O nevoeiro ia alto e a noite calma, já serenada estava a mente. Não havia mais palavras, mais gritos, mais raiva, nada que alterasse o ambiente da mente jovem que assistia a um conflito. O mundo lá fora era tão calmo, olhava ele pela janela fora enquanto as cicatrizes se alojavam na sua memória e lhe faziam esquecer de quem era. A tempestade daquela noite decorria dentro de portas. Não podiam as lágrimas parar, os berros cessar? Tão jovem e já tão marcado por dentro, não poderia ele crescer e conhecer a realidade mais tarde? A noite continuava e nem uma gota de chuva caía dos tenebrosos céus.
Parecia que a caneta lhe escorregava das mãos. Não conseguia escrever, da forma como as suas mãos estavam a tremer. O sangue fervia, a dor cortava. Sentado sozinho no seu quarto, sentido-se abandonado, escrevia o que mais temia. Fechava os olhos e abandonava o seu quarto, a sua casa, voava para uma ilha, só ele e a sua felicidade. A sua infância era um vazio, as memórias eram distorcidas e havia mais demónios e sombras que sorrisos. Andava à deriva, perdido, magoado, se não se sentia em casa, em que cama poderia ele descansar?
Já o espírito era selvagem e a esperança o tinha abandonado, solitário rapaz que caminhava a noite bêbado e desesperado. Caminhava mecanicamente, o destino era-lhe igual, tudo lhe era cinzento na altura. A alegria foi-lhe arrancada na infância. Coração partido e alma corrompida, caminhava e bebia, trabalhava, sempre na mesma rotina. Não dormia, tinha pesadelos, não escrevia, rasgava o papel perante tanta raiva e frustração. Palavras não descreviam o que ele não sentia, apenas o que lhe doía. Tudo poderia ser superado, sempre acreditou, ingenuamente, mas até ela o abandonou.
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