segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Blood in those strings

O que é uma música sem que as letras da tal sejam o que a alma diga ao autor, sem que as cordas libertem suor e os pratos comecem a rachar de tanto esforço para atingir a perfeição? E quem somos nós, pessoas, sem a música que nos passa pelos ouvidos, pela mente? Somos zombies que andam com nuvens cinzentas por cima das suas cabeças, sempre a trovejar, sempre com gotas de chuva a cair. E que sorriso se esboça na cara de uma criança quando a sua música simples começa a tocar. É um serenata a todo o sangue derramado sobre aquelas cordas...
O que sou eu senão um puro construtor de tantas palavras já antes construídas, muito antes de ti e mim? Sou eu que junto as letras, sou eu que formo as palavras, sou eu que arranjo as frases, sou eu que escrevo o que a alma me diz. Mas que sou eu para além de alma? E que faz essa alma sem a música? Reparo que o tempo passa muito mais devagar sem música, está muito mais calor ou muito mais frio sem ela, reparo que o mundo não me diz nada. A música diz. Estas palavras que escrevo dizem. O som das cordas das minhas guitarras, uma delas desafinada, dizem-me algo. E o sangue que por elas escorre é meu. Sabe-me bem.
Deixei um bocado de mim atrás. Mas não perdi nada. Sinto-me o mesmo. O som acústico que sai daquelas cordas acalma-me, deixa-me sereno para mais um dia. A chuva não cai no Verão, o vento transforma-se numa calma brisa que passa mas não fica, as folhas não caem numa triste despedida, mantêm-se nos ramos das árvores a acenar um até já. Talvez seja eu que prefira o Outono na minha estranha forma mas abraço tudo o que ele traz consigo, até mesmo o vento que tantas vezes me faz voar por instantes. Com a música não sinto frio, não sinto a tristeza deles, sinto-me apenas a mim.

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