Segue-me pela rua, absorve a revolta que atravessa e nos deixa incompletos, caminha em silêncio, todo o furor e barulho nesta guerra já é suficiente para fazer a terra chorar. Vê a minha silhueta, segue-a. À luz que vês, os meus olhos de lobo e sorriso de serpente, acreditas em que animal de mim? Por onde acaricio o teu corpo, o que importa, caminhamos na direcção contrária da multidão, nas ruas escuras, iluminadas agora pela Lua que se recusa em oferecer luz pura às ruas que já são fomentadas por destruição e crimes contra irmãos. Corre comigo por entre toda esta confusão, tenta escapar à anarquia de pensamentos que te passam pela cabeça, não te vão ajudar em nada. E por entre arrecuas da memória fica a lembrança do nosso plausível tempo passado juntos. São nessas arrecuas que vais achar todos os sonhos e felicidade que eras antes de conheceres este mundo. Este mundo do qual foges agora. Demasiado pequeno para conter as tuas lágrimas, demasiado magoado para suportar toda a dor que tu guardaste dentro de ti e agora procuras expulsar. Mas cuidado que as palavras ardem. Ardem tanto ou mais que o fogo que tomou conta das ruas. Ardem tanto que tudo o que podemos fazer é fugir para longe, para onde apenas as estrelas nos vejam e gritá-las para os confins do Universo, esperar nunca as sentir outra vez.
Dizem que somos os nossos piores críticos. Sabes o que tu és? És o que não vejo em mim, toda a bondade e inocência que nunca desejei ter, que nunca sonhei segurar nos meus braços. Mas agora aqui estás. Entre dunas, deitada sobre a areia fria, a olhar para as ondas distantes. Nesta escuridão da noite, onde a Lua já se escondeu atrás de nuvens, onde até o vento se recusa aparecer, és a única luz natural e pura que ainda brilha. E sem medo! Sem medo porque tens o que consideras pior agarrado a ti ou sem medo porque sabes que quando tudo isto acabar também a tua dor irá dissipar? Não me digas a resposta, tenho mais medo de voltar a ver medo na íris dos teus olhos do que milhões de tochas e uma multidão a querer matar-me enquanto permaneço encurralado. Ah, encurralado. É o que me deixas agora, com o teu sorriso, com a tua ingenuidade, com o teu sopro de alívio quando te deitaste no meu regaço. Livre de toda a maldade, de tudo o que actualmente significa ser humano, és tu, uma mariposa que gosta de pousar em flores carnívoras e sorrir apenas para fugir enquanto essa flôr ainda está demasiado atordoada com a tua beleza e simpatia para obedecer ao seu instinto animal. E essa flôr sou eu. Eventualmente vou-te magoar e abandonar à tua tristeza, à tua fragilidade, deixar-te para seres devorada por coiotes e abutres da sociedade, tornando-te apenas numa carcaça que faz os que passam por ti perguntarem-se o que terias sido antes. Mas ainda estou pasmo contigo, com tudo o que me dás, deixo-me aproveitar de ti enquanto tu me ofereces essa oportunidade. Esta noite é o delíquio de todos os horrores que nos atravessam.
A tua vida é o delírio da minha existência, és as palavras que me parecem escapar diariamente, a cada minuto, pelo pensamento, derivadas do sentimento. E quando já não há sonho que reste sonhar, sonho com o teu sorriso e como gostava que fosse eterno. Mas é efémero, todo este sentimento, toda esta alegria, acima de tudo, esta noite. E isso entristece-me. Mais do que tu nunca teres existido, mais do que apenas a revolta, violência e crimes existirem, mais do que a noite ser algo solitário em que me encontro sempre a olhar para o tecto a imaginar-te e como seria ter-te na realidade, de ir viver contigo para qualquer outro lado que não este. Mas não há lugar seguro agora. Não há espaço neste mundo para nós. E o pior é que o adoro quase tanto como a ti e não me vejo a abandoná-lo. Apenas sem ti encontro razão para continuar a vê-lo tão cegamente como o vejo hoje, de céu vasto azul e de Sol resplandecente. E esta tarde parece ser interminável, composta de um tédio e ódio de nada melhor saber fazer que arranjar desculpas para nada fazer. Espero por ti para me mudares e espero de mim uma resistência que nada alterará na minha vida mas que tudo quebrará na tua. Mas não te magoes, o lobo em mim continua a chorar por nós e a serpente sorri por não ter inocente para engolir. Serei algum dia alguém para ti mas terás a força para me entrares e seres alguém para mim?
