O meu pequeno pedaço de céu tem todo o silêncio e escuridão de que preciso. Tem toda a minha isolação e conforto. Tem todos meus pensamentos desorganizados e as minhas revoltas nunca iniciadas. Tem todo o meu ser cuspido nas paredes. É uma cela. Mas é a minha cela. É o meu espaço. É onde grito e me refugio do mundo que insiste em desapontar-me, apontar-me o dedo e acusar-me de ter desistido do meu destino quando apenas o tento apanhar. É onde me conheço e desconheço, escrevo murmúrios para ocupar o tempo e olho pelas grades para ver o grandioso exterior onde o Sol brilha enquanto espero pela inspiração. Tal como as paredes, as folhas permanecem limpas, silenciosas.
Silêncio, é ele verdadeiramente grandioso. É permanente residente na minha pessoa. Chegou, viu e ficou, conquistou-me à partida e não teve que se esforçar. Identificou-se comigo e eu com ele. Ficou e ocupou grande parte do meu pedaço de céu. Divido a cela com ele e com todas as palavras que nunca saem. Eles e o tempo que teima em passar lentamente são os meus confidentes nas horas de maior escuridão e isolação. E por entre as grades continuo a ver o Sol que se põe, as folhas das árvores a caírem no chão, mortas, secas. Sinto-me como as folhas, morto, seco. Fartei-me de lutar. Deito-me no chão, vejo o tecto e espero que o mundo lute por mim uma vez que seja.
O meu pequeno pedaço de céu não é composto de nuvens brancas e anjos. O meu pequeno pedaço de céu é o meu pequeno pedaço de Inferno, é onde fujo de tudo o que não é meu e do que não sou. E é-me suficiente. Porque me é verdadeiro, porque me é honesto. Lá posso ser quem que realmente sou, o que quer que realmente seja. E o meu pedaço de céu é-me tão mais valioso que todo o esplendoroso pôr-do-Sol que todos os outros admiram sem pensar nas consequências. É-me tão mais valioso que tudo o resto que possuo que me dói agora vê-lo partir-se em desespero pela companhia de alguém ainda mais isolado que eu.
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