segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Partir no silêncio

Olha os pássaros a sobrevoarem o meu abismo. Interiormente caio, à superfície do meu exterior resido. À pele o vento canta mas não o deixo ser ouvido, não se enquadra com a minha realidade. Ele apenas me traz o frio e o frio não me é bem-vindo. Até os céus azuis e dias repletos de risos e abraços são afastados como a sensação do vómito quando nos sobe à boca. São estes os meus dias e as minhas noites. São todos os pensamentos perdidos, as frases de um poeta inspirado que já morreu, horas passadas a procurar um significado para as suas palavras que existem com coerência mas sem justificação. Determino que é uma procura incessante e tempo desperdiçado, deixo a noite virar manhã e finalmente fecho os olhos.
Deita-te na relva e vislumbra o céu. Está vazio. Está assim por um simples facto: tens os olhos fechados. Deixaste envolver nas tuas definições de loucura e verdades definidas que te esqueces que a vida não é assim tão simples, é uma espada de dois gumes. Presento-te com esta verdade e tu abres relutantemente os olhos. Vês todas as cores, compreendes de onde vêm os gritos e risos das crianças, percebes onde estás. Levantas-te e perguntas-me porque estou aqui. Não tenho resposta. Posso, no entanto, dizer-te que sou um silêncio voluntário que cresce regularmente e ao qual te vais aos poucos habituando. Se não estás satisfeita posso sempre partir. Não tens que o pedir ou ordenar, tens simplesmente que olhar para o horizonte e incorporares o silêncio. Aí deixar-te-ei sozinha com os teus pensamentos e as tuas loucuras. Partirei mas isso não me deixará satisfeito. Deixar-me-à incompleto, igual ao que sou perto de ti. É assim que me conheces e é esse o pouco que te ofereço.
Vejo os pássaros a voarem tão simplesmente, tão abstraídos desta realidade que ocorre no chão. À superfície posso parecer calmo, posso ser razoável ou introvertido mas no interior estou perto de explodir, cada minuto que passa, cada toque sentido, cada palavra sem sentimento que me atinge é apenas mais um passo perto do abismo. E lá há tanta escuridão. Escuridão que nos rodeia e conquista, que torna felicidade em medo, o medo em pânico e o pânico no silêncio das nossas almas. Mas não haverá mais caminhos a tomar, mais separação ou conflito a resolver. Será a isolação dos pensamentos, a tranquilização da alma. Será a solução da nossa guerra, ambos os nossos interesses resolvidos e satisfeitos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Tenho de te dizer

Tenho de te dizer, talvez já fosse tempo de tudo isto acontecer. Já passou o tempo de ser o que quer que fosse que estivesse destinado. É uma vergonha desperdiçar mas nada se perde nada se nada se teve para começar, certo? Suponho que tenha sido um tolo por lutar sozinho contra a maré... não bem contra a maré, mais contra ti. Agora parece que nada significou, nada foi. E talvez seja para o melhor, neste mundo que me é desconhecido estou habituado a andar sozinho, em silêncio. A tua voz era demais para eu aguentar, especialmente quando a tua pele me recusava e os teus lábios deslizavam para fora do meu alcance.
Fui o aclamado mestre de ilusões, a minha maior mentira foi a mim próprio. Menti-me, esperançoso de que as palavras que são tão facilmente ditas, escritas, pensadas fossem verdades. Dediquei-me a ser um suporte, uma viga que teima ceder. No final sinto que o edifício caiu todo sobre mim. E eu sozinho carrego o peso do mundo às costas, com tantos espinhos cravados na garganta, tão cansado de aguentar este peso nas minhas costas. Penso tantas vezes em ceder mas dar valor à tua existência é uma nova batalha que travo. Verifica-se algo, no entanto, subsisto do pouco prazer que me dás no meio de tanta dor.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