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terça-feira, 9 de agosto de 2011
domingo, 9 de janeiro de 2011
Zhelia VII (part II)
Hoje vi-a passar por mim. Vestida com calças de ganga, camisola azul e um casaco branco, longo e fino, a esvoaçar com o vento como que asas a enaltecer o ser angelical que caminha nesta terra, banhado de inocência.
Perdi-me mais uma vez nos seus olhos, azuis de diamante, fortes mas tristes, revelando a tristeza e solidão que lhe preenche a alma. Os nossos olhos cruzaram-se durante um mero segundo, o suficiente para lhe ver o belo sorriso que ela me ofereceu por simpatia, ainda sem afastar o medo.
Os seus contornos foram-se encolhendo a medida que nos aproximávamos, os lábios comprimiam-se, batendo carne com carne; ela inalava mais rapidamente o ar à medida que o nervosismo aumentava e, consequentemente, os seus olhos piscavam mais rapidamente como um farol a iluminar o caminho a um barco na escuridão.
Pareceu uma eternidade, aquele momento. Senti carinho e afecto genuíno por aquela criatura nervosa e amedrontada. Por aqueles meros segundos em que nos encontrámos, revelámos mais de nós mesmos um ao outro do que dois amigos que passam a tarde juntos. Eu não estava sequer consciente da minha face e das minhas acções, deixei-me simplesmente hipnotizar pelo seu cabelo loiro e liso, os seus olhos azuis, os seus lábios com um sorriso tímido e a sua face de medo e inocência que fez penetrar em mim paixão e que fez o meu coração saltar umas palpitações.
Perdi-me mais uma vez nos seus olhos, azuis de diamante, fortes mas tristes, revelando a tristeza e solidão que lhe preenche a alma. Os nossos olhos cruzaram-se durante um mero segundo, o suficiente para lhe ver o belo sorriso que ela me ofereceu por simpatia, ainda sem afastar o medo.
Os seus contornos foram-se encolhendo a medida que nos aproximávamos, os lábios comprimiam-se, batendo carne com carne; ela inalava mais rapidamente o ar à medida que o nervosismo aumentava e, consequentemente, os seus olhos piscavam mais rapidamente como um farol a iluminar o caminho a um barco na escuridão.
Pareceu uma eternidade, aquele momento. Senti carinho e afecto genuíno por aquela criatura nervosa e amedrontada. Por aqueles meros segundos em que nos encontrámos, revelámos mais de nós mesmos um ao outro do que dois amigos que passam a tarde juntos. Eu não estava sequer consciente da minha face e das minhas acções, deixei-me simplesmente hipnotizar pelo seu cabelo loiro e liso, os seus olhos azuis, os seus lábios com um sorriso tímido e a sua face de medo e inocência que fez penetrar em mim paixão e que fez o meu coração saltar umas palpitações.
Zhelia VI (part I)
Os seus olhos brilhavam do outro lado da sala, cegando-me com a sua beleza interminável. Os seus lábios, da cor de uma cereja envernizada de forma a brilhar mais do que qualquer outra cereja. O seu nariz, constituído na sua perfeição, encantando-me e fazendo-me procurar a razão pela qual a idolatrar, apenas sabendo o seu nome. Mais uma vez, os seus olhos, reflectindo a sua inocência, conduzindo a minha atenção para um abismo de desespero onde procuro a inexorável força para resistir à grande queda em que me permito pensar que finalmente conheci paixão, no seu estado glorioso e desesperante.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Zhelia V
Estou contigo porque não sei de melhor, não encontrei o remédio para a infecção, a cura para a doença. Não me revolto, não me encolho, não sou eu quem escolhe, já é algo que faz parte de mim, fugir sem nada a encontrar e quando algo achar imediatamente o repudiar para nada mudar. É da parte da Natureza do meu ser, não há justificação, a razão de existir é apenas uma pretensa procura para me ocupar a mente e não deixar que um bicho como tu me roube do que é real. A vida como uma máscara, vivo então bem. Sobrevivência sobre tudo e todos, o objectivo mais ridículo que a existência em si. Eliminar, pisar, maltratar, torturar, fazer de tudo e algo mais apenas porque esta vida é mais importante para nós mesmos que a vida dos outros. E ainda assim estabelecem-se sonhos onde as pessoas vivem bem umas com as outras, as terras são verdes e tudo é perfeito. Tudo é tão absurdo quanto eu dizer que gosto de ti e que quero ficar ao teu lado para sempre.
