sábado, 6 de setembro de 2008

Coração meu

Arde arde coração, esquece a antiga canção, aquela que te aquecia nas noites de Inverno. Arde para sonhar um outro dia. Arde porque o sonho do próximo dia são mentiras. Respira a neblina que desce do céu cinzento, enquanto repousas nessa rocha que dizes que se formou à tua volta. É no segredo das montanhas que guardas o teu silêncio e afastas todas as nuvens negras que flutuam na tua direcção. Como te disse, arde coração, arde que és meu e nunca hás-de sentir enquanto eu não sentir um momento de fraqueza em que o orgulho se afunde na mais profunda solidão.
Oculta-te coração, não tens nada mais pelo que esperar. És feito do mais puro pedaço de alma imortal mas morres aos poucos e poucos no teu caixão de rosas e cravos, sangrando através de túneis de marfim e safira. És o brilho que ilumina o quarto à noite mas tão facilmente te apagas, com um simples sopro. És meu objecto, aquele que atiro directamente para o poço da luxuria para cumprir os desejos carnais que fazem de mim um homem mortal. Oculta-te porque não há nada aqui para ti. Esconde-te onde quer que seja, foge talvez, para longe, para onde encontrares paz e felicidade porque a minha alma vai separar-se de ti, vai para as Brumas. Não serás completo nunca, esse é o meu desejo.
Afunda-te uma última vez. Concedo-te essa vontade. Afinal de contas não sou tão tirano quanto faço parecer. Dou-te uma última oportunidade de te aleijares antes de te obrigar a veres a luz. Espero que sejas feliz nos poucos dias que para mim vão parecer séculos. Espero sinceramente que consigas re-direccionar o teu sangue para os sítios certos e que brilhes de tal forma que nem todo o vento do mundo te consiga apagar. Aí só mesmo o sopro dela te poderá apagar. Mas digo-te já, coração meu, tu o que fazes, tudo o que sentes, tudo o que procuras, é inútil e fútil. Tanto eu como tu não somos nada mais que objectos que somos colocados numa montra duma loja de livre vontade. Estamos velhos meu amigo. Vamos deitar-nos para noutro dia termos uma ideia completamente diferente. Tudo depende da alma, a minha alma imortal que se fecha nela própria.

3 comentários:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Ola!

Gostei muito dos textos que li neste blog, possuem uma escrita extremamente fluída e agradável que envolve o leitor até ao fim. As metáforas parecem brincar num mar de palavras.

Realmente lindos ^^

Blood Tears disse...

o coração tem vontade própria, morre a cada desilusão, mas ressuscita a cada centelha de paixão que se incendeia....

Adorei... ^^

Blood Kisses

Kath disse...

Oh, pobre Leto.