terça-feira, 5 de agosto de 2008

Despido até às lágrimas

Mil e uma mãos e bocas a virem da escuridão, na minha direcção, trazendo consigo a escuridão e a destruição dos sonhos com simples palavras. Na minha mente, cada uma puxa para a sua direcção, tentando que caia na sua tentação, conquistando-me o corpo mas nunca o coração. Cego às desavenças passadas das vidas que lutam por um pedaço da minha mente, continuo a caminhar por meio de folhas e chuva, à beira do lago onde me vou afundar vez sem conta em lágrimas secas e de pouca importância. Removo as teias de aranha do texto e pinto-as de dourado para recordar que um dia as encontrei, que elas me deram um novo alento à vida.
Os planetas alinham-se e formar uma estrela única que ilumina as sombras por entre as árvores que constituem a floresta nos meus sonhos, o canto ressequido onde vou descansar e meditar sobre acções e palavras, pessoas e sonhos. Aguardo que a tua figura esculpida a gelo ganhe vida e me abrace, que me congele para todos os tempos, para ninguém mais me encontrar, para ninguém mais me magoar, para que uma única e solitária folha caia e que me venha cortar de forma a que a minha própria figura se parta.
Mil e um lírios espalhados pelo chão, mil e uma orquídeas espetadas nas minhas veias. Alimentam-se do meu sangue e crescem conforme a tua vontade, sob o teu olhar discreto e tímido, com uma mente perversa que me mantém preso a ti quando sussurras aos meus ouvidos lendas de prazer e fortuna de erros carnais. Destrono o veado-rei para te poder ter com minha rainha na minha humilde cabana à beira do lago onde morri vezes sem conta. Esta cabana é feita do meu suor, o lago das minhas lágrimas secas e o nosso jardim do meu sangue. O que nos resta senão conquistar a própria morte?

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