Queimam-se as rosas, as fotografias ficam por tirar e os sorrisos são guardados para sempre. Quais tempos felizes em que me dizias que amavas? Quando eu era diferente, quando eu estive realmente na relação? Tudo piadas, guardadas com os sorrisos nas gavetas do imaginário. Sempre estável, sempre neutro, não há guerras por carências, não há discussões porque se fizeram coisas e demos tanto de nós e agora não vemos nada em troca. O que houve no inicio há agora, sem esforços nem mudanças. Continuo a usar-te para me esconder de tudo o resto, do mundo. Sem garantias de que não desisto, já que essa é a tua característica, sem promessas de que não caio na fraqueza de eventualmente me apaixonar por ti, tudo limitado ao físico, aceitas-me completo e nu nas noites quentes de Inverno e nas tardes frias de Primavera em que não nos vemos mais. E assim defino a minha felicidade, nunca me tragas o romance à porta para eu não acabar desamparado algures entre os livros das tuas fantasias e o meu wisky.
Nunca me vais conhecer, não me poderás tomar por garantido. Não revelarei o obscuro da minha mente nem o cinzento da minha alma. Assim te mantenho sã na mente, assim te mantenho controlada com a palma da minha mão, mexendo apenas as pontas dos dedos como que um mestre de fantoches, sendo tu a única interprete do espectáculo. E que bela interprete, o reflexo da perfeição humana. Bela em todos os sentidos, mexes-te ao ritmo do vento e até onde o meu cordel e a minha terrível personalidade te deixar ir. Abanas essas ancas e conquistas o palco, hipnotizas, iludes quem quer ser iludido. Mas por mim não passarás, dos teus picos já eu me desviei sua rosa podre que morre aos poucos por falta de água. Não me iludirás, serás sempre um mero instrumento, nada que me dá pena nem alegria. Não mexes em mim, não me matas com palavras de rejeição, não me trazes de volta à vida com um simples sorriso, não me controlas nem serás difícil de ultrapassar. Pelo chão ficarás, inerte, branca, um pedaço de lixo humano que eu aceitei acolher entre os meus lençóis durante tempos de necessidade...
Queimam-se as rosas, as fotografias ficam por tirar e os sorrisos são guardados para sempre. Quais tempos felizes em que me dizias que amavas? Quando eu era diferente, quando eu estive realmente na relação? Tudo piadas, guardadas com os sorrisos nas gavetas do imaginário. Sempre estável, sempre neutro, não há guerras por carências, não há discussões porque se fizeram coisas e demos tanto de nós e agora não vemos nada em troca. O que houve no inicio há agora, sem esforços nem mudanças. Continuo a usar-te para me esconder de tudo o resto, do mundo. Sem garantias de que não desisto, já que essa é a tua característica, sem promessas de que não caio na fraqueza de eventualmente me apaixonar por ti, tudo limitado ao físico, aceitas-me completo e nu nas noites quentes de Inverno e nas tardes frias de Primavera em que não nos vemos mais. E assim defino a minha felicidade, nunca me tragas o romance à porta para eu não acabar desamparado algures entre os livros das tuas fantasias e o meu wisky.
