Que resta de ti e mim, o nosso conflito sem fim, pelas sombras do passado e brumas do futuro. Atrevessemos este campo em glória, com a nossa irrefutável resistência em admitirmos que somos e que nos atrevemos a sentir, um pelo outro e por nós mesmos. Acima do orgulho, onde encontramos a vontade e a força de fugirmos do que crescemos em nós? E porquê? Que ganhamos com tudo isto? Ganhamos a solidão que nos leva a escrever de futuros iguais mas tão longínquos um do outro. Ganhamos o poder de dizer que não à nossa parte mais humana. Ganhamos a insanidade da tristeza por não cedermos, por não nos revelarmos e encontrar a felicidade alternativa que fazer um ao outro sentir. As palavras são despendidas como fardos, pesos que nos levam a afundar mais e mais até não encontrarmos uma última luz para nos guiar. Aí não chegarão os fados para contar a inocência, o desconhecimento do calor nas noites mais frias. Essas são as que penso em ti e me lembro sempre de que não estás aqui.
Qual o saber da chuva? Chora para eu ver que sentes, para que a chuva ou o Sol sejam irrelevantes, para que o mar atravesse a terra e ainda assim eu te queira ao pé de mim. Corta as tuas veias para eu saber que sangras. Verdadeiras lágrimas cheias de coragem que se atiram livremente ao chão por ti. E tu estás perante mim tão livremente quanto elas se sacrificam por ti. Faz-me esquecer o mundo, livremente abandonar condições e restrições. Ensina-me a encontrar-te no escuro, prende-me e obriga-me a escolher-te a um mundo de prazer e luxúria. Prega-me à cruz e cura-me da obsessão. Deixa-me levar-te longe, recusa-me e aceita-me. Não me mudes e não te mudes, fica tu própria e permite amar-te, real e condicionalmente. Ama-me tu de forma infantil, de forma obcecada e distraída. De vez em quando, quando te der mais jeito, mesmo quando não o queres. Liberta a fúria e ajuda o jogo, afasta-me, puxa-me, agarra-me e repudia-me outra vez. Esconde-me e nunca me anuncies ao mundo, garante-me que nunca pertencemos um ao outro, torna isto automático para um dia voltarmos a procurar o especial em nós outra vez. Põe-me em dúvida, pinta-me de cinzento e tenta prender-me num canto do quarto. Tem ciúmes de quando sou olhado, rosna como uma leoa para afastares outras predadoras de mim, a presa. Alimenta-te de mim e sê eternamente a alma que eu toquei e nunca mais larguei.
Sem comentários:
Enviar um comentário