Estava frio quando cheguei a Luton. Não bem frio, mais gelo. Com a bilheteira fechada só me restou a opção de ir para a rua onde estavam os autocarros, um deles destinado a levar-me para Nottingham. Sendo novo nisto perguntei à primeira pessoa que encontrei onde era a paragem do autocarro que desejava. Após uma resposta simples e, a meu ver, embriagada lá encontrei a paragem e vi o horário. Poucos minutos depois aparecia o autocarro com o motorista a descer e a falar-me com boa disposição. A primeira coisa que reparei foi o seu sotaque. Não, não era britânico, era algures de leste (perguntar-lhe as suas origens não estava nas minhas prioridades no momento). Não que isto condicionasse o que quer que fosse, no entanto. A segunda coisa que reparei aqui foi que, apesar do voo e do frio, ainda me sentia em Portugal. Porquê? Porque apesar de eu ter esperado sozinho na paragem certa, meia dúzia de pessoas em paragens diferentes se direccionaram para onde eu estava e sem muita ordem começaram a expor os seus problemas, todos iguais aos meus, ao motorista. Todos portugueses, vieram no mesmo voo que eu e decidiram que eles eram prioridade e não a pessoa que já lá estava a falar com o motorista (eu). Este, no meio da confusão lusa, viu-se obrigado a impor o seu espaço. Alguns problemas ajudaram, outros nem por isso. A maioria estava na mesma situação que eu, tinham bilhetes comprados que queriam ver trocados ou reembolsados, mas nenhum deles ia para o mesmo sítio que eu. Havia até uma senhora que não sabia falar inglês.
Depois de despachar o máximo de pessoas que conseguiu, o motorista lá me concedeu algumas palavras. Mostrei-lhe o meu bilhete, falei-lhe da minha situação e ele apenas disse que eu teria de comprar um novo bilhete se quisesse ir naquele autocarro. Sendo o último da noite, eu cansado e ansioso por chegar a casa, decidi apanhar aquele autocarro. Nesta altura o tom de voz do motorista e as suas maneiras tinham mudado muito. O bilhete custava o dobro do que paguei pelo original e, visto que eu não tinha moedas, o motorista viu-se obrigado a dar troco. Aqui detectei uma primeira falha que não noto em Portugal: o motorista também não tinha troco certo nem qualquer forma sítio onde armazenar o dinheiro para situações como esta. Tendo em conta a situação, já nenhum de nós muito bem disposto e cheio de pressa, o motorista deu-me troco a mais. Não que eu me queixe disto mas não me parece uma solução muito justa. Depois disto, sentei-me do lado direito do autocarro e esperei que ele partisse, observando a pequena localidade de Luton antes de seguir para a escura autoestrada.
Este autocarro tinha duas coisas boas que não encontrei até hoje em nenhum autocarro português: cinto de segurança e casa-de-banho. Havia também um sistema de opinião via-sms do serviço pela parte da companhia de autocarros que eu decidi não utilizar. No final da viagem fiquei feliz de não o ter feito. Visto que estava no lado direito do autocarro, algo que acontece imenso em Portugal, demorei a reparar que ia no lado errado da estrada. Mas quando o reparei, à entrada de Leicester, a adaptação foi lenta. Isto mais o facto de ver uns quantos postos de abastecimento pelo caminho da Repsol fizeram permanecer o sentimento de ainda estar em Portugal. Mas tudo isto desapareceu quando cheguei aos arredores de Leicester. Para começar os semáforos ficam vermelhos e verdes ao mesmo tempo antes de ficarem verdes. Os sinais à beira da estrada tinham luzes próprias para os tornar mais visíveis. Isto relacionado com as pequenas casas típicas inglesas (algo que vim a verificar na minha estadia), as lojas abertas até muito tarde (eram por volta das 23h quando vi tudo isto), existência de Blockbuster, táxis pretos e redondos e muita vida nocturna trouxeram-me à realidade Inglesa. O único contraste que verifiquei entre os arredores e a cidade de Leicester foi o facto de os arredores serem dominados por vivendas e a cidade por prédios. No entanto, os exteriores são todos feitos do mesmo material: tijolo vermelho-escuro.
Em Leicester o autocarro parou, tal como tinha sido avisado a Susana. Eu aproveitei e saí do autocarro para respirar algum daquele ar nocturno inglês. É igual ao Português mas mais seco e frio. Fiz bem em fazer isto pois o motorista tinha retirado a minha mala do espaço reservado para as malas no autocarro. Visto que havia um autocarro com o mesmo número que o meu parado à frente deste eu fui perguntar ao motorista se era necessário trocar de autocarro. Ele fez um olhar de surpreendido e respondeu-me que não, que aquele autocarro ia até Nottingham. Expliquei-lhe que perguntava isto pois tinha retirado a minha mala e ele rapidamente me pediu desculpa e voltou a colocar a mala onde estava até então. Voltámos para dentro do autocarro, sentei-me do lado esquerdo desta vez, o motorista certificou-se que todos iam para Nottingham e voltou ao caminho. Esta parte da viagem já foi mais curta, menos de uma hora a chegar a Nottingham. A entrada de Nottingham não deixa muito a notar à noite, tudo muito escuro, pouca iluminação. A cidade em si é constituída de prédios altos e ruas muito movimentadas.
Na paragem final a Susana estava já à minha espera. Desci, recolhi a minha mala e o motorista pediu-me desculpa pela confusão e pela forma como me falou e explicou que tinha sido a situação de todas as pessoas lhe irem falar ao mesmo tempo que o levou a falar assim. Naturalmente, compreendi-o pelo que lhe falei novamente com boa disposição e agradeci-lhe por uma agradável viagem. Aí comecei a viagem para casa com a Susana, andando um pouco por um centro comercial fechado na parte das lojas mas com um trajecto pelo interior que atravessámos como que um atalho. Chegámos ao centro da cidade e aí, para escaparmos aos bêbados nas paragens, apanhámos um táxi. Cheguei a casa, comi qualquer coisa e fomos dormir.
Margaret Whiting and Johnny Mercer - Baby It's Cold Outside
1 comentário:
Quando ouvi esta história pela primeira vez adorei!!! Teve muito mais piada hihihih
Claro o que tem mais piada é imaginar-te a viver todas estas novas emoções. senhor, como deves tremer ehhehehhe
Ora, (um pouco de egocentrismo) eu estava aqui como uma galinha que deixou a cria sair de baixo da asa.
ehheehe :)
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