Nunca me vais conhecer, não me poderás tomar por garantido. Não revelarei o obscuro da minha mente nem o cinzento da minha alma. Assim te mantenho sã na mente, assim te mantenho controlada com a palma da minha mão, mexendo apenas as pontas dos dedos como que um mestre de fantoches, sendo tu a única interprete do espectáculo. E que bela interprete, o reflexo da perfeição humana. Bela em todos os sentidos, mexes-te ao ritmo do vento e até onde o meu cordel e a minha terrível personalidade te deixar ir. Abanas essas ancas e conquistas o palco, hipnotizas, iludes quem quer ser iludido. Mas por mim não passarás, dos teus picos já eu me desviei sua rosa podre que morre aos poucos por falta de água. Não me iludirás, serás sempre um mero instrumento, nada que me dá pena nem alegria. Não mexes em mim, não me matas com palavras de rejeição, não me trazes de volta à vida com um simples sorriso, não me controlas nem serás difícil de ultrapassar. Pelo chão ficarás, inerte, branca, um pedaço de lixo humano que eu aceitei acolher entre os meus lençóis durante tempos de necessidade...
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Zhelia IV
Uma raiva sadista acima de tudo.
Lembra-te que vou a falar de ti. Sentimentos e sorrisos para apagar as mágoas e afastar as lágrimas. Agitas os braços em sinal de coragem em orgulho debaixo desta Lua que é nossa e de todos. Partilhas comigo o teu egoísmo que vai e volta. O que faz o teu sangue fervilhar nas veias é o que eu sinto todos os dias que caminho na rua e olho para a cara petrificada de estátuas. Esta terra está protagonizada de fardos e objectos dispensáveis, não pessoas. Se tudo ardesse, ao menos se tudo desaparecesse, tu sorririas, tu serias feliz, tu ficarias finalmente descansada. E, apesar do constante barulho e poluição, mantens-te entre mim e o precipício, ao qual te queres mandar. Uma final ordem para quem te ousou um dia tocar, o seu céu irá cair e o Universo deles não será mais que uma recordação esquecida, uma realidade ignorada.
Essa tua pele, tão suave, tão frágil, como que mil rios de leite que percorrem terras desconhecidas, terras verdes que vão dar a um sonho de tu e eu. E, por mais delírios que a mente possa controlar e por mais ilusões que a mente possa criar, continuamos neste barco juntos, até à cascata que nos vai dar o voo para o velho Carvalho, fonte do nosso poder e imaginação. Uma viagem à volta do nosso mundo, admirando o negro e abraçando o cinzento, com olhos apenas para nós próprios, egocentrismo do quase cego, ainda humano. Temos tudo o que desejamos aqui, não vamos voltar à realidade conjunta e suja da humanidade. Aqui faço as minhas magias que aplico em ti de forma a que fiques encantada por mim. Apanhas-me sob prenúncios de tragédias, altura em que perco vontade de te ver. Escondo-me atrás da máscara de solidão.
Um sorriso sadista, um toque ao de leve na pele, adormeces na casa que te ofereci. És tu minha pintura de solidão e horror, palavras desperdiçadas em borrões de tinta em que mergulho para ouvir um sussurro teu. Não consigo manter as minhas emoções cá em baixo, onde tento ignorar até que elas finalmente passem. Tu causas-me isto, produto de tudo o que sou. Tu trazes o que sou à realidade e isso assusta-te. Dás mais um passo para trás, fechas os olhos e saltas. Finalizas finalmente este capítulo de folhas de árvores e picos de rosas. Somos então pétalas de cravos brancos deixados ao vento para vagearmos juntos por esta terra, sem fim... vez sem conta.
Lembra-te que vou a falar de ti. Sentimentos e sorrisos para apagar as mágoas e afastar as lágrimas. Agitas os braços em sinal de coragem em orgulho debaixo desta Lua que é nossa e de todos. Partilhas comigo o teu egoísmo que vai e volta. O que faz o teu sangue fervilhar nas veias é o que eu sinto todos os dias que caminho na rua e olho para a cara petrificada de estátuas. Esta terra está protagonizada de fardos e objectos dispensáveis, não pessoas. Se tudo ardesse, ao menos se tudo desaparecesse, tu sorririas, tu serias feliz, tu ficarias finalmente descansada. E, apesar do constante barulho e poluição, mantens-te entre mim e o precipício, ao qual te queres mandar. Uma final ordem para quem te ousou um dia tocar, o seu céu irá cair e o Universo deles não será mais que uma recordação esquecida, uma realidade ignorada.
