sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

24 horas

Para a minha amiga Mónica:

Ela mantém a chama acesa, até nas mais profundas noites, onde o vento chama e o frio conquista a última muralha do coração abandonado. Maltratada por palavras nunca ditas, ela encontra um caminho e continua o sonho. Os olhos de um azul profundo, como uma piscina vazia numa tarde de Verão a invocar a diversão e relaxamento que as férias trazem, e de uma perseverança ardente, vagueando pela vida procurando razão e intenção, mesmo sem alguém a segurar-lhe o braço, ela dorme na sua cama sozinha, sonhando do que ainda não viveu ainda.
Acorda ao raiar do primeiro Sol, ainda nem os galos cantam. Levanta-se e sorri do sonho passado, agarrando-se a essa memória como se fosse a vida que teve. Se a vida tivesse maneira de ser, um manual de instruções de como a viver, talvez ela tivesse conseguido viver o sonhos e esta vida seria o seu pesadelo. Mas continua. Porque há mais nesta vida do que a limitada exposição de orquídeas. Há uma montanha completa que é preenchida por rosas, malmequeres e margaridas. Então ela enche o peito de coragem e sai de casa, enfrentando a tempestade lá fora que promete levar-lhe a casa.
"O copo está meio vazio" - pensa ela na penosa viagem para o trabalho. Transportada por máquinas e tecnologias que lhe escapam à imaginação, ela concentra-se na música que lhe satisfaz os ouvidos e nem nota nos olhos que se fixaram nela. Um jovem alto, loiro e de olhos azuis, fascinou-se por ela e ela nem suspeita da sua existência. Corajoso rapaz, caminha em frente para enfrentar o leão, dominar a fera. Entre sorrisos e elogios é deixada a promessa de um encontro mais tarde, para continuar a conversa que deixaram ali. O dia progride e o trabalho começa mas ela é incapaz de se concentrar, de se sossegar, não pára de pensar no rapaz. Então horas de trabalho definham tão lentamente que quase parecem dias, meses, anos. Finalmente o tempo foi espremido ao máximo e o posto de trabalho ficou desocupado. Ela deixou aquela cadeira e secretária no escuro e com um sorriso dirige-se ao seu encontro. Senta-se numa mesa perto do balcão, virada para entrada. Diz que espera um amigo, não pede a bebida já. As horas passam e a noite cai, posta de lado e sentido-se traída, sai do bar e dirige-se para casa, para o calor dos lençóis e o conforto dos sonhos, onde a vida lhe corre como quer. As lágrimas mancham-lhe os olhos e o peso da vida é quase demasiado para aguentar. Enrola-se mais nos lençóis e nos desejos, perdida. Desperta novamente com dois pequenos braços à sua volta. É a sua filha perguntando porque está a chorar. Então ela limpa os olhos e dizer que não é nada. Agarra a filha perto de si e pensa: "Afinal o copo está meio cheio".

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