quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A noite não é justa

A noite não é justa. O reflexo do vazio, para que serve? Porque alimentamos tanta a nossa angústia, raiva que leva a mais raiva, vontades homicidas, acções injustificadas. Confessa-se a ignorância e julga-se justo. Somos alguém para julgar os outros pretensos "alguéns"? Tenho promessas a cumprir, objectivos a concretizar, não tenho tempo para isto, para eles e os seus olhares. Não é que me sinta perseguido, apenas me mata um pouco por dentro a hipocrisia destas pessoas. Dizer e reclamar e no final não o ser. Querem modelos, constroem heróis, vivem de mentiras, em mundos de fantasia que querem transpôr para a realidade. E quando acordam, vêm uma realidade bem mais fria do que queriam, baixam os braços, desistem e juntam-se a todos os outros que esse caminho percorreram. Todos zombies, intelectos mortos e corpos a apodrecer. Eu digo, que apodreçam em paz porque em paz eu governo o meu pequeno mundo imaginário. E lá sou feliz porque tudo me corre como quero, tudo vai bem, o Sol brilha quando deve brilhar, explode quando a minha raiva devo exterminar, apaga-se quando quero adormecer. E tudo isto porque uma sombra hoje passou por mim quando eu não dormi.
Não há mensagem a passar, sentidos negativos a recordar, vez sem conta e ainda desconfiam. Não encontro boas intenções, os esforços tornaram-se mais fardos do que actos de boa gestão pelo futuro daqueles que ainda não existem. Faz tudo parte de uma memória esquizofrenia? Sei que sou um ser de mais perguntas que respostas, faço de tudo para responder às minhas perguntas, exploro o mundo que me rodeia por mim próprio, aceitando as consequências das causas que crio. Ainda assim os actos humanos levam a mais perguntas sem respostas e mesmo as respostas às perguntas criam muitas outras perguntas. Desperdiçamos tanto, damos tanto talento e inteligência, emoção e beleza pelo benefício da vanidade e da futilidade. É mais a ironia da Deusa na sua criação perfeita, porque todos nós somos perfeitos, pois tudo isto nos define como humanos. Somos qualificados para falhar, desistir, rendermos-nos, para vencer, dar alegrias, contentar. É uma certidão com que nascemos. Temos esta forma, seguimos este caminho porque somos humanos. Aceitamos isso e adaptamos-nos, na minha opinião, a nossa melhor qualidade. A quaisquer mudanças, adaptamos-nos. Muitos de nós até aguardam ansiosamente esta mudança. É um mundo cruel e frio, sim, mas é o nosso e é o que nós estamos a matar porque somos humanos.
Uma num milhão. Completa, verdadeira em momentos de loucura, com todos os seus complexos e medos. Uma em vários milhões. Não importa, é uma e isso é que é importante, ser ela. Uma. Um ser singular que existe por obra do acaso ou não tanto por isso. Existe, tanto quanto as nuvens lá fora. E isso alegra-me. Basta-me. Estar lá, do outro lado, feliz ou infeliz, a falar comigo ou em silêncio. Mais que uma ilusão, uma obra da minha imaginação, já a conheço há tempo suficiente para saber que ela é mais do que eu construí na minha mente. Absolutamente inacreditável, ela estar aqui. Inquietante, por vezes desconfortável, imprevisível, uma parede contra a qual corro, vez sem conta, de forma igual. Quando vou parar? Nem sei se quero parar. Acho que só me quero encostar à parede e adormecer. Imaginar com neve e uma vida feliz à beira de um lago, numa floresta. Adornar o sonho com o que ela me diz, com a sua voz, com o seu toque, os clichés da memória. E sonhar pela noite fora, acordado e sem luz de pensamentos sem ser ela. Única, sem menor das dúvidas.

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