sábado, 13 de dezembro de 2008

Do quente ao frio

Passou tanto tempo em que partiste daqui e entraste na neblina do rio. À luz que cega em retorno da falta de velas, beijamos-nos numa troca suave de afectos. A tua pele é tão suave, parece que piso seda e me derreto numa nuvem de algodão. Os teus lábios, tão saborosos, não me quero afastar deles. A cada deslizo da língua, o fascínio em ver o que há lá fora, a chuva que cai, abençoando a união dos nossos corpos, mentes e almas, perco-me mais em ti e nesta paixão que tenho entre mãos. Indolor, esta noite passou sem que a alma chorasse por frio ou abandono. A cada centímetro de ti procurei um sítio onde deixar parte de mim. E foi em mim que repousaste com as tuas palavras, toques e beijos.
Ainda é cedo, não partas de mim. Adoro o teu calor, o teu cheiro viciante, o facto de estares aqui. A tua presença é um sonho, toda esta noite é um sonho. Os toques, os abraços, a beleza. Em toda a honestidade me dou a ti, submetendo-me aos teus encantos. E por esses mesmo encantos vejo que a noite não passa e fui bem sucedido em parar o tempo. A ti me dedico, devoção que ultrapassa a lógica humana. Mas se queremos mesmo achar o amor, a lógica e o pensamento são hologramas, caixas de cartão vazias, sem significado. Simplesmente deixo-me levar por ti, pela sensação que é ter-te nos meus braços, dormindo contigo. E há toneladas de sonhos contigo, abrindo as minhas asas e voando. Dar largas à imaginação e ouvir gargalhadas, abrir os olhos e ver-te com um sorriso na tua bela face, iluminada pela inocência.
E o barco partiu, deixando-te fora da minha vista. O pesar da vida e o cinzento das nuvens tomaram conta da viagem, preenchida com o silêncio e a loucura escondida lá no fundo de mim. Trazes o melhor e pior de mim, pões-me num estado de euforia e eu entro em transe, vendo apenas a tua cara numa espiral interminável, hipnotizante. Mas só a visão do teu sorriso é o suficiente para um dia ganho. E o som desta partida deixa-me com vontade de uma outra vez de te ver. As saudades começaram logo quando me deixaste no cais e partiste no barco.

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