terça-feira, 16 de setembro de 2008

Mais uma despedida

Os risos são dispensados para os uivos do vento que se dispersam por entre a negra e silenciosa noite. O papel está em branco e chama pela tinta da caneta para o preencher. A caneta move-se por entre linhas de desdenho e indiferença. Não me sinto completo por todas as palavras antes escritas, então procuro encontrar-me nos risos. Risos à luz da Lua, risos à luz das velas na mesa, cera que derrete para afastar os medos e os fantasmas do passado. E aí fico, inerte, fascinado pela pequena luz que brilha em cima da mesa, a bebida numa mão, caneta noutra, a mesa rodeada de amigos de longa data. Peço um desejo à estrela que este momento dure para sempre.
As histórias de antigamente. Não mais elas me desejam, não mais elas me perseguem. São palavras chaves esquecidas, deitadas para o recanto da memória de boa vontade enquanto que a felicidade dorme no regaço da juventude. Alimentamos-nos deste momento que congelámos no tempo e gravámos numa moldura para ficar num quarto da nossa memória para todo o sempre. Todo o sangue é secundário, todo o cenário é uma distracção àquilo que nos parece ser a noite. A Lua brilha, cheia, lá no cimo, juntamente com as estrelas. Engolimos um último suspiro de tristeza, não queremos sair daqui. Eu, pelo menos, sei que não quero. Paro o relógio, congelo os minutos, apago os segundos. Tudo o que me resta é desfrutar a curto prazo de uma companhia rara mas apreciada. O mais triste é ver os amigos partir.
No final recolhemos tudo o que nos resta, felicidade, riso, a dor ignorada, o desejo, a Lua Cheia lá no céu, distante, as estrelas que brilham sem significado, o vento e os seus uivos. Recolhemos isso e misturamos para formular uma perfeita despedida. É dor que vem ao cima e tudo o que me resta são pedaços de papéis rasgados e sentar-me nos degraus da porta a saborear o vento e a observar a Lua com o fascínio de uma criança que se perdeu no caminho para algures. Foi tempo que nos foi roubado, meu amigo. Foi tempo que foi enganado para que tudo se realizasse bastante lentamente, demasiado lentamente. Fomos tão brevemente próximos que o tempo de uma vida parece a distância dos oceanos que nos separam. Mas vamos ver-nos outra vez, nem que tenha de nadar no meio de tubarões e baleias durante um mês para ir ter contigo. Mais uma despedida, mais um bocado de ti que cá deixas.

1 comentário:

Blood Tears disse...

A etérea Lua e a magia dos momentos que gotaríamos de prolongar....

As despedidas foram feitas para serem recordadas...

Blood Kisses