terça-feira, 1 de julho de 2008

Criança desertada

Muitas palavras foram ditas por nós, em vão. Muitas foram as expressões e profecias que agora fogem da realidade, todas atiradas ao ar como objectos dispensáveis. Todos os nossos caminhos e ensinamentos, fardos da sociedade actual. As visões escassam por entre homens, mortais não merecedores de entrarem nas brumas. Rejeitaram a sua condição natural, são agora rejeitados a entrar em Avalon e sentar no trono do Corno. Sente a Natureza a remexer dentro de ti, criança desertada, o seu poder espalha-se pelo ar e todos os teus desejos são a realidade ao teu redor. E numa dança frenética, desmancha a mascará que se apresenta à frente da tua face e revela a alma que brilha nos teus olhos.
Deusa-Mãe, dona do meu destino e de minha vontade, razão pela qual ainda não vejo tudo a arder à minha frente. Sinto a verdade na minha frente, assim como o vento sopra e arrasta consigo as lágrimas para longe, formando um rio ao lado do qual me sentarei, vendo a corrente a ser arrastada para o precipício. Os sons que me chegam aos ouvidos são meros movimentos de ramos a dançarem à vontade do vento, o rio que desce a colina da montanha e as crianças que brincam felizes à beira do horizonte. O tempo parece parar aqui, nada é velho senão a Tua face da velha morte, sentada no trono ao lado do Corno, esperando em silêncio o dia em que sais da escuridão para revelares o teu poder à humanidade e iluminá-los até ao renascimento das almas.
Diz-me o que vês em teu redor? Deixaste-te cair no teu próprio terror? Ficaste sem palavras pelo fascínio da beleza que se apresenta sobre ti? Os teus olhos verdes percorrem as montanhas, cerrados à dor, tentando resistir à tentação de cair na terra e por lá ficar, esperando que eu regresse com um ramo de orquídeas, as tuas favoritas, numa mão e um anel noutra, pedindo-te que comprometas a tua alma imortal com a minha. A liberdade é o que te ofereço, uma mudança radical no teu pequeno mundo em que agradeces à Deusa a companhia de alguém, o calor do corpo de outro ser mortal que sempre fica pela terra, que abraça os pastos verdes de Avalon, caindo numa hipnose pelo sabor dos teus lábios. Então tu, criança pura e inocente, tornas-te em mais um donzela Dela.

2 comentários:

Anónimo disse...

aborreces-me =) tenta escrever coisinhas mais alegres.

Bruno Carvalho disse...

Quando me disseres quem és, pode ser que eu considere esse pedido.