Essa tua pele, tão suave, tão frágil, como que mil rios de leite que percorrem terras desconhecidas, terras verdes que vão dar a um sonho de tu e eu. E, por mais delírios que a mente possa controlar e por mais ilusões que a mente possa criar, continuamos neste barco juntos, até à cascata que nos vai dar o voo para o velho Carvalho, fonte do nosso poder e imaginação. Uma viagem à volta do nosso mundo, admirando o negro e abraçando o cinzento, com olhos apenas para nós próprios, egocentrismo do quase cego, ainda humano. Temos tudo o que desejamos aqui, não vamos voltar à realidade conjunta e suja da humanidade. Aqui faço as minhas magias que aplico em ti de forma a que fiques encantada por mim. Apanhas-me sob prenúncios de tragédias, altura em que perco vontade de te ver. Escondo-me atrás da máscara de solidão.
Um sorriso sadista, um toque ao de leve na pele, adormeces na casa que te ofereci. És tu minha pintura de solidão e horror, palavras desperdiçadas em borrões de tinta em que mergulho para ouvir um sussurro teu. Não consigo manter as minhas emoções cá em baixo, onde tento ignorar até que elas finalmente passem. Tu causas-me isto, produto de tudo o que sou. Tu trazes o que sou à realidade e isso assusta-te. Dás mais um passo para trás, fechas os olhos e saltas. Finalizas finalmente este capítulo de folhas de árvores e picos de rosas. Somos então pétalas de cravos brancos deixados ao vento para vagearmos juntos por esta terra, sem fim... vez sem conta.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Zhelia III
O reflexo na água contempla a lua brilhante, lá no alto, isolada de tudo o resto existente, quieta no silêncio que ela mesmo construiu, chorando gotas geladas que caem no chão em forma de folhas. Essas mesmas folhas caem das árvores da floresta, enquanto que estas são abanadas pelo vento, formando um dança formal e de compasso lento, representando o andamento da Terra a caminho do seu destino. Não se pode dizer o que não se pode encontrar, então mantenho-me nas sombras, observando enquanto caminhas pelo meio da vastidão por mim criada. Tudo arde à minha volta mas tudo o que vês é um vulto sem brilho, uma alma morta que já se deixou de voos há muito tempo, cansado destas intemporais tristezas e desilusões.
Há um murmúrio que me é entregue nas mãos pelo vento, um choro debaixo das estrelas, um suspiro que me revela a tua existência, estando aqui comigo a tua alma, incolor mas ainda sentindo. Todas as tuas palavras, relevadas por ratos decrépitos e sujos, são exemplos do que não se pode ser, um futuro negro às faces imperfeitas de todos os ignorantes. E enquanto choras, a Lua continua a brilhar, cada vez mais afastada do resto do Universo, obscura rainha da noite, tortuosa silhueta do terror que se reflecte na tua cara. Num canto do horizonte, nasce o Sol, trazendo consigo nova vida após a madrugada, juntamente com a queda das primeiras gotas do dia, aquelas que caem dos teus olhos e fazem florescer o solo à tua volta.
Figura pentagonal, presa dentro de um círculo, pacto silencioso com a morte, vens da cor do sangue e percorres esta terra, renovando esperanças nas mentes dos mortais. És a voz distante que vem do alto das montanhas, alta como um trovão, proferindo profecias que mudam as vidas dos imortais esquecidos. O rio, correndo na sua pura inocência de ser essencial mas desvalorizado, junta-se a ti numa busca pelo poder sobre a influência dos mais poderosos, aqueles que mais falam. As gotas da chuva, agora cessadas pelos raios do Sol, preenchem em ti um pequeno vazio que lhes reservaste. O Sol, então, revela a minha face a ti e tu cais num profundo transe, do qual nunca vais sair pois é sinal do teu amor e dedicação por mim. És então reflexo de mim, os meus olhos que revelam a solidão interior, a alma presa pela prisão de carne que forma os desejos errados. Avisa-me então quando vier algo realmente da alma, pois é isso que preciso.
