Ela caminha pela escuridão, as ruas perseguem a sua escuridão, as sombras retraem-se sobre seus passos e os candeeiros da rua apagam-se em medo. As suas veias carregam o fardo do morto no parto, as suas lágrimas formam-se em diamantes que se encontram com a terra e despedaçam a sua derradeira esperança de viver. O desespero que brilha nos seus olhos, o vazio que comanda as suas acções, tantas são as barreiras que procuro derrubar para conseguir ao seu coração chegar e a fortaleza da sua alma partida conquistar. Ela ruma directamente ao rio onde procura acabar com o seu sofrimento. Corro, cego, para chegar a tempo de agarrar a sua doce mão e para fazer-la revelar um sorriso.
A sua alma brilha e rouba-me o discernimento quando o seu sorriso lhe preenche a face, sem falsas intenções, nada a esconder. A sua tristeza é uma nuvem escura sobre o meu dia, pudesse eu evaporar-lhe o choro nocturno e apagar-lhe os pesadelos que lhe surgem e ressuscitam os medos mais infinitos e profundos que qualquer felicidade trazida por memórias de infância. Desconheço seu passado e desconheço a cor da sua alma, ela esconde as cicatrizes que trás consigo noite após noite em que nos encontramos. Traz o luar, as ondas altas e baixas, descrevem-me o seu estado de espírito. Tento o consolo entre os meus braços, na minha futilidade e vergonha, escondo a minha face entre seus cabelos e deixo a minha alma ser levada para um misto acinzentado de felicidade e frustração.
Descrevo círculos infindáveis nesta terra, escrevo na areia a sua história, os seus temores e felicidades, memórias defuntas levadas pela maré para longe. Largo o seu véu e o seu feitiço nesta jangada que lanço ao mar, juntamente com uma vela a arder e as minhas lágrimas. Tributo por um coração que deixou de bater, que abandonou outro que batia por ele. O seu sangue estagnou nas minhas memórias e agora agarro-me com mais força aos lençóis andas de nadar para o horizonte a seu encontro. A sua imagem a arder e permanecer sobre o reflexo da Lua.
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