quarta-feira, 20 de abril de 2016

A queda dos gigantes


É engraçado ver o mundo a desmoronar-se. Não literalmente. Não me refiro à queda literal de pedaços enormes de terra e pedra ou o movimento frequente das placas tectónicas. Refiro-me mais à queda do império da electricidade e internet. Aquilo que foi libertado para o mundo para ser usado como referência de liberdade e para servir como ferramenta para a expansão do nosso conhecimento foi convertido no que mais faz de nós mortos-vivos. O que é irónico tendo em conta a quantidade de séries romantizadas que saem todos os anos a descrever cenários pós-apocalípticos (algo que se aproxima cada vez mais com a possibilidade de Trump se vir a tornar presidente dos Estados Unidos). O mais estranho nesta situação é que as pessoas, estes mortos-vivos que acabei de referir, mais imaginam e desejam que algum cenário pós-apocalíptico aconteça. Como se uma série aligeirada de forma a não ferir audiências mais sensíveis que pinta um cenário mais que negro bastasse, a audiência dessa série (que não é pouca) ainda sonha com a possibilidade de acontecer mesmo. Isto acontece porque todos queremos ser os protagonistas. Mostrar que temos valor. Mostrar que frente à adversidade nos conseguimos superar e ser mais do que somos actualmente. Até nos dizemos que não o somos já porque temos o trabalho e o cão e falar com aquele na internet, estar ao telemóvel com o outro. Ninguém vê a ironia de que nesse cenário não existiria electricidade quanto mais internet ou telemóveis. Isso seria o verdadeiro caos: passar um dia desligado das tecnologias. Será que o Sol tem uma entrada usb? Talvez assim conseguisse carregar o telemóvel...

Não somos todos assim. Sinceramente, gostava de me enquadrar mais no "somos" do que no "são".  Muitos (que não eu) usam a internet de uma forma positiva. Aqueles que conhecem a internet para além da wikipedia e facebook. Esses são verdadeiros heróis. Aqueles que partilham conhecimento ou que simplesmente o procuram, que aproveitam estas novas tecnologias para crescerem tanto como pessoa como financeiramente. Há todo o tipo de pessoas a navegar por aqui (esta é a parte em que imaginam que eu disse algo absolutamente inspirador que vos faz pensar em que tipo de pessoa online são. Força, pensem nisso, eu dou-vos um bocado de tempo).  Aproveito para dizer que sou o hipócrita. É esse o tipo de pessoa que sou. Uso as tecnologias, especialmente o meu computador, para jogar e procrastinar e inventar desculpas para não escrever (isto torna-se especialmente difícil quando não se tem um cão para passear ou não se liga muito aos amigos.) Mas depois consigo vir para o meu blogue online escrever um texto enorme e aborrecido de como se devia largar as tecnologias e ver o mundo lá fora. No entanto. consigo compreender como uma pessoa pode passar pouco tempo à frente de um ecrã. Consigo ver como há pessoas com estilos de vida bastante diferentes ou que já trabalham com computadores e que, quando chegam a casa, é a última coisa que querem ver à frente. Muito honestamente, com o número de pessoas que vão contra mim na rua e nos centros comerciais porque estão demasiado agarrados ao telemóvel até consigo detestar facilmente as pessoas que não o fazem e rapidamente julgá-los sem saber a razão. Só não perdoo os adolescentes, esses não fazem um cu da vida!

Hoje em dia estamos no cume da montanha das possibilidades. Não só do conhecimento. Também de mudar de vida, ser mais e melhor. Há quem arranje desculpas (como eu, que digo que nada sai) e há quem tenha um plano. Infelizmente, há mais pessoas que caem na minha filosofia de vida do que nas que têm uma filosofia de vida funcional. No meio disto tudo acaba por nascer o ódio próprio (se este termo não existir vou registá-lo e ganhar milhões). Nada é funcional com ódio próprio. Mas isto será um problema que lidarei noutra altura. Sabia que tinha de escrever alguma coisa e foi isto que saiu. É sempre mais divertido do que mais um texto de como uma paixão não deu frutos (como se não tivesse escrito o suficiente disso).

Acho engraçado ver o mundo a desmoronar-se e culpo os tablets, os smartphones, os computadores e a preguiça geral que veio com a internet e a forma como as pessoas a usam. É errada. É tudo mais fácil, mas não é por isso que não se deve sair ao mundo num dia de Primavera a cheirar a Verão e perceber que os raios de sol não vêm com "free wifi", só uma energia ilimitada e um mundo lá fora para explorar. É lá que os miúdos devem estar, a rir-se às gargalhadas de andarem a brincar à apanhada, não colados à televisão a ver um dos vinte mil canais infantis ou agarrados ao tablet a jogar o novo jogo fácil e com muitas cores. Não que não possa ser educacional, mas qualquer dia  nascem humanos alérgicos a oxigénio e à luz do Sol. Saiam de casa, bebam um café numa esplanada e deixem o telemóvel em casa. Percam-se uma vez (falo com experiência nisto, o meu sentido de orientação é inexistente) e vejam onde o passeio vos leva.

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