Há um murmúrio que me é entregue nas mãos pelo vento, um choro debaixo das estrelas, um suspiro que me revela a tua existência, estando aqui comigo a tua alma, incolor mas ainda sentindo. Todas as tuas palavras, relevadas por ratos decrépitos e sujos, são exemplos do que não se pode ser, um futuro negro às faces imperfeitas de todos os ignorantes. E enquanto choras, a Lua continua a brilhar, cada vez mais afastada do resto do Universo, obscura rainha da noite, tortuosa silhueta do terror que se reflecte na tua cara. Num canto do horizonte, nasce o Sol, trazendo consigo nova vida após a madrugada, juntamente com a queda das primeiras gotas do dia, aquelas que caem dos teus olhos e fazem florescer o solo à tua volta.
Figura pentagonal, presa dentro de um círculo, pacto silencioso com a morte, vens da cor do sangue e percorres esta terra, renovando esperanças nas mentes dos mortais. És a voz distante que vem do alto das montanhas, alta como um trovão, proferindo profecias que mudam as vidas dos imortais esquecidos. O rio, correndo na sua pura inocência de ser essencial mas desvalorizado, junta-se a ti numa busca pelo poder sobre a influência dos mais poderosos, aqueles que mais falam. As gotas da chuva, agora cessadas pelos raios do Sol, preenchem em ti um pequeno vazio que lhes reservaste. O Sol, então, revela a minha face a ti e tu cais num profundo transe, do qual nunca vais sair pois é sinal do teu amor e dedicação por mim. És então reflexo de mim, os meus olhos que revelam a solidão interior, a alma presa pela prisão de carne que forma os desejos errados. Avisa-me então quando vier algo realmente da alma, pois é isso que preciso.
sábado, 14 de junho de 2008
Zhelia II
Hoje preciso de mim, tal como tu precisas do ar que respiras. Hoje preciso da distância, da visão, do olfacto de outra pessoa que me guie o caminho. Já o fizeste e bem vi o prazer nos teus olhos mas ao pouco e pouco esse prazer foi acabando, abandonando a tua alma numa concha perdida no meio do mar, como que uma pérola que deixou de brilhar, deixou de ter valor. Hoje perdi o que achava ser mais importante em nós, o brilho dos teus olhos. Esses olhos azuis de mar limpo que subitamente se transformaram em azul de mar poluído, corrupto por ideias e acções do mundo exterior, aquele que pensámos ter deixado de existir por nossa própria vontade. Eramos crianças então, ainda o somos. Hoje preciso de música, preciso de cantar e dançar, gritar daquela forma que ninguém gosta e poucos consideram realmente uma forma de música. Hoje preciso de tudo o que rejeitaste, tudo o que não gostas e das poucas coisas que chegas a odiar neste mundo. Hoje preciso de ser eu, o contrário de ti, para me afastar de tudo o resto, para consumir o tempo de vida que ainda me resta, aquele que não acredito que seja pouco. Hoje preciso das nuvens, hoje preciso da chuva. E quem diria? Aí vem o Sol, mas com ele não vem o teu sorriso de volta para mim. Vem aí o Verão, mais um festival que vou realizar sozinho, já não por opção própria mas sim por não ter mais qualquer outra opção. E tu, onde te encontras? Tu que me disseste que vinhas ter comigo quando fosse férias. Já cheguei à conclusão que não é no dia de hoje, aquele em que ainda escrevo, aquele em que ainda prossigo esta jornada que está longe de acabar e que ainda não tenho a certeza se já começou. Já fomos jovens, tu e eu, ainda o somos mas não mais o seremos.
