terça-feira, 8 de julho de 2008

Espaços injustificados

Há uma nova face no vidro gelado, uma nova gota que cai no chão, um raio de luz que passa a neve lá fora e revela um choro de uma criança, distante. Toda a dor que ele sente no interior, tudo devido a nós. Ela, despida de preconceito e nua perante uma plateia que já adormeceu. Tu criaste-a, monstro no seu interior. Ela não é mais a minha amante, o meu idolatrado ser que guardo dentro de uma bola de cristal de forma a que ela nunca tenha de vir a saber os terrores do mundo, de forma a que nunca venha a sofrer.

Ela recolhe-se em si própria, procura no escuro uma forma de conforto, agarra-se aos escassos raios de Sol para achar o calor, abandonando a neve exterior e o gelo no interior do seu coração devido a todas as guerras e espinhos que lhe foram cravados. Um fardo no seu interior, ela carrega-o na sua devida inocência, ignorando os conselhos de outros, os interesseiros, afastando as dores, bebendo o seu sangue para o ponto da insanidade, crescendo pouco a pouco enquanto a alma morre. A sua ideia de romance foi deitada fora numa viagem às suas memórias de criança, afastando finalmente a neblina que as cercava.

Tudo volta então a ela. Os rumores de guerra, os gritos de agonia, os olhares e amores ocasionais. Mas o melhor que se conserva na sua memória e aquilo que ela abraça para adormecer é aquela estrela à beira do lago que a guiou para o passo seguinte, a morte certa.

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