domingo, 21 de novembro de 2010

Mariposa

Escrito a 06 de Maio de 2009

Não havia amor nos seus olhos, apenas doença. Doença de ser e sofrer, pensar e chorar até que as lágrimas limpassem o último rasto de carne que lhe passasse pela mente. Não parecia passar, o que quer que fosse, doces murmúrios acordados na noite, infelizes pela escuridão dos pensamentos. Talvez não fosse nada, tudo um fingimento subtil para deixar uma marca nas vidas, distorcendo a realidade. E a verdade parecia ser que o seu Universo estivesse perdido, esperando ser salvo da ignorância do amor. Afinal mais uma mentira do dia-a-dia. Nessa luz brilhante e profunda que a assola, parecendo ela pertencer à mentira e não a mentira a ela. Então há que perceber, a sua vida era triste e o fingimento eram os seus sorrisos. Desisti porque não seria eu a salvá-la, afastei-me por ser mais um demónio dela. Numa constante negatividade, abrindo os olhos e cegando, era nada e em nada se reflectia. As palavras pareciam escritas para ela e a ela nada lhe diziam, nada sobressaía porque nada ela sentia.
Nesta tragédia imoral, sendo eu um medo espectador, as sombras dançavam na luz fraca das velas e nelas o romance desvanecia. O último sopro do vento levava as folhas caídas lá fora e cá dentro as velas apagavam-se e os corpos permaneciam inertes, sem vida, sem aquela febril e selvagem tentação, sem o suor do calor após um acto de amor. A noite caiu-nos em cima e nós a ela nos rendemos. Seus servos, de joelhos pedimos que a escuridão levasse os demónios dela mas não poderia lavar-lhe as lágrimas de desespero. O que suspirei por esta causa perdida, quantas noites sozinho a desejei lá, sem ela sendo nada, para ela mais um. Um comum vilão que ousou perturbar a sua intranquilidade de mente, temporário reflexo invertido daquilo que ela queria que fosse, não daquilo que realmente era. Olhos vidrados, tentando encontrar a alma onde só penetra o medo, que terra apara a sua solidão? Ela abandonou o mundo, o seu coração era um castelo com muralhas de aço, vazio, deixado ao lento e doloroso colapso.
Parecia tudo um sonho, sendo tudo material, os beijos, o álcool, as palavras. As escritas oferecidas, os sentimentos, a alma entregue ao mar por domar, enquanto o seu barco desaparecia nas brumas, afastando o que eu tanto desejava e que nunca pude ter. Ainda assim parti com um sorriso na cara, por uma noite dominei a escuridão, por uma noite matei a solidão, senti e quis acreditar que também fiz sentir. Não abandonei este sonho, quero que estas sejam as memórias das minhas décadas, Ainda que ela tenha partido, aceito que ela me tenha deixado, continuo na cama da ilusão, bebendo o vinho e relembrando o seu escasso sorriso, a melodia da sua voz, a beleza dos seus olhos e a impotência de a fazer feliz. E aqui me apercebo, não seria eu a salvá-la mas sim ela a mim. A quem eu sempre acreditei e que ainda não morreu dentro de mim.

1 comentário:

Blood Tears disse...

E assim viramos mais uma página da vida.....


Blood Kisses