Estou contigo porque não sei de melhor, não encontrei o remédio para a infecção, a cura para a doença. Não me revolto, não me encolho, não sou eu quem escolhe, já é algo que faz parte de mim, fugir sem nada a encontrar e quando algo achar imediatamente o repudiar para nada mudar. É da parte da Natureza do meu ser, não há justificação, a razão de existir é apenas uma pretensa procura para me ocupar a mente e não deixar que um bicho como tu me roube do que é real. A vida como uma máscara, vivo então bem. Sobrevivência sobre tudo e todos, o objectivo mais ridículo que a existência em si. Eliminar, pisar, maltratar, torturar, fazer de tudo e algo mais apenas porque esta vida é mais importante para nós mesmos que a vida dos outros. E ainda assim estabelecem-se sonhos onde as pessoas vivem bem umas com as outras, as terras são verdes e tudo é perfeito. Tudo é tão absurdo quanto eu dizer que gosto de ti e que quero ficar ao teu lado para sempre.
Queimam-se as rosas, as fotografias ficam por tirar e os sorrisos são guardados para sempre. Quais tempos felizes em que me dizias que amavas? Quando eu era diferente, quando eu estive realmente na relação? Tudo piadas, guardadas com os sorrisos nas gavetas do imaginário. Sempre estável, sempre neutro, não há guerras por carências, não há discussões porque se fizeram coisas e demos tanto de nós e agora não vemos nada em troca. O que houve no inicio há agora, sem esforços nem mudanças. Continuo a usar-te para me esconder de tudo o resto, do mundo. Sem garantias de que não desisto, já que essa é a tua característica, sem promessas de que não caio na fraqueza de eventualmente me apaixonar por ti, tudo limitado ao físico, aceitas-me completo e nu nas noites quentes de Inverno e nas tardes frias de Primavera em que não nos vemos mais. E assim defino a minha felicidade, nunca me tragas o romance à porta para eu não acabar desamparado algures entre os livros das tuas fantasias e o meu wisky.
Nunca me vais conhecer, não me poderás tomar por garantido. Não revelarei o obscuro da minha mente nem o cinzento da minha alma. Assim te mantenho sã na mente, assim te mantenho controlada com a palma da minha mão, mexendo apenas as pontas dos dedos como que um mestre de fantoches, sendo tu a única interprete do espectáculo. E que bela interprete, o reflexo da perfeição humana. Bela em todos os sentidos, mexes-te ao ritmo do vento e até onde o meu cordel e a minha terrível personalidade te deixar ir. Abanas essas ancas e conquistas o palco, hipnotizas, iludes quem quer ser iludido. Mas por mim não passarás, dos teus picos já eu me desviei sua rosa podre que morre aos poucos por falta de água. Não me iludirás, serás sempre um mero instrumento, nada que me dá pena nem alegria. Não mexes em mim, não me matas com palavras de rejeição, não me trazes de volta à vida com um simples sorriso, não me controlas nem serás difícil de ultrapassar. Pelo chão ficarás, inerte, branca, um pedaço de lixo humano que eu aceitei acolher entre os meus lençóis durante tempos de necessidade...
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