quinta-feira, 31 de julho de 2008

Colheita de Verão

E os ventos gritam lá fora, trazem a dor da distância, nunca complementando o vazio do coração. O sangue corre pelas veias desenfreado, aquecendo o corpo e fazendo a mente pensar, levantando o corpo pesado do coração. Algo ocorreu aqui, a obsessão pelo obscuro venceu nesta noite e o sangue foi derramado para levantar o verdadeiro mestre, Corno, que esperava há tanto. Uma nova sociedade para ser construida sob as mãos do Corno e os olhos atentos da Deusa, vestida de branco e a iluminar-nos alto no céu. Algo se ergue da Terra, um sinal de futuro e de renovação.
Acima de nós, uma estrela. Nós, apenas prisioneiros em corpos de musculos e ossos, fugimos para ser imortais. Fundidos com a Natureza, respiramos o seu puro ar e abrimos os braços para mais uma noite quente de Verão que passa e que nos enriquece a alma com energia para continuarmos a caminhar nesta terra. Aceitamos irmão entre nós enquanto consumimos o desejo do nosso corpo e libertamos a nossa semente para a terra. Neste chão fértil pisamos, deixamos a nossa marca para que outros nos possam seguir e continuar o que fizemos depois do corpo morrer. Uma última luz no final da escuridão e regressamos aos nossos corpos adormecidos.
Os lobos uivam e o rio chora, o corvo observa, calado, enquanto espera pela destruição e morte para se alimentar e governar esta terra em nome da Deusa. Dispo-me do meu desejo carnal e concentro-me na minha devoção. Vejo por entre paredes, por entre tempos, vejo-te a ti nos meus braços e um sorriso na cara. Na nossa casa ao lado do lago, longe do terror e sofrimento, no meio da floresta, num sítio onde ninguém nos encontrará, onde dormimos em paz e não desejamos acordar. As nossas mãos, atadas uma à outra, transmitem pensamentos e sensações. Que descanses em paz meu profundo romance, minha pequenina, acorda apenas quando achares que está na hora de fugir daqui.

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