Hoje preciso de andar descalço no chão frio, preciso de andar nu à chuva. Preciso de ficar doente, de cama, para que tenha o calor e atenção de outro humano que não sejas tu. E o orgulho não agradece nem desaparece, fortalece à medida que o tempo passa e o corpo cresce. O corpo ou o cabelo, perguntas tu. Não importa, nada mais importa desde que não estás aqui para o ver. Com certeza que ficarias contente por acordar hoje e veres que tens ao teu lado um namorado, talvez um futuro amante para toda a vida que tem o cabelo comprido, que ouve Metal, dá uns poucos toques na guitarra, o suficiente para te fazer baladas, que escreve belas palavras que enganam até os corações mais frios. Talvez te pareça um bocado convencido a dizer isto assim mas prefiro parecer e ser assim do que ter falsa modéstia, e sei que concordas comigo, não tentes discutir uma vez mais. Fomos amantes, uma vez, já não o somos mais, nunca mais o seremos.
Hoje preciso de uma lágrima, preciso de um choro infinito que nem no chuveiro, nem na chuva, nem na água do Oceano seja disfarçado. Hoje preciso de um pouco de afecto, talvez até tenha descongelado o suficiente o coração para receber um abraço. Hoje preciso que o drama acabe, que tudo seja inferior à necessidade de trabalhar, de me concentrar em algo mais importante do que nos pensamentos de ti. Hoje preciso que sejas tu mesma a dizer-me que estás aqui uma vez mais e que isto vai ser para sempre, nunca se vai romper, não vão haver chatices, vamos ser felizes juntos e para sempre. Ou se calhar preciso mesmo que me digas que acabámos de cara-a-cara para que finalmente o traduza para a língua do meu próprio Universo e o compreenda, ultrapassando-te finalmente com um sorriso na cara e os olhos bem abertos para uma nova luz nos olhos de uma outra pessoa. Hoje preciso de ser puro e de escrever, preciso de ser o teu pecado e de te conceber mais uma vez. Hoje preciso de matar, preciso de um sonho. Se calhar hoje não preciso é de nada mais do que adormecer, não sonhar e acordar apenas amanhã, quando estes pensamentos estiverem longe de mim. Outrora estivemos vivos, ainda o estamos, simplesmente afastados, felizmente para a minha sanidade. E, Zhelia, acorda-me quando chegares a casa porque acho que a nossa filha já encontrou a minha Mãe no céu da noite.
Hoje preciso de andar descalço no chão frio, preciso de andar nu à chuva. Preciso de ficar doente, de cama, para que tenha o calor e atenção de outro humano que não sejas tu. E o orgulho não agradece nem desaparece, fortalece à medida que o tempo passa e o corpo cresce. O corpo ou o cabelo, perguntas tu. Não importa, nada mais importa desde que não estás aqui para o ver. Com certeza que ficarias contente por acordar hoje e veres que tens ao teu lado um namorado, talvez um futuro amante para toda a vida que tem o cabelo comprido, que ouve Metal, dá uns poucos toques na guitarra, o suficiente para te fazer baladas, que escreve belas palavras que enganam até os corações mais frios. Talvez te pareça um bocado convencido a dizer isto assim mas prefiro parecer e ser assim do que ter falsa modéstia, e sei que concordas comigo, não tentes discutir uma vez mais. Fomos amantes, uma vez, já não o somos mais, nunca mais o seremos.
Hoje preciso de uma lágrima, preciso de um choro infinito que nem no chuveiro, nem na chuva, nem na água do Oceano seja disfarçado. Hoje preciso de um pouco de afecto, talvez até tenha descongelado o suficiente o coração para receber um abraço. Hoje preciso que o drama acabe, que tudo seja inferior à necessidade de trabalhar, de me concentrar em algo mais importante do que nos pensamentos de ti. Hoje preciso que sejas tu mesma a dizer-me que estás aqui uma vez mais e que isto vai ser para sempre, nunca se vai romper, não vão haver chatices, vamos ser felizes juntos e para sempre. Ou se calhar preciso mesmo que me digas que acabámos de cara-a-cara para que finalmente o traduza para a língua do meu próprio Universo e o compreenda, ultrapassando-te finalmente com um sorriso na cara e os olhos bem abertos para uma nova luz nos olhos de uma outra pessoa. Hoje preciso de ser puro e de escrever, preciso de ser o teu pecado e de te conceber mais uma vez. Hoje preciso de matar, preciso de um sonho. Se calhar hoje não preciso é de nada mais do que adormecer, não sonhar e acordar apenas amanhã, quando estes pensamentos estiverem longe de mim. Outrora estivemos vivos, ainda o estamos, simplesmente afastados, felizmente para a minha sanidade. E, Zhelia, acorda-me quando chegares a casa porque acho que a nossa filha já encontrou a minha Mãe no céu da noite.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Zhelia
Ready to give yourself to depression?
