Deixe-se o ar entrar e roubar-nos o último suspiro da Rainha do cofre tão pobremente guardado. Somos poucos e fracos, lentamente morremos, tão lentamente torturados pela vida que aceitamos a morte de bom grado. Estas terras estão desertas e as novas crianças esfomeadas, a comida ou nasce podre ou é levada pelos pássaros. O nosso sangue é o que alimenta a terra e muitos jazem nela como sacrifício para seu bem estar. A vista é de desolação mas ainda assim sorrimos. Sorrimos pois nada mais nos ensinaram, nenhuma outra educação temos.
As casas demolem-se a si mesmas do pouco uso, os canos enferrujam com a seca. O ácido das chuvas corroí os nossos cabelos e os nossos crânios, corrompe-nos os cérebros e altera-nos os programas, sendo nós nada mais que uma casca para o brilho que teme brilhar no exterior. Somos pobres máquinas, defensores do podre e do estragado, transformando o verde em castanho e cinzento, pisado e doente. Pintamos o que pudemos e tiramos as tintas ao que é novo. Deitamos abaixo a mudança e mantemos a monotonia perto de nós. A riqueza não significa nada para nós, simplesmente vemos o tempo passar e o mundo a morrer.
Arranhamos as bordas do cúmulo de sujidade e sujeitamo-nos a viver no final do mundo. Pela nossa estupidez saltaremos. Saltaremos com tal força e emoção que a meio da queda perceberemos quem realmente somos, o que aqui fazemos, ganhamos vida e pensamos. E será demasiado tarde, o escuro já habita à nossa volta e à volta dos nossos corações. Não há muralhas, não há poços com crocodilos, não há defesas. Há a pura e inocente estupidez de uma vida inteira no campo podre que criámos.
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