segunda-feira, 7 de julho de 2008

Zhelia III

O reflexo na água contempla a lua brilhante, lá no alto, isolada de tudo o resto existente, quieta no silêncio que ela mesmo construiu, chorando gotas geladas que caem no chão em forma de folhas. Essas mesmas folhas caem das árvores da floresta, enquanto que estas são abanadas pelo vento, formando um dança formal e de compasso lento, representando o andamento da Terra a caminho do seu destino. Não se pode dizer o que não se pode encontrar, então mantenho-me nas sombras, observando enquanto caminhas pelo meio da vastidão por mim criada. Tudo arde à minha volta mas tudo o que vês é um vulto sem brilho, uma alma morta que já se deixou de voos há muito tempo, cansado destas intemporais tristezas e desilusões.
Há um murmúrio que me é entregue nas mãos pelo vento, um choro debaixo das estrelas, um suspiro que me revela a tua existência, estando aqui comigo a tua alma, incolor mas ainda sentindo. Todas as tuas palavras, relevadas por ratos decrépitos e sujos, são exemplos do que não se pode ser, um futuro negro às faces imperfeitas de todos os ignorantes. E enquanto choras, a Lua continua a brilhar, cada vez mais afastada do resto do Universo, obscura rainha da noite, tortuosa silhueta do terror que se reflecte na tua cara. Num canto do horizonte, nasce o Sol, trazendo consigo nova vida após a madrugada, juntamente com a queda das primeiras gotas do dia, aquelas que caem dos teus olhos e fazem florescer o solo à tua volta.
Figura pentagonal, presa dentro de um círculo, pacto silencioso com a morte, vens da cor do sangue e percorres esta terra, renovando esperanças nas mentes dos mortais. És a voz distante que vem do alto das montanhas, alta como um trovão, proferindo profecias que mudam as vidas dos imortais esquecidos. O rio, correndo na sua pura inocência de ser essencial mas desvalorizado, junta-se a ti numa busca pelo poder sobre a influência dos mais poderosos, aqueles que mais falam. As gotas da chuva, agora cessadas pelos raios do Sol, preenchem em ti um pequeno vazio que lhes reservaste. O Sol, então, revela a minha face a ti e tu cais num profundo transe, do qual nunca vais sair pois é sinal do teu amor e dedicação por mim. És então reflexo de mim, os meus olhos que revelam a solidão interior, a alma presa pela prisão de carne que forma os desejos errados. Avisa-me então quando vier algo realmente da alma, pois é isso que preciso.

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