Zhelia, procuras uma saída? Tentas mesmo encontrar aquela luz no final do túnel que mostra o país de flores, o país encantado com o qual sempre sonhaste, aquele com o qual sempre adormeceste a imaginá-lo? Já desistis-te dos teus assassínios e suicídios? Constantes movimentos e sonhos, tristezas da tua mente, figuras da tua imaginação que torturam, empurram, batalham em prol do nada e do abismo. Desistentes da vida, todos vão para a tua memória e para os teus sonhos, para a tua mente, possuindo a tua alma, corpo e olhos, correndo no teu sangue, disparando as tuas balas, dançando as tuas bailas, abanando todas as tuas preocupações com o simples cheiro de álcool. Não te preocupes, no fim tudo voltará a acontecer, uma sensação de dejá-vu que é o teu inferno, e eu sou aquele que não permite encontrar o teu paraíso.
Porra para todas as tuas palavras, suspiros e confissões. Não sou o teu padre, sou o teu amante perante o luar de primavera, o renovado olhar da mesma figura triste e envelhecida da nossa protectora, minha mãe, Luna. Parabéns se tudo te parece cliché, tudo tão repetitivo. Percebeste algo mas escapou-te o essencial, a moral da história. Entretanto criticas-me por tudo o que tu não tens, como se fosse o único culpado pela tua alma perdida ou vendida, dada ou trocada. Enraivecida, já pensaste que podias ser mais do que uma pessoa, uma realidade, uma pessoa, um Universo, um mundo? Já pensaste que poderias construir uma sociedade de monstros como tu? Claro que não. Ignoras os conselhos, afastas os amigos, destróis-te por dentro e continuas enraivecida por estares sozinha à noite, a adormecer sempre de consciência intranquila e suor na testa do medo que tens do dia seguinte.
E o dia seguinte vai ser igual a este. Pronta para cederes à depressão?
Zhelia, procuras uma saída? Tentas mesmo encontrar aquela luz no final do túnel que mostra o país de flores, o país encantado com o qual sempre sonhaste, aquele com o qual sempre adormeceste a imaginá-lo? Já desistis-te dos teus assassínios e suicídios? Constantes movimentos e sonhos, tristezas da tua mente, figuras da tua imaginação que torturam, empurram, batalham em prol do nada e do abismo. Desistentes da vida, todos vão para a tua memória e para os teus sonhos, para a tua mente, possuindo a tua alma, corpo e olhos, correndo no teu sangue, disparando as tuas balas, dançando as tuas bailas, abanando todas as tuas preocupações com o simples cheiro de álcool. Não te preocupes, no fim tudo voltará a acontecer, uma sensação de dejá-vu que é o teu inferno, e eu sou aquele que não permite encontrar o teu paraíso.
Porra para todas as tuas palavras, suspiros e confissões. Não sou o teu padre, sou o teu amante perante o luar de primavera, o renovado olhar da mesma figura triste e envelhecida da nossa protectora, minha mãe, Luna. Parabéns se tudo te parece cliché, tudo tão repetitivo. Percebeste algo mas escapou-te o essencial, a moral da história. Entretanto criticas-me por tudo o que tu não tens, como se fosse o único culpado pela tua alma perdida ou vendida, dada ou trocada. Enraivecida, já pensaste que podias ser mais do que uma pessoa, uma realidade, uma pessoa, um Universo, um mundo? Já pensaste que poderias construir uma sociedade de monstros como tu? Claro que não. Ignoras os conselhos, afastas os amigos, destróis-te por dentro e continuas enraivecida por estares sozinha à noite, a adormecer sempre de consciência intranquila e suor na testa do medo que tens do dia seguinte.
E o dia seguinte vai ser igual a este. Pronta para cederes à depressão?
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