sábado, 26 de fevereiro de 2011

Oceano II


A fé está a escoar em terras de ninguém. Eles são todos reflexos dos mesmos céus, os mesmo tons de azul. Mas tu és diferente. Certo? Tu não te defines por aquilo que está em cima de ti mas sim pelas experiências que passas, por todos os obstáculos contra quais foste. Se é que sabes quem és, o que fazes, o que significas para alguém. És incompleto, naturalmente, todos somos. Mas há rios que desaguam em ti, plantas e animais que crescem dentro de ti, das profundezas do teu ser. Por mais escuro que seja lá, não és um espelho do que os outros fazem de ti. Por isso és profundo, apesar da tua superfície transparente. Não te deixas afundar em poços sem fundo de filósofos de rua.
És a individualidade que vai crescendo na colectividade da sociedade submergida em ti, envergonhado do que possuis, invejando as coisas que passam por ti sem as conseguires agarrar firmemente. E o tempo desdenha, a sociedade é crescente e poderosa, cardumes de peixes a escaparem à morte por cada mergulho de gaivotas vindo dos céus acima, a dualidade do teu ser a transfigurar-se para um triângulo finito. Mergulhas no seu espaço reduzido, tentas limar as suas arestas mas não passa tudo de uma máscara, envergonhas-te novamente com a tua tentativa falhada de ser. Quando estiveres mais deprimido lembra-te, há plantas e animais a viver dentro de ti, a nascer, crescer, a caçar e a morrer dentro de ti. Não és o único oceano neste planeta mas és único se não te deixares reflectir por infinitos repetidos por outros.
A chuva é injusta se te deixares arrastar pelas sua tendências. E podes berrar ao vento as palavras que sentes que te prendem e afundam mais mas se não as sentires, como as podes realmente ilustrar? Se não sentes, podes fazer acreditar que amas? Convence-te de que um mar calmo é mais perigoso do que uma tempestade a meio do Inverno e atira-te às rochas sem pensar duas vezes. Porque não há pessoas no areal com quem podes conversar e assim te sentes solitário. Agarra as mãos de quem as quiser emprestar e conquista finalmente a tua própria verdade. Se passares a tua vida a correr e a mentir, a outros e a ti próprio, não serás feliz, serás um reflexo do meu Universo. E aí é que te tornas uma verdadeira ribeira, iludida de que um dia tiveste uma maior existência do que os teus limites. Despenha-te contra as rochas e desagua algures onde te possas afundar na sinistralidade do teu embaraço.

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