terça-feira, 9 de setembro de 2008

Espada caída

Responde-me com desdenho, sei que as palavras já se esvaziaram de significado. Já não podes fingir mais, já não podes fugir para o teu recanto assombrado de memórias de sorrisos e choros, desmaios e melodias vindas das nossas almas inter-ligadas. É uma verdade feia que tens de encarar todas as noites em que fechas os olhos e te deixas adormecer. Os poemas já de nada valem, todas aquelas palavras bonitas, todas aquelas histórias de luta e sangue, amor infinito mas no final foste tu que as acabaste. Mataste as minhas personagens e então pinto uma inova imagem de preto, cinzento e castanho, para que tu possas aprender que o mundo é mais que um interminável branco de dúvidas e dor.
Responde-me de alguma forma, eu sinto que algo está mal. Atira palavras ao acaso, deixa-me ler o teu espírito. Não repeles a dor que sentes nem a solidão que completa o teu coração. Entrega-te a mim, corpo e alma, rende-te sobre o oásis da tua mente, pois lá me encontrarás, uma miragem no teu caminho para a felicidade. Põe-te de joelhos, desiste neste preciso momento se achas que já não há nada que possamos fazer, se já não a estrela mais brilhante ao lado da Lua. Entrega-te ao infinito e torna-te vazia, opaca, feita de sonhos distorcidos e verdades partidas. As minhas palavras já não te consolam, nada mais te posso fazer. Os meus braços estão atados atrás das minhas costas e as minhas lágrimas são tudo o que te posso oferecer. Mas já não choro mais.
E são flores que jazem sobre a tua campa. És tu que as posas lá com uma vida passada com sorrisos e alegrias, sangue e choro, tristezas e infortunas do passado. Foste o anjo da morte para tantos, com a tua inocência e contagiante felicidade. Se era isto que estava para ser, que eu me pinte já de preto e que nunca mais volte a ver, que todas as cores escorram da tela e que todas as letras se tornem carvão ardido na minha sepultura. Eu não te consigo dar mais uma safira para brilhar nos teus olhos, tu partiste. Eu não te consigo oferecer mais uma noite abraçados, tu negaste. Eu consigo apenas deixar em ti memórias do meu ser pois agora jazo espalhado pelas águas do mundo, numa procura interna pelas Brumas que me vão levar a casa.

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