Começo a contar fantasmas,
Já nem consigo dormir.
Há memórias vivas perto de mim,
Pesos invisíveis nas pernas
Que ainda no ano passado eram almofadas.
Deito-me agora sem ti
E a cama parece mais fria assim.
O sono foge-me e o silêncio corta
O ar que respiro e a memória morta.
A lágrima escondida atrás do olho
Resiste a sair e fica de molho
À espera talvez das palavras certas
Para descrever a falta que me despertas.
Começo a acumular fantasmas
Por cima desta culpa já velha amiga.
Faço-me acreditar funcional
Mas na verdade estou mal.
Custa-me falar, quero contar
Todas as sílabas de teu ronronar
Ou a gentileza do teu olhar
Longe agora da cadeira vazia.
Mantenho a tua ausência
Desconto a carência,
A noite já vai para lá de tarde
E restringir-me já me arde
Nas pestanas pesadas
Destas noites mal passadas.
Repito que te amo e digo-te adeus
Em braços que foram sempre pousos teus.