domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vicissitudes modernas

Nobre acto de fugir, escapar a esta realidade que tanto frio oferece, ainda em noites de Verão. Recusando-me abandonar o Inverno da minha juventude, talvez porque não estou preparado para avançar para a Primavera, sento-me nesta pedra, contemplando os sons misteriosos do rio, o que eles deixam para trás, o que murmuram na sua críptica linguagem. Sozinho, olhando para o profundo azul que não deixa rasto de reflexo, perco-me nas memórias dos tempos desperdiçados. Ridícula, dolorosa esta melancolia. Falsa, esta perplexidade que me pára nesta estrada coberta de folhas. Vis sombras, mostrem a vossa força, agarrem-me pelos braços e arrastem-me para o vosso doce regaço onde poderei adormecer fora de desconfianças, tristezas e dor.
Astuta Fortuna que me coroa com misteriosos caminhos, que se apresenta perante mim com olhos de diamante que me observam à distância com medo, repúdio e estranheza. E as palavras não lhe chegam, são levadas pelo vento para longe, algures onde os corvos cantam e a escuridão permanece no seu frio trono de metal. Algures onde o Sol não nasce e o Seu calor não arrasta para fora da cama o conforto e a segurança que A permitem abrir os braços e agarrar-me como eu achei que me poderia agarrar tempos antes. Mas não caio em desespero, como dizem, há uma luz no túnel. Excepto que este túnel tem um tecto feito de estalactites e chão composto de lama que se afunda. A única coisa a agarrar são as paredes habitadas por serpentes e mentirosos. No veneno delas encontro os meus amigos, pela sua honestidade e bravura.
Caio em isolamento. Perdida a esperança, os ventos soprando selvagem, os trovões a rugirem em fúrias nos céus e a chuva a dominar a terra e a transformar as poças de sangue em poças de lama, conservo a minha verdade em bocados de dignidade e orgulho. As forças que me empurram para continuar são os pedaços de vaidade que vêm e vão, conforme as estações que me tocam na mente. Carrego o peso da minha liberdade em mãos que não são minhas, mãos que por vezes rejeito. Ouro e prata são a imagem do que a minha vaidade me ofereceu, do que as minhas verdades conquistaram até agora. E nada mais do que um baú vazio abro agora, tímido e modesto, quase caído nas mãos do esquecimento. Algo que sempre ofereci com a esperança que o completassem, para ser sempre oferecido de volta mais usado, gasto que sempre.

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