das palavras ocas, promessas vãs, mentiras... que são elas próprias a sua definição.
Tão silenciosamente e tão violentamente quanto possível o tempo passa. As palavras, as fotografias, as memórias, tudo serve para embelezar o longo processo da vida a passar. A vida é, no fundo, uma viagem. E nesta viagem vamos conhecendo e vamos desconfiando. Intenções há muitas mas poucas reflectem a imagem da alma. E com essas poucas vamos tentando conhecer as pessoas. Porque precisamos delas para sobrevivermos à solidão. E a solidão é a bactéria que mais assola a nossa alma. Por isso queimo as fotografias, vou-me esquecendo da vida, escrevo para deixar o sentimento morrer.
A minha viagem é necessária porque houve pares de pessoas que viveram muito antes de mim a decidi-lo. E haverão outras viagens que serei eu a criar. Existem alguém para me dizer que estou errado? Não. Não têm a minha existência, não compreendem a minha essência. É por isso peço silêncio a esta plateia de palhaços, espelhos partidos e almas danadas. Tentem compreender, não refutar ou analisar. Simplesmente deixem o momento passar, deixem as palavras escapar, não procuro consolo ou companhia na revolta, apenas compreensão.

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