The return to the undefined

We're made of highs and lows. We make mountains out of molehills and we disturb the wind with screams of war replaced by moans of eternal passion. We go back to war for power and leave everything that makes us human behind. This is the essence of the human that walks in this land. Blood-red sky, dark trees, enlightened minds with thirst for destruction and havoc, poverty rules these streets. It's an empty kingdom after all. The funny thing is I have a feeling I've been here before...
Ah, I remember it now. This is the kingdom of the forsaken, where the king-knight reigns, where I saw his smile for the first time and carved it in my memory. I have spoken of this land so many times, many more did I wish to return but never again did I lose myself and was able to come back. Now here I am. But there is no knight to greet me, no dark forest, no perils to endure along the way. All that I see before me is cold cement and an empty hill. The flag is still blown by no wind but the kind is no longer there. I approach the same spot where I once sat and look to the other side of the hill. What I see is only devastation, a war that left our world and continued on this.
I walk further, I enter a city with sky-scrappers built of broken glass and corroded iron. No soul to be found, no king or knight to explain this sight to me. No one to guide back to my own world. This is a frightening thought. Fortunately it's interrupted by a shout of a familiar voice:
"Get out of there, they'll see you."
I look back and inside a building there he is, the knight with his usual blank expression but looking a bit more tired, as if had aged.
- "What happened here?" - I ask him.
"Everything was given and all was taken."
- "Taken by who?"
"Everyone. My king showed it all, sea and sky, even the trees. He let them in, it was their time. And they took it all. Even the birds."
- "Is he still alive?"
"I am" - he slowly approach us from the shadow behind the knight - "I have to say that your appearance provokes both sorrow and joy. Your presence is such and earthly sight, specially after the devils that have taken over my great kingdom."
- "What devils? Who are they?"
"They are of your time. But they are not of your kind. These man dream of machines, war and death."
- "But who ar-"
"You must go back now. Back from where you came. This is not your place nor your fight. Your purpose here exists no longer and a new one is yet to be created. Go back to your world and write tales of war where life ceases to exists. Take advantage of the fear you see here and give to the people in your world. Make it right for when you return I'll want to sit with you on the hill and talk of philosophy, life and love. Go quickly and return only when time stops for you and for you alone."
I came back the way that I walked, desolated for seeing such misery and desperate for a sight of that smile. I came back and wrote, feared and loved. I came back and I write now with the purpose to come back to that hill, to see his kingdom his once again. I'll wait my time and hope for it to be enough to restore sanity into is weary head.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Por vezes

Por vezes não conseguimos ver o que temos à nossa frente, por não haver espaço ou por simplesmente não querermos ver. Por vezes basta-nos um caminho, uma memória, uma companhia para nos fazer ver. Talvez o que chega é desesperar por algo, voltar a casa e não o ter. Penso que isto nos faz aperceber de que precisamos simplesmente de seguir em frente. Porque uma casa vazia por vontade é sempre melhor que uma casa cheia de estranhos a falar de tópicos vazios.
É preciso um compasso de espera até voltarmos a erguer-nos de manhã no frio do Inverno. Os lençóis estão quentes, em oposição ao ar do quarto. Mas na cama divagamos e imaginamos o impossível: quebrar aquela barreira da pessoa impassível. Sorrimos e sonhamos até voltarmos à consciência de que nada daquilo aconteceu, provavelmente nunca irá acontecer. Então rogamos ao frio e ao Inverno, sejam complacentes e permitam o retorno do Verão e do calor para podermos sair da cama, caminhar pelas ruas e sentir a brisa a aclamar a calma da alma. Mas é tudo um sonho. Por vezes querer não basta.
Por vezes basta um velho trilho, uma lembrança, uma chuva para nos abrir os olhos e permitir-nos ver o que existe ao nosso redor, uma mão cheia de nada para além da nossa luta vã contra um muro sólido. Invariavelmente somos derrotados. Existe um limite até onde podemos lutar antes de baixarmos os braços e resignarmos-nos à nossa condição permanente. Por vezes o silêncio chega-nos. A mim basta-me.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Coração ou mente

Se eu tivesse de escolher
Coração ou mente,
Escolheria o errado
E rezaria pelo certo.

Se eu tivesse de esconder
O meu lado consciente,
Por querer ver-lo sanado,
Fá-lo-ia de coração aberto.

Porque o tempo não remenda
Os cortes na alma que deixaste,
O vento não leva facilmente
As nossas desavenças e amuos.

Se eu os tivesse todos à venda,
Os sentimentos que em mim deixaste,
Bastar-me-ia tocar-te levemente
E tu leva-los-ias, afastarias os nossos mundos.

Se eu tivesse de escolher
Coração ou mente,
Vencia a minha lógica,
Ignorava o instinto,
Levava a doença crónica
Do sentimento, de todo o sentido.

Se to dissesse, mentia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagens

De vez em quando, aqui e ali, encontro alguém interessante nas minhas viagens. Alguém singular, seja na sua totalidade, seja numa qualidade particular. Esta qualidade a que me refiro não se pode ler como um aspecto positivo da pessoa mas simplesmente um aspecto. Tem a sua conotação negativa. E sempre que a aplico numa pessoa é porque essa pessoa é a personificação da conotação negativa. De facto, há muitas conotações negativas neste mundo. Mais do que as positivas. É difícil encontrar qualquer pessoa de qualidade depois de tantas negativas. Acabamos por nos fechar. Abrimos os olhos apenas quando é tarde demais.
As minhas viagens não são muito mais do que desculpas para conhecer novas pessoas e dar-me mais razões para me fechar. Elas são intermináveis e inimagináveis. Mas são necessárias. São parte do meu crescimento pessoal, são palavras minhas que ainda estão por sair, precisam apenas de alguma motivação. Preciso destas experiências novas para passar a conhecer o real carácter das pessoas, quero conseguir lê-las sem ouvir uma palavra delas. Não preciso de mais desilusões perpétuas, bactérias que se colam à alma e vão sugando a sua força até esta estar pendente da piedade de um estranho. E por isso dou tanto valor e mérito ao silêncio. Porque ele é o oposto das palavras ocas, promessas vãs, mentiras... que são elas próprias a sua definição.
Tão silenciosamente e tão violentamente quanto possível o tempo passa. As palavras, as fotografias, as memórias, tudo serve para embelezar o longo processo da vida a passar. A vida é, no fundo, uma viagem. E nesta viagem vamos conhecendo e vamos desconfiando. Intenções há muitas mas poucas reflectem a imagem da alma. E com essas poucas vamos tentando conhecer as pessoas. Porque precisamos delas para sobrevivermos à solidão. E a solidão é a bactéria que mais assola a nossa alma. Por isso queimo as fotografias, vou-me esquecendo da vida, escrevo para deixar o sentimento morrer.
A minha viagem é necessária porque houve pares de pessoas que viveram muito antes de mim a decidi-lo. E haverão outras viagens que serei eu a criar. Existem alguém para me dizer que estou errado? Não. Não têm a minha existência, não compreendem a minha essência. É por isso peço silêncio a esta plateia de palhaços, espelhos partidos e almas danadas. Tentem compreender, não refutar ou analisar. Simplesmente deixem o momento passar, deixem as palavras escapar, não procuro consolo ou companhia na revolta, apenas compreensão.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pequeno pedaço de céu

O meu pequeno pedaço de céu tem todo o silêncio e escuridão de que preciso. Tem toda a minha isolação e conforto. Tem todos meus pensamentos desorganizados e as minhas revoltas nunca iniciadas. Tem todo o meu ser cuspido nas paredes. É uma cela. Mas é a minha cela. É o meu espaço. É onde grito e me refugio do mundo que insiste em desapontar-me, apontar-me o dedo e acusar-me de ter desistido do meu destino quando apenas o tento apanhar. É onde me conheço e desconheço, escrevo murmúrios para ocupar o tempo e olho pelas grades para ver o grandioso exterior onde o Sol brilha enquanto espero pela inspiração. Tal como as paredes, as folhas permanecem limpas, silenciosas.
Silêncio, é ele verdadeiramente grandioso. É permanente residente na minha pessoa. Chegou, viu e ficou, conquistou-me à partida e não teve que se esforçar. Identificou-se comigo e eu com ele. Ficou e ocupou grande parte do meu pedaço de céu. Divido a cela com ele e com todas as palavras que nunca saem. Eles e o tempo que teima em passar lentamente são os meus confidentes nas horas de maior escuridão e isolação. E por entre as grades continuo a ver o Sol que se põe, as folhas das árvores a caírem no chão, mortas, secas. Sinto-me como as folhas, morto, seco. Fartei-me de lutar. Deito-me no chão, vejo o tecto e espero que o mundo lute por mim uma vez que seja.
O meu pequeno pedaço de céu não é composto de nuvens brancas e anjos. O meu pequeno pedaço de céu é o meu pequeno pedaço de Inferno, é onde fujo de tudo o que não é meu e do que não sou. E é-me suficiente. Porque me é verdadeiro, porque me é honesto. Lá posso ser quem que realmente sou, o que quer que realmente seja. E o meu pedaço de céu é-me tão mais valioso que todo o esplendoroso pôr-do-Sol que todos os outros admiram sem pensar nas consequências. É-me tão mais valioso que tudo o resto que possuo que me dói agora vê-lo partir-se em desespero pela companhia de alguém ainda mais isolado que eu.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Adaptação

Todas as pessoas têm momentos que os definem, vários, espalhados pela vida. Todo o ser tem um sítio onde se adapta, onde se sente confortável, onde sente que pertence. O meu é aquele pequeno buraco de inferno. Porquê? Porque lá existes tu. Porque lá foi onde entraste na minha vida, uma criatura que não era fruto da minha imaginação mas algo muito maior que isso. Tu, que me fazes sonhar, escrever e imaginar. Tu que estás tão longe mas presente. És já mais do que uma sombra nos corredores, és mais que uma silhueta à frente da janela.
Deixa-me escrever de guerras e mortes, desejar sangue e escapatória. Deixa-me sentar em silêncio, observar o escuro. Deixa a minha mente percorrer o espaço que ainda é desconhecido. Deixa-me inventar algo de novo, liberta-me para a revelação de algo menos importante que tu. Sai da minha mente, deixa-me dormir descansado uma noite, até ao amanhecer. Até eu me lembrar de novo de ti. E aí encontrar-te não na minha cama como sonhei durante a noite mas nalgum lugar que não conheço. Continuar o dia contigo em mente, ter mil palavras para te falar e não conseguir acabar qualquer frase. Acaba com a minha solidão à noite, tenho um copo na mão, um sorriso na cara e tu do outro lado do mundo, mais longe de mim do que alguma vez desejei.
Todos têm os seus momentos de tranquilidade, de esclarecimento. Tu provocas-me uma guerra na mente. E tão simplesmente como a começas, acabas-la. Apenas um sorriso, uma palavra, quanto mais simples melhor. É tudo o que desejo de ti, é tudo o que tenho de ti. Por vezes prefiro o silêncio. Mas a distância não é um inimigo, é um aliado. Porque quando volto para ti, tranquilo de espírito, dou-te tão mais valor do que se cá estivesses o tempo todo.