Levanto-me e vejo que o Sol brilha, abrasador como as tardes de Verão da minha infância. Observo a luz a entrar na casa como um presságio do Verão que há de vir, muito mais quente que esta primavera morta, muito mais melancólica e preenchida com música e álcool do que agora. Movimento-me mas estou parado, exactamente no mesmo sítio que agora estou mas há um ano atrás, quando proferiste aquelas palavras e trouxeste a minha alma, o meu ser, de volta a este corpo, a esta carcaça velha e demasiado usada, inconsciente e imatura, uma prisão de carne e pele para que possa trazer alegria a outros, para que possa ser aquilo que outrora pensei que poderia ser, antes de te conhecer, minha maldição, deusa da imperfeicção que sou, tu que me cegas com esses olhos azuis que morreram depois de te teres despedido de mim. E nunca te vi chorar, tu que te consideras uma pessoa muito emocional. Não sei se me teria ajudado a sorrir ou a avançar, mas sei que prazer me daria porque adoro ver pessoas a sofrer, mas também me traria dor porque és mais do que uma pessoa para mim, és uma alma que esteve ligada à minha, noutro lugar qualquer que a minha mente desconhece, mas que agora partiu, apesar dos ocasionais telefonemas, com palavras de alegria que rapidamente se transformam em desespero. Afasto os pensamentos de ti como se fossem uma doença que me corrompe o corpo. Limpo o meu ser à vergonha da humanidade num sacudir rápido, aceito o vento como que uma distracção à humidade que se alastra no ar enquanto que a madrugada desce sobre mim. Devoto-me então à Deusa que tanto detestas, àquela que não aceitas como um todo, num misto de confusão, uma divisão. Procuro também conforto na existência que rejeito de Satanás, apenas porque sei que o temes. Percebes então que te quero afastar até seres uma pessoa comum, apenas mais uma que fala comigo e eu não me poderia importar menos se deixasses de falar comigo de repente. Mas não o és, pelo menos por enquanto. Entretanto estarei cá eu, agarrado à cerveja e amante da Deusa, reservado apenas para ela, para criar uma nova humanidade da qual já te falei, da qual não voltarás a existir e eu poderei viver a minha vida de raiva e ódio perante as pessoas, dominando-as todas. Senhor do Caos, denomino-me eu por ter sido o teu amante, borboleta do caos, borboleta que fugiste para longe de mim.
Falta pouco para passar um ano e ainda me sinto perdido em ti...
Sem comentários:
Enviar um comentário