segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Zhelia IV

Uma raiva sadista acima de tudo.
Lembra-te que vou a falar de ti. Sentimentos e sorrisos para apagar as mágoas e afastar as lágrimas. Agitas os braços em sinal de coragem em orgulho debaixo desta Lua que é nossa e de todos. Partilhas comigo o teu egoísmo que vai e volta. O que faz o teu sangue fervilhar nas veias é o que eu sinto todos os dias que caminho na rua e olho para a cara petrificada de estátuas. Esta terra está protagonizada de fardos e objectos dispensáveis, não pessoas. Se tudo ardesse, ao menos se tudo desaparecesse, tu sorririas, tu serias feliz, tu ficarias finalmente descansada. E, apesar do constante barulho e poluição, mantens-te entre mim e o precipício, ao qual te queres mandar. Uma final ordem para quem te ousou um dia tocar, o seu céu irá cair e o Universo deles não será mais que uma recordação esquecida, uma realidade ignorada.
Essa tua pele, tão suave, tão frágil, como que mil rios de leite que percorrem terras desconhecidas, terras verdes que vão dar a um sonho de tu e eu. E, por mais delírios que a mente possa controlar e por mais ilusões que a mente possa criar, continuamos neste barco juntos, até à cascata que nos vai dar o voo para o velho Carvalho, fonte do nosso poder e imaginação. Uma viagem à volta do nosso mundo, admirando o negro e abraçando o cinzento, com olhos apenas para nós próprios, egocentrismo do quase cego, ainda humano. Temos tudo o que desejamos aqui, não vamos voltar à realidade conjunta e suja da humanidade. Aqui faço as minhas magias que aplico em ti de forma a que fiques encantada por mim. Apanhas-me sob prenúncios de tragédias, altura em que perco vontade de te ver. Escondo-me atrás da máscara de solidão.
Um sorriso sadista, um toque ao de leve na pele, adormeces na casa que te ofereci. És tu minha pintura de solidão e horror, palavras desperdiçadas em borrões de tinta em que mergulho para ouvir um sussurro teu. Não consigo manter as minhas emoções cá em baixo, onde tento ignorar até que elas finalmente passem. Tu causas-me isto, produto de tudo o que sou. Tu trazes o que sou à realidade e isso assusta-te. Dás mais um passo para trás, fechas os olhos e saltas. Finalizas finalmente este capítulo de folhas de árvores e picos de rosas. Somos então pétalas de cravos brancos deixados ao vento para vagearmos juntos por esta terra, sem fim... vez sem conta.

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