domingo, 21 de setembro de 2008

Quadro Vazio

Não te quero esconder o sorriso, não quero criar um ambiente rodeado de vultos que apenas nos podemos livrar quando cairmos na água que é sobrevoada pelo nevoeiro. Estamos nas terras altas, sobrevivemos do desconhecido. Desconhecidos somos nós aos outros e a nós próprios. Solidão entregue a labirintos que preenchem mapas de vinho e sangue. Difícil acaba por ser distinguir o amor do ódio. Assim chegam as tuas palavras a mim, assim vagueio por entre espaços vazios de ruas escurecidas pela queda do Sol.
Coloco-te no topo da estátua mais alta das antigas civilizações, representas para mim a Deusa mais alta e mais bela que poderá alguma vez ter existido. Coloco-te aí só para ter a honra de observar a tua sombra desde o nascer do Sol e escrevendo poemas e textos de amor desesperado e cegueira causada pelo fracasso humano do corpo até ao pôr do Sol. Atiro-me à selva, mais que uma presa, sou predador pela tua atenção, persigo silhuetas daquilo que és e não me queres mostrar. Manda-me palavras afiadas à cabeça, expulsa-me de ti e proíbe-me a alma de tocar na tua. Ainda aí continuarei aqui, não quero que desapareças.
São pensamentos venenosos, corroem-me a mente e perseguem-me a serpente da sabedoria para um quarto fechado onde apenas revela os seus olhos, inexpressivos, brilhando no escuro, elevada, pronta a atacar-te. És alguém a conquistar, um coração com um muro à volta para derrubar, uma convicção de isolação a derrotar. Dou-te os meus sons acústicos pois nada mais te posso. Tantas foram as vezes que os dei a alguém e que os atiraram para o lixo com que um pedaço de publicidade barata para a qual nem sequer se olha. Papel mal gasto. Nesse caso a minha convicção é mal gasta. Mas não desisto, não tão facilmente.
Quero ver o teu corpo delineado no pôr do Sol, só assim posso pintar o teu retrato...

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