terça-feira, 2 de setembro de 2008

Raposa de água e sangue

Tragam-me o Outono para que ele me possa trazer as folhas caídas. Tragam-me o sorriso da criança no seu primeiro dia de escola. Tragam-me enfim a chuva, a indescritível chuva que provoca tal efeito em mim. É no fim do Verão que se vêm as chamas que caminham pelas florestas dos meus sonhos, em convivência com os todos os seres que habitam nas árvores. São desejos, não comandos, que seguem as tropas que aparecem no horizonte. Puramente inocentes no seu estado de água e sangue, misturado amor com espinhos de traição.
Somos lobo e raposa, animais que perderam a chave do seu lado humano. Perdemos não, deitámos voluntariamente fora para que pudéssemos fugir daqui e viver juntos, unidos, sem quaisquer obstáculos. Orgulhosos, partimos destes prédios de metal e tijolo e encontramos uma boa clareira no meio das montanhas para descansarmos, algum dia expandirmos os da nossa espécie. Encontramos-nos sobre o mesmo luar, o mesmo olhar atento que nos protege, que nos permite continuarmos a linha real dos da nossa espécie, novos lincantropos para manter o nosso trabalho e mostrar ao mundo que existimos.
Uma última melodia debaixo da sombra das árvores, pedimos-Lhe. Uma última razão para uivarmos ao vento palavras de desespero e raiva por toda a dor e solidão que a sociedade nos causou. Um último derrame de sangue para à nossa Terra, tudo o que temos e tudo o que somos, tudo o que lhe podemos dar, antes que possamos escapar para outra vida e então repetir o ciclo. Não somos estranhos ao amor, mas no entanto desconhecemo-lo. Não vai ser por isso que te vou parar de procurar, vez sem conta. Não deixes a mente afectar-te o sono, não deixes as lágrimas afundar-te na vida, não deixes a solidão puxar-te cada vez mais para baixo. Mas caso o deixes, eu estenderei sempre a mão para te apanhar e trazer-te de novo a mim. Desejo esses teus lábios vermelhos